Candidatos da direita largam na frente na arrecadação para campanhas
Plataformas de financiamento coletivo registradas no TSE tem hegemonia de candidaturas mais conservadoras
A pouco mais de três meses das eleições, a direita dispara na frente na arrecadação de recursos para as campanhas eleitorais. Nove dos dez pré-candidatos com maior montante doado por seu eleitorado são de partidos de direita — quase todos críticos ao uso de dinheiro público por políticos.
O levantamento foi feito pelo GLOBO na base pública de empresas de financiamento coletivo já cadastradas no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Quinze delas já foram aprovadas e deram pontapé na arrecadação de dinheiro; três estão em análise e outras 16 não concluíram o cadastramento.
Há, no entanto, candidatos arrecadando fundos em sites próprios. É o exemplo de Guilherme Boulos (PSOL-SP), que já reuniu R$ 100 mil de centenas de apoiadores. Há também casos de pré-candidatos que não constam no levantamento por não terem seus valores listados pelas próprias plataformas, como Daniel Soranz, do PSD-RJ, (arrecadou R$ 109,1 mil) e Antônio Neto, do PDT de São Paulo (R$ 33 mil).
O líder isolado em arrecadação é o novato Deltan Dallagnol, ex-procurador da Lava-Jato que vai disputar um cargo na Câmara dos Deputados pelo Podemos do Paraná. Ele havia reunido R$ 148,6 mil em doações até este domingo.
Dallagnol lançou sua vaquinha virtual há um mês, tendo a defesa do "direito de o cidadão ter arma em casa para defender sua família" como uma das bases de sua futura plataforma política. Sua meta é arrecadar R$ 300 mil.
O valor amealhado pelo ex-procurador até agora é mais que o dobro do segundo lugar, Kim Kataguiri (União-SP), que tem R$ 70,2 mil. O líder do Movimento Brasil Livre (MBL) puxa o trem de outros integrantes do grupo no ranking: Cristiano Beraldo (4º lugar, com R$ 35,7 mil arrecadados); Rubinho Nunes (5º lugar, com R$ 26,5 mil); Amanda Vetorazzo (8º lugar, com R$ 18 mil) e Guto Zacarias (10º lugar, com R$ 15,5 mil).
Além do combate a ideias de esquerda, o MBL tem como bandeira a austeridade do orçamento público. Kataguiri recusa utilizar recursos do fundo eleitoral, e o vereador paulistano Rubinho Nunes é conhecido por seus apoiadores pela economia de gastos em seu gabinete.
— O fato de ter a direita (saído na frente no financiamento coletivo) mostra que, mesmo quatro anos depois de ter visto o poder das redes sociais, a esquerda ainda não aprendeu a usá-las — declara Kataguiri.
Passando vergonha
O grupo tem usado estratégias lúdicas nas redes sociais para incentivar a doação dos apoiadores, que envolvem "passar vergonha" para cada meta batida. Ao atingir R$ 40 mil, por exemplo, Kataguiri gravou um vídeo fazendo uma dancinha do TikTok, rede social que se popularizou pelas coreografias facilmente replicáveis por seus usuários.
As metas posteriores envolvem inalar gás hélio, que deforma o som da voz de forma cômica, e disputar uma corrida de triciclos infantis. As "performances", diz ele, motivam o público a contribuir para suas campanhas.
Única mulher entre as dez maiores arrecadações e também militante do MBL, Amanda Vettorazzo, pré-candidata a deputada estadual por São Paulo, tem lançado mão da mesma estratégia.
Ao bater a marca de R$ 10 mil arrecadados, ela imediatamente abriu o aplicativo do Instagram e cumpriu a promessa feita a seus doadores de tomar uma colher de pimenta numa transmissão ao vivo. Cerca de 200 seguidores a assistiram. As próximas obrigações envolvem dancinhas de TikTok, cantar o hino do Palmeiras vestindo a camisa do São Paulo, beber ovo cru e tomar shots de cachaça.
Para Vettorazzo, as campanhas de arrecadação de fundos servem para driblar a lei, que proíbe campanha eleitoral antecipada com pedido explícito de voto, e agir dentro da legalidade. Ela diz que trabalhar a comunicação das doações é uma forma de apresentar o nome ao pleito sem infringir as regras.
— A esquerda não entendeu que isso (financiamento coletivo) é uma oportunidade que eles perdem de falar da campanha. Se estou pedindo dinheiro para campanha, bem ou mal eu estou falando da campanha — diz ela.
O MBL tem experiência com arrecadação de dinheiro junto à militância. O grupo já utilizava dessa ferramenta para organizar acampamentos pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT), em 2016. Deputado estadual cujo mandato foi cassado neste ano após o vazamento de áudios sexistas, Arthur do Val, outra liderança do MBL, conseguiu arrecadar R$ 709 mil de voluntários em uma plataforma de financiamento coletivo para sua campanha à Prefeitura de São Paulo em 2020.
Dois dos maiores arrecadadores, os deputados federais Lucas Gonzalez (MG) e Alexis Fonteyne (SP), são filiados ao Novo. De viés ultraliberal, o partido tem como princípio não usar dinheiro público para sua manutenção (fundo partidário) ou campanhas políticas (fundo eleitoral). Gonzalez juntou R$ 41,7 mil, e Fonteyne, R$ 20,3 mil. Fábio Sousa, do PL de Bolsonaro, arrecadou R$ 22,6 mil.
O isolado da esquerda
O único pré-candidato da esquerda no topo do ranking é do PT: o ex-deputado Wadih Damous (RJ), que arrecadou R$ 16,1 mil.
Damous tem seguido o script de outros políticos que se esforçam em acenar ao público jovem. Um exemplo é seus vídeos em formato de "react", popularizado entre youtubers, que consiste em transmitir a própria reação enquanto assiste a cenas de outras pessoas — geralmente em tom de humor ou críticas.
Ele diz ser reticente à organicidade das campanhas de financiamento coletivo dos pré-candidatos da direita, e que seus adversários têm acesso a uma "máquina publicitária de rede social" que ele não tem.
— Faço a vaquinha por convicção. É uma maneira da militância orgânica ajudar na campanha, e isso tem um caráter simbólico importante. Em segundo lugar, (faço) porque preciso. Eu não tenho mais mandato, então não sei como vai ser o fundo eleitoral para mim — diz Damous, que perdeu a cadeira na Câmara em 2018.
Apenas pessoas físicas que utilizem o CPF como chave PIX poderão doar recursos para partidos e candidatos
Para o Plenário do TSE, modalidade permite maior transparência na fiscalização das arrecadações de campanha pelo eleitorado
Na sessão administrativa desta sexta-feira (1º), o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) confirmou que apenas pessoas físicas que utilizarem o CPF como chave de identificação no sistema de pagamento PIX poderão doar valores para financiar campanhas eleitorais. A decisão foi tomada na análise de um pedido de reconsideração feito pelo Diretório Nacional do Partido Social Democrático (PSD).
Na sessão do dia 31 de maio, os ministros responderam afirmativamente a uma consulta formulada pela legenda e permitiram o uso da ferramenta para a arrecadação de recursos, desde que os doadores usassem o CPF como forma de se identificar dentro da plataforma.
A legenda, então, argumentou que todas as operações realizadas no sistema de pagamento poderiam ser rastreadas e solicitou que o Plenário autorizasse o recebimento de transferências feitas por meio de qualquer chave escolhida pelo titular da conta.
O julgamento do caso, reiniciado na sessão desta quinta (30) com o voto do relator, ministro Sérgio Banhos, e dos ministros Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia e Carlos Horbach, foi interrompido por um pedido de vista do ministro Edson Fachin.
Voto-vista
Ao examinar os aspectos técnicos que envolvem a operação, o presidente do TSE destacou que o processo eleitoral brasileiro deve ser integralmente regido pelo princípio da transparência. Ele explicou que, embora todas as transações possam ser rastreadas e identificadas, seria necessário aguardar entre 15 e 45 dias para confirmar a identidade da doadora ou do doador que não utilize o CPF como chave PIX.
No entendimento do ministro, o lapso temporal entre o recebimento dos recursos e a apresentação dos extratos que identificam a pessoa responsável pelo depósito poderia prejudicar o acompanhamento diário da arrecadação de campanha das agremiações pelo eleitorado. As informações declaradas pelos partidos e candidaturas podem ser verificadas por meio da página DivulgaCandContas, gerenciada pela Justiça Eleitoral.
“Por isso, concluí que o uso cogente de chave PIX com face externa unicamente do CPF para fins eleitorais é o que possibilita maior fidedignidade na transposição de informações ao sistema SPCE [Sistema de Prestação de Contas Eleitorais], haja vista a certeza de quem é o doador e no devido tempo”, destacou Fachin, ao se unir à divergência aberta pelo ministro Alexandre de Moraes na sessão de quinta.
Após o voto de Fachin, o relator da consulta, ministro Sérgio Banhos, que havia autorizado o uso de qualquer chave PIX, endossou o posicionamento do presidente do Tribunal e reajustou o voto. Assim, por unanimidade, o Plenário negou o pedido de reconsideração feito pelo PSD e manteve a decisão do último dia 31 de maio.
BA/LC, DM
Processo relacionado: CTA nº
0600244-02 (PJe)
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www.tse.jus.br
Duas noticias que se complementam.
Quero só ver gente desmentir dinheiro.