Uma análise mais realista sobre o "aumento da desaprovação" a Bolsonaro, o esquerdinha já entendeu o que vai ocorrer em 2020.
Bolsonaro
Com todas as bravatas e todo o destempero, o presidente conserva o apoio fiel de 30% dos brasileiros, eleitorado suficiente para ele poder manter a aposta na reeleição
27/08/2019 07h02 Atualizado 2019-08-27T10:02:32.824Z
Bandeiras do Brasil, camisas verde-amarelas e com mensagens de apoio ao presidente Jair Bolsonaro em Fortaleza no último domingo (25/8) — Foto: José Leomar/Agência Diário
Duas pesquisas de opinião divulgadas recentemente demonstram a resiliência da popularidade do presidente Jair Bolsonaro entre seus acólitos mais fieis. Mesmo diante de todas as declarações e atitudes desastradas, Bolsonaro continua a contar com a aprovação de algo como 30% dos brasileiros ouvidos em ambas.
A primeira delas, feita pelo Instituto FSB e divulgada pela revista Veja na última sexta-feira, não pegou os efeitos da crise internacional deflagrada pelas queimadas na Amazônia. A segunda, feita pela MDA para a Confederação Nacional dos Transportes (CNT), foi apurada ao longo do fim de semana, já sob os efeitos da controvérsia.
Na primeira, o governo Bolsonaro é avaliado como ótimo ou bom por 30% dos brasileiros. Na segunda, por 29% – dez pontos abaixo do patamar registrado na última rodada, realizada em fevereiro. É verdade que, de lá para cá, a desaprovação a Bolsonaro subiu de 28% para 54% e superou a aprovação, que caiu de 57% para 41%.
Mesmo assim, o público mais fiel se mantém aparentemente infenso a quaisquer polêmicas que atinjam a imagem do presidente da República. Se Bolsonaro chegar até o final do governo com o apoio desses 30% do eleitorado, os adversários terão muito trabalho para evitar a reeleição. Um terço seria o suficiente para colocá-lo no segundo turno, quando a votação viraria um plebiscito entre esquerda e direita.
Há, portanto, lógica política nas polêmicas de Bolsonaro contra seus inimigos de estimação, a constelação que inclui artistas, jornalistas, cientistas, ambientalistas, "comunistas", “globalistas”, “marxistas culturais” e todos os que possam ser rotulados como “esquerdistas”.
A cada ataque disparado contra os desafetos, a base vai ao delírio nas redes sociais. O miolo do eleitorado é indiferente à maiora das questões identitárias ou culturais que engajam os polos. São aqueles que, em ambas as pesquisas, veem o governo como regular (33% na amostra da FSB; 29% na da MDA). Só balançam nas raras vezes em que Bolsonaro encosta nos temas mais sensíveis, em especial economia ou corrupção.
Mais para frente, sempre será possível fazer um aceno de moderação, de modo a trazer de volta à tenda aqueles que se declaram moderados, desprezam o destempero presidencial, mas veem tais arroubos mais como excentricidade ou falta de modos que como tendência autoritária ou falha de caráter. A turma que está interessada mesmo nas reformas do Paulo Guedes ou no pacote anticrime de Sergio Moro.
A pesquisa FSB demonstra que Moro é o nome que oferece mais risco ao projeto de reeleição de Bolsonaro. É o ministro com melhor avaliação, citado em primeiro lugar por 29%; em segundo por 5%. Sua gestão foi considerada boa ou ótima por 55% dos ouvidos. Estão sob seu comando as duas áreas em que a população viu mais avanços: corrupção (citada por 43%) e segurança (26%).
Ainda é cedo para especular sobre as candidaturas em 2022, mesmo assim a FSB simulou dois cenários: com ou sem Bolsonaro na urna. Na hipótese de o atual presidente não concorrer, Moro seria o candidato do campo associado à direita – ou ao antipetismo – com maior votação: 27%, ante 13% de Luciano Huck, 5% de João Amoêdo e 5% do governador paulista, João Doria.
Apesar de todo dia Bolsonaro soltar uma nova bravata, apesar de sua atitude contaminar o clima no mercado e a imagem brasileira no exterior, o quadro político é surpreendentemente estável. Bolsonaro continuará a alimentar o eleitor fiel – e a oposição – com seu estilo estapafúrdio. No momento adequado, provável que modere o discurso.
Três fatores poderão abalá-lo. Primeiro, o resultado das eleições municipais do ano que vem. Será difícil lidar com o crescimento da oposição ou de seus principais adversários. Segundo, o desempenho da economia. Se as reformas de Guedes forem incapazes de gerar empregos e crescimento, o miolo do eleitorado hesitará em repetir o voto de confiança que lhe deu em 2018.
Finalmente, o roteiro traçado não pelos inimigos imaginários, mas pelos adversários reais, tanto na oposição quanto em seu próprio campo político. Se quiser ser reeleito, Bolsonaro precisa ficar de olho tanto nos petistas quanto em Sergio Moro. Seu comportamento revela que, ao menos aparentemente, ele sabe disso.