O empresário Fernando Parrillo, em tom de ironia, disse que, daqui a pouco, governo vai alegar que a operadora foi responsável por trazer o coronavirús para o Brasil
SÃO PAULO - Um dia depois de o
ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, classificar a rede de hospitais Sancta Maggiore como o
maior foco de mortes por
coronavírus no país, o presidente da operadora Prevent Senior, Fernando Parrillo, considerou “irresponsável” o
discurso da autoridade federal, disse que a empresa nunca foi procurada pelo ministério durante a crise, e atacou:
— Só falta falarem que a Prevent Senior trouxe o vírus para o Brasil! — ironizou o empresário, acusando o ministro ainda de desconhecimento sobre a empresa.
A Prevent Senior opera nove hospitais da rede no estado de São Paulo. Informações mais recentes revelam que 79 das 136 mortes no estado de São Paulo ocorreram em suas unidades. Em entrevista coletiva anteontem, Mandetta chegou a colocar em xeque a atuação da Agência Nacional de Saúde (ANS) sobre os serviços prestados pela empresa.
— Incomoda o desconhecimento dele (ministro) sobre a companhia. Ele não sabe os números da companhia, como a gente está estruturado. Ele falar por falar, simplesmente sem ter a informação, é uma irresponsabilidade vinda de um ministro de Estado — disse ao GLOBO, ontem, durante entrevista exclusiva na sede administrativa da empresa, em São Paulo.
Segundo a empresa, há atualmente 272 pacientes internados nos hospitais da rede com sintomas graves de coronavírus, como falta de ar. Desses, 95 receberam o diagnóstico positivo, e o restante aguarda os exames. Considerando os beneficiários do plano com alguma suspeita de coronavírus, mas sintomas leevs, o número de casos é de 1041. Nas contas do plano, 186 pacientes já tiveram alta desde o início da epidemia.
Parrillo rebateu ainda as críticas do ministro de que o modelo de negócios da Prevent Senior, de oferecer planos de baixo custo, está por trás do alto número de casos de coronavírus nos hospitais da rede. Segundo ele, desde o início da crise a empresa abriu suas instalações para a fiscalização das autoridades, "mas ninguém foi conferir o trabalho feito lá".
— A empresa sempre adotou uma postura transparente nessa epidemia. E agora vão botar a Prevent Senior no epicentro dessa discussão (sobre o número elevado de casos na capital paulista)? — disse.
Em sua defesa, Parrillo informou que a empresa é objeto de estudos por pesquisadores da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, que veem no negócio um exemplo bem-sucedido de atendimento médico à terceira idade.
Com o aumento da epidemia, a Prevent Senior deslocou três hospitais da rede para tratar pacientes de coronavírus e afastou a possibilidade de a assistência entrar em colapso. Unidades como as de Santa Cecília, Paraíso e Moóca estão recebendo pacientes vitimados pela doença.
— Não há risco de colapso do nosso atendimento. Estamos com 1 mil menos pacientes internados agora do que estavamos na mesma época do ano passado. Nossos beneficiários estão seguindo as nossas orientações para ficarem em isolamento. Por isso, ficaram menos doentes — disse.
A epidemia de coronavírus, por ora, não alterou planos da empresa. A meta, segundo Parrillo, é de faturar pelo menos de R$ 4 bilhões neste ano, o suficiente para uma expansão de 15% sobre o resultado de 2019. A inauguração de três hospitais na capital paulista nos próximos meses segue de pé:
— No futuro vão olhar pra gente e verão que temos o modelo de saúde mais seguro que existe. Temos todos os processos alinhados e 100 doutores dentro da companhia. Quem tem doutorado não vem trabalhar numa companhia que só pensa em reduzir o custo da assistência à saúde — defendeu-se o empresário, cuja família inteira é assegurada pelo plano, segundo ele. A mãe de Parrillo, de 75 anos, neste momento está internada numa das UTIs da Prevent Senior com diagnóstico de coronavírus.
— Essa semana temos a perspectiva de desentubá-la — diz.
Com a expansão no número de casos confirmados de coronavírus entre os pacientes dos hospitais da Prevent Senior, a empresa parou a divulgação detalhada na quinta morte registrada em suas unidades. Segundo Parrillo, não foi uma estratégia da empresa de esconder a situação real da epidemia nas unidades, mas, disse, porque houve um “delay” na divulgação dos dados em virtude do aumento exponencial de óbitos nos hospitais da rede e porque houve um erro na estratégia das autoridades em convocar pessoas de mais idade para a vacinação contra a gripe.
— Nossos beneficiários ficaram isolados num primeiro momento. E aí o que o governo do estado fez? Foi lá e iniciou campanha de vacinação. Colocou 600 mil pessoas na rua, boa parte delas de pessoas mais velhas. Depois de quatro dias (de campanha) meu número começou a subir de novo.
Sobre uma possível intervenção da prefeitura, ele diz que não há sentido porque eles mesmos estão convidando as autoridades para visitar suas unidades.
— A história vai mostrar que estamos certos. É irresponsável você pegar 470 mil idosos e falar em intervenção. Para que deixar esses 470 mil fiquem fragilizados emocionalmente, achando que não terão atendimento? — diz.
https://oglobo.globo.com/sociedade/...icas-feitas-aos-hospitais-da-empresa-24345057
Prevent Senior responde a Mandetta: “Queremos que nos deixem trabalhar”
https://exame.abril.com.br/negocios...a-mandetta-queremos-que-nos-deixem-trabalhar/
Mandetta x Prevent Senior – o que há por trás dessa história?
https://veja.abril.com.br/blog/marc...vent-senior-o-que-ha-por-tras-dessa-historia/