Vou contar um caso bem recente sobre HUE BR aqui em Portugal. Aqui no Consulado, eu estava responsável por atestar antecedentes criminais, que se trata basicamente de apor um selo confirmando a veracidade do documento perante autoridades daqui. Antes de lançar no sistema, imprimir, colar e tudo o mais, eu confiro os dados do texto (aquele mesmo que se providencia no site da PF) com os documentos originais apresentados. Eis que um sujeito entrega o texto dele contendo o campo "naturalidade" como "brasileira", ao invés da cidade de nascimento. Eu identifico o erro, a atendente o chama e pede pra que o corrija, o que é feito num dos PCs disponibilizados ao público. O cara diz que está fora do Brasil há mais de 10 anos e não sabe 'muito bem dessas coisas', mas vai lá fazer a correção, meio a contragosto. Nesses casos, não há grande prejuízo, uma vez que o consulente cara não volta ao início da fila; quando retorna o formulário, entra na frente dos demais.
Eis que algum tempo depois, o indivíduo volta com o texto corrigido, e eu faço novamente a conferência de praxe. Em 99% dos casos, o problema termina aí, mas o que o cara me faz? Ao invés de colocar a cidade de nascimento como indicava o documento - Niterói, no caso - coloca "Rio de Janeiro", alegando que era isso que constava no RG (onde constava o estado, diga-se, não a cidade)! Aqui no exterior, o que usam como referência é o passaporte, e não tinha como isso estar mais explícito. Aliás, se entregamos um documento com dados diversos do original, é claro que qualquer autoridade portuguesa onde ele apresentasse os antecedentes iria notar, e o sujeito com certeza voltaria ao Consulado pedindo satisfações. Óbvio que o cara teve que voltar outra vez pra refazer a bagaça, reclamando, como se a culpa das idas e vindas fosse por nossa intransigência.
E é agora que vem a parte que me deixou puto. No último retorno, o volume de documentos a processar aumentou consideravelmente, e havia uma fila de espera de umas 6 pessoas, com tempo de espera de uns 15 a 20 minutos (de onde ele retirava o documento pronto na hora). Como o espaço de espera é pequeno, havia uma certa aglomeração momentânea, de onde ele aproveitou pra reclamar em voz alta com os outros que esperavam: "Não foi a toa que saí desse país há mais de 10 anos... não conseguem fazer nada funcionar direito!"
Eu tive que contar até 10 pra não sair no cara, putz... minha vontade era de levantar e dizer algo dizer algo como
"Ô animal, você não percebe que é o protótipo do que há de errado no brasileiro?! Põe a culpa pelos próprios problemas nos outros sem ter a vergonha de olhar pro próprio rabo e assumir a porra da responsabilidade? Se fuder!". Só não fiz isso porque a chance de dar m**** seria gigante, infelizmente, já que o público que vai ali nos vê frequentemente com hostilidade, como a representação do "Brasil" do qual eles fugiram, onde já vão a contragosto. Dali pra se inflamar em grupo não custa nada...
Velho, que preguiça. E tenho o desgosto de saber que esse tipo de gente não se dá conta de que, longe de
fugir do 'problema' quando saem do país pro exterior... ele
trazem o problema. Como dizia Sartre, o inferno são os outros.
Não é isso tudo, nem de longe. Mas tem aumentado. Oficialmente, existem 28 mil brazucas no norte de Portugal, mas esses são apenas os legais. Chuto aí uns 40 mil nessa região.