Terror erótico: O dia em que tracei o sósia do Jandirão
- Para descontrair;
Já estava quase terminando o terceiro semestre da faculdade de ciências sociais e não tinha comido ninguém, quando me dei conta que só os descolados do DCE é que se davam bem com as calouras.
– Cara, você tem que fingir que é socialista, porque as mina de humanas curtem esse lance de consciência social e coisa e tal – me disse um amigo veterano.
O sujeito, que estava apenas dois períodos à minha frente, já fazia parte da gestão do Centro Acadêmico, tinha deixado a barba crescer e só andava com camisa do Che Guevara, visual bastante diferente do de outrora.
É bem verdade que ele não era lá um Dom Juan, não pegava geral, mas, segundo ele mesmo disse, de vez em quando descolava uma foda nas festas que rolavam no departamento.
– É a tua chance, cara! Semana que vem vai rolar uma calourada, e se você quiser eu te coloco na organização do evento, para que as novatas pensem que você é entrosado com as lideranças estudantis e tal, e isso vai facilitar as coisas para você.
Eu não havia nem respondido ainda quando ele prometeu, sem que eu pedisse, me emprestar uma camisa do Che Guevara, para meu disfarce ficar mais convincente.
– Cara, meu pai é militar da reserva, se ele me pega usando uma m**** dessa, é capaz de me deserdar – exclamei obtendo como resposta um indiferente “porra nenhuma”.
– Mas essas meninas de esquerda geralmente são barangas pra cacete – afirmei.
– Sim, mas pelo menos elas trepam bem, já que não estão apegadas aos pudores pequeno-burgueses – respondeu o cínico.
– Brother, tem umas figuras que não dá nem para saber ao certo se é homem ou mulher. Vê o Jandirão, por exemplo – disse eu em referência a um membro do sindicato dos docentes, que era figura tarimbada entre os alunos.
Com uma compleição física mais adiposa que o recomendável, Jandirão lembrava um ogro mal desenhado. Ostentava um nariz de fazer inveja ao Luciano Hulk e tinha a cabeça emoldurada por uma cabeleira cacheada que, inimiga declarada do cabeleleiro, lembrava um engenhoso esconderijo de piolhos.
Certa vez propus uma aposta para saber se ele era homem ou mulher, mas fui repreendido por um colega, que me disse que esses conceitos estão ultrapassados.
– Ser homem ou mulher não se define pelo órgão genital – disse o rapaz.
Eu não quis discutir, embora, no íntimo, considerasse a afirmação próxima da esquizofrenia.
Eu estava me tornando esquerdista.
No dia festa, nada que mereça ser narrado ocorreu antes de eu ficar embrigado.
Lembro que certo momento alguém compartilhou na roda um cigarrinho amaldiçoado do Mujica, que uma vez misturado ao álcool etílico, me fez ter apenas flashs de memória.
Acordei no dia seguinte deitado numa cama de um quarto que deduzi ser de um motel, não fazendo ideia de como tinha ido parar ali.
Somente quando o chuveiro foi desligado e uma voz cantarolando silenciou de dentro do banheiro, foi que me dei conta da presença de outra pessoa.
Aguardei que o ser humano surgisse e qual não foi minha surpresa ao me deparar com um sósia do Jandirão, enrolado numa toalha, a exclamar
“Bom dia, amor”.
Digo se tratar de um sósia para evitar afirmar que era o Jandirão original, pois tal afirmação poderia me render um processo judicial de danos morais.
Fato é que não fiquei para me certificar.
Fui embora e confesso que ainda passei uns dias sopesando prós e contras dar prosseguimento ao meu curso universitário, chegando à conclusão de que o diploma, no fim das contas não me faria falta.
Devo admitir que chegou a se esboçar em minha mente um certo arrependimento por não ter me certificado se Jandirão é homem ou mulher.
Mas como não tenho certeza se fui enrabado ou enrabei, prefiro fingir mais uma vez que concordo com o cara que me disse que os conceitos do que vem a ser definido como homem e mulher já estão ultrapassados hoje em dia.