Sem querer me meter no assunto (mas obviamente já me metendo), acho que a parte negritada diz respeito à relação entre implícito e explícito em uma ideologia.
Para muita gente (inclusive para mim), está mais do que claro que Bolsonaro, assim como Trump, não é um conservador, mas um indigesto resto concentrado de pós-modernidade. Ao passo que a sua oficial mensagem é a do conservadorismo, todo o resto (inclusive a forma com que o conteúdo é enunciado) grita cinismo paranoico e desconstrucionista, um sintoma típico da pós-modernidade.
Qualquer pessoa minimamente perceptiva já entendeu que Bolsonaro é apenas o nome para uma pervertida liberdade irresponsável tentando se passar por conservadorismo à moda antiga. Ele está muito mais próximo de um anarcocapitalista de faroeste caboclo do que de um conservador. O mundo dele é o das milícias. Se deixado à sua própria sorte, Bolsonaro transforma o próprio Estado em uma milícia, à imagem e semelhança de seu próprio (sub)mundo.
Ele é o cara que, em meio a uma pandemia, se declara contra o uso de máscaras, do isolamento social e a favor de qualquer medicação que porventura lhe tenham passado pelo zapzap. Ele é o cara que chama a incitação de insurreição de Trump no Capitólio, aquela que matou 5 pessoas, de "liberdade de expressão".
Tudo isto somente para dizer que "a bíblia numa mão e a masturbação na outra" ilustra esta hipocrisia esquizoide. Enquanto o bolsonarismo publicamente prega o nacionalismo, a ordem e os valores morais cristãos e familiares, privadamente ele "suborna" os seus "adeptos" com todo tipo de imoralidade ilícita, cínica, relativista, violenta, irresponsável, paranoica e autoritária.
Não há bolsonarismo sem esta sabida dualidade. Ele só resiste se sustentarmos o ridículo absurdo de que Bolsonaro tem boas intenções, de que "foi somente uma brincadeira" (que já dura 3 décadas de vida pública), etc. Não há bolsonarismo sem a transformação (e a constante manutenção) de Bolsonaro num meme obsceno.