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Um dualista desafortunado [+apocalipse zumbi?]

kingx

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[SIZE="3"]Um dualista desafortunado[/SIZE]

Era uma vez um dualista. Ele acreditava que a mente e a matéria são substâncias separadas. Como é que interagiam ele não alegava saber – este era um dos "mistérios" da vida. Mas estava seguro de que eram substâncias realmente separadas.

Esse dualista, infelizmente, tinha uma vida insuportavelmente dolorosa – não por causa de suas crenças filosóficas, mas por razões muito diferentes. E tinha excelentes dados empíricos de que nenhum alívio estaria à vista pelo resto de sua vida. Ele não desejava nada mais do que morrer. Mas estava dissuadido do suicídio por razões como 1) não queria machucar as outras pessoas com sua morte; 2) temia que o suicídio fosse moralmente errado; 3) temia que pudesse existir uma vida após a morte, e não queria arriscar a possibilidade de punição eterna. Assim, nosso pobre dualista estava bastante desesperado.

Foi então que ocorreu a descoberta da droga miraculosa! O seu efeito no usuário era aniquilar por inteiro a alma ou a mente, deixando, porém, o seu corpo a funcionar exatamente como antes. Absolutamente nenhuma mudança observável acontecia com o usuário; o corpo continuava agindo exatamente como quando ele tinha uma alma. Nem um amigo ou observador mais próximo poderia saber de modo algum que o usuário tinha tomado a droga, a menos que o usuário o tivesse informado.

Você acredita que tal droga é em princípio impossível? Supondo que acredita que é possível, você a usaria? Você a trataria como imoral? É equivalente ao suicídio? Há algo nas Escrituras proibindo o uso de tal droga? Certamente que o corpo do usuário pode continuar preenchendo todas as suas responsabilidades na Terra. Outra questão: suponha que sua cônjuge tivesse usado tal droga, e que você soubesse disso. Você saberia que ela (ou ele) não tinha mais uma alma, embora agisse exatamente como se tivesse uma. Você amaria sua parceira mesmo assim?

Voltando à história, nosso dualista estava, obviamente, deleitado! Agora poderia aniquilar-se (ou seja, aniquilar a sua alma) de uma maneira não sujeita a qualquer das objeções anteriores. E desse modo, pela primeira vez em anos, foi para a cama de coração leve, dizendo: "Amanhã pela manhã irei à farmácia e comprarei a droga. Meus dias de sofrimento até que enfim acabaram!". Com esses pensamentos, tranqüilamente caiu no sono.

Mas neste ponto aconteceu uma coisa curiosa. Um amigo do dualista que sabia dessa droga, e que sabia do sofrimento do dualista, decidiu pôr fim ao seu tormento. Assim, no meio da noite, enquanto o dualista estava em sono profundo, o amigo infiltrou-se silenciosamente na casa e injetou a droga nas suas veias. Na manhã seguinte, o corpo do dualista acordou – de fato sem alma alguma – e a primeira coisa que fez foi ir à farmácia e comprar a droga. Levou-a para casa e, antes de usá-la, disse, "Agora me libertarei". Usou-a então e aguardou o intervalo de tempo no qual ela supostamente deveria funcionar. Findo esse intervalo de tempo, exclamou raivosamente: "Maldição, essa coisa não ajudou nem um pouco! Eu obviamente continuo tendo uma alma e estou sofrendo tanto quanto antes!"

Não sugere tudo isto que talvez haja algo apenas um pouco errado com o dualismo?

Raymond F. Smullyan
Tradução de Jônadas Techio
Excerto do livro This Book Needs No Title (Prentice-Hall, 1980). Reimpresso na coletânea Philosophy of Mind (Chalmers, David, org., Oxford University Press, 2002, p. 31).


Fonte: http://criticanarede.com/men_dualista.html

P.S: Fiz uma cópia fiel da fonte, mas, na verdade, o autor é "Raymond M. Smullyan"

-

Vocês já pensaram que podem estar vivendo entre zumbis? Um zumbi "filosófico" é uma pessoa como você, que demonstra comportamento inteligente, mas não possui nenhuma experiência consciente. O zumbi, em outras palavras, é uma máquina que recebe "inputs" do ambiente e emite "outputs" comportamentais, sem que haja qualquer experiência mental que intermedeie a relação entre os inputs e os outputs. A questão é: como você sabe que as outras pessoas tem uma vida mental se tudo que você pode observar é somente o comportamento destas pessoas?

35cake.jpg

Reflitam. [khappy]
 

rodrigog88

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Eu parei com essas coisas quando descobri que nada do que vemos tem realmente uma cor, e que tudo é incolor, e apenas a luz faz o nosso cérebro reconhecer o que chamamos de "cores".

Que o amor são impulsos elétricos, que tudo são impulsos elétricos! Hard shit, lerei com mais calma quando puder.
 

dark___fear

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Não acho que exista isso, da "alma" ser separada do corpo e tal...

Mas se formos trazer isso para a realidade mesmo, eu acredito sim que estamos com muitos "zumbis" no mundo, mas no sentido de terem uma visão distorcida da realidade. Quer um exemplo? Uma pessoa que acha que ter um carro é ser melhor que os outros. tipo, percebe-se que que ela não está tendo qualquer comportamento "consciente", só está recebendo dados do ambiente (convívio social) e respondendo de forma a achar que ter um carro quer dizer algo a mais do que realmente é, afinal, um carro é só um carro oras, um monte de peças construídas para um objetivo.

E olha que isso é bastante comum, ainda que esse exemplo pode servir para tantas outras coisas...
 

kingx

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rodrigog88;8914402 disse:
[COLOR="Blue"]Eu parei com essas coisas quando descobri que nada do que vemos tem realmente uma cor, e que tudo é incolor, e apenas a luz faz o nosso cérebro reconhecer o que chamamos de "cores".

Que o amor são impulsos elétricos, que tudo são impulsos elétricos! Hard shit, lerei com mais calma quando puder. [/COLOR]

Haha, essa questão é difícil. Tem essa que é clássica: se uma árvore cair em um floresta sem ninguém observar, haverá barulho ou não? ;D

E eu não acho que o "amor" (e as emoções no geral) seja somente um impulso elétrico. Houve, de fato, tentativas de se fazer essa redução na metade do XX, a tão denominada teoria da identidade de tipos entre mente e cérebro, mas hoje este tipo de postura já foi abandonada. Existem posturas reducionistas bem mais sofisticadas, mas a assunção de que emoções são somente impulsos elétricos é uma postura considerada um pouco extremista e "forte".

dark___fear;8914460 disse:
Não acho que exista isso, da "alma" ser separada do corpo e tal...

Mas se formos trazer isso para a realidade mesmo, eu acredito sim que estamos com muitos "zumbis" no mundo, mas no sentido de terem uma visão distorcida da realidade. Quer um exemplo? Uma pessoa que acha que ter um carro é ser melhor que os outros. tipo, percebe-se que que ela não está tendo qualquer comportamento "consciente", só está recebendo dados do ambiente (convívio social) e respondendo de forma a achar que ter um carro quer dizer algo a mais do que realmente é, afinal, um carro é só um carro oras, um monte de peças construídas para um objetivo.

E olha que isso é bastante comum, ainda que esse exemplo pode servir para tantas outras coisas...

Compreendo o seu ponto, mas quando eu falei sobre experiência consciente eu não quis dizer em um sentido social, mas sim em um sentido mais restrito, como, por exemplo, ter consciência de que "estou sentindo uma dor em minha cabeça".
 

Connor_everywhere

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kingx;8914546 disse:
Haha, essa questão é difícil. Tem essa que é clássica: se uma árvore cair em um floresta sem ninguém observar, haverá barulho ou não? ;D

E porque ela deveria/não deveria fazer barulho?
 

Pirondi

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90% das pessoas sao 'zumbis'

Tem alguns fatores como 1:eek: instinto de sobreviver é maior que o instinto de pensar/racionalizar.

Entaum enquanto a populaçao é distraida com o entreterimento,sexo,televisao,etc as pessoas nao tem motivo pra pensar 'Ei quem eu sou,porque estou aqui,qual a origem dos meus comportamentos,qual a origem dos crimes' etc..
 


kingx

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nelarus;8914844 disse:
E porque ela deveria/não deveria fazer barulho?

Esse é o ponto. Características como som, cores, sabores, etc., eram tomadas por alguns filósofos modernos como "características secundárias" da percepção, o que implicava que existiam somente na mente de um observador.

Você pode reformular a questão do seguinte modo: imagine um quarto com uma mesa. Se ninguém estiver dentro do quarto observando esta mesa, o que lhe garante que ela exista? Aliás, faz sentido perguntar se a mesa existe quando ninguém a observa?

Estes são os princípios básicos do "idealismo", segundo o qual o SER de uma coisa é ser PERCEBIDA. Este é um problema filosófico clássico que remete a Platão e ao "mundo das ideias" e que perdura atualmente nas discussões da Mecânica Quântica.

Pirondi;8914974 disse:
90% das pessoas sao 'zumbis'

Tem alguns fatores como 1:eek: instinto de sobreviver é maior que o instinto de pensar/racionalizar.

Entaum enquanto a populaçao é distraida com o entreterimento,sexo,televisao,etc as pessoas nao tem motivo pra pensar 'Ei quem eu sou,porque estou aqui,qual a origem dos meus comportamentos,qual a origem dos crimes' etc..

Como eu disse pro amigo acima, eu compreendo o sentido em que vocês estão falando sobre "zumbis", mas quando me referi à "experiência consciente", quis fazer num sentido mais básico, sem adentrar em discussões do âmbito social.
 

FooFighter

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parei de ler no terceiro parágrafo:

Foi então que ocorreu a descoberta da droga miraculosa! O seu efeito no usuário era aniquilar por inteiro a alma ou a mente, deixando, porém, o seu corpo a funcionar exatamente como antes. Absolutamente nenhuma mudança observável acontecia com o usuário; o corpo continuava agindo exatamente como quando ele tinha uma alma. Nem um amigo ou observador mais próximo poderia saber de modo algum que o usuário tinha tomado a droga, a menos que o usuário o tivesse informado.

isso eh impossível... se vc tomar uma droga q queime sua mente (como o crack por exemplo) vc jamais seria o mesmo... vc n ia reagir como antes sem ninguém notar diferença... vc É sua mente sem a mente n somos nada além de um bando de mamíferos primatas pulando atrás de fêmeas e copulando por ae...



oh wait... :lol
 

leotrix14

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o único sentido real, é o tato, sentimos as coisas sólidas e não sólidas.
o resto é ''invenção'' do cérebro, se é que entendem pelo comentário do rodrigog88.
de fato, muitos andam vivendo como zumbis, apenas sobrevivendo, pelo medo da punição divina por suicidar-se, de fato, eu me enquadro nessa parte, mas penso em fazer algum tipo de tratamento para essa depressão.
não estou bom o suficiente para fazer um post inteligente neste tópico, irei apenas ler os posts consecutivos.
 

Raphtorne

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Essa história da árvore só fazer barulho na presença de alguém é de uma extrema arrogância. É bem naquela questão do vídeo do Sagan que postaram a pouco tempo, dos humanos se acharem o centro do Universo.
Como se os outros milhares de fenômenos que ocorrem pelo Universo não ocorressem simplesmente por não serem presenciados.
 

kingx

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Caras, o sentido em que o texto fala sobre "consciência" não é o sentido de "consciência social", mas apenas uma sentido mais restrito como consciência da experiência de um som, de uma cor, de uma dor, etc. Não tem a ver com ações irrefletidas no âmbito social, a proposta do texto é apenas chamar atenção para o fato de que observar o comportamento de alguém não é condição suficiente para se dizer que uma pessoa tem uma "vida mental". E neste ponto surge um dos problemas centrais da Filosofia da Mente: como podemos inferir seguramente que as outras pessoas possuem vida mental?

FooFighter;8915380 disse:
parei de ler no terceiro parágrafo:



isso eh impossível... se vc tomar uma droga q queime sua mente (como o crack por exemplo) vc jamais seria o mesmo... vc n ia reagir como antes sem ninguém notar diferença... vc É sua mente sem a mente n somos nada além de um bando de mamíferos primatas pulando atrás de fêmeas e copulando por ae...



oh wait... :lol

Isso é um "thought experiment", muito utilizado em discussões abstratas dentro da filosofia, da física e da biologia. Um exemplo clássico é o demônio de Laplace. Um demônio capaz de registrar TODAS as variáveis do universo em um tempo t é muito improvável (quase impossível), mas é logicamente concebível. A hipótese do zumbi é desenvolvida pelo filósofo australiano David Chalmers em The Conscious Mind, na qual ele dedica quase metade da obra para argumentar (baseado em fatos da ciência e em desenvolvimentos da filosofia da linguagem) sobre a possibilidade lógica do um zumbi filosófico. Lembre-se que possibilidade lógica não é igual a possibilidade prática, mas quando fazemos ciência é importante explorarmos estes terrenos.

raphtorne;8915692 disse:
[font="Tahoma"][color="Black"][size="2"]Essa história da árvore só fazer barulho na presença de alguém é de uma extrema arrogância. É bem naquela questão do vídeo do Sagan que postaram a pouco tempo, dos humanos se acharem o centro do Universo.
Como se os outros milhares de fenômenos que ocorrem pelo Universo não ocorressem simplesmente por não serem presenciados.[/size][/color][/font]​

Não se trata de forma alguma de arrogância, embora possamos reformular alguns aspectos da questão. Hoje, por exemplo, alguns filósofos já trabalham com a hipótese de que as tão chamadas características secundárias sejam características objetivas do mundo.

O que os modernos pensavam é que a sensação do som era algo subjetivo, reultante da interação entre ambiente e o que podemos chamar hoje por "aparelho cognitivo". Existe um texto clássico na Filosofia da Mente intitulado "What Is it Like to Be a Bat?". O autor pede que consideremos as experiências subjetivas de um morcego quando este faz uso da ecolocalização, e então coloca a seguinte questão: seria possível captarmos a experiência de como é se localizar através do som, isto é, a experiência subjetiva da ecolocalização, através de uma observação do aparelho cognitivo do morcego? Transladando para o caso do homem, é possível relatar a experiência subjetiva do som através da observação de determinadas áreas no cérebro? A discussão dos modernos girava em torno deste tipo de experiência, a "experiência subjetiva", da qual não temos nenhuma evidência além da nossa própria experiência. Foi por isso que coloquei o meme do Keanu, parece que mesmo que possamos observar o comportamento de uma pessoa ou mesmo sua atividade cerebral, ainda assim não poderíamos dizer que o azul que ela vê seja o mesmo azul que eu vejo. Isto é, podemos apontar para os mesmos objetos quando nos referimos ao azul e podemos exibir os mesmos padrões cerebrais quando vemos algo ao qual nos referimos como azul, mas como saber que o caráter subjetivo da experiência, isto é, ver a cor azul, seja, de fato, uma semelhança intersubjetiva?

Neste sentido, não é mera arrogância, mas sim um questionamento sobre o estatuto ontológico de algumas características do mundo, como a experiência de som e de cor, isto é, se estas experiências são algo objetivo ou subjetivo no mundo? Se for o primeiro caso, temos que 'arrumar' um jeito de responder o meme, se for o segundo, então faz sentido perguntarmos se a árvore faz barulho ou não. (P.S: Lembre-se que fenômenos do mundo físico, como ondas sonoras não são iguais a experiência de se ouvir um som).
 

Connor_everywhere

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Me lembro que no tópico "Planeta dos idiotas", falaram que apenas a mecânica quântica usava esse tipo de pensamento,mas por que usam?
 

kingx

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nelarus;8916770 disse:
Me lembro que no tópico "Planeta dos idiotas", falaram que apenas a mecânica quântica usava esse tipo de pensamento,mas por que usam?

Não é somente a MQ, mas é que este tipo de implicação filosófica fica mais claro dentro de alguns resultados encontrados na área. Veja o vídeo:

[YOUTUBE]lytd7B0WRM8[/YOUTUBE]

Resumindo, o elétron se comporta como onda na ausência de um observador, ao passo que quando o aparelho de medição foi posicionado, ele se comportou como partícula. Neste sentido, pergunta-se sobre qual a função do observador no comportamento das partículas elementares? Pergunta-se o que é um observador?

A Interpretação de Copenhague da MQ, que, se não me engano, é a interpretação clássica, não pressupõe diretamente uma forma de idealismo, mas sim um antirrealismo. Assim, a realidade como tal depende do observador mas não é causada por ele. Neste sentido, o observador (seja lá o que for um observador) não é a causa da existência do elétron, mas o elétron enquanto partícula depende da observação por parte deste observador. Este tipo de tese é uma tese epistemológica, isto é, uma tese que diz respeito ao modo pelo qual estamos relacionados com o mundo, ao passo que o idealismo é uma tese metafísica (e ontológica) na medida em que afirma que a natureza de algo depende da observação (isto é, o elétron enquanto elétron só tem existência na medidade em que é observado).

Se não me engano fui eu quem mencionei a MQ no outro tópico. Na verdade, a Interpretação de Copenhague não pressupõe uma visão idealista do mundo, mas abre espaço para o antirrealismo, que é um passo anterior ao idealismo. Existem estudos que demonstram que a medição quântica não tem efeitos notáveis no nível macroscópico como no nível microscópico, mas aí eu não me arrisco a comentar por falta de conhecimento.

De qualquer modo, só para citar uma curiosidade, a hipótese de Deus enquanto ser onipresente torna-se plausível enquanto hipótese filosófica e científica, e é justamente isso que Berkeley, um filósofo idealista do séc. XVII, faz para garantir que o mundo não seja criado e recriado toda vez que uma observação é iniciada e cessada.
 

Dathilot

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kingx;8914388 disse:
[SIZE="3"]Um dualista desafortunado[/SIZE]

Era uma vez um dualista. Ele acreditava que a mente e a matéria são substâncias separadas. Como é que interagiam ele não alegava saber – este era um dos "mistérios" da vida. Mas estava seguro de que eram substâncias realmente separadas.

Esse dualista, infelizmente, tinha uma vida insuportavelmente dolorosa – não por causa de suas crenças filosóficas, mas por razões muito diferentes. E tinha excelentes dados empíricos de que nenhum alívio estaria à vista pelo resto de sua vida. Ele não desejava nada mais do que morrer. Mas estava dissuadido do suicídio por razões como 1) não queria machucar as outras pessoas com sua morte; 2) temia que o suicídio fosse moralmente errado; 3) temia que pudesse existir uma vida após a morte, e não queria arriscar a possibilidade de punição eterna. Assim, nosso pobre dualista estava bastante desesperado.

Foi então que ocorreu a descoberta da droga miraculosa! O seu efeito no usuário era aniquilar por inteiro a alma ou a mente, deixando, porém, o seu corpo a funcionar exatamente como antes. Absolutamente nenhuma mudança observável acontecia com o usuário; o corpo continuava agindo exatamente como quando ele tinha uma alma. Nem um amigo ou observador mais próximo poderia saber de modo algum que o usuário tinha tomado a droga, a menos que o usuário o tivesse informado.

Você acredita que tal droga é em princípio impossível? Supondo que acredita que é possível, você a usaria? Você a trataria como imoral? É equivalente ao suicídio? Há algo nas Escrituras proibindo o uso de tal droga? Certamente que o corpo do usuário pode continuar preenchendo todas as suas responsabilidades na Terra. Outra questão: suponha que sua cônjuge tivesse usado tal droga, e que você soubesse disso. Você saberia que ela (ou ele) não tinha mais uma alma, embora agisse exatamente como se tivesse uma. Você amaria sua parceira mesmo assim?

Voltando à história, nosso dualista estava, obviamente, deleitado! Agora poderia aniquilar-se (ou seja, aniquilar a sua alma) de uma maneira não sujeita a qualquer das objeções anteriores. E desse modo, pela primeira vez em anos, foi para a cama de coração leve, dizendo: "Amanhã pela manhã irei à farmácia e comprarei a droga. Meus dias de sofrimento até que enfim acabaram!". Com esses pensamentos, tranqüilamente caiu no sono.

Mas neste ponto aconteceu uma coisa curiosa. Um amigo do dualista que sabia dessa droga, e que sabia do sofrimento do dualista, decidiu pôr fim ao seu tormento. Assim, no meio da noite, enquanto o dualista estava em sono profundo, o amigo infiltrou-se silenciosamente na casa e injetou a droga nas suas veias. Na manhã seguinte, o corpo do dualista acordou – de fato sem alma alguma – e a primeira coisa que fez foi ir à farmácia e comprar a droga. Levou-a para casa e, antes de usá-la, disse, "Agora me libertarei". Usou-a então e aguardou o intervalo de tempo no qual ela supostamente deveria funcionar. Findo esse intervalo de tempo, exclamou raivosamente: "Maldição, essa coisa não ajudou nem um pouco! Eu obviamente continuo tendo uma alma e estou sofrendo tanto quanto antes!"

Não sugere tudo isto que talvez haja algo apenas um pouco errado com o dualismo?

Raymond F. Smullyan
Tradução de Jônadas Techio
Excerto do livro This Book Needs No Title (Prentice-Hall, 1980). Reimpresso na coletânea Philosophy of Mind (Chalmers, David, org., Oxford University Press, 2002, p. 31).


Fonte: http://criticanarede.com/men_dualista.html

P.S: Fiz uma cópia fiel da fonte, mas, na verdade, o autor é "Raymond M. Smullyan"

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Vocês já pensaram que podem estar vivendo entre zumbis? Um zumbi "filosófico" é uma pessoa como você, que demonstra comportamento inteligente, mas não possui nenhuma experiência consciente. O zumbi, em outras palavras, é uma máquina que recebe "inputs" do ambiente e emite "outputs" comportamentais, sem que haja qualquer experiência mental que intermedeie a relação entre os inputs e os outputs. A questão é: como você sabe que as outras pessoas tem uma vida mental se tudo que você pode observar é somente o comportamento destas pessoas?

35cake.jpg

Reflitam. [khappy]

A minha experiência mental é a comprovação da experiência mental dos demais, por mais que eu não tenha como medir a profundidade da experiência dos demais. Toda experiência é interconectada, mesmo as experiências tidas por seres com níveis de consciência mais simples e distintos das dos humanos.

A informação existe além da matéria, mas a interpretação e processamento desta é dependente dos processos físicos e químicos inerentes aos seres vivos e suas criações.

O que você chama de alma eu chamo de informação. A alma só existe unida a matéria, mas a informação que atrelada a matéria constitui a alma extrapola a necessidade de processamento. O "eu" vai sempre existir, mas a experiência e interpretação deste depende do indivíduo o qual é originalmente caracterizado pelo mesmo ou da interpretação dos demais. Você morre e entra em um estado estacionário, porem a cada momento que um ato "passado" seu interfere na experiência de outra pessoa esse estado é alterado, portanto a sua alma passa por um período de ação tal qual o apresentado em seu corpo funcional, você vive por meio dos outros e os outros vivem por meio de você. A separação dos processos é apenas parcial, a terra em si é um sistema de computação em nuvem.
 

kingx

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vacilotto;8917089 disse:
A minha experiência mental é a comprovação da experiência mental dos demais, por mais que eu não tenha como medir a profundidade da experiência dos demais. Toda experiência é interconectada, mesmo as experiências tidas por seres com níveis de consciência mais simples e distintos das dos humanos.

Depende de qual o seu posicionamento em relação ao aspecto ontológico da consciência. Dentro de uma perspectiva materialista não reducionista, acredito que o problema das outras mentes não se torna tão misterioso quanto em uma perspectiva dualista. O dualismo substancial pressupõe uma imagem da mente/consciência como inefável em uma perspectiva de terceira pessoa, só podendo ser a mente acessada pelo indivíduo da qual ela é mente. Se isso for verdade, não podemos em princípio ter nenhuma evidência da mente de outras pessoas/animais.

Eu não sei o que você quis dizer por "toda experiência é interconectada", mas, em certo sentido, posso dizer que concordo. Acho mais convincente uma abordagem externalista do conteúdo mental, que pretende atribuir a fatores ambientais os conteúdos de nossas crenças, desejos, etc., mas não vou adentrar nisso proque requer uma discussão um pouco mais técnica. Mas, de qulquer forma, assumindo este tipo de postura, acho plausível em princípio assumir que possamos compartilhar aspectos de nossas experiências.
 

Dathilot

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kingx;8917175 disse:
Depende de qual o seu posicionamento em relação ao aspecto ontológico da consciência. Dentro de uma perspectiva materialista não reducionista, acredito que o problema das outras mentes não se torna tão misterioso quanto em uma perspectiva dualista. [COLOR="Red"]O dualismo substancial pressupõe uma imagem da mente/consciência como inefável em uma perspectiva de terceira pessoa, só podendo ser a mente acessada pelo indivíduo da qual ela é mente. Se isso for verdade, não podemos em princípio ter nenhuma evidência da mente de outras pessoas/animais.[/COLOR]
A evidência é a emergência de resposta e a própria "distorção aparente" da via de comunicação. As supostas falhas perceptíveis em acessar integral e instantaneamente outra mente tornam-se um mecanismo de aceleração e melhoramento da experiência geral, assim como suporte da continuidade dos processos, pois uma conexão sem a "distorção aparente" levaria o sistema a um estado de PAUSA ou CONCLUSÃO próximo da visão dualista descrita. O universo dorme > uma parcela deste desperta > em um curto período de tempo os processos se encerram e toda inteligência some > seres conscientes simplesmente morrem mentalmente ou mesmo nas funções biológicas > o universo dorme novamente.

A distorção e aparente inacessibilidade são mecanismos que mantem o sistema operante até que se tenha um falha generalizada no que constitui o hardware, no caso a biosfera.

O importante não é a existência ou inexistência da resposta final, mas a própria busca pela resposta.
 

kingx

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Respondendo o seu último edit:

vacilotto;8917089 disse:
A informação existe além da matéria, mas a interpretação e processamento desta é dependente dos processos físicos e químicos inerentes aos seres vivos e suas criações.

O que você chama de alma eu chamo de informação. A alma só existe unida a matéria, mas a informação que atrelada a matéria constitui a alma extrapola a necessidade de processamento. O "eu" vai sempre existir, mas a experiência e interpretação deste depende do indivíduo o qual é originalmente caracterizado pelo mesmo ou da interpretação dos demais. Você morre e entra em um estado estacionário, porem a cada momento que um ato "passado" seu interfere na experiência de outra pessoa esse estado é alterado, portanto a sua alma passa por um período de ação tal qual o apresentado em seu corpo funcional, você vive por meio dos outros e os outros vivem por meio de você. A separação dos processos é apenas parcial, a terra em si é um sistema de computação em nuvem.

Colocando de lado alguns problemas que se pode ter ao se utilizar o termo "informação", eu acho que a sua colocação não está errada. Isso é uma forma de materialismo (a experiência consciente está subjugada a processos físico-qúimicos no cérebro) não reducionista (embora a consciência seja material, existe algo "a mais", o que, novamente, ignorando qualquer implicação futura, você chama de "informação"). O Dennett possui uma perspectiva muito interessante em relação a isso; ele diz que não podemos encontrar uma estrutura exata no cérebro e dizer que ali reside o "eu" (o "self"). Estritamente falando, para ele, o "eu" é apenas uma ficção útil que criamos como forma de organizar nossas experiências conscientes. E como mencionei no início do post, assumir que o conteúdo mental é determinado por fatores do ambiente não permite ao cientista que analise o cérebro de uma pessoa e descreva todas as crenças e desejos que essa pessoa tenha. Em resumo, a consciência é uma entidade totalmente material e determinada por processos físico-químicos, mas, assumindo uma postura externalista, o "conteúdo mental" ou "informação" não pode ser simplesmente reduzido aos processos cerebrais.

Quanto ao fato de você assumir que as ações das pessoas exercem influência uma sobre as outras, e daí concluir que elas tem mente não resolve o problema. Lembre-se que o zumbi filosófico comporta-se como se fosse uma pessoa consciente, mas não tem nenhum estado consciente. Se você perguntar a ele: "Você é consciente?", ele responderia algo do tipo: "Claro que sim, como não seria?", mas isto seria apenas um output emitido pela "máquina" do cérebro sob a influência de inputs ambientais. Nada te garante que haja uma experiência consciente entre o input e o output. Considere a possibilidade lógica de um robô inteligente ao nível de um ser humano, algumas pessoas relutam em atribuir consciência ao robô; dizem elas: ele está apenas a processar informações!. Neste sentido, afirmar que o comportamento inteligente e aparentemente consciente de cada um influencia no comportamento de outras pessoas não responde a questão, mas somente corrobora com a sua dificuldade de dissolução. Assumir que os outros tem mente por analogia entre comportamentos é um exemplo fraquíssimo de indução: eu me comporto inteligentemente e sei que tenho mente, logo, se fulano se comporta inteligentemente, ele terá mente. Se a consciência for inefável, tal qual o dualismo propõe, não poderemos nunca dizer de fato se as outras pessoas possuem vida mental ou não.

vacilotto;8917238 disse:
A evidência é a emergência de resposta e a própria "distorção aparente" da via de comunicação. As supostas falhas perceptíveis em acessar integral e instantaneamente outra mente tornam-se um mecanismo de aceleração e melhoramento da experiência geral, assim como suporte da continuidade dos processos, pois uma conexão sem a "distorção aparente" levaria o sistema a um estado de PAUSA ou CONCLUSÃO próximo da visão dualista descrita. O universo dorme > uma parcela deste desperta > em um curto período de tempo os processos se encerram e toda inteligência some > seres conscientes simplesmente morrem mentalmente ou mesmo nas funções biológicas > o universo dorme novamente.

A distorção e aparente inacessibilidade são mecanismos que mantem o sistema operante até que se tenha um falha generalizada no que constitui o hardware, no caso a biosfera.

O importante não é a existência ou inexistência da resposta final, mas a própria busca pela resposta.

Se você puder desenvolver mais a parte em negrito, eu agradeceria. E me corrija se eu estiver errado, mas seguindo o trecho em quote abaixo, me parece que você está assumindo uma forma de panteísmo, no sentido em que a natureza é uma substância só? (Estou falando porque me parece um pouco o panteísmo de Spinoza, acho que já discuti com você sobre isso em outro tópico). Assim, mente e corpo seriam uma única substância e estariam sujeitas ao funcionamento do todo, que é o universo? Em outras palavras, todas as mentes seriam aspectos de uma única substância, o que, de certo modo, resolveria o problema das outras mentes, visto que elas seriam apenas propriedades de uma única substância que compõe o universo?

A separação dos processos é apenas parcial, a terra em si é um sistema de computação em nuvem.
 

Tesla

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O texto é intrigante. Eu particularmente acredito que sejamos "zumbis". Porém a quantidade de variáveis é tão grande, que passa a ilusão de que há sim uma "mente" por trás de tudo.

kingx;8916933 disse:
Não é somente a MQ, mas é que este tipo de implicação filosófica fica mais claro dentro de alguns resultados encontrados na área. Veja o vídeo:

[YOUTUBE]lytd7B0WRM8[/YOUTUBE]

Resumindo, o elétron se comporta como onda na ausência de um observador, ao passo que quando o aparelho de medição foi posicionado, ele se comportou como partícula. Neste sentido, pergunta-se sobre qual a função do observador no comportamento das partículas elementares? Pergunta-se o que é um observador?

A Interpretação de Copenhague da MQ, que, se não me engano, é a interpretação clássica, não pressupõe diretamente uma forma de idealismo, mas sim um antirrealismo. Assim, a realidade como tal depende do observador mas não é causada por ele. Neste sentido, o observador (seja lá o que for um observador) não é a causa da existência do elétron, mas o elétron enquanto partícula depende da observação por parte deste observador. Este tipo de tese é uma tese epistemológica, isto é, uma tese que diz respeito ao modo pelo qual estamos relacionados com o mundo, ao passo que o idealismo é uma tese metafísica (e ontológica) na medida em que afirma que a natureza de algo depende da observação (isto é, o elétron enquanto elétron só tem existência na medidade em que é observado).

Se não me engano fui eu quem mencionei a MQ no outro tópico. Na verdade, a Interpretação de Copenhague não pressupõe uma visão idealista do mundo, mas abre espaço para o antirrealismo, que é um passo anterior ao idealismo. Existem estudos que demonstram que a medição quântica não tem efeitos notáveis no nível macroscópico como no nível microscópico, mas aí eu não me arrisco a comentar por falta de conhecimento.

De qualquer modo, só para citar uma curiosidade, a hipótese de Deus enquanto ser onipresente torna-se plausível enquanto hipótese filosófica e científica, e é justamente isso que Berkeley, um filósofo idealista do séc. XVII, faz para garantir que o mundo não seja criado e recriado toda vez que uma observação é iniciada e cessada.

Antes de mais nada, quero pedir desculpas por não poder dar uma resposta completa (não tenho muito conhecimento de MQ), pois esse tipo de post merece. Mas pelo que sei de MQ, o "Observador" não é um agente passivo, fora do sistema. O próprio ato de "observar" (melhor dizendo, fazer uma medição) já altera o sistema. Dando um exemplo grosseiro (e deixando de lado coisas mais compelxas), você só detecta um fóton se você interceptar ele. Esse seria o ato de "observar".
 

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kingx;8917389 disse:
Respondendo o seu último edit:



Colocando de lado alguns problemas que se pode ter ao se utilizar o termo "informação", eu acho que a sua colocação não está errada. Isso é uma forma de materialismo (a experiência consciente está subjugada a processos físico-qúimicos no cérebro) não reducionista (embora a consciência seja material, existe algo "a mais", o que, novamente, ignorando qualquer implicação futura, você chama de "informação"). O Dennett possui uma perspectiva muito interessante em relação a isso; ele diz que não podemos encontrar uma estrutura exata no cérebro e dizer que ali reside o "eu" (o "self"). Estritamente falando, para ele, o "eu" é apenas uma ficção útil que criamos como forma de organizar nossas experiências conscientes. E como mencionei no início do post, assumir que o conteúdo mental é determinado por fatores do ambiente não permite ao cientista que analise o cérebro de uma pessoa e descreva todas as crenças e desejos que essa pessoa tenha. Em resumo, a consciência é uma entidade totalmente material e determinada por processos físico-químicos, mas, assumindo uma postura externalista, o "conteúdo mental" ou "informação" não pode ser simplesmente reduzido aos processos cerebrais.

Quanto ao fato de você assumir que as ações das pessoas exercem influência uma sobre as outras, e daí concluir que elas tem mente não resolve o problema. Lembre-se que o zumbi filosófico comporta-se como se fosse uma pessoa consciente, mas não tem nenhum estado consciente. Se você perguntar a ele: "Você é consciente?", ele responderia algo do tipo: "Claro que sim, como não seria?", mas isto seria apenas um output emitido pela "máquina" do cérebro sob a influência de inputs ambientais. Nada te garante que haja uma experiência consciente entre o input e o output. Considere a possibilidade lógica de um robô inteligente ao nível de um ser humano, algumas pessoas relutam em atribuir consciência ao robô; dizem elas: ele está apenas a processar informações!. Neste sentido, afirmar que o comportamento inteligente e aparentemente consciente de cada um influencia no comportamento de outras pessoas não responde a questão, mas somente corrobora com a sua dificuldade de dissolução. Assumir que os outros tem mente por analogia entre comportamentos é um exemplo fraquíssimo de indução: eu me comporto inteligentemente e sei que tenho mente, logo, se fulano se comporta inteligentemente, ele terá mente. Se a consciência for inefável, tal qual o dualismo propõe, não poderemos nunca dizer de fato se as outras pessoas possuem vida mental ou não.



Se você puder desenvolver mais a parte em negrito, eu agradeceria. E me corrija se eu estiver errado, mas seguindo o trecho em quote abaixo, me parece que você está assumindo uma forma de panteísmo, no sentido em que a natureza é uma substância só? (Estou falando porque me parece um pouco o panteísmo de Spinoza, acho que já discuti com você sobre isso em outro tópico). Assim, mente e corpo seriam uma única substância e estariam sujeitas ao funcionamento do todo, que é o universo? Em outras palavras, todas as mentes seriam aspectos de uma única substância, o que, de certo modo, resolveria o problema das outras mentes, visto que elas seriam apenas propriedades de uma única substância que compõe o universo?

Vou sair para almoçar agora, depois volto e me estendo mais.

--

Se o indivíduo é zumbi o mesmo não é capaz de questionamentos. E a duvida é presente em todo o ser humano. Um indivíduo zumbi seria menos que um humano e essa é uma abordagem perigosa de se levar adiante. É abraçar o determinismo de modo irresponsável.

--

É mais uma abordagem pandeísta da minha parte do que panteísta, pois eu abordo tudo por uma visão apocastática embora eu considere como o principio da diferenciação tendo estruturado a informação(se destruído) visando a impossibilidade de reconstrução ideal(o estado inicial). A entropia é fator chave.
 

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Baixei ontem o Golden Guide to Hallucinogenic Plants. Pelo jeito não fui o único ...
 

kingx

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Tesla;8917562 disse:
O texto é intrigante. Eu particularmente acredito que sejamos "zumbis". Porém a quantidade de variáveis é tão grande, que passa a ilusão de que há sim uma "mente" por trás de tudo.



Antes de mais nada, quero pedir desculpas por não poder dar uma resposta completa (não tenho muito conhecimento de MQ), pois esse tipo de post merece. Mas pelo que sei de MQ, o "Observador" não é um agente passivo, fora do sistema. O próprio ato de "observar" (melhor dizendo, fazer uma medição) já altera o sistema. Dando um exemplo grosseiro (e deixando de lado coisas mais compelxas), você só detecta um fóton se você interceptar ele. Esse seria o ato de "observar".

Quanto a estas discussões mais técnicas também não posso dizer muito. Foram uns colegas de curso que me falaram sobre a MQ, visto que eles estudam uma interpretação idealista da MQ proposta por um físico indiano, Amit Goswami.

De qualquer forma, quando falo sobre idealismo e MQ, estou falando só sobre uma possibilidade em princípio, mais uma especulação do que uma opinião embasada, visto que não tenho formação em Física. O que esse tipo de experimento parece sugerir é que a realidade, pelo menos em um nível microscópico, parece não ser estruturada a maneira de nossas concepções comuns, guiadas pelo pressuposto de que "as coisas possuem existência objetiva". A realidade enquanto realidade é um resultado da díade observador-coisa observada. É claro que, neste ponto, é preciso se ter claro o que é um observador e o que é coisa observada, mas aqui já não tenho conhecimento para tentar explicitar estes conceitos.

vacilotto;8917594 disse:
Vou sair para almoçar agora, depois volto e me estendo mais.

--

(I) Se o indivíduo é zumbi o mesmo não é capaz de questionamentos. E a duvida é presente em todo o ser humano. (II) Um indivíduo zumbi seria menos que um humano e essa é uma abordagem perigosa de se levar adiante. É abraçar o determinismo de modo irresponsável.

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É mais uma abordagem pandeísta da minha parte do que panteísta, pois eu abordo tudo por uma visão apocastática embora eu considere como o principio da diferenciação tendo estruturado a informação(se destruído) visando a impossibilidade de reconstrução ideal(o estado inicial). A entropia é fator chave.

(I) Mas é justamente aí que reside a questão. O zumbi não tem nenhuma semelhança ao zumbi clássico. Considere que os cientistas consigam construir um robô capaz de executar todas as operações cognitivas de um ser humano, isto é, o robô age como se fosse um humano. Não é muito intuitivo atribuir estados mentais conscientes semelhantes aos nossos a este robô, é comum pensar que ele só está processando estímulos e transformando-os em comportamento. Colocando isso em uma questão: se um robô tal como descrito aqui existisse, ele saberia como é ser um ser humano?

(II) E é esta a conclusão que chega o filósofo que propõe que pensemos na possibilidade lógica do zumbi. Ele diz, se tal zumbi é concebível, segue-se que os seres humanos possuem algo "a mais", que seria a consciência fenomenal ou consciência subjetiva. Ele argumenta que mesmo que pudéssemos fazer uma cópia física idêntica de um ser humano, ainda assim seria preciso algo a mais para torná-lo consciente. Esta proposta é denominada pelo filósofo como "dualismo naturalista", que, em outras palavras, pode ser classificado como "dualismo de propriedades" (existe uma única substância, a matéria, com diversas propriedades, como é o caso do mental, por exemplo). O dualismo de propriedades, guardada as devidas proporções, remete a uma concepção semelhante ao panteísmo de Spinoza. Neste último caso, existe uma única substância (Deus) da qual derivam várias propriedades (corpo, alma, etc.).
 

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kingx;8918317 disse:
Quanto a estas discussões mais técnicas também não posso dizer muito. Foram uns colegas de curso que me falaram sobre a MQ, visto que eles estudam uma interpretação idealista da MQ proposta por um físico indiano, Amit Goswami.

De qualquer forma, quando falo sobre idealismo e MQ, estou falando só sobre uma possibilidade em princípio, mais uma especulação do que uma opinião embasada, visto que não tenho formação em Física. O que esse tipo de experimento parece sugerir é que a realidade, pelo menos em um nível microscópico, parece não ser estruturada a maneira de nossas concepções comuns, guiadas pelo pressuposto de que "as coisas possuem existência objetiva". A realidade enquanto realidade é um resultado da díade observador-coisa observada. É claro que, neste ponto, é preciso se ter claro o que é um observador e o que é coisa observada, mas aqui já não tenho conhecimento para tentar explicitar estes conceitos.



(I) Mas é justamente aí que reside a questão. O zumbi não tem nenhuma semelhança ao zumbi clássico. Considere que os cientistas consigam construir um robô capaz de executar todas as operações cognitivas de um ser humano, isto é, o robô age como se fosse um humano. Não é muito intuitivo atribuir estados mentais conscientes semelhantes aos nossos a este robô, é comum pensar que ele só está processando estímulos e transformando-os em comportamento. Colocando isso em uma questão: se um robô tal como descrito aqui existisse, ele saberia como é ser um ser humano?

(II) E é esta a conclusão que chega o filósofo que propõe que pensemos na possibilidade lógica do zumbi. Ele diz, se tal zumbi é concebível, segue-se que os seres humanos possuem algo "a mais", que seria a consciência fenomenal ou consciência subjetiva. Ele argumenta que mesmo que pudéssemos fazer uma cópia física idêntica de um ser humano, ainda assim seria preciso algo a mais para torná-lo consciente. Esta proposta é denominada pelo filósofo como "dualismo naturalista", que, em outras palavras, pode ser classificado como "dualismo de propriedades" (existe uma única substância, a matéria, com diversas propriedades, como é o caso do mental, por exemplo). O dualismo de propriedades, guardada as devidas proporções, remete a uma concepção semelhante ao panteísmo de Spinoza. Neste último caso, existe uma única substância (Deus) da qual derivam várias propriedades (corpo, alma, etc.).

Não há como se fazer um robô que imite todos os processos que ocorrem em um ser humano, mas não é impossível a criação de um robô com consciência autêntica de um nível equiparável ao nosso.

O estado zumbi é algo alcançável por meio de hipnose, porem é um estado transiente e atípico.

Este algo a mais que você cita não depende necessariamente de uma pre-programação do robo ou de uma base biológica para a consciência do mesmo. Este algo a mais é inseparável da informação e se o meio é propício há de emergir inteligência e consciência. A informação existe além do meio físico, a emergência faz o resto.

A consequência da derivação de deus é a destruição do mesmo(ou vice-versa). Deus torna-se emergência pura e a partir disso cabe a vida a reconstrução de deus, que em função da singularidade(primeiro passo na criação do universo) só é reconstruivel como informação e de modo limitado, refletindo a natureza do ser vivo ou da biosfera.
 

kingx

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Não há como se fazer um robô que imite todos os processos que ocorrem em um ser humano, mas não é impossível a criação de um robô com consciência autêntica de um nível equiparável ao nosso.

O estado zumbi é algo alcançável por meio de hipnose, porem é um estado transiente e atípico.

Este algo a mais que você cita não depende necessariamente de uma pre-programação do robo ou de uma base biológica para a consciência do mesmo. Este algo a mais é inseparável da informação e se o meio é propício há de emergir inteligência e consciência. A informação existe além do meio físico, a emergência faz o resto.

A consequência da derivação de deus é a destruição do mesmo(ou vice-versa). Deus torna-se emergência pura e a partir disso cabe a vida a reconstrução de deus, que em função da singularidade(primeiro passo na criação do universo) só é reconstruivel como informação e de modo limitado, refletindo a natureza do ser vivo ou da biosfera.

Mas é claro que um robô que consiga reproduzir o comportamento humano é concebível. Ainda que seja praticamente inconcebível, não vejo nenhum obstáculo à conceptibilidade lógica de um robô inteligente. O demônio de Laplace é praticamente inconcebível mas serve como ferramenta heurística para vários tópicos em física e filosofia.

Uma coisa que tenho que deixar claro: Chalmers, o filósofo que propõe a hipótese do zumbi não afirma em momento algum que exista um zumbi. A conclusão de que zumbis do tipo que descrevi são possíveis resulta da realiação de um "experimento de pensamento" no qual os conceitos de mundos possíveis e de superveniência são utilizados para demonstrar que, dentro das concepções filosóficas oriundas de uma posição materialista, a consciência parece exigir algo a mais para que uma eplicação efetiva desta seja possível. A consciência não deixa de ser parte do mundo material, ela só é um fato bruto e teremos que desenvolver novas leis para podermos explicá-la. O Chalmers denomina estas leis de leis psicofísicas. Para resumir, não existe nada semelhante a um zumbi e o Chalmers não trata seus amigos e familiares como se fossem máquinas, o que ele quer demonstrar é que as implicações dos conceitos envolvidos no estudo da consciência possuem determinadas consequências lógicas em casos extremos. A conceptibilidade prática aqui não tem importância alguma. A análise filosófica se baseia em desvencilhar implicações que não estão visíveis em primeiro plano e chamar a atenção de suas consequências, de modo que uma teoria possa ter um escopo mais abrangente possível. Para citar um exemplo, a lei da queda livre dos corpos proposta por Galileu era contraintuitiva e foi provada de acordo com sua conceptibilidade matemática. Isto quer dizer que Galileu não precisou viajar ao espaço para afirmar que corpos de diferentes massas "caem" com a mesma aceleração em queda livre no vácuo. Analogamente, o Chalmers faz essa proposta do zumbi de acordo com uma análise conceitual e desenvolvimentos da filosofia analítica e da linguagem, tentando demonstrar que, em princípio, o zumbi filosófico é possível. Este tipo de afirmação esclarece alguns tipos de questionamentos e ajuda a moldar uma teoria da consciência.

Sobre o resto do post, talvez você queira explicitar o que você entende por "informação", por "emergência" e por "meio propício".

Se a consciência é informação, o conceito de informação deve ser capaz de explicar os aspectos da nossas experiência consciente, o que, a não ser que você explicite, não me parece muito promissor. Neste sentido, como é que a informação enquanto processo sintático dá origem aos aspectos semânticos da mente? Como é possível que características fenomenais como a cor e a dor sejam descritas e termos de informação?

Segundo, o que é uma característica emergente? A consciência emerge do físico e daí possui vida própria? Em caso afirmativo, você estaria comprometido com um dualismo substancial ou alguma forma de epifenomenalismo e uma sobredeterminação causal, visto que o universo físico é causalmente fechado. Caso contrário, se ela ainda depender do físico mesmo após "emergir", então não podemos falar de mera emergência, mas sim de superveniência. Se a superveniência do mental em relação ao físico for o caso, é preciso explicitar se a superveniência é global ou local, no sentido em que ela se aplica a todos os mundos possíveis ou só ao mundo em questão.

Em terceiro lugar, quando é que um meio é propício para se emergir comportamento inteligente? Dado que tenhamos a definição do que seja um meio propício, por que o comportamento inteligente vem acompanhado de experiências conscientes? Computadores, calculadoras, embora cognitivamente limitados, apresentam comportamento inteligente sem experiências conscientes (até onde sabemos). Assim, fica a pergunta: comportamento inteligente é condição suficiente e/ou necesária para que haja consciência?

Eu não sei cara, talvez eu esteja enganado, mas você faz assunções baseado em conceitos muito gerais/vagos e em analogias que não acredito serem adequadas. Por exemplo, parece bem intuitivo que o mundo seja um "hardware" onde a "informação" seja processada, mas você realmente acredita que este tipo de afirmação dá conta de TODOS os fenômenos do mundo? Eu sei que aqui não é o lugar em que vamos nos estender e discutir rigorosamente assuntos desse tipo, mas se você estiver interessado, talvez pudesse desenvolver um pouco mais estes conceitos e suas implicações.


Bom, eu não sei o que exatamente você pretendia com essa notícia, mas vou assumir que a parte importante seja em relação ao "macroorganismo". Em primeiro lugar, estou assumindo que você quis dizer que o "macroorganismo" seja um exemplo da interação entre as mentes que você mencionou, o que corroboraria com a sua tese de que você sabe que outras pessoas possuem vida mental porque as mentes estariam interconectadas à maneira do LUCA.

Antes de tudo é preciso saber se você pode realmente fazer essa comparação, visto que você está falando de um momento na história da Terra que remete a milhões de anos atrás. Seriam as condições ambientais as mesmas para se assumir o mesmo tipo de analogia? Em segundo lugar, admito, talvez você possa especular com base nisso uma interconexão entre mentes, mas explicar de fato como essa relação se dá e fazer um paralelo com a analogia requer um desenvolvimento muito maior.
 

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Bom, eu não sei o que exatamente você pretendia com essa notícia, mas vou assumir que a parte importante seja em relação ao "macroorganismo". Em primeiro lugar, estou assumindo que você quis dizer que o "macroorganismo" seja um exemplo da interação entre as mentes que você mencionou, o que corroboraria com a sua tese de que você sabe que outras pessoas possuem vida mental porque as mentes estariam interconectadas à maneira do LUCA.

Antes de tudo é preciso saber se você pode realmente fazer essa comparação, visto que você está falando de um momento na história da Terra que remete a milhões de anos atrás. Seriam as condições ambientais as mesmas para se assumir o mesmo tipo de analogia? Em segundo lugar, admito, talvez você possa especular com base nisso uma interconexão entre mentes, mas explicar de fato como essa relação se dá e fazer um paralelo com a analogia requer um desenvolvimento muito maior.

Não, o que eu buscava expor é um exemplo prático onde a destruição de uma "entidade" maior da origem a entes que operam pelas mesmas bases, porem de modo a apresentar independência aparente.
 
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