É fato que o inglês é hoje (e já de muito tempo) o "idioma universal", do tipo que "se não se comunica, se trumbica". Isto dito, eu suspeito muito destes cursos prometendo uma fluência de inglês relâmpago (chegando até a prometer coisas como "fale inglês em apenas seis meses!", ou algo do tipo). Diria até que a maioria sequer fala bem a própria língua materna - que dirá uma estrangeira! Há diversos níveis de proficiência de uma língua. Tipo, diversos mesmo! "Dominar uma língua", ao menos para mim, pressupõe não só "se fazer compreensível", mas inclusive ser capaz de se articular com perfeição também em nível teórico. Se você é capaz de escrever poesia ou o mais técnico dos trabalhos científicos em inglês com facilidade (e também articulá-lo na língua oral), então você é verdadeiramente proficiente naquele idioma (ao menos para mim).
Os problemas do inglês são basicamente dois: a) pronúncia, e b) (sendo o mais difícil), o famoso "pensar em inglês", o que nos exige toda uma reprogramação da nossa linguagem, vez que toda língua também traz consigo um "mundo" linguístico próprio, o que nos obriga a sair da espontânea imediatez de nossa "lingua-mãe" para a flagrante estranheza de uma estrangeira, coisa que costumamos combater ao "pensar em português" falando o inglês, o que obviamente é um desastre. Mas, voltando à questão central do OP, eu diria que há, sim, algo de mais específico na nossa relação de necessidade com o inglês que não é somente o óbvio do "preciso falar a língua global numa sociedade globalizada".
O brasileiro tem uma fixação quase que patológica com o que o "Outro" (principalmente o estrangeiro) supostamente pensa sobre nós. Isto vem à tona, por exemplo, na nossa patológica e obsessiva síndrome de vira-lata (verdadeiro fundamento da nossa identidade nacional), a qual tende sempre a se maldizer e a se menosprezar frente aos outros povos sempre que a oportunidade surge (e com um grande gosto pervertido). Mas aí você pode me dizer: "mas este país não é mesmo uma bagunça? Então por que tapar o sol com a peneira!???" E aqui, entra então a psicanálise.
Como diria Lacan, mesmo que uma obsessão se prove ser estritamente baseada em fatos reais, ela, na sua própria obsessão, já é, por definição, algo "patológica", pois que já se tornou aquele obsceno detalhezinho implícito que sustém toda uma atitude existencial e, junto consigo, também uma identidade. Inclusive, eu creditaria a este senso de urgência de estar sempre a par do que (supostamente) pensa o Outro sobre nós as nossas seguidas falhas de sermos bons falantes do inglês. O inglês é, para muita gente, uma insolúvel recorrência, algo que sempre renegociamos sob novos termos, mas que jamais efetivamente resolvemos como um problema.