Eu discordo, a questão existencial de cada personagem no FFIX é muito mais profunda que as relacões colegiais entre os personagens do FFVIII.
No VIII são personagens de uma mesma realidade, vindos de uma mesma origem, que eles acabaram esquecendo. O problema temporal não é deles, é da vilã.
No IX se reúne um grupo de pessoas calejadas (um bando de f*), cada um de uma origem, cada um movido por uma dor diferente. E essas dores são muito bem abordadas no jogo. A empatia que se cria pelos personagens é maior que no VIII.
O IX mostra a tristeza da guerra de uma forma diferente, se vê a morte e a dor de civis. No VIII os ataques mostrados são contra alvos "militares". Por isso acho o IX melancólico demais para crianças.
O VII sim tem uma profundidade diferenciada e é realmente feito para adultos, vide a linguagem e a temática abordade em certas cenas.
falow
Acho que temos que distinguir forma, de substância, de método.
Entendo que os temas são tratados numa roupagem menos madura, não tem “polêmica”, os momentos sombrios são menos comuns, os personagens têm dimensões pouco conflituosas, e possuem uma verve “cômica”, caricata (não no sentido pejorativo, e sim no sentido “exagerado”, i.e., óbvio, e de fácil absorção por intelectos em formação)
IX é mais family-friendly que os dois antecessores, vejo que uma criança mais nova enfrentaria dificuldades de se entreter e até de bem absorver ou acompanhar a reconstrução psicológica de Cloud por Tifa, as questões de Jenova, ou as nuances de Sephiroth (não estou comparando esses personagens à alta literatura, antes que alguém me venha com essa, apenas balanceando ambos os jogos). A história de FF IX é um conto de fadas de fácil captura, é um texto de literatura infanto-juvenil, com todos os tropes e métodos para incluir essa faixa etária. Ele tem poucas curvas.
Assistindo ao Making of:
E lendo os materiais de criação do projeto:
Twenty years on, two of FF9's key staff reflect on creating a fan-favorite FF.
www.rpgsite.net
E entrevistas da IGN, vemos que o objetivo do time de desenvolvimento foi se afastar do aspecto mais realista de FF VIII e FF VII, que, segundo o staff, estava alienando parte da audiência. Todos nos lembramos dos primeiros rumores de que o game seria um spinoff, e não um entry numerado, por essa mudança de tom para algo mais Light, a revista Gamers tratou disso com afinco.
Adiante os aspectos de técnica narrativa, muito menos maduros, vide Monteiro Lobato, o setting é muito mais apropriado à infância e pré-adolescência, ao contrário do mundo carcomido, decrépito e sujo de VII, seus personagens e construções comedidas e fotorrealistas, sua narrativa que não dá um mísero segundo de paz, não tem quase nenhum momento ameno, é só desgraça e luta, e as influências
Cyberpunk, obviamente voltadas para indivíduos com faixa etária mais alta, que, na proporção das pesquisas de público, gostam mais desses elementos.
FF VIII é colegial de fato, setting futurista que também apela a uma faixa mais alta, não dum tipo The Jetsons, e sim duma moda Scifi, uma High School Story com romance e tudo, o range de idade é adolescente tardio, o que não refuta as faixas que aloquei em meu post (15-20+)
IX é conto de fadas em rascunho e execução, mais palatável ao público infantil
Não confiando em mim, vide a visão do Itahana:
“There was FINAL FANTASY VII, which was kind of steam punk sci-fi. FINAL FANTASY VIII is a school story, a love story, and a really human story set in a realistic city. Using that for inspiration, we went on to create this sort of literary, imaginary world… something like you would have in a fairy tale. We wanted to create the sort of world a child might dream up”
Ou aqui:
"
Final Fantasy IX has a style that appeals to both adults and children”, nos dando o conceito de livro de Family Friendly
Outrossim, o character designer foi contratado porque desenhava personagens para campanhas publicitárias de brinquedos, e o Sakaguchi queria que a trupe de IX tivesse um aspecto “Toy”, para que crianças pudessem replicá-los com facilidade (vide os 6:00 do video “Inside FF IX”, que colei acima), algo muito destoante do visual com proporções humanas, futurista e mais sóbrio de seus predecessores, e que nos indica a que público a obra se dobra
Existem algumas cenas muito melancólicas, mas o manejo é “direto” ao ponto (um elemento narrativo que torna o acompanhamento mais simples), não é uma cadeira-de-rodas ou um assassinato de protagonista, o rei vira um Oblox, e não é chacinado com uma espada em sua cadeira de trabalho, no topo da torre da empresa onde é CEO, Vivi lida com as crises formativas a que os contistas infantojuvenis tão apelam, em ponto de “moral da história”, pra cavar, justo na idade das descobertas, os 10-14 anos que citei, o interesse amplo.
Tristeza e solidão são alguns dos temas mais universais da litetatura infantil, não citarei a vastidão de livros para a faixa etária que versam na área, nossos professores nos deram esses presentes em nossos primeiros graus.
No cinema fica mais fácil de traçar paralelos, Toy Story 3 (um filme muito depressivo, hipotímico, uma história singela e mui triste), onde o tema, assim como em FF IX, revolve-se num mecanismo narrativo apropriadamente infanto-juvenil, nem por isso tornando-o um conto maduro. Por óbvio, não há nada de mal aí, considero Toy Story 3 um dos melhores filmes de seu ano, não só contando animação, com tudo no meio. Ele é bom, porque é bom, mas seu público alvo é outro.
Adiante, o sentimento principal que a equipe de desenvolvimento de IX quis passar não foi “tristeza”, e sim o oposto. É um game “lively”, colorido (não no sentido visual, e sim de sentimento), alvissareiro, aventureiro, “danadinho”, como crianças de 12 anos são, muitas cenas bem humoradas. O jogo foi desenvolvido no Hawaii, e o time conta o quão as praias e o sol forte do arquipélago maravilhoso (vocês conhecem?) influenciaram na construção dessa apresentação visual:
“
Ultimately, what we did was to set an overall theme for the game, and that was “living!” with an exclamation mark”, Aoki, Event Designer
Enfim, entendo sua visão, mas discordo, por mais que, às vezes por mecanismos involuntários de auto-defesa, por gostarmos de algo, e talvez nos acanharmos com o fato de que aquela coisa possa de repente ser vista como mais infantil ou depreciativa, como se fosse pejorativo, quase sempre personagens fofos, aspectos visuais e temáticos acompanham o público-alvo. FF IX, não é exceção, e a técnica narrativa, o script e o cast acompanham. Poucas vezes um jogo com essas valências na apresentação visual não será mais infantil, assim como raramente, ao construírem mundos mais verossímeis ou personagens com proporções humanas, o alvo não serão galeras mais adiantadas na folhina.
Além de o time de desenvolvimento do game descrever com detalhes essas questões, a equipe que vai tocar esse anime concorda que IX é o mais infantil…
… e por isso mesmo bem escolheram justamente esse título para tal, sabendo das dificuldades de transformar o conto de VII e VIII para o público 8-13 anos, salvo se deformassem e adaptassem muito scenario e roteiro originais. Eles não jogariam recursos e tempo ralo abaixo, a escolha foi sábia