Sei não viu. Tava vendo postagens de economia e a partir do ano que vim a China vai superar os Estados Unidos como potência mundial. E mais países da Ásia como Coreia, INdia e Turquia vão superar economicamente países tradicionalistas como inglaterra e Alemanha.
Como nova potência a China irá tender a influenciar novamente o crescimento da esquerda estadista. A vertente do modelo econômico apreciada pelos Ciros Gomes da vida. Acredito eu que essa briga capitalismo x socialismo eventualmente culminará na derrota do capitalismo, infelizmente.
Moral da história: Viva enquanto puder.
Vou tentar te tranquilizar, na medida do possível. É um wall of text, mas esse talvez valha a pena para quem se interessa por política internacional. Como ninguém me conhece aqui, sempre chamo o @ptsousa, meu colega de trabalho, para que me empreste credibilidade. Diplomacia é exatamente meu ganha-pão.
A China não vai superar os EUA como principal potência de um ano para o outro, até porque a constituição de uma nação como potência é um processo que dura décadas. Certo que a China já vem se iniciando como tal desde as reformas dos anos 70, mas ainda que o PIB venha a superar o dos EUA, esta é apenas uma das métricas. Poderio militar e capacidade de influenciar os atores internacionais também são preponderantes, e a China ainda não tem condições de se impor nesse sentido; ao menos não na mesma proporção pelos anos vindouros.
E veja, colocar a ascensão mundial da China como um sinal de que necessariamente tenderá a exportar seu modelo além de seu território é algo simplista. Por que? Esse raciocínio era válido para os estados socialistas tradicionais, também conhecidos como comunistas (sabemos que não são necessariamente a mesma coisa, mas nesse sentido, vamos considerar como se fosse), porque visava à mudança da sociedade por meio da ascenção do proletariado ao poder. Era internacionalista por definição, e a própria existência do Estado-Nação - um ente controlado pelas elites internas - seria um obstáculo à expansão do comunismo. Trotsky mesmo advogava nesse sentido para que o sistema funcionasse: do contrário, seria isolado como um pária e teria sua capacidade de influir no Sistema Internacional reduzida, ameaçando sua própria sobrevivência no longo prazo. Felizmente, Stalin não pensava dessa forma... e bem sabemos como terminou a União Soviética.
Voltemos à China: uma nação antiquíssima, com um longo histórico de governos centrais autoritários. Depois das quedas das antigas dinastias, houve um enfraquecimento significativo da autoridade central, ocasionando o controle territorial
de facto por potências ocidentais (Reino Unido, especialmente) e orientais (Japão). A democracia sequer teve tempo de ser testada ali, tendo os comunistas assumido o poder numa guerra civil a partir de 1949. Mas esse é o ponto mais importante: após a morte de Mao Zedong e o ocaso do seu círculo mais próximo no final dos anos 60, a China teve uma guinada de 180º quanto a sua forma de lidar com a economia, graças a Deng Xiaoping, que dizia com todas as letras: "enriquecer é glorioso". Foi nesse época que reatou relações diplomáticas com os EUA, inclusive, e passou a flertar com conceitos como Zonas Econômicas Especiais em seu território.
Para todos os efeitos, desde aquela época, a China deixou de ser efetivamente comunista.
Vou repetir: a China não é realmente um estado comunista. A economia do estado chinês não obedece mais aos preceitos de planejamento centralizado, e permite aos seus entes individuais terem a posse dos meios de produção. E, como diabos, permanece com o nome de Partido Comunista Chinês? Na prática, poderia ser chamado simplesmente de
Partido Chinês, ponto.
A eles, lhes interessa mais o controle social que qualquer coisa, deixando a economia ser governada pelos ditames capitalistas usuais. O sistema que mais se aproxima da realidade deles se chama
Capitalismo de Estado, em que, como diz o nome, o estado é dono de parte acionária dos meios de produção e é capaz de influir em seus rumos, mas não os administra diretamente. A rigor, com a (falta) de liberdade econômica que temos, esse é precisamente o tipo de capitalismo que se pratica no Brasil, para nossa infelicidade.
Ou seja, a China hoje é uma versão moderna do que sempre foi em sua longa história: uma nação autoritária com seus cidadãos, com rasgos de totalitarismo, mas razoavelmente contente em se circunscrever à sua região. E é claro, a eles interessa que outros governos lhes sejam dóceis, mas isso não seria conseguido por meio da exportação de seu sistema, mas especialmente pela dependência econômica, graças às cadeias globais de produção. Ou seja, prender pelo bolso.
Em suma: não importa como cresça a China, o capitalismo está a salvo, já que os próprios não conhecem melhor sistema de criação de riqueza. Se um dia o capitalismo for suplantado, será por um sistema que em nada lembra o comunismo tradicional (e que, repito, a China não advoga). Creio que seu temor real seja pelo eventual fim da democracia representativa, não? Não vou analisar isso nesse post, mas digo desde já de que essa crise é mais profunda, e vai além da dicotomia clássica entre esquerda e direita. E ainda temo dizer que seja cíclica ao longo da história recente do mundo, dependente de fatores tão vastos como o desempenho global da economia e de movimentos migratórios maciços...