Extraoficialmente já estamos numa.
Concordo, afinal, nossos números mensais de pessoas mortas e feridas em circunstâncias violentas, já são mais que suficientes para considerar que vivemos em guerra.
Vejam esta matéria:
LUIZ FLÁVIO GOMES
Jurista e diretor-presidente do Instituto Avante Brasil (membro do MCCE).
Na última semana repercutiu na mídia mundial a barbárie do assassinato de 298 pessoas que se encontravam num avião da Malaysia Airlines, que foi derrubado por um míssil disparado provavelmente da área controlada por separatistas da Ucrânia, alimentados pela Rússia (diz Obama).
Chegou a 335 o número de mortos em 12 dias no Oriente Médio. Em 48 horas de ataque terrestre israelense na Faixa de Gaza, cem pessoas morreram. Muitos brasileiros possivelmente não sabem que esses números são próximos da nossa mortandade genocida e fraticida diária: em 2012, 276 pessoas foram mortas por dia, sendo 154 assassinatos intencionais e 122 no trânsito. Diariamente, no Brasil, matamos o equivalente a um avião grande cheio de gente (em 2014 estamos beirando 300 mortos diários). Foram 101.149 óbitos em 2012: 56.337 intencionais e 44.812 no trânsito. Nossa taxa mensal de cadáveres por esses dois motivos chegou a 8.428. Ou seja: 101.149 mortos no ano, que equivale a 8.428 por mês, 276 por dia, 11,4 por ora ou quase 2 mortes a cada 10 minutos. A repercussão de tudo isso na mídia brasileira é pífia. Nos tornamos um país tanatológico, onde as mortes evitáveis (que geram cadáveres antecipados) foram naturalizadas (fazem parte do cotidiano, não assustam mais).
O Brasil, que é considerado um país de desigualdade obscênica (índice Gini de 0,51 em 2012), conta também com violência epidêmica (29 assassinatos para cada 100 mil pessoas, em 2012) e corrupção endêmica ou sistêmica (em 2013 o país caiu três posições no ranking dos países considerados mais limpos ou livres da corrupção elaborado pela ONG Transparência Internacional, com sede em Berlim, Alemanha. O país, que em 2012 ocupava a 69ª posição na tabela que inclui 177 países, agora está em 72º lugar — bem atrás de vizinhos como Uruguai, na 19ª posição, ou o Chile, na 22ª). A evolução constante (com poucas oscilações) dos homicídios no Brasil de 1980 a 2012 é a seguinte:
Nos últimos 32 anos (1980-2012), o crescimento da mortandade no trânsito foi de
125% no número de
mortes absolutas; considerando-se a taxa de mortes por 100 mil habitantes, o aumento foi de 37,5%; a única queda que se nota é na taxa de mortes por 100 mil veículos:
menos 68,3%. Isso se deve ao incremento da frota automotiva brasileira. Quanto mais carros circulando no país, menos a quantidade de mortos por 100 mil veículos. A
média de crescimento anual de mortes no trânsito, para este período, é de 2,77%. Faz 32 anos que os óbitos estão aumentando fortemente e não se vê nenhuma política pública radical de prevenção de mortes (é uma prova inequívoca do quanto as políticas públicas não valorizam a vida). As autoridades sempre empurram o problema com a barriga (são, portanto, administradores de mortes). Vejamos:
De todas as mortes ocorridas anualmente no Brasil, grande parcela é de responsabilidade direta do Estado brasileiro, que é protagonista de um verdadeiro genocídio estatal, que constitui crime contra a humanidade imprescritível e não anistiável. Essa tese está sendo desenvolvida por nós em um trabalho que pretendemos publicar no princípio de 2015.
Fonte:
http://institutoavantebrasil.com.br...-10-minutos-uma-no-transito-e-um-assassinato/
Não posso afirmar nada sobre a precisão dos números acima, mas a matéria em si, coaduna com o que penso.