Concordo com muita coisa. Quando eu falo que "a culpa foi da esquerda", falo que há algo nela que grande parte da população detecta como fake, falso, hipócrita e/ou insuficiente. A direita radical avançou no mundo inteiro, e não somente no Brasil.
Até mesmo na Europa, berço da moderada socialdemocracia, há um claro avanço do radicalismo populista anti-imigrante, que cresce a olhos vistos em quase todos os países. E isto é crucial notar. A esquerda, como você bem colocou, tem perdido a sua capacidade de ser esquerda, a substituindo por uma agenda cada vez mais cultural (o que, inclusive, ajuda a teoria conspiratória do "marxismo cultural").
O PT, ainda que por necessárias razões estruturais de engessamento político, se tornou um poço de corrupção, deixou de conciliar medidas sociais com crescimento econômico, se distanciou de sua base social, mergulhando de cabeça em um corrompido estrato burocrático, e começou a focar as suas atenções cada vez mais em medidas culturais, de tolerância, de diversidade, etc, cuja excessiva correção política é sentida como hipocrisia, como algo fake, que deixa algo de crucial importância de fora da equação.
Ela (a esquerda) tem flagrantemente errado na sua estratégia. Inclusive, ela sequer sabe se utilizar das redes sociais, coisa que até o Felipe Neto acertadamente já observou. A esquerda, em muitos aspectos, "ficou para trás", necessitando uma remodelagem de si para tentar dar uma resposta à altura dos atuais problemas globalmente enfrentados pela sociedade.
Já sobre as pessoas, elas são tão boas e inteligentes quanto o sistema na qual estão inseridas lhes permite. Até mesmo em países de primeiro mundo e de boa educação a direita radical tem crescido substancialmente. Mas eu me expressei mal, não é tanto que as pessoas são estúpidas, mas apenas que não devemos colocar demasiada fé nas pessoas.
A voz do povo definitivamente não é a voz de Deus. O povo também faz muita m**** quando provocado o suficiente. Foi o povo que endossou a chegada de Hitler ao poder, por exemplo (em dramáticas circunstâncias históricas, é bem verdade, mas ainda assim...).
A esquerda precisa se reinventar para os novos tempos, e o povo deve ser lido como um sintoma, cuja identificação da causa da doença (e o seu ulterior remédio) ainda precisam ser politicamente formulados. O povo nos fornece apenas sinais confusos do nosso tempo que ainda precisam ser adequadamente lidos pela esquerda.