Decidi terminar esse cacetão logo. Quero todo mundo lendo, porque deu trabalho e foi disparado o melhor preview que vi do jogo até então. Mostra diferentes facetas dele e como a Rockstar realmente está fazendo algo diferenciado. Segue abaixo:
Preview fodão traduzido pelo Paivão
Eu só queria pescar um pouco.
Red Dead Redemption 2 inicia ensinando os múltiplos sistemas e pormenores de viver na gangue Van der Linde, enquanto você, Dutch, John Marston e outros escapam de Pinkertons após um trabalho meio cagado. É um tutorial fantástico, uma ótima maneira de a Rockstar acomodar o jogador nas novas maneiras que RDR 2 oferece de interação com as pessoas e demais elementos do jogo. Mas, se falar demais, entrarei no campo dos spoilers e é um momento que tem de ser experienciado ineditamente.
Após o capítulo de abertura, você está em Horseshoe, aonde a gangue montou um acampamento e procura maneiras de conseguir uma grana. É o primeiro momento que o jogador tem de liberdade. A gangue precisa de sua ajuda com algumas tarefas, além da constante necessidade de vários suplementos para o acampamento, mas caso queiras, pode simplesmente seguir para o pôr-do-sol.
Após brincar um pouco pelo acampamento e gastar um tempo na cidade próxima, Valentine, me decidi pelo que realmente queria fazer. Eu queria pescar. Só tinha um problema - eu não tinha uma vara de pesca. Na build em que jogava, Arthur Morgan simplesmente não tinha a vara desde o começo do jogo.
É difícil saber se sempre será assim. Meu instinto diz que, quando o jogo lançar, você terá uma vara de pesca junto com o restante dos seus equipamentos de sobrevivência. Sobreviver é um dos principais focos de RDR2, e pescar é um destaque dentre essa mecânica. Eu tinha a isca, então é estranho a ausência do restante.
O inventário expandido de RDR2 significa que a vara poderia estar escondida em vários locais em Arthur. A roleta de armas que nos acostumamos em GTA V está de volta, então primeiramente chequei minhas mãos e slots de armas melee. Nada.
Se você pressiona R1 em RDR2, trocará para o inventário de itens. Aqui você pode acessar comida, tônicos, acampamento individual e outras coisas. Sem vara de pesca também, infelizmente.
Eu tinha tempo, então poderia fazer o que quisesse nesse mundo gigantesco. O mapa em si estava obscuro por uma névoa cinza - e enquanto viajava, lentamente ele revelava o mundo abaixo. Nas partes descobertas, pude ver um conglomerado azul em certa parte ao sul do acampamento.
Minha teoria era que poderia encontrar uma pessoa pescando perto da água. Tudo que precisaria fazer seria seguir a corrente até cruzar com uma alma infortunada e daí eu teria o necessário para capturar meu jantar.
Não demorou muito e o outro lado do rio estava fora do alcance de meu revólver. Percebi que havia se transformado num lago, e apesar de ter muitos homens em canoas em sua superfície, nenhum sequer possuía uma vara de pescar.
Seu cavalo pode nadar, mas é preso às mesmas regras in-game que Arthur. É isso - tem stamina limitada, e assim que a mesma acaba, o HP diminui até que você se afogue. Se o cavalo morre em RDR2, acabou: ele morreu. Existe um estado em que ele pode ficar nocauteado, e isso é recuperável. Mas se morrer, morreu.
Isso significa que tentar cruzar o lago forçando meu cavalo a nadar foi uma péssima ideia. Por sorte, percebi isso antes de atingir o ponto sem retorno, e meu cavalo viveu - por pouco - após nadar freneticamente de volta para a margem. Então tentei novamente - dessa vez, nadei sozinho até uma canoa, arremessei seu ocupante para fora e comecei a remar.
Ainda não tenho exata certeza do que aconteceu, mas a canoa começou a afundar quando eu estava no meio do caminho atravessando o lago. Me lembrou bastante quando você leva um barco longe demais nas águas de GTA V, tirando os tubarões. A área em si estava bem cheia e povoada, tanto na superfície quanto abaixo, então meu chute é que o cara de quem roubei o barco tentou atirar em mim e errou, ou que ela não era resistente o suficiente para aguentar o contato com tantas coisas no lago.
Abandonei minha canoa naufragada e comecei a nadar. 30 segundos depois, estava novamente nas margens. Nas margens exatamente onde eu havia começado inicialmente, porque me afoguei e respawnei para perto de meu cavalo.
Claramente eu não estava tendo sorte alguma com toda essa história do lago. Talvez toda essa atividade na água assustou todos os peixes. Felizmente, vi outra porção azul no mapa - era hora de checá-la.
Cerca de metade do caminho até meu destino, escutei um grito. Uma diligência estava estacionada na beira da estrada. Mas, ao me aproximar, percebi que na verdade era uma jaula puxada por cavalos. Fora da estrada, uma gangue algemada discutia entre si. Quando um dos dois guardas se intrometeu para acabar com a iminente briga, os prisioneiros começaram a agir. Os dois que estavam discutindo atacaram o guarda, enquanto um terceiro prisioneiro distraía o outro. Acabou em alguns instantes, com três homens desabados mortos no chão - dois guardas e um prisioneiro. O restante da gangue me viu, mas sequer me deu atenção, e eu peguei o loot do guarda após toda a confusão.
Isso não é novidade em jogos da Rockstar, mas a habilidade do estúdio de criar mundos que pareçam vivos por meio de cenas como essa é imbatível. Minha ação foi inconsequente aqui, assim como minha presença. Ao menos uma dezena de vezes escutei algum tipo de comoção e ignorei - estava determinado no meu objetivo de conseguir uma vara de pescar -, só para encontrar o resultado do que se passava momentos após. Algumas vezes eu pegava o loot, algumas vezes eu achava a carcaça de um predador apodrecendo, e algumas vezes via alguns chapéus no chão e nada mais. Simplesmente não agir é uma decisão ativa em RDR2, e isso ironicamente faz sua presença parecer muito mais especial.
As colinas perto do lago rapidamente se transformaram em uma floresta, e quanto mais me aproximava de meu destino, mais escuro ficava abaixo do tronco das árvores. Os cais foram dilapidados, a via fluvial não tinha presença alguma de vida humana. Mas a água em si estava viva, com ondulações na superfície indicando abundância de peixes.
Meu cavalo odiou a área, com sua cabeça empinando para trás e para frente enquanto eu o mandava se aproximar do rio. Quanto maior for o laço entre você e seu animal, melhor ele fica. Ganha mais stamina, corre mais rápido e reage menos a tiros e outros sustos. Você pode acalmá-lo enquanto cavalga apertando L3, e se não fizer, ele ficará muito agitado, te jogará para fora da sela e fugirá. Quando chegamos no limite do rio, assustado por aquilo que era incontestavelmente um cenário assustador, ele fez exatamente isso e caí. Eu ainda não estava convencido que toda essa ideia daria certo, mas também não havia desistido. Avistei uma canoa e dispensei o cavalo.
Enquanto nadava, muitos detalhes vieram de uma só vez: as margens lamacentas, os molhes, a ausência de vida humana, a abundância de peixes. E aquelas formas estranhas que se mostravam pouco acima da água. O que eu realmente acabei percebendo foram as presas de uma dúzia de crocodilos que falhei em enxergar no rio. Porém, de alguma maneira, consegui afugentá-los e escapei. Você pode rapidamente beber um remédio para o HP se estiver perto de morrer com atalhos nos botões - normalmente precisas ir pela roleta de armas, depois roleta de itens e selecionar um, mas RDR2 sabe ajudar na hora certa em alguns momentos.
Aqui o que sei sobre pântanos: crocodilos são extremamente rápidos, eles com certeza irão esmagá-lo se você cair na água, e seus ovos são vendidos por $2,50, o que é uma fortuna. Bebês de crocodilo ficam perto de seus pais, mas são mais fáceis de matar. Porém, descamar e tirar as carnes de qualquer um são atividades bem difíceis graças à sua proximidade com os dinossauros.
Eu andei por todo o pântano e ninguém tinha a desgraça de uma vara de pescar. Fiz um vexame quando uma cobra me mordeu e eu gritei alto o suficiente para que todo o escritório da Rockstar pudesse me ouvir. Venenos duram muito tempo, e você só pode curá-los com ervas. Ervas que eu não tinha e tampouco sabia localizar. Ginseng americano era uma delas, acredito - e eu não tenho a menor ideia de como se parece. O veneno se dissipa se você ignorá-lo por tempo suficiente - sabe, o “Jeito Caubói” de ser.
Andando em círculos no pântano, procurando por varas de pescar e ovos de crocodilo, eventualmente achei um vilarejo - Saint Denis. Correção; Saint Denis é uma cidade, e não um vilarejo, e é absolutamente gigante. Você pode assistir shows no teatro, fazer compras em diversas lojas, visitar vários saloons e hotéis em busca de distração caso queira.
Ne-nhu-ma das lojas vendia uma vara de pescar, o que é estranho - é um pau com um fio nela. Não é uma vara de carbono, e um giroscópio estabilizador é algo incrível para o final dos 1800s. Mas eu acabei achando um tipo diferente de loja. The Fence claramente troca objetos conseguidos de maneiras não-muito-legais, e percebi que existia uma certa possibilidade de conseguir uma vara de pesca roubada.
Eu estava errado. Mas ele tinha uma estante de livros com alguns riscos no chão bem de frente para ela. E o mini-map mostrava um quarto sem portas bem atrás da mesma estante. Infelizmente, mesmo tentando de tudo, não consegui movê-la. A última alternativa que tive foi apontar a arma para o vendedor e tentar fazer com que ele me contasse.
Ele prontamente abriu o caixa, e suplicou para que não o machucasse, mas nada me disse sobre a estante. Ele tinha $45 no caixa - uma fortuna para o faroeste -, então não era lá muito prejuízo. Mas eu estava numa encruzilhada.
Crimes são reportados por testemunhas e vítimas em RDR2, e esse homem claramente fazia parte desse grupo. Roubar uma loja eleva seu preço para praticamente o mesmo preço que matar alguém, entre $10 e $15, o que descobri quando roubei outra loja em Rhodes, um vilarejo também nos pântanos. Pulei essa parte de minha história porque me faz parecer um fora-da-lei desajeitado, visto que morri tentando me esconder cheio de peles roubadas atrás de um pequeno tronco de árvore e o xerife me executou. Eu ainda precisava pagar essa minha recompensa.
De qualquer jeito, voltando para a loja Fence: se eu deixasse esse homem viver, ele iria até os xerifes e eu teria uma recompensa ainda mais cara por minha cabeça. Então, eu o apunhalei. Naturalmente, como sou muito sortudo, um cidadão de Saint Denis estava passando ao lado de fora da janela exatamente no momento do assassinato. Uma testemunha. E como a loja não tinha porta de entrada, no tempo que eu terminava de esfaquear o vendedor, um xerife estava correndo para bem diante da única entrada e saída do estabelecimento.
Obviamente eu esfaqueei o xerife. Me escondi na parede enquanto ele entrou e o acertei nas costas. Isso não deixou os oficiais de Saint Denis felizes, devo admitir. Oito deles pararam do lado de fora da loja, ignorantes do talento Dead Eye que Arthur Morgan possuía. Em breve, cinco dos oito estariam no chão.
Atrás de um cover, apertei R3 e entrei no modo Dead Eye. Pintei o primeiro cara duas vezes porque sou um idiota, e depois movi a mira para as outras quatro cabeças. Aperto R2, e todos morrem. Um corajoso homem-da-lei entra com tudo na loja enquanto eu recarregava, mas troquei para minha faca e rapidamente acertei seu pescoço.
Atirei nos outros dois e saí correndo pela rede de becos que formam Saint Denis, escapando dos oficiais que restaram. Ao invés de 5 estrelas brilhando na tela até que os policiais perdessem interesse, estilo GTA, RDR2 apresentou a palavra “PROCURADO” em grandes letras no topo direito da tela. Se você conseguir se esconder até que a cor vermelha que preenchia a palavra se esvaia, estará a salvo.
Mal consegui falar “o que?” quando outro oficial cruzou meu caminho e meus problemas começaram novamente. Outra dezena dos melhores de Saint Denis me encurralaram num beco sem saída, me deixando com só uma opção: perecer numa troca de tiros, porque não tinha maneira alguma de eu sair daquela.
Você pode conseguir uma arma de dupla-ação, mas até comprá-la, tens somente a m**** do revólver de ação única. Isso significa que cada tiro demora um momento a mais do que você gostaria, porque Arthur tem que ajeitar essa coisa estúpida cada vez que o gatilho precisa ser acionado.
Tomei uma mistura que restaurava meu Dead Eye para tentar uma limpa de seis tiros, mas não ajudou. Eu estava em número muito inferior. Eu morri. Quando retornei, tinha uma recompensa de $145. Podia ser até um milhão, porque não tinha chance alguma de que eu iria pagá-la. Minha única opção era fugir de Saint Denis.
Bizarramente, uma onda de sorte me atingiu quando percebi que eu tinha respawnado na estação de trem. Não teria a ousadia de tentar comprar um ticket - a última coisa que precisava era que um maldito atirasse no meu rabo para coletar a recompensa.
Então, ao invés disso, enquanto o trem saía da estação, corri ao seu lado e pulei. Surpreendentemente foi bem fácil, e com isso feito, segurei o touchpad e ativei a câmera cinemática e esperei até que saísse da área de influência de Saint Denis.
Essa câmera é um dos meus recursos favoritos em RDR2. Expandindo o esquema de GTA V, ativá-la permite que você entre em um modo automático enquanto atravessa o mundo. Se calvagas por muito tempo, pode ligar a câmera e segurar X para que Arthur vá sozinho até o destino da missão - seja acompanhando o ritmo dos companheiros, ou trotando rápido quando sozinho. Essa é uma das várias maneiras que a Rockstar está tentando embaçar as linhas entre cutscene e gameplay.
Pular para fora do trem não foi t!ao prejudicial para meu HP, apesar de até esse ponto já estar suspeitando que a build em que jogava estava mais perdoável do que o jogo realmente será. Eu definitivamente sobrevivi a algumas coisas que não deveria, e sinto que minha stamina recuperava mais rápido que o normal.
Me abriguei em uma diligência de volta para Valentine me sentindo derrotado. Viajei de um lado para o outro em busca de um lugar para pesca, e falhei. Acho que, sabe, iria tentar outras coisas nesse mundo massivo.
A diligência me salvou um tanto de tempo de tentar voltar para o acampamento em Horsehoe, onde minha gangue tinha uma série de tarefas me esperando. Vou deixá-las de fora do texto - estou tentando escrever sem o menor número de spoilers possível. Mas confesso que nenhuma delas me recompensou com uma vara.
Então decidi caçar um urso. Eu não estava adequadamente equipado para isso - minha história de vida no faroeste, pelo visto - mas gostaria de ver o que conseguiria. Eu rastreei veados, coelhos e javalis durante meu tempo com RDR2 até aquele ponto, e foi tudo bem fácil. Você tem a Eagle Eye quando aperta L3 e R3 ao mesmo tempo, e usando isso ajuda bastante a ver as trilhas que os animais deixam. Também mostra ervas que podes coletar.
Com isso em mente, rastreei um urso no meio da floresta. Tive um pouco de sorte na caçada, para falar a verdade. Normalmente enquanto caçava em RDR2, você pode chegar em sua presa sem perceber quão perto ela estava. Esse não foi o caso com o urso, que eu vi bem antes que o animal me visse. Peguei meu arco, puxei uma flecha e me firmei. Queria acertar bem no meio de sua cabeça, para ter certeza de que não precisaria atirar de novo.
Soltei a flecha, e Arthur provou ter uma baita mira. A flecha cravou bem no meio da cabeça do urso, conseguindo exatamente uma conquista: deixar o urso muito puto. Era uma flecha contra a carcaça de um urso. O que eu achei que aconteceria? O animal me perseguiu com aquele pedaço de pau preso em sua cara, e meu cavalo saiu correndo antes que pudesse me juntar a ele. Ativei o Dead Eye, com o arco ainda equipado, e em slow motion pude testemunhar essa criatura gigantesca correr na minha direção. A segunda flecha não o deixou mais irritado, mas só porque acho que ele não conseguiria ficar mais bravo do que já estava.
Me mutilou até a morte. Na verdade, consegui afastá-lo em determinado momento, mas não consegui correr nem metade de um metro até que o urso terminasse o que começou. Foi incrível.
Infelizmente, meu tempo estava acabando. Na verdade, eu joguei por meia-hora a mais do que o planejado. Percorri uma distância tão grande em RDR2, e não consegui revelar praticamente nada do enorme mapa. Lutei contra ursos, crocodilos, oficiais da lei e cavalos, e me dei mal contra todos eles. Roubei pessoas, furei, matei, e até ajudei alguns em certas situações. Me escondi, pulei de um trem, me sentei em diligências, nadei e remei. Até corri por um tempo, quando perdi meu cavalo. Eu cacei, joguei blackjack, lutei, tomei banho e assisti uma antiga peça. Mas, apesar disso tudo, não tinha conseguido pescar, mesmo sabendo que isso está no jogo em algum lugar.
Lá estava eu, parado diante de um rio, vendo a correnteza fugir de mim. Era hora de ir. Troquei para a câmera em primeira pessoa, e joguei Arthur no rio para deixar com que a sessão terminasse nesse ciclo fechado.
O jogo inteiro pode ser jogado em primeira pessoa, e é impressionante como a perspectiva muda as coisas para você. Brigas na mão são mais difíceis, mas bem mais recompensadoras quando ganhas. Perseguições à cavalo parecem que acontecem com o dobro de velocidade. E se atirar em correntezas acaba sendo bem assustador, principalmente quando você que a água só vai ficando mais rápida. É a marca registrada de uma cachoeira, né? Elas são incríveis em primeira pessoa, mesmo que essa em que eu estava tivesse, no máximo, 5 metros.
Lá embaixo da cachoeira, estava um homem, parado... Pescando. Seu pastor alemão começou a latir para mim e me cheirar enquanto me aproximava pela margem. Fiz um carinho no cachorro, puxei meu revólver e atirei no pescador na lateral de sua cabeça.
E então, finalmente, eu pesquei. Foi simplesmente maravilhoso.