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Poemas - Vocês gostam? Postem o favorito de vocês.

Falken

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Estou escrevendo um livro de poemas, e gostaria de saber a opinião de vocês a respeito do gênero. Postem os seus favoritos, ou autorais, enfim...

Indiferença

Ponto branco solitário,
no breu do meu quarto,
no vazio do meu eu,
guardião de memórias
desenhando saudade.

Meu celular
é presença inanimada,
que testemunha
o fim do amor
e o início do silêncio.

A cada toque
uma resposta fria.
Indiferente.
Distante.
Fútil.

E quando me deslogo,
a luz se esvai
e fica um coração
sem seguidores.
Apenas eu.

------------

Goteira

Em minha casa havia vazamentos,
poupo a pouco estancados,
rebaixados a meras goteiras,
rachaduras a suaves curvas.

Meu teto de vidro
é resistente a pedras,
e a luz entra
pelos meus poros.

------------------------------

Carta a quem chegou


Seja bem-vindo pequeno pássaro;
Aqui não há grades,
não há portas,
apenas pulso.

Não repare a bagunça,
Empoleire-se em meu
ventrículo esquerdo,
sei que não irá obstruí-lo.

Se quiser abrir as asas,
apenas vá, só não o faça
aqui dentro.
Em ambiente tão frágil,
Amor é alimento.

Confiança é lar.

Obviamente eu amo. O meu favorito é "Alone" do Edgar Allan Poe:

From childhood’s hour I have not been
As others were—I have not seen
As others saw—I could not bring
My passions from a common spring—
From the same source I have not taken
My sorrow—I could not awaken
My heart to joy at the same tone—
And all I lov’d—I lov’d alone—
Then—in my childhood—in the dawn
Of a most stormy life—was drawn
From ev’ry depth of good and ill
The mystery which binds me still—
From the torrent, or the fountain—
From the red cliff of the mountain—
From the sun that ’round me roll’d
In its autumn tint of gold—
From the lightning in the sky
As it pass’d me flying by—
From the thunder, and the storm—
And the cloud that took the form
(When the rest of Heaven was blue)
Of a demon in my view—

Sozinho

Da hora da infância, eu nunca pude ser
Como outros eram, – nunca pude ver
Como outros viam, – sentimento algum
Pude extrair de manancial comum.
Nas mesmas fontes eu não fui buscar
A minha dor; não pude despertar
Meu gozo com os tons de meu vizinho;
E tudo o que eu amei, amei sozinho.

Então, – na minha infância, – foi tirado,
Na aurora de um viver atormentado,
Dos abismos de todo mal e bem,
O mistério que ainda me retém:
Da torrente e da fonte,
Do penhasco vermelho do monte,
E do sol, a rolar a meu lado
Com as tintas do outono dourado...
Do corisco na altura sem fim,
Que voando passava por mim...
Da tormenta, da voz do trovão,
E da nuvem, criando a ilusão
(Lá no meio do azul a brilhar)
De um demônio em meu olhar.

Seguido de perto, vem esse da incrível Sylvia Plath:

"I shut my eyes and all the world drops dead;
I lift my lids and all is born again.
(I think I made you up inside my head.)

The stars go waltzing out in blue and red,
And arbitrary blackness gallops in:
I shut my eyes and all the world drops dead.

I dreamed that you bewitched me into bed
And sung me moon-struck, kissed me quite insane.
(I think I made you up inside my head.)

God topples from the sky, hell's fires fade:
Exit seraphim and Satan's men:
I shut my eyes and all the world drops dead.

I fancied you'd return the way you said,
But I grow old and I forget your name.
(I think I made you up inside my head.)

I should have loved a thunderbird instead;
At least when spring comes they roar back again.
I shut my eyes and all the world drops dead.
(I think I made you up inside my head.)"

Canção de Amor da Jovem Louca

Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro
Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer
(Acho que te criei no interior da minha mente)

Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis,
Entra a galope a arbitrária escuridão:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.

Enfeitiçaste-me, em sonhos, para a cama,
Cantaste-me para a loucura; beijaste-me para a insanidade.
(Acho que te criei no interior de minha mente)

Tomba Deus das alturas; abranda-se o fogo do inferno:
Retiram-se os serafins e os homens de Satã:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.

Imaginei que voltarias como prometeste
Envelheço, porém, e esqueço-me do teu nome.
(Acho que te criei no interior de minha mente)

Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão
Pelo menos, com a primavera, retornam com estrondo
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro:
(Acho que te criei no interior de minha mente.)

-----
 
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doutordoom

Lenda da internet
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Sem pensar muito seriam esses:

Sugestão
de Cecília Meireles

Sede assim – qualquer coisa
serena, isenta, fiel.
Flor que se cumpre,
sem pergunta.
Onda que se esforça,
por exercício desinteressado.
Lua que envolve igualmente
os noivos abraçados
e os soldados já frios.
Também como este ar da noite:
sussurrante de silêncios,
cheio de nascimentos e pétalas.
Igual à pedra detida,
sustentando seu demorado destino.
E à nuvem, leve e bela,
vivendo de nunca chegar a ser.
À cigarra, queimando-se em música,
ao camelo que mastiga sua longa solidão,
ao pássaro que procura o fim do mundo,
ao boi que vai com inocência para a morte.
Sede assim qualquer coisa
serena, isenta, fiel.
Não como o resto dos homens.
Com Licença, Tô Poetizando a Vida!…


Versos Íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Augusto dos Anjos ANJOS, A. Eu e Outras Poesias. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.
 

Falken

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Eu gosto muito do Drumond, Fernando Pessoa, Maiakoviski, Mario Quintana, velho Bukowski, alguns surrealistas como Al berto e Herberto Helder


Os Ombros Suportam o Mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação
Carlos Drummond de Andrade

Dedução

Não acabarão nunca com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado,
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço o juramento:
Amo
firme,
fiel
e verdadeiramente.
Maiakóvski




Esses dois poemas abaixo são de minha autoria, já tem uns quinze anos.


Quando a saudade bate a porta

Já estamos quase em novembro
O ano está passando tão depressa
Que mal tive tempo de piscar os olhos
E os frutos da árvore já amadureciam
No quintal de casa

Olho pela janela
Avisto uma folha de jornal
Ser levada pelo vento

Como é bela esta cena
A rua toda deserta
E apenas aquela folha de jornal
Cheia de noticias trágicas
Bailando livremente no firmamento
Redimindo-se de todos os seus pecados

Os ponteiros do relógio cessam

Por um instante apenas
Sinto que viver vale a pena

...

A névoa encobre a cidade
Com suas claves de gelo
Escuta-se passos
Um incessante
Abrir e fechar de portas
Rompendo o silêncio

Paro por um momento
Fecho os olhos
Escuto as batidas do meu coração
Contarem-me um segredo

Abro os olhos
Sinto uma brisa suave
Acariciar-me o rosto
Como se fossem as mãos
da minha falecida esposa
...

Uma lágrima escorre pela minha face
Fazendo brotar no solo um poema.

( ..... )

Há infinita ternura
Ante o anoitecer
Em seus olhos-pássaro ao vento
Buscando a insensatez
Das crianças

Há infinita ternura
no imenso sol de meio dia
Qual os acordes do piano
Acariciam o firmamento

...

Talvez um dia
As lágrimas do poeta
Sejam compreendidas
Como presságio de uma nova era

Então meu amigo
Haverá flores penduradas na porta de cada casa

×××××××

Nem lembro a última vez que escrevi alguma coisa, faz muito tempo....

Achei foda seus poemas, deveria voltar a escrever.

Vou postar três meus aqui:

Indiferença

Ponto branco solitário,
no breu do meu quarto,
no vazio do meu eu,
guardião de memórias
desenhando saudade.

Meu celular
é presença inanimada,
que testemunha
o fim do amor
e o início do silêncio.

A cada toque
uma resposta fria.
Indiferente.
Distante.
Fútil.

E quando me deslogo,
a luz se esvai
e fica um coração
sem seguidores.
Apenas eu.

------------

Goteira

Em minha casa havia vazamentos,
poupo a pouco estancados,
rebaixados a meras goteiras,
rachaduras a suaves curvas.

Meu teto de vidro
é resistente a pedras,
e a luz entra
pelos meus poros.

------------------------------

Carta a quem chegou


Seja bem-vindo pequeno pássaro;
Aqui não há grades,
não há portas,
apenas pulso.

Não repare a bagunça,
Empoleire-se em meu
ventrículo esquerdo,
sei que não irá obstruí-lo.

Se quiser abrir as asas,
apenas vá, só não o faça
aqui dentro.
Em ambiente tão frágil,
Amor é alimento.

Confiança é lar.
 

Niko

V Has Come To
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Eu gosto bastante desse aqui do Fernando Pessoa:

MAR PORTUGUÊS

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
 

Jujuba o cão idealista

Mil pontos, LOL!
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O fotógrafo

Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada a minha aldeia estava morta.
Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas.
Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro da manhã.
Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo.
Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada na existência mais do que na
pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.
Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa.
Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre.
Por fim eu enxerguei a ‘Nuvem de calça’.
Representou para mim que ela andava na aldeia de
braços com Maiakowski – seu criador.
Fotografei a ‘Nuvem de calça’ e o poeta.
Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa
mais justa para cobrir a sua noiva.
A foto saiu legal.

– Manoel de Barros, em “Ensaios fotográficos”. Rio de Janeiro: Editora Record, 2000.
 

Elijah Kamski

Bam-bam-bam
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Gosto, mas leio tanto por causa de questões de concurso que não tenho paciência de lê-los isolados posteriormente kkkkkkk. Vou aproveitar a postar uma das mais clássicas.

CANÇÃO DO EXÍLIO Gonçalves Dias

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra, Sem que volte para lá;
Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá.
 


-Mauricio

Ei mãe, 500 pontos!
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Sem dúvidas é esse:

Mulher da Vida
Cora Coralina

Mulher da Vida,
Minha irmã.

De todos os tempos.
De todos os povos.
De todas as latitudes.
Ela vem do fundo imemorial das idades
e carrega a carga pesada
dos mais torpes sinônimos,
apelidos e apodos:
Mulher da zona,
Mulher da rua,
Mulher perdida,
Mulher à-toa.

Mulher da Vida,
Minha irmã.

Pisadas, espezinhadas, ameaçadas.
Desprotegidas e exploradas.
Ignoradas da Lei, da Justiça e do Direito.

Necessárias fisiologicamente.
Indestrutíveis.

Sobreviventes.
Possuídas e infamadas sempre
por aqueles que um dia
as lançaram na vida.
Marcadas. Contaminadas.
Escorchadas. Discriminadas.

Nenhum direito lhes assiste.
Nenhum estatuto ou norma as protege.
Sobrevivem como erva cativa
dos caminhos,
pisadas, maltratadas e renascidas.

Flor sombria, sementeira espinhal
gerada nos viveiros da miséria,
da pobreza e do abandono,
enraizada em todos os quadrantes
da Terra.

Um dia, numa cidade longínqua, essa
mulher corria perseguida pelos homens
que a tinham maculado. Aflita, ouvindo
o tropel dos perseguidores e o sibilo
das pedras,
ela encontrou-se com a Justiça.
A Justiça estendeu sua destra poderosa
e lançou o repto milenar:
“Aquele que estiver sem pecado
atire a primeira pedra”.

As pedras caíram
e os cobradores deram as costas.

O Justo falou então a palavra
de equidade:
“Ninguém te condenou, mulher… nem
eu te condeno”.

A Justiça pesou a falta pelo peso
do sacrifício e este excedeu àquela.
Vilipendiada, esmagada.
Possuída e enxovalhada,
ela é a muralha que há milênios
detém as urgências brutais do homem
para que na sociedade
possam coexistir a inocência,
a castidade e a virtude.


Na fragilidade de sua carne maculada
esbarra a exigência impiedosa do macho.

Sem cobertura de leis
e sem proteção legal,
ela atravessa a vida ultrajada
e imprescindível, pisoteada, explorada,
nem a sociedade a dispensa
nem lhe reconhece direitos
nem lhe dá proteção.
E quem já alcançou o ideal dessa mulher,
que um homem a tome pela mão,
a levante, e diga: minha companheira.

Mulher da Vida,
Minha irmã.

No fim dos tempos.
No dia da Grande Justiça
do Grande Juiz.
Serás remida e lavada
de toda condenação.

E o juiz da Grande Justiça
a vestirá de branco
em novo batismo de purificação.
Limpará as máculas de sua vida
humilhada e sacrificada
para que a Família Humana
possa subsistir sempre,
estrutura sólida e indestrutível
da sociedade,
de todos os povos,
de todos os tempos.
Mulher da Vida,
Minha irmã.

Declarou-lhes Jesus: “Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos precedem no Reino de Deus”.
Evangelho de São Mateus 21, 31.
 
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Tom Cruise

Hollywood Mogul
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O poema “Se | IF”, escrito em 1895 pelo escritor anglo-indiano Rudyard Kipling (Prêmio Nobel de Literatura – 1907) e publicado pela primeira vez em 1910 numa coletânea de contos e poemas intitulada “Rewards and Fairies”.

Se

Se és capaz de manter a tua calma quando
Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;
De crer em ti quando estão todos duvidando,
E para esses no entanto achar uma desculpa;

Se és capaz de esperar sem te desesperares,
Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
E não parecer bom demais, nem pretensioso;

Se és capaz de pensar –sem que a isso só te atires,
De sonhar –sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires
Tratar da mesma forma a esses dois impostores;

Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas
Em armadilhas as verdades que disseste,
E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,
E refazê-las com o bem pouco que te reste;

Se és capaz de arriscar numa única parada
Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
Resignado, tornar ao ponto de partida;

De forçar coração, nervos, músculos, tudo
A dar seja o que for que neles ainda existe,
E a persistir assim quando, exaustos, contudo
Resta a vontade em ti que ainda ordena: “Persiste!”;

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes
E, entre reis, não perder a naturalidade,
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
Se a todos podes ser de alguma utilidade,
E se és capaz de dar, segundo por segundo,
Ao minuto fatal todo o valor e brilho,
Tua é a terra com tudo o que existe no mundo
E o que mais –tu serás um homem, ó meu filho!
 

juvebrit80

Bam-bam-bam
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Tempos atrás me deparei com um poema lindíssimo de Paulo Leminski. É bem enxuto, porém condensa muito daquilo que acredito!!


Contranarciso

em mim
eu vejo o outro
e outro
e outro
enfim dezenas
trens passando
vagões cheios de gente
centenas

o outro
que há em mim
é você
você
e você

assim como
eu estou em você
eu estou nele
em nós
e só quando
estamos em nós
estamos em paz
mesmo que estejamos a sós
 

redfield jr.

We are the Champions
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Um dos meus poemas preferidos é de um dos autores mais fantásticos (e menos conhecidos do grande público) da Literatura Brasileira: Cruz e Souza

ACROBATA DA DOR


Gargalha, ri, num riso de tormenta,
como um palhaço, que desengonçado,
nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
de uma ironia e de uma dor violenta.

Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
agita os guizos, e convulsionado
Salta, gavroche, salta clown, varado
pelo estertor dessa agonia lenta...

Pedem-te bis e um bis não se despreza!
Vamos! reteza os músculos, reteza
nessas macabras piruetas d'aço...

E embora caias sobre o chão, fremente,
afogado em teu sangue estuoso e quente,
ri! Coração, tristíssimo palhaço.



Para não ficar num clima pesado, encerro com essa pérola, também dos meus preferidos, de Manoel de Barros (é de emocionar lê-lo pela primeira vez):

O menino que carregava água na peneira

Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e
sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo
que catar espinhos na água.
O mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces
de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio, do que do cheio.
Falava que vazios são maiores e até infinitos.
Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito,
porque gostava de carregar água na peneira.
Com o tempo descobriu que
escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu
que era capaz de ser noviça,
monge ou mendigo ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor.
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta!
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os vazios
com as suas peraltagens,
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!
 
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