@Goris, penso que essa hipótese tem fundamento se levarmos em conta que o Japão vinha perdendo a guerra com os EUA (sim, à um custo terrível de vidas, mas vinha perdendo, o país já estava arrasado).
Desde maio 45, muitos no alto comando japonês já consideravam a guerra perdida e a rendição inevitável, e o que todos temiam era uma revolução comunista (palavras do principe Konoe, ex-primeiro ministro, para o imperador). O único obstáculo era a rendição incondicional, por isso eles contavam que Stalin intercedesse junto aos EUA.
Só que toda a comunicação japonesa era interceptada pelas americanos, (Stimson, Byrnes, Forrestal, Truman, tem documentos desses caras falando isso) e os americanos passaram a protelar qualquer acordo, porque queriam a rendição incondicional.
os principais generais americanos, McArthur Eisenhower Nimitiz, eram contra a bomba. MacArthur mesmo chegou a afirmar depois em memórias, que o Japão teria se rendido em Maio de 45 se o EUA já tivesse dado as garantias que o Hiroito seria mantido no poder (havia um divisão na Casa Branca entre os que eram a favor e os que eram contra mantê-lo).
até mesmo Curtis LeMay, o mais sanguinário dos generais, responsável pelos bombardeios na Europa e depois no Japão, afirmou que o Japão se renderia mesmo sem o uso da bomba.
quando os soviéticos invadiram a Mandchuria, Corea, Sacalina e Curilas, com estimativas de 700 mil soldados mortos, no mesmo dia 09 de agosto (Nagasaki), isso foi o assunto do dia para os japoneses, Nagasaki era só mais uma cidade destruída com pouca menção nos memorandos oficiais.
o primeiro ministro japonês Suzuki foi categórico, devemos por fim à guerra e negociar com os EUA antes que os soviéticos invadam Hokkaido, o vice-ministro do exército escreveu em memórias que só depois eles tomariam conhecimento dos horrores das bombas atômicas (da radiação), naquele momento o que assustava eram os relatos dos ataques soviéticos.
os japoneses poderia lutar até morte com o custo alto de vidas ? sim, eles poderiam resistir uma invasão em Honsu (a principal ilha do arquipelago japonês, onde fica Kyoto e Tokyo) e as baixas americanas seria altíssimas, mas não podiam resistar a uma invasão em Hokkaido e lutar em duas frente e nós sabemos que Stalin não tinha nenhum receio com quantidade de soldados mortos.
também precisamos levar em conta que os EUA não tinham mais nenhuma bomba pronta, militarmente, o uso delas não ajudou em nada numa invasão, caso o Japão não tivesse se rendido (óbvio que os japoneses não sabiam disso, pra eles os EUA tinham bombas ilimitadas).
a população americana aprovou em massa o uso das bombas (o ódio aos japoneses era muito maior que o ódio contra os nazistas, os americanos realmente viam os asiáticos como inferiores), mas o quanto isso também não foi uma manipulação dos fatos ? melhor contar que o inimigo se rendeu por causa do poder da nossa bomba e que salvamos milhões de vidas de soldados.
dá uma lida nesse documento, é um documento oficial escrito pelo Henry Stimson (chefe militar do projeto Manhattan) em 1947, onde ele justifica o uso da bomba, qualquer outro livro escrito depois tem esse como base.
http://www.columbia.edu/itc/eacp/japanworks/ps/japan/stimson_harpers.pdf
nele tem estimativa de 5 milhões de soldados, do uso de duas bombas com curto intervalo de tempo, de poupar Kyoto (cidade que ele conhecia e admirava), das escolhas dos alvos, de como Nagasaki e Hiroshima era centros militares (o que depois provou-se ser inveridíco), de que eles não tinham outras bombas, do efeito psicológico da bomba em detrimento do efeito militar, etc.
é um documento muito rico mas é a visão americana da situação, teríamos que pesquisar documentos japoneses da época.
esse revisionismo do uso das bombas é realmente um assunto tabu, não sei se existem outros livros (eu só tomei conhecimento do livro citado no artigo recentemente, enquanto lia um outro livro sobre história americana e fiquei curioso).
enfim pra finalizar, já que fugimos bastante do assunto do tópico.
penso que as razões da rendição japonesa são bem mais complexas.
e fiquei com uma reflexão pessoal.
a gente joga War e vamos destruindo os exércitos inimigos, são soldados, quem não gosta do jogo e da estratégia.
agora, se no War tivesse população civil e pudessemos escolher atacar exército ou civis, será que seria tão divertido ?
talvez o idealismo faça a gente querer acreditar diferente mas na prática não existe idealismo, só quem bate mais forte.
ps: antes que entendam errado, sou a favor de pena de morte e execução sumária de bandido, não sou um pacifista.
só não concordo com o uso da força em população civil que, muitas vezes, não tem culpa nenhuma.
faltou o link pro livro do Hasegawa, tenho ele e vale a pena.
Racing the Enemy:
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