João Amoêdo acredita que pode ser a novidade na corrida presidencial de 2018. A crença não vem da imagem estereotipada que carrega, de banqueiro bem-sucedido prestes a disputar a primeira eleição. Amoêdo acha que sua candidatura pelo Novo, partido que ajudou a fundar, vai inaugurar um projeto inovador na gestão do país. “Nossa ideia é propor um modelo de gestão do Estado cada vez menor, focar em produtividade e empreendedorismo. Mas o mais importante é que temos essa filosofia interna. Nosso partido é uma instituição, e o modelo vem antes dos candidatos. À medida que as pessoas entram, a mentalidade permanece. Seremos uma novidade pela proposta”, conta.
Seis dias após anunciar, em novembro, a pré-candidatura, João Amoêdo recebeu a reportagem do Socioeconomia.org para a segunda entrevista da série “Personagens da política para 2018”, que discute temas socioeconômicos com lideranças políticas que devem se destacar no ano que vem. Simpático, Amoêdo chegou à sede do Partido Novo, em Ipanema, bairro da Zona Sul do Rio com Indice de Desenvolvimento Humano (IDH) similar ao da Noruega, numa quinta-feira ensolarada, falando no celular e se desculpando pelo pequeno atraso. Alguns minutos depois, serviu água aos convidados e começou a falar sobre o maior objetivo da carreira: chegar à Presidência da República.
Amôedo tem voz serena e conversa olhando nos olhos do interlocutor, sempre colocando os pensamentos de forma objetiva. Para ele, o projeto do Novo tem robustez e serve como uma terceira via da direita aos eleitores insatisfeitos com o rumo da política brasileira. Mas, por enquanto, a largada foi modesta. Ano passado, nas eleições municipais, dos 142 candidatos lançados pelo Novo ao cargo de vereador em cinco capitais (Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e Curitiba), apenas quatro foram eleitos (2,8% do total de candidatos); a capital paranaense não ganhou representantes do partido. A Rede Sustentabilidade, partido de Marina Silva, também fez sua estreia no pleito municipal e, apesar de um desempenho abaixo do esperado, conseguiu 181 vereadores (5,2% do total).
O plano que mira a cadeira presidencial serve para virar esse jogo. Amoêdo almeja o cargo mais importante do Executivo, mas, sobretudo, quer que o partido seja conhecido. Por isso, as pretensões são grandes. A legenda vai lançar, ano que vem, 300 candidatos ao cargo de deputado federal, querendo eleger 35. Grande parte deles com histórico profissional fora da política – como a maioria dos cerca de 15 mil filiados ao partido.
À medida que fica conhecido, o Novo vai ganhando adeptos, mas o front de batalha de Amoêdo está em casa. Amoêdo tem como braço direito a mulher Rosa Helena, com quem está casado há 30 anos e tem três filhas. A advogada esteve ao lado do marido durante a maratona para criar o partido e hoje capitaneia o apoio familiar. “Com a crise, poderíamos ter optado por sair do Brasil, mas queremos deixar um país muito melhor. A batalha que enfrentamos só para fundar o Novo foi enorme. Uma luta para conseguir as assinaturas e várias idas à Brasília. O João está muito preparado. Aprendemos muito no processo”, diz Rosa, com olhos brilhando ao falar do marido, que conhece desde os tempos da adolescência.
Se o processo de fundação foi uma maratona, Amoêdo está acostumado a provas difíceis. Aos 55 anos, já disputou seis Ironman, provas de resistência que exigem fôlego para nadar, pedalar e correr quilômetros por até 17 horas. Só que seu sucesso está na gestão de instituições financeiras. Formado em Engenharia Civil, pela UFRJ, e em Administração de Empresas, pela PUC-RJ, o carioca do bairro de Botafogo foi estagiário do Citibank e cresceu profissionalmente na Fináustria, a financeira do BBA – do qual chegou a ser sócio após a compra do Itaú. Amoêdo também foi conselheiro e vice-presidente do Unibanco. E hoje é sócio da Casa das Garças, famoso centro de estudos de tendência liberal no Jardim Pernambuco, na Zona Sul do Rio.
Apesar de não se declarar um liberal (“Prefiro melhorar a vida das pessoas a seguir teorias econômicas”), o ex-banqueiro tem um plano claro de redução dos tentáculos do Estado e da melhora no ambiente de negócios. Durante a entrevista, além de afirmar que vai privatizar todas as empresas públicas do país – citou, entre elas, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Petrobras -, Amoêdo levantou dúvidas sobre a mudança de tom no discurso do também pré-candidato à presidência Jair Bolsonaro, que se aproximou posicionamento liberal.
A seguir, leia a entrevista completa.
Qual o papel do empreendedorismo no desenvolvimento econômico? E o que pode ser feito para melhorar o ambiente de negócios no país?
R: O empreendedorismo é a melhor fonte para gerar riqueza no país e, consequentemente, a melhor alternativa para o combate à pobreza. Mas, no Brasil, muita coisa atrapalha quem deseja empreender.
Como o quê?
R: Primeiro, as altas taxas de juros. Quem está empreendendo, normalmente, precisa de capital. Isso não é regra, mas um pouco de capital é necessário para um negócio. Então, há uma competição muito forte por poupança das pessoas contra o Estado. O Estado não tem as contas equilibradas, o que provoca uma alta taxa de juros, e isso drena recursos que poderiam ir para o empreendedorismo. É necessário que o Estado tenha suas contas equilibradas para que haja uma taxa de juros mais barata. Isso evita, por exemplo, uma alta taxa de retorno para pagar o custo de capital.
E sobre a burocracia brasileira na hora de abrir e fechar um negócio?
R: Esse é um ponto fundamental. O tempo médio para se abrir uma empresa ou fechar é muito alto, comparando com outros países. Na minha avaliação, isso precisa ser revisto. E, eventualmente, dar alguns incentivos.
Como funcionariam esses incentivos?
R: Acho que mais incentivos para a abertura de empresas, e para o primeiro e o segundo ano de funcionamento do negócio. Também vejo necessidade de incentivos na carga tributária e algo para facilitar contratações. Ou seja, tudo que facilite o início do empreendedor.
Em 2025, segundo relatório da Merrill Lynch, US$ 9 trilhões serão evitados no mundo em remuneração de postos de trabalho, ou seja, não serão pagos, porque as vagas serão suprimidas pelo avanço tecnológico. Isso representa cinco vezes o PIB atual do Brasil. Como o Brasil está se preparando para as mudanças no mercado de trabalho com o progresso tecnológico?
R: O Brasil não está se preparando. O caminho que a gente defende é a busca por uma maior produtividade. No fundo, quando estamos falando de tecnologia, as primeiras coisas a serem substituídas são as profissões mais básicas. Então, só é possível vencer isso se aumentarmos a produtividade das pessoas. E, no Brasil, isso passa por investimentos em educação, como nos cursos técnicos. Vemos que estamos no caminho contrário a isso porque a educação está piorando.
“A gente parte do entendimento de que ninguém é rico porque alguém é pobre. O Casaquistão, por exemplo, tem uma distribuição de renda melhor que a do Japão. Então, não é a desigualdade social que precisamos atacar. É a pobreza”
Como compensar isso?
R: Aumento da produtividade e mais atividades na área de serviço. Turismo, por exemplo, é uma boa alternativa, porque é mais intensivo no uso da mão de obra. E o país nem investe em educação, nem cuida de políticas para aumentar a produtividade.
Falando de produtividade, historicamente, temos visto um enfoque nos incentivos fiscais na economia de base e pouco incentivo em área de alto valor agregado. Como você enxerga isso?
R: O governo, infelizmente, é mau gestor do dinheiro. Por isso, os incentivos são errados. Gosto da ideia dos incentivos menores, e deixar a cargo da iniciativa privada puxar esse incentivo. As empresas têm suas áreas de pesquisa, desenvolvimento e tecnologia. Então, se a gente reduz a carga tributária, a própria competitividade e a necessidade de crescimento das empresas no negócio farão esse papel. Eu prefiro que o governo tenha mais foco na educação básica de qualidade para que as pessoas tenham um mínimo de preparo.
“O modelo de Estado grande não funciona bem. Eu defendo uma transição rápida para o Estado mínimo e a gente terá que fazer isso o mais rápido possível”
Dentro desse dogma da redução de Estado e da sua intenção de transferir o peso e a relevância do investimento do público para o privado, observamos que, nos últimos anos, o Estado cresceu de tamanho, ampliando seus gastos e os investimentos. O país, de uma certa forma, inclusive o setor privado, se acostumou a esse desenho. Como conduz uma transição?
R: O modelo de Estado grande não funciona bem. Eu defendo uma transição rápida para o Estado mínimo e a gente terá que fazer isso o mais rápido possível. Tenho medo da transição gradual, mas é preciso tirar o peso do governo desta tarefa. O BNDES, por exemplo, precisa ser bastante revisto. Em vez de pedir ao BNDES, existe a possibilidade da empresa ir ao mercado aberto para o acesso de recurso direto.
O que te credencia a ser um candidato à Presidência da República? É pelo seu aprendizado nas instituições financeiras em que trabalhou?
R: Quando a gente olha as opções políticas no Brasil, vemos algumas novidade, mas, antes de tudo, é preciso entender qual novidade queremos. No meu entendimento, a gente não deve buscar um novo nome. Para mudar o país, é necessário ter uma novidade na gestão. Essa novidade passa não só pelo nome, mas por atitudes, propostas e uma visão diferente do Estado.
Qual seria essa visão?
R: Bom, hoje temos um Estado que cobra uma alta carga tributária. Entrega serviços públicos de péssima qualidade, como vemos na área de Saúde, Educação e Segurança e ainda tem um rombo enorme nas contas. Alguém que deseja ser algo novo tem que propor algo diferente.
Mas o que há de diferente na proposta do Novo?
R: Primeiro, o Novo é uma instituição, não é a proposta de uma pessoa só. Muitas vezes, um candidato, quando perguntado sobre em qual partido irá concorrer, não sabe dizer, porque o partido funciona como uma legenda. No nosso caso, a gente entende que deve haver uma instituição por trás, e que é possível saber, por exemplo, quais são os princípios e valores. Temos um projeto robusto.
O que já está definido em relação à candidatura?
R: O Novo irá lançar 300 candidatos para concorrer aos cargos de deputado federal, com a meta de eleger cerca de 35. São pessoas que vieram do mundo privado, da sociedade civil, e carregam consigo a ideia de renovação. Além disso, a gente pretende apresentar o quanto antes uma equipe de estrutura de governo, dizendo quem serão os ministros, por exemplo. Isso é fundamental. Eu, na iniciativa privada, aprendi a montar equipes, definir metas, prestar contas, definir prioridades, e é nisso que me baseio para me candidatar.
Você não tem medo de ser presidente?
R: Dá um canseira danada. Mas o Brasil virou um país em que se discute coisas bobas com uma intensidade enorme e deixamos o mais relevante em segundo plano. Medo, de verdade, não me dá. A questão é saber que encararei um dos maiores desafios e será um trabalho árduo.
“Racionalmente, não tem nada que você coloque os prós e contras e veja alguma vantagem em ser Presidente da República”
Você consegue responder a pergunta do porquê tentar ser Presidente da República?
R: Não. Racionalmente, não tem nada que você coloque os prós e contras e veja alguma vantagem em ser Presidente da República. A resposta que você extrai é que não tem porquê se meter nisso. É desgastante e, à medida que for tendo sucesso, aumenta os ataques de opositores.
Você se vê na vida pública mesmo se não for como presidente?
R: Não, quando eu assumo o desafio, eu fico tão focado planejando meus passos que não dá tempo de pensar em outra coisa. Mesmo no caso da fundação do Novo, nunca fizemos planos de médio e longo prazo. E mesmo na questão da presidência, minha ideia original era continuar à frente do partido, mas, nos últimos seis meses, mudou muita coisa. Chegamos à conclusão de que deveríamos aproveitar essa janela de visibilidade dos próximos 12 meses e seria importante eu estar à frente deste processo.
Fala-se muita da aplicação das boas práticas da gestão privada na gestão pública. Quais são as ferramentas utilizadas na gestão privada que você entende que não funcionam na gestão pública?
R: Não que você não tenha que fazer política na iniciativa privada, mas o nível de política que precisa ser feita na gestão pública é maior, até pela independência dos poderes, por exemplo, ao tentar aprovar leis que vão contrárias ao desejo de grupos específicos. Acho que esse é o principal ponto. Ou seja, conseguir juntar as pessoas, sem perder o norte de onde se quer chegar.
Fala-se muito da ideia da “nova política”. Mas tivemos uma reforma política aprovada que não alterou o jeito dos candidatos serem escolhidos. Como você vê o desafio de construir uma governabilidade com uma “cabeça de nova política” no mundo da “velha política”?
R: O Novo acredita que haverá uma renovação natural dos representantes do Congresso. Não sabemos o tamanho dessa renovação, mas provavelmente não teremos maioria no Congresso. O que teremos que fazer como estratégia é confrontar aqueles grupos que estiverem defendendo direitos específicos, em vez de lutar por uma agenda do país. Vai ser preciso explicitar isso para a população, ou seja, ser muito transparente.
“Eu prefiro que o governo tenha mais foco na educação básica de qualidade para que as pessoas tenham um mínimo de preparo”
Mas como seria isso?
R: Para não cair na chantagem do Congresso, é preciso chegar para a população e dizer, por exemplo, que há um projeto interessante para o país, e que 100 deputados já firmaram apoio, mas tem outros 20 que só vão apoiar caso recebam alguma benesse. Quem está exigindo isso é Fulano, Beltrano e Sicrano, e todos só vão mudar de ideia se receberem algo por isso.
Por que isso não é feito hoje?
R: Porque essa tem sido a dinâmica. A diferença do Novo é que chegaremos sem nenhuma obrigação de retribuir algo a alguém. A exceção é o nosso eleitor e o cidadão brasileiro. Por isso, teremos toda a tranquilidade de expor isso e chamar a população. E eu acho que quando os parlamentares são colocados contra a parede, eles se sentem pressionados e voltam atrás nas decisões. Eles sabem que precisam de voto para continuar na eleição. A estratégia não tem como ser muito diferente nisso, não podemos aceitar chantagem daqueles que deveriam cumprir o dever.
De acordo com um estudo divulgado em julho pela Abrinq, 40% das crianças de até 14 anos estão em situação de pobreza no país. A pobreza, no Brasil, tem um caráter estrutural. Qual o caminho para combater um dos nossos problemas mais urgentes?
R: Eu acho o Bolsa Família interessante, mas ele precisa ser casado com um programa de capacitação das pessoas. Me incomoda muito essa ideia de que quem recebe determinado valor monetário não está mais na pobreza, sendo que quem dá essa verba é o Estado. Na minha cabeça, essa pessoa continua na pobreza; ela pode não estar no ponto de vista estatístico, mas não saiu da pobreza. E, claro, investir na Educação Básica.
Pode dar um exemplo prático?
R: Direcionar mais recursos que hoje estão alocados no Ensino Superior público na Educação Básica. A estratégia é criar mais oportunidades para todos. Hoje, como o sistema está invertido, há muitos estudantes que estudaram a vida toda em colégios privados indo para o Ensino Superior gratuito. Ou seja, o pobre, por meio dos impostos, acaba pagando pelo ensino do rico. A ideia é que isso diminua.
A pobreza tem características estruturais no Brasil. Qual o caminho para encarar o tema de forma mais definitiva?
R: Bom, não é um tema que conseguiremos mudar do dia para a noite. Mas, ao meu ver, há um caminho. Países onde há mais renda per capita, é onde há mais liberdade econômica. Aqui esse tema não existe. No Brasil, o índice de liberdade econômica é muito baixo. Todos os encargos, tributos, burocracia, intervenção estatal e as barreiras protecionistas acabam limitando a indústria brasileira e, consequentemente, o empreendedorismo. Se isso fosse diferente, a geração de emprego e renda seria a melhor forma de acabar com a pobreza. Queremos um Brasil seguro, simples e livre, onde todos os brasileiros possam chegar lá.
Recentemente, foi publicado um relatório da Oxfam apontando que apenas seis brasileiros possuem a mesma riqueza de 100 milhões de brasileiros. Na sua opinião, qual a relevância do tema de concentração de renda dentro do Novo e como se ataca isso?
R: A gente parte do entendimento de que ninguém é rico porque alguém é pobre. O Casaquistão, por exemplo, tem uma distribuição de renda melhor que a do Japão. Então, não é a desigualdade social que precisamos atacar. É a pobreza.
Você não vê problema na acumulação de riqueza?
R: Não é porque o Bill Gates ficou bilionário que vários americanos ficaram pobres. É um erro focar na desigualdade, pois, ao focar na desigualdade, é muito mais fácil tirar renda do que gerar renda. Desta forma, pode estar diminuindo a desigualdade, piorando a vida dos dois. No Brasil fala-se em desigualdade, mas temos que atacar na criação de igualdade e oportunidade para todos.
O sistema tributário é mais pesado para os pobres do que para os ricos?
R: Certamente é preciso refletir sobre isso. Como já coloquei, uma coisa é combater a desigualdade, que eu não acho que é relevante, a outra é combater os privilégios. E aí concordo que o sistema tributário está dando privilégios a determinadas categorias.
“O BNDES precisa ser bastante revisto. Em vez de pedir (dinheiro) ao BNDES, existe a possibilidade da empresa ir ao mercado aberto para o acesso de recurso direto”
Você se considera um representante do pensamento liberal?
R: Eu diria que não, pois nunca foi uma preocupação do Novo. Quando fundamos o partido, usávamos as frases “gestão” e “cidadania”. O Liberalismo Econômico nunca foi um foco. A ideia era trazer as pessoas para participar mais da política e melhorar a eficiência do setor público. É claro, depois disso, entendemos que nosso pensamento dialoga com a ideia do Estado Brasileiro fazer menos coisas.
Como assim?
R: É mais fácil tirar as coisas da mão do Estado e deixar para os indivíduos e empresas. É difícil aparelhar a máquina pública e ter controle sobre ela.
Mas esse não é um pensamento liberal?
R: Nessa linha, acabamos migrando para o liberalismo. Mas minha prioridade é melhorar a vida das pessoas do que ser um seguidor da teoria econômica. Eu tenho medo de que isso nos torne um partido de nicho, o que, ao mesmo tempo, nos colocaria uma algema em uma ideologia.
Qual é a sua visão do Novo para daqui a 10 anos?
R: Eu gostaria de criar uma instituição que dure muitos anos e possa ter uma cultura de manter a ideia original do partido, que é ser independente, fiscalizar quem está na vida pública e selecionar quem está vindo para que entre novas pessoas e a filosofia permaneça.
E na área pública?
R: Melhorar a vida dos brasileiros, construindo um modelo de Estado que nos permita ficar mais imunes aos políticos ruins. As coisas no Brasil param e ficam em compasso de espera por muito tempo.
O governo Michel Temer adotou uma agenda de reformas. O que foi proposto e aprovado está de acordo com o Novo?
R: A PEC (Proposta de Emenda Constitucional) sobre o Teto de Gastos e a Reforma Trabalhista foram no sentido correto. A Reforma da Previdência também está indo bem. Claro, sempre há algo que poderia ser ajustado. A equipe econômica dele é boa, mas o grupo político que o sustenta é formado por representantes da velha política, alguns envolvidos em denúncias. Isso ajuda a explicar a alta rejeição da população.
Chegou-se a discutir a adoção do sistema parlamentarista para a próxima eleição. Qual tese você defende?
R: A reforma política feita em 2017 acabou atingindo apenas um objetivo: perpetuar quem já está no poder. Não se mudou nada, apenas aumentou o volume de dinheiro público para os partidos e criou uma cláusula de barreira que tem como principal objetivo dividir os recursos com menos partidos.
Então, você é a favor de uma outra reforma política?
R: Sim, porque a população brasileira não se sente representada pelos políticos que estão no poder. Eu acho que a discussão do parlamentarismo fica esvaziada, dada a insegurança que temos com os parlamentares. Então, não acho que o modelo interfira muito, o que nos atrapalha são os nomes que nos representam.
E quais seriam os pontos importantes da reforma política?
R: Adotar o voto facultativo, pois as pessoas precisam ser livres. Além disso, acabaria com todos os privilégios dos partidos, como fundo partidário e tempo de TV. Essa proposta obrigaria os partidos, por exemplo, a encontrar financiadores. E também acho que deveria ter mais flexibilidade na criação de partidos.
E o financiamento privado de campanha?
R: Sou a favor. Quando isso ocorre, quem doa não é a empresa. São os acionistas. E empresa não vota, é o grupo que está na direção que decide. Ao proibir o financiamento privado de empresa, foi proibido o financiamento lícito. O ilícito continuará existindo. E, quando foi incluído o financiamento privado de empresa, o objetivo era dar mais transparência ao processo.
E quanto ao limite de doação?
R: O limite que existe hoje é um percentual de 10% da renda. Mas eu acho que, se alguém quisesse doar 100% da renda, poderia. O que não pode, ao meu ver, é que uma pessoa seja a única financiadora da campanha de alguém. Por isso, acho que a restrição não deve ser no volume doado. Deve ser no valor que representa a doação.
Na sua campanha, qual será o tema na área econômica?
R: Ainda não traçamos as metas principais. Mas coisas que temos em mente é diminuir o peso do Estado, ampliar a responsabilidade fiscal e a produtividade.
“Ninguém é obrigado a ter participação na Petrobras, Correios ou Banco do Brasil, por exemplo. Um pedaço do nosso patrimônio está ali no formato de impostos pagos que virou capital dessas empresas”
O que você privatizaria?
R: Eu privatizaria tudo. Banco do Brasil, Caixa Econômica, Petrobras. Primeiro, isso é uma questão de liberdade. Ninguém é obrigado a ter participação na Petrobras, Correios ou Banco do Brasil, por exemplo. Um pedaço do nosso patrimônio está ali no formato de impostos pagos que virou capital dessas empresas. Além disso, qualquer negócio da área privada, para ser bem gerido, precisa ter o risco de quebrar. Se não, não será bem gerido. E as empresas públicas caminham neste sentido, pois não correm o risco de quebrar. Já ocorreu do Banco do Brasil quebrar, mas acabou sendo salvo com o aumento de capital pelo governo. Alguns políticos vendem a ideia de ser estratégico para o país ter participação em uma empresa.
Por que fazer isso, na sua visão?
R: É estratégico para eles porque usam a instituição para indicações politicas e ter algo em troca. Mas isso é estratégico para eles, não para o cidadão comum. O cidadão quer ter acesso a uma gasolina barata, bancos que funcionam, competitividade.
Em um eventual esforço de privatização mais drástico, faria algum tipo de proteção contra o capital estrangeiro?
R: Não, o principal é não mudar do monopólio público para o privado. Tem que ser um sistema de privatização que privilegia a concorrência. O capital estrangeiro me incomoda menos do que essa questão da concorrência.
Mas você não acha que em setores estratégicos onde há pouca competitividade, como na área de Petróleo ou Energia, uma privatização geraria uma evasão de capital?
R: Não, porque o estrangeiro estaria colocando capital no Brasil para comprar. E passaria a ter interesse aqui em gerar lucro, vai pagar imposto, como ocorreu com a Vale que, depois da privatização, passou a pagar muito imposto. Agora, tem que haver concorrência.
Quem será seu ministro da Fazenda?
R: Eu gosto do Gustavo Franco. Ele está nos ajudando e vai nos ajudar no programa de governo. É uma pessoa que conhece bastante a área econômica. Seria um ótimo nome.
Quem seria o seu vice?
R: Ainda não pensamos sobre isso.
“Há dois caminhos para entender o Bolsonaro: acreditar no que ele fez nos últimos 26 anos ou acreditar no que fala desde meados deste ano. Eu prefiro levar em conta o que ele fez nos últimos 26 anos e, certamente, não são as coisas que o Brasil precisa”
Como um candidato com ideias que se aproximam de um discurso liberal, o que você acha das ideias do pré-candidato à presidência Jair Bolsonaro, que tem se manifestado com ideias de direta nos últimos meses?
R: Há dois caminhos para entender o Bolsonaro: acreditar no que ele fez nos últimos 26 anos ou acreditar no que fala desde meados deste ano. Eu prefiro levar em conta o que ele fez nos últimos 26 anos e, certamente, não são as coisas que o Brasil precisa. Até acho que seria interessante ele começar em prática um pouco das ideias que ele está defendendo agora. Seria uma forma de validar essa mudança.
Você acha que o Bolsonaro não teria tanta convicção sobre o que está falando e defendendo?
R: No Brasil, essas ideias mais liberais representam mudanças para o sistema que está aí e, para fazer essas mudanças, é preciso estar muito convicto, porque certamente haverá resistência à medida que você prejudicar interesses de alguns grupos. Então, é bom estar convicto para ter capacidade para implementar. Por isso tudo, eu sou cético em relação a essa mudança que o Bolsoravo possa vir a fazer.
E o Luciano Huck, seria um bom candidato?
R: Para mim, não ficaram claras as ideias em que ele acredita. Parece que ele acredita que pode ajudar o Brasil. Eu acho que qualquer pessoa de fora da política precisa ser bem-vinda. Mas é importante saber as ideias para ter noção se pessoa ajudaria ou pioraria a situação do Brasil. Se vier, por exemplo, e defender mais impostos, eu gostaria que essa pessoa não se tornasse um candidato. É o que já comentei, no Brasil fala-se muito da viabilidade das candidaturas e menos de como seria a gestão do país.
Nota: A entrevista foi concedida antes do Luciano Huck escrever um artigo para a Folha de São Paulo, em que afirma que não será candidato à presidência
Em novembro, o Socioeconomia.org publicou uma matéria que ouviu cientistas políticos e advogados sobre o cenário eleitoral do ex-presidente Lula. De acordo com o que os especialistas disseram, é possível que ele seja eleito preso. O que acha disso?
R: Vejo que há um problema claro na Legislação. A gente ter um presidente eleito preso é muito ruim. Precisa mudar a legislação. Alguma coisa está errada.
É melhor a eleição com ele ou sem ele?
R: Será uma eleição aberta. Eu prefiro com o Lula e, sobretudo, que a lei seja cumprida.
Os indicadores de violência deram um salto nos últimos anos e, ao mesmo tempo, nunca mandamos tanta gente para a cadeia. No âmbito do Poder Executivo federal, o que pode ser feito para melhorar a segurança no país?
R: Até pela defesa das liberdades individuais e responsabilidade, o Novo é favorável ao porte de arma do cidadão, ou seja, somos contra o Estatuto do Desarmamento. Mas, eu não acredito que isso vá resolver. As Polícias Civil e Militar, por exemplo, deveriam usar a tecnologia para combater o crime, a Justiça Brasileira precisa ser mais rápida e endurecer as penas de crimes graves. Além disso, precisa melhorar a gestão das prisões, melhorar o controle das fronteiras. O resultado ruim de hoje é consequência de um encadeamento de vários fatores.
“Será uma eleição aberta. Eu prefiro com o Lula e, sobretudo, que a lei seja cumprida”
O senhor tem alguma pessoa que o inspira?
R: Do ponto de vista econômico, eu gosto muito do Roberto Campos. Admiro as teses, são brilhantes e me inspiram. Na Política, Margaret Thatcher, porque foi uma pessoa firme e atuante, além de corajosa, no governo britânico.
E qual o seu livro de cabeceira?
R: Estou lendo um que gosto muito, que é A Riqueza das Nações, do Adam Smith. Gosto também de A Revolta de Atlas, da Any Rand.
http://socioeconomia.org/joao-amoedo-eu-vou-privatizar-todas-as-empresas-publicas.
Por Renan França e Sergio Marcondes