Sgt. Kowalski
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"Raised By Wolves". De que são feitos os andróides de Ridley Scott quando chegam à televisão?
Aos 82 anos, Ridley Scott já criou muitos mundos no cinema, mas até agora ainda não tinha feito o mesmo desta forma para televisão (ainda que tenha a marca de produtor executivo em diferentes títulos do pequeno ecrã).”Raised By Wolves” é esse acontecimento. É, também, o resultado de um acumular de experiência, numa série que é uma espécie de presente de Aaron Guzikowski, criador e argumentista, para o realizador britânico. Ou seja, o universo de “Raised By Wolves” é uma tela em branco para Scott desenvolver alguns aspetos muito presentes na sua obra: andróides, criação de mundos, religião e personagens femininas carismáticas. Os três primeiros episódios da série ficam disponíveis na HBO Portugal esta sexta-feira, dia 4 de setembro.
Em meados de agosto, durante a press tour da Warner Media, que este ano aconteceu virtualmente, o Observador esteve presente num painel composto pelo autor Aaron Guzikowski, o produtor executivo David W. Zucker e os protagonistas Amanda Collin e Abubakar Salim. Ainda que ausente, um dos temas e nomes dominantes foi, inevitavelmente, Ridley Scott: como o realizador imaginou este mundo, como visualizou os andróides e como gerou a base para esta nova série.
Guzikowski é o criador da história e do mundo onde ela se passa. Começa imediatamente por dizer:
“Logo após ele [Ridley Scott] ler o argumento, começou a fazer esboços e storyboards. Quando soube disso, não consegui controlar a minha excitação. Na minha secretária tenho um Xenomorph [os monstros protagonistas da saga ‘Alien’, criada por Ridley Scott] que está comigo desde que tenho cinco anos: já passou por muito e já nem tem braços. O que quero dizer é que cresci obcecado com as histórias que o Ridley contava. Por isso, foi um sonho trabalhar com ele.”
O que é este mundo afinal? Em “Raised By Wolves” houve uma guerra entre ateus e um grupo religioso e o conflito deixou a Terra inabitável. A história acontece num futuro distante e o espectador é introduzido neste universo através de dois andróides, apropriadamente batizados como a Mãe (Amanda Collin) e o Pai (Abubakar Salim), acabados de chegar a um novo planeta onde irão criar um novo futuro para a raça humana. Consigo levam alguns embriões humanos que a Mãe irá dar à luz e os dois irão criar.
Os fatos de Mãe e Pai são simples e práticos e embora funcionem como proteção para os seus corpos, há algo que induz para uma nudez e exposição que transforma as personagens numa variação futurista de Adão e Eva. Embora essa visão nunca seja impressa diretamente no espectador, é impossível não olhar para eles como tal: são seres mecânicos criados por alguém, com a função de gerar vida num planeta inabitável. Não vivem num Jardim do Éden, o planeta onde chegam é inóspito, feio e muito violento. Há perigos desconhecidos e ameaças constantes. E há uma pior que todas as outras: um grupo de humanos, religiosos, que estão a chegar ao planeta numa espécie de Arca de Noé, que também procura esse novo mundo. Por esta altura, já percebemos que as intenções deste grupo e dos andróides não são compatíveis.
É então que entra um dos grandes segredos desta série, um elemento que mostra a química perfeita entre Aaron Guzikowski e Ridley Scott. O primeiro criou a série e ofereceu-a ao segundo, que realiza os dois primeiros episódios e imaginou grande parte do mundo que o espectador vê, funcionando depois como produtor de “Raised By Wolves”. Este mundo, em especial estes andróides, devem muito a Ash, o andróide de “Alien – O Oitavo Passageiro”, e a “Blade Runner”. Ambos são filmes clássicos e fundamentais, da filmografia de Ridley Scott e da história da ficção científica:
“Sim, há uma ligação entre estes universos, não é direta em termos de mitologia, mas ela existe. O Ridley realizou os dois primeiros episódios e esteve envolvido em toda a produção, por isso obviamente que houve uma troca de ideias entre o que ele fez no passado e esta nova mitologia. Porque muitas das regras e muitas das questões que estes andróides levantam, são similares à do Ash, que expôs interrogações importantes em 1977”, conta Aaron.
Mas vamos ao segredo que iniciou o parágrafo anterior. Mãe, a personagem, não é um andróide contruído para dar à luz, criar e educar humanos. Além de ser o elemento alfa na relação Mãe/Pai (a personagem de Abubakar existe, nos primeiros episódios, como um simples tarefeiro, embora depois evolua, como é típico nos andróides de Ridley Scott), Mãe esconde um segredo: é um necromancer. Os necromancer são poderosas máquinas de matar tudo o que se mexe. São implacáveis, um símbolo da destruição de um planeta que ficou para trás. E, embora não sejam invencíveis, são muito difíceis de destruir.