Dani Alves diz não se importar com críticas: 'Desfilo de salto alto e não estou nem aí'
Jogador falou sobre sua paixão pela moda e afirmou que usa os sapatos de sua esposa
A bola não queima nos pés de
Daniel Alves. Nem a de jogo, nem a figurativa. Revelado pelo Bahia, o jogador com mais títulos na história do futebol (já são 40) e melhor lateral-direito do mundo por quase uma década, com passagens por Sevilla, Barcelona, Juventus e Paris Saint-Germain, se acostumou a vencer. Em campo, os adversários. Fora dele, os haters, as entrevistas, o assédio. Nas redes sociais, ele é o Good Crazy, o cara da moda, o amigo do
Neymar. Fora delas, um baiano de Juazeiro que nunca deixou de comer feijão e moqueca nos 17 anos vividos na Europa – e percebidos quando em alguns momentos troca o português pelo espanhol. Às vezes ninguém o entende, nem no estilo, nem nas palavras. "Me sinto incompreendido", desabafa. "Mas quem fica surpreso ao me conhecer é porque me imagina muito diferente do que realmente sou, não por que eu finjo ser outra pessoa", completa. O que nos leva à pergunta: é possível compreender Daniel Alves?
O "Good Crazy"
A primeira impressão que se espera ter ao conhecer Daniel Alves é a coisa do "maluco". Pode reparar em seu
perfil no Instagram. Língua de fora, poses engraçadas,
roupas idem e a tal hashtag #GoodCrazy. O que suspreende ao tentar descobrir de onde vem isso, contudo, é que a loucura do jogador não é marketing. Ele realmente se vê assim.
"Desde a divisão de base do Bahia, eu já era considerado um cara diferente", conta. "Só porque usava camisa laranja, óculos espelhados, uns tênis Mike (a versão falsificada local de
Nike). Tem uma foto da infância em que todos os meus irmãos estão bonitinhos e eu todo
babado, com a mão no bolso, posando. Aí isso foi piorando e as pessoas falavam que eu era maluco. Posso até ser, mas sou um maluco beleza, que só quer o bem dos outros. É daí que vem o Good Crazy, é uma tradução disso. Porque eu gosto de ver todo mundo feliz, de provocar sorrisos", explica.
Mas Daniel acha que pouca gente capta isso. "Sempre pegam as coisas ruins de qualquer frase que eu falo, mas não a mensagem completa", se defende. "Criam conceitos sobre mim porque sou famoso, mas se for ver o que eu gosto mesmo é de ficar descalço na minha roça, com meus amigos, fazendo música. Vivo em um mundo de fama e gosto dele e recolho os frutos que ele me dá, mas sou de outro. Tudo na vida é adaptação e eu me adapto”, reflete.
A volta ao Brasil
Entender o que são esses mundos distintos parece passar, então, por desvendar sua volta ao Brasil. Aos 36 anos, ele poderia continuar jogando em alto nível na Europa por mais alguns, mas vir para o São Paulo se pintou como uma oportunidade de ser compreendido – e, de quebra, alcançar algo além dos campos.
"Voltar foi um choque interessante", reconhece. "A diferença entre organização, estrutura e times é muito grande e desafiadora, mas a cultural é maior ainda. O cara vai em estádio em jogo da
seleção brasileira para vaiar um jogador só por que não é do time que ele torce! É uma coisa muito antiga. Voltei também para tentar mudar isso e acho que finalmente estou conseguindo fazer o que tenho como missão de vida, que é deixar um legado", analisa.
Ele mesmo explica o que isso quer dizer: "O Brasil precisa urgentemente de grandes exemplos em vários setores. Somos um país muito egoísta, onde se o meu estiver bom, o do outro não importa. Assim não se cria uma nação sólida e nem sensibilidade entre as pessoas. Gostaria de ser uma dessas referências, devolver um pouco do que aprendi e recebi. Esse é meu desafio aqui. Se uma mãe virar para o seu filho e disser que quer que ele seja como o Daniel Alves eu estou realizado", completa.
Caminho aparentemente longo, entretanto, quando ele procura pares no mundo do futebol. "Tem algumas pessoas que pensam assim, mas infelizmente no geral o pessoal ainda só pensa em si próprio", diz. "Se eu tivesse um poder, seria deixar todo mundo cego. Para ninguém ver quem é gay, quem é negro, quem é feminista, quem é isso ou aquilo. É impossível que as pessoas não consigam ser mais humanas umas com as outras, é uma amargura que put* que pariu", desabafa.
Rumo à Copa e além?
A missão de mudar o mundo não exclui do roteiro, obviamente, ser campeão dele – e talvez nada mais no futebol. "Quero ir para a
Copa de 2022 e é por isso que voltei", afirma. "Depois eu penso em parar, sobretudo se o resultado for bom [risos]. Meu sonho não é conquistar cinquenta títulos, não vai caber nenhum troféu no meu caixão. Quero levar comigo sensações, momentos vividos", conta.
Isso ajuda a entender seus planos para a aposentadoria, entre eles palestrar para jovens e adolescentes sobre "conscientização humanitária" e ser stylist. O mais provável, contudo, é encarar uma carreira musical – Daniel toca (bem, segundo amigos) vários instrumentos e já tem até algumas faixas gravadas. "Brinco que, na verdade, sou músico e meu hobby é futebol. Quem sabe eu não lanço um álbum?", pergunta, rindo. Isso ajuda a entender seus planos para a aposentadoria, entre eles palestrar para jovens e adolescentes sobre "conscientização humanitária" e ser stylist. O mais provável, contudo, é encarar uma carreira musical – Daniel toca (bem, segundo amigos) vários instrumentos e já tem até algumas faixas gravadas. "Brinco que, na verdade, sou músico e meu hobby é futebol. Quem sabe eu não lanço um álbum?", pergunta, rindo.
O influenciador de moda
Se o futebol não limita Daniel Alves, isso se deve muito à moda. Ele conta que, sem acesso a revistas ou programas de TV durante a infância e a adolescência pobres em Juazeiro, no sertão baiano, e o começo da vida adulta na capital Salvador, sua primeira referência de estilo veio de dentro dos campos.
"O
David Beckham é uma pessoa que me inspirou bastante a ter um jeito diferente de vestir,
mudar sempre o cabelo, ter tatuagens", diz. "Ele criou uma personalidade que extrapola aquela coisa britânica e elegante. Só nunca falei isso para ele, eu acho ele um gato, sempre acabamos conversando sobre outras coisas", recorda.
Apesar das inspirações, o "estilo Daniel Alves" é próprio, ele garante.
Um de seus passatempos é reparar em looks de pessoas que vê passando na rua – homens e mulheres – e pensar se aquilo combinaria ou ficaria bem nele. "Estilo não é só comprar
Dsquared2,
Balmain,
Saint Laurent. Não é gastar. É saber gastar.
Com os mil euros que eu pagaria numa calça de grife eu posso fazer uma festa na Zara. Tem que se sentir bem, usando o que quer que esteja usando. Isso é o que mais me fascina na moda, o fato de ela ser livre", analisa.
Nessa linha, Daniel se considera um influenciador – e isso diz muito sobre a forma como ele se mostra nas redes sociais. "Incentivo as pessoas a terem um estilo próprio", afirma. "Fazer as coisas sem pensar na opinião dos outros deixa você mais leve. Eu tiro onda mesmo, desfilo com o salto da minha esposa e não estou nem aí. Sou muito mais feliz do que as pessoas que estão amarguradas pensando em mim", provoca.
40 títulos depois...
A essa altura da vida e da carreira, Daniel Alves tem a capacidade de olhar para si mesmo sem rótulos e entender em que universo ele vive. "Eu me divirto mesmo é com os mundos livres: gastronomia, arte, música, moda e tudo que dá espaço para criar uma história sem se importar com o que as pessoas vão pensar", define. "Tudo que eu faço eu faço com alma, não perco meu tempo com coisas que não vão me fazer melhor", completa.
Os valiosos minutos são dedicados à vida em família - que ele evita expor. "Se todo mundo conhecesse minha intimidade, ela não seria íntima", brinca sobre não compartilhar momentos pessoais com a esposa,
Joana Sanz, e os filhos, Victoria e Daniel, nas redes sociais. A estes, em vez de cliques ele prefere dar conselhos. "Falo que eles podem ser o que quiserem, desde que tentem ser os melhores naquilo e se dediquem para isso, aceitando que para realizar seus sonhos e conquistar qualquer coisa é preciso abrir mão de muitas outras", resume.
Daniel, afinal, é um cara que correu atrás dos seus. "Saí de casa com 15 anos, deixei meu pai e não consegui nem dizer tchau pessoalmente para minha mãe", lembra. "Depois, nem sabia o que era
Sevilha quando fui morar lá, tive que olhar na internet quando recebi a proposta. Hoje a sensação é de que tudo valeu a pena. Não tem dinheiro que pague olhar para trás e poder ver que, apesar do que renunciei, mesmo assim, hoje sou feliz", conclui o bom maluco.