Tensão entre Rússia e Turquia sobe e Erdogan anuncia ofensiva iminente
Khalil Ashawi - 13.fev.2020/Reuters
O
presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, anunciou nesta quarta-feira (19) uma ofensiva militar de forma iminente em Idlib, noroeste da Síria. Em seguida, a Rússia fez uma advertência contra estas pretensões.
Sinal da extrema tensão na zona, Erdogan reiterou seu ultimato ao regime para que se retire antes do fim de fevereiro dos arredores dos postos de observação turco em Idlib.
"A operação em Idlib é iminente", disse Erdogan em um discurso no Parlamento. "Estamos em contagem regressiva. São as últimas advertências", insistiu.
"Infelizmente, nem as conversas realizadas no nosso país e na Rússia, nem as negociações no terreno nos permitiram chegar ao resultado que desejamos", condenou Erdogan. Ele acrescentou, no entanto, que o diálogo continua.
Em paralelo às advertências, a Turquia vem mobilizando reforços há vários dias na região de Idlib. "Fizemos todos os nossos preparativos para poder aplicar nossos próprios planos", declarou Erdogan. "Estamos decididos a fazer de Idlib uma região segura para a Turquia e para a população local, a qualquer custo", acrescentou.
Apoiadas pela aviação russa, as
forças de Damasco realizam nas últimas semanas um duplo ataque para recuperar este último bastião rebelde e jihadista.
De Moscou, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, advertiu Erdogan de que a ação se trata de um ataque contra o governo legítimo da Síria, e que um ataque seria considerado "o pior cenário possível".
No início de fevereiro, as tensões aumentaram depois que soldados turcos que estão em Idlib, como parte de um acordo entre Ancara e Moscou, morreram vítimas de bombardeios sírios.
O emissário da ONU para a Síria alertou, nesta quarta-feira, o Conselho de Segurança da ONU de que há risco iminente de escalada. "Não posso informar de nenhum avanço para dar fim à violência no noroeste (sírio) ou retomar o processo político", lamentou Geir Pedersen em uma reunião mensal do conselho.
Êxodo em massa de civis
Ancara e Moscou cooperam estreitamente na Síria desde 2016, apesar de seus interesses divergentes. A Turquia vê com maus olhos o avanço do regime de Assad em Idlib, temendo um novo fluxo de deslocados para seu território. Cerca de 3,7 milhões de sírios se refugiam nesta área desde 2011.
Após várias semanas de ofensiva do regime sírio, determinado a recuperar o controle de Idlib,
a situação humanitária é catastrófica.
Segundo a ONU, cerca de 900 mil pessoas, a grande maioria mulheres e crianças, fugiram desde o início de dezembro pela ofensiva lançada pelo governo Assad e por Moscou na região de Idlib e seus arredores.
Em guerra desde 2011, o país nunca havia experimentado um êxodo desses em um período de tempo tão curto. No total, o conflito sírio levou milhões de pessoas ao exílio e deixou mais de 380 mil mortos.
Em uma entrevista coletiva em Istambul, nesta quarta, uma coalizão de ONGs sírias, a SNA, pediu "ao mundo que desperte e detenha o massacre" em Idlib.
Segundo a SNA, os acampamentos de refugiados estão lotados (...) e os civis não têm outra opção a não ser dormir ao ar livre, apesar das baixas temperaturas do inverno.
As ONGs estimam em cerca de US$ 335 milhões a ajuda necessária para atender aos deslocados refugiados perto da fronteira turca, amontoados aos milhares em acampamentos improvisados.
Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), mais de 400 civis, incluindo 112 crianças, morreram desde que o regime e a aviação russa lançaram a ofensiva. Muitas ONGs acusam o governo Assad e a Rússia de tomarem a população e infraestrutura civis como alvo.