Dois dos maiores meias-armadores do século XXI. Excelentes jogadores. Acho o Xavi ligeiramente mais "diretor" de jogo, enquanto o Iniesta mais segurador de bola, mas é tecnicamente superior. Não sei realmente quem eu escolheria. O fato é que eu jamais escalaria os dois juntos, como é usual na escola espanhola dividir o campo com vários meia-armadores de ofício, o que pode gerar um toque de bola excessivo e falta de objetividade do time.
No último jogo da Alemanha, você tinha: Isco, Koke, Iniesta, Silva e Thiago. É muita personalidade de jogo. Admirável. Numa hora dessas eu queria perguntar ao Tite e ao qualquer outro técnico brasileiro sobre isso: O que você acha desta escalação? Tinha coragem de fazer o mesmo com a gente?
São meia-armadores, posição que, a meu ver, há muito tempo o Brasil não mais produz um jogador de classe mundial, pois, hoje, infelizmente, com a italianização/gauchização do futebol brasileiro, após os sucessos de Felipão na década de 90, nossos meia-armadores estão sendo jogados para jogar lá na frente, atrás do centroavante, em vez de jogar ao lado do cabeça-de-área, como Pirlo e o próprio Xavi.
O único brasileiro armador de classe mundial do século XXI foi Deco, mas sua formação não foi aqui no Brasil, mas em Portugal. Tivemos Ganso, mas Ganso foi usualmente escalado à frente dos três ou dois volantes e atrás de dois ou três atacantes. Talvez se Ganso fosse talhado na Europa, desde cedo, como Deco, se tornasse um grande jogador.
E este é o maior problema do nosso futebol. Esse complexo de vira-lata que de achar que aqui sempre teve um futebol taticamente inferior aos outros, e que portanto precisamos copiá-los. Acho que deveríamos retornar ao esquema do 433/424 que ajudou a formar toda aquela geração da década de 80 e 90. Coincidência ou não, depois da gauchização, não cansamos de produzir volantes BtB e volantes cabeça-de-área, por consequência, sentindo uma enorme carência de meia-armadores, meia-atacantes, atacantes e centroavantes.
Hoje o futebol brasileiro só quer saber de meias BtB. Foi a era de Ramires, Fernandinho, Elias, Oscar, Elano, Paulinho, Fred, Renato, Elano... Onde estão os meia-armadores e os meias-atacantes? Por exemplo: Onde estão os Ricardinhos, Djalminha, Juninho Pernambucano e Zinhos, os meia-armadores? Onde estão os meia-atacantes, Marcelinho, Alex, Raí, Rivaldo? Talvez Diego Ribas, Kaká e Julio Baptista tenham sido raríssimas exceções.
Agora que estão voltando aos poucos com a figura do meia-armador ao lado do cabeça-de-área. O próprio Tite está fazendo isso, desde os seus tempos de Corinthians. Só que, em vez do meia-atacante, como o terceiro homem do meio de campo, Tite usa um volante BtB, seja Elias, seja Paulinho, seja Fred etc.
Sobre a Espanha.
Eu tenho uma certa admiração ao futebol espanhol, paradoxalmente também tenho uma certa restrição ao futebol bobinho (tiki-taka sem objetividade). Admiro porque acho de louvável personalidade países que buscam ter uma certa identidade de jogo, de perseguir uma certa escola de futebol conforme àquilo que eles apreciam e entendem como um futebol vencedor.
Eu penso que o futebol espanhol, enquanto seleção, passou por três estágios de adaptação, depois da era do Real Madrid de Di Stéfano. A Espanha foi campeã da Euro de 64 no embalo dos cinco títulos seguidos da Champions dos merengues. Mas o que deu a Espanha hoje a sua identidade de jogo foi a escola holandesa de futebol e com o aperfeiçoamento dos técnicos espanhóis.
Primeiramente, o Rinus Michels, técnico mentor do Ajax tricampeão da champions e da Laranja Mecânica das Copas de 74 e 78, foi treinar o Barcelona na década de 70, trazido pelo próprio Cruyff, que também trouxe o Johan II, o Neeskens. Foi o começo.
Depois veio, no fim da década de 80 e no início da década de 90, o Dream Team do Cruyff, onde ele conseguiu implementar a sua filosofia de jogo, jogando no seu cultuado 3-4-3. La Masia começou aí a implementar essa filosofia, a olhar e a talhar os jogadores de forma diferente.
Com a edição da Lei Bosman e a instalação da União Europeia, o Barcelona - já decidido com a filosofia de Cruyff -, a meu ver, errou em contratar praticamente todo o time do Ajax campeão da Champions de 95. Só não trouxe os dois melhores holandeses do time, porque Seedorf foi para a Sampdoria (Real Madrid depois) e o Davids para a Juventus. Os demais, como os irmãos De Boer, Overmars, Reizeger, Bogarde, Kluivert e o finlandês Litmanen, além do próprio técnico, Van Gaal, foram trazidos. Trouxeram ainda o Cocu e o Zenden do PSV.
Digo um erro porque era preciso ainda confiar em seus jogadores da La Masia, em vez de superestimar os holandeses. E ainda, quem não era holandês, sofreu nas mãos do Van Gaal, o Rivaldo, o Sony Anderson, o Giovanni, além do próprio Stoichkov. Não deu em nada. O Sony, sem medo de errar, era um dos melhores atacantes do mundo, e foi sacaneado pelo o Van Gaal. A meu ver, ele era melhor que o Kluivert. Só não tinha marketing. Mas onde passou o Sony somou uma média de gols excepcional, até mesmo no Barcelona jogando só no segundo-tempo.
Rivaldo, que sempre jogou de meia-atacante, brigava com o Van Gaal pois não aceitava jogar aberto na ponta-esquerda, já que sempre foi um meia-atacante/segundo-atacante de ofício. Rivaldo ganhou a quebra de braço e Van Gaal passou a escalar o time no 442, com Rivaldo e Kluivert no ataque.
E outro que foi sacaneado, foi a grande promessa espanhola, Ivan De La Pena, que praticamente foi talvez o primeiro arquétipo desses atuais meias-armadores espanhóis - baixinhos, armadores, passadores, habilidosos, porém, sem profundidade de ataque. Sofreu com as contusões é bem verdade, mas foi descartado de plano pelo holandês. Para Ronaldo R9, foi o melhor passador com quem ele jogou. Só vejam o rapaz:
Depois teve a fase do Rijkaard, que conseguiu montar um excelente time, selecionando um jogador aqui, outro jogador acolá, baratos, sem gastar muito dinheiro. Foi um time vencedor, mas sem uma identidade de jogo.
A terceira fase mesmo, que consolidou a escola espanhola, só veio mesmo com a profusão de meias espanhóis de alto domínio de bola e qualidade no passe (Iniesta, Xavi, Carzola, Alonso, Busquets, Vicente, Silva, Guti, Fábregas, Luis Garcia etc.), o que acabou, por consequência, esse jogo tiki-taka se firmar.
Acho que o tiki-taka foi mais em decorrência da própria natureza dos jogadores do que por determinação do Guardiola. Como os meias espanhois não eram fortes e ariscos, em vez de imprimirem velocidade e dribles agudos, eles preferiam recorrer de sua virtude, que era tocar, dominar e tocar. Não foi à toa, troca-se técnico, que ainda sim eles continuaram o toque de bola excessivo.