Vocês menosprezam a repartição do Tio Nadela demais. Acho que ela tem chances de fazer boas gerações sim. Pelo menos se seguirmos o histórico pregresso. Tem 4 aspectos passíveis de análise aí, que eu negritei.
Comercialmente, a Microsoft, quer queira, quer não, é a terceira empresa de videogames mais bem sucedida de todos os tempos no mercado de Home Consoles, atrás somente de Sony e Nintendo.
Ela foi mais bem sucedida nesse departamento que outros pesos pesados, como Sega e Atari, e que os outros tantos tontos que se animaram a entrar nesse vespeiro, onde poeira, tamancos, pintos de borracha e gotas de sangue sobem até as nuvens, tão encrespadas são as brigas - 3DO Company, Bandai, NEC, SNK etc.
Em termos de
relevância, ela não tem nem terá a mesma importância histórica duma Sony ou duma Nintendo, e provavelmente jamais gozará da mesma reputação que Sega, Sony e Nintendo têm como produtoras de jogos, mas seus consoles estão constantemente entre os melhores de suas gerações, justamente porque ela logra não deixá-los amargar escassez e fome.
Desde a entrada no mercado, a Microsoft trabalhou pra suportar os third parties ocidentais num nível pelo menos semelhante ao da Sony, o que fez seus videogames serem pelo menos iguais em qualidade de biblioteca aos da Nintendo (Gamecube vs XBox), quando não imensamente superiores (XBox 360 vs Wii; XBox One vs WiiU).
Com uma exceção relativa e questionável do XBox Original, jamais se comprou um XBox pra se ter um aparelho que pairou num Holomodor eterno e exasperante, aqueles videogames que têm poucos games, e amargam um lançamento importante, minguado e ocasional, a cada trimestre, como foram o Neo Geo, o PC Engine, o N64 e o WiiU por exemplo.
A Micro falha retumbantemente, como
produtora de bons videogames, pelo menos em níveis não-relativos (não comparados ao concorrente vitorioso), muito menos que a Nintendo. A frase “o XBox ainda pode fazer uma boa geração” é, portanto, menos estatisticamente significante que aventar a mesma catástrofe para Nintendo, que, em quase 40 anos de mercado, só conseguiu soltar efetivamente dois videogames muito bons (o NES e o SNES).
Como
softhouse, entretanto, a resposta seria mais negativa. Ela somente foi uma boa produtora de games na geração 360, quando inclusive superou a Nintendo em número de boas IPs, nas demais, embora ela tenha cintilado ocasionalmente, ficou bem atrás das concorrentes.
Eu sei que as comparações com a Sony são inevitáveis, mas talvez não representem o elemento determinante da saída da Micro do mercado. Empresas menos profícuas e grandiosas sobrevivem também, desde que lucrem. É só olhar para o mercado de refrigerantes, por exemplo. Ou qualquer outro razoavelmente desregulado.
Acontece que o mercado de videogames tende naturalmente ao oligopólio (o que é raríssimo, mas já foi observado por teóricos pra por exemplo o mercado de redes elétricas, numa situação hipotética onde o fornecimento de energia fosse 100% privado). Por tender ao oligopólio, acabam ficando poucas empresas em evidência, e as comparações se reiteram. É aí que a Microsoft parece estar “se ferrando”, quando na verdade não está. A Brahma é comparada menos frequentemente à Heinecken, porque temos outras 600 marcas pra diluir embate por mindshare, de Glacial, Krill e Skin, a Antartica, Original e Skol, a Amstel, Stella e Budweisser. Ou raciocine com marcas de carro.
Comparar qualquer empresa nesse ramo de videogames com a Sony é roubada. Ela tem uma penetrância mercadológica maior que as demais, e desde sempre tem uma grande rede de parcerias com thirds, um imenso número de IPs first party e estúdios, criados desde sua alvorada no PS1, e construiu uma marca que está associada, quase como sinônimo, à própria coisa que ela representa.
Pegue por exemplo biblioteca first party nessa geração. Ambas têm duas séries de esporte anuais de alto orçamento (MLB e Forza), que se equivaleriam aproximadamente em termos de vendas e categoria. Dito isso, vamos para os demais jogos (estarei falando de
categoria, e não de qualidade, pra evitar polêmicas):
1) Games Monumentais: a Sony vai fechar a geração com uma proporção numérica de algo como 3:1 em cima da Microsoft (God of War, Spiderman, Uncharted 4, Bloodborne, Uncharted The Lost Legacy,
Horizon Zero Dawn, Death Stranding, Ghost of Tsushima, The Last of Us Pt II)
VERSUS (Halo 5, Gears 4, Gears 5, Halo Infinity).
2) Games Grandes: a geração deve fechar com uma vantagem de 3:1 pra Sony (inFamous Second Son, Ratchet and Clank, Gran Turismo Sport, Killzone Shadowfall, Detroit: Become Human, Shadow of the Colossus Remake, The Order 1886, Astro Bot, Days Gone, Until Dawn, Dreams)
VERSUS (Quantum Break, Killer Instinct, Sea of Thives, Ori)
3) Games Médios: algo como 3:1 pra Sony, talvez? (Wipeout Omega, The Last Guardian, Everybody’s Golf, Blood and Truth, Farpoint, Gravity Rush 2, RIGS, Tearway Unfolded, Firewall, Knack, Knack 2, Little Big Planet 3, Driveclub, Medievil, Concrete Genie, Iron Man VR, Everybody’s Gone to the Rapture, Déracine)
VERSUS (Recore, Crackdown 3, Halo Wars 2, State of Decay 2, Zoo Tycoon, Kinect Sports, Bleeding Edge talvez?)
4) Games Pequenos: algo como 5:1 pra Sony (Bound, Flow, Helldivers, Dead Nation, Alienation, Resogun, Hohokun, Super Stardust, Nex Machina, PS VR Worlds, Entwined etc etc etc)
VERSUS (Super Lucky’s Tales, Gears Tactics, Gears POP)
5) Parcerias com Thirds: acho que o que, 5:1, em jogos de todas as categorias, trazidos ao Ocidente ou produzidos aqui?
(Não se atenham à exatidão dos róis, fui escrevendo fluidamente, de cabeça, faltam games aí pros dois lados, é só pra pegar o jeitão)
Mas a Micro resiste, o que se deve, além de conseguir construir uma biblioteca boa com o grosso nos medalhões thirds, ao próximo quote que farei.
Esse é o principal papel e legado da Microsoft no mundo, não só nos videogames. Novas formas de fazer negócio. A Microsoft é uma empresa muito competente pra fazer negócio. Ela nunca foi nem nunca será a mais qualificada de todo o mercado em particularmente quase nada, mas vai sempre ganhar muito dinheiro, porque sabe lucrar. Seu maior legado nos videogames é, além de Halo, tentar expandir, no sentido quase estrito do negócio, novos mercados. Foi assim com a Live, com a estrutura de Dash do 360, com o Gamepass, vai ser assim com a XCloud, e assim ela vingará, não necessariamente no mercado de consoles, que ela pode e provavelmente vai largar antes de todo mundo, mas na geral.
Fora isso, ela tentará tirar um pouco dessa vantagem de biblioteca, que vem desde quando ela surgiu no mercado, com PS2 vs Xbox, com esses estúdios que comprou. De qualquer forma, tendo os medalhões thirds, ela está tranquila, mais que a Nintendo, mesmo não vencendo ou sendo a melhor.