Não querendo julgar você nem ninguém, aliás nem tenho como nem se eu quiser já que não conheço ninguém pessoalmente, pelo jeito que tu escreve, eu acredito que você deva ser uma pessoa 100% normal e funcional. Muitas vezes eu me pergunto se o pessoal se ampara no "autismo" pra justificar timidez, introvertismo e outras "deficiências" sociais.
Não me leve a mal, na minha época autismo era aquela pessoa que precisava ficar amarrada. Eu vejo hoje muitas pessoas que são perfeitamente funcionais mas do meu ponto de vista se amparam no autismo pra não ter que encarar a vida como ela é, ou seja, a vida em que os não são constantes, onde ninguém é especial e ninguém dá a mínima pra você, que é o padrão e o natural, diferente do que prega o wokismo atual onde tudo é fashion e tudo brilha.
Não tô dizendo que é o seu caso nem o de ninguém aqui. É a percepção que eu tenho.
Há 3 níveis de autismo, Piga. Essa visão mais datada do autista disfuncional, com necessidade plena de suporte, se aplica a alguns do nível 2 e a todos do nível 3.
Eu sou autista. Funcional. E odeio essa m****.
Durante décadas, o mais gentil de que fui taxado foi "excêntrico". Na família, era neurótico, louco, descontrolado, agressivo, sem qualquer "inteligência emocional". Você tem razão, entretanto, em dizer que muitos usam seus transtornos como muletas. E é mesmo tentador. Há pessoas que nem tentam contornar suas limitações. Isso é algo que me policio o tempo todo, e vigio meu filho (autista) constantemente.
De acordo com 3 testes de QI, feitos em diferentes fases da vida, estou no 0,5 % da população. Ou 0,1 %, se for mais arrogante. Isso compensa várias limitações do autismo. Meu filho não teve tanta sorte, mas não tem déficit intelectual. Ao mesmo tempo, o autismo me atrapalha pra c***lh0. A ponto de me enfurecer.
Antes do diagnóstico, fui tratado como depressivo, bipolar, com síndrome do pânico, distúrbios de ansiedade, o diabo. Algum tratamento funcionou? Sequer trouxe melhora? Porra nenhuma! Inclusive surtava com as "medicações modernas, que funcionam para todo mundo".
Durante o diagnóstico de autismo do meu filho (acredite, é uma paternidade bem desafiadora, nesse caso), os médicos dele, as neuropsicólogas dele, me chamavam e perguntavam se eu não queria passar pelo processo de diagnóstico, que as evidências de eu também ser autista eram muito claras. E fui lá. Quatro longos meses, e saiu o diagnóstico.
Você já teve a sensação de ter um quebra-cabeças incompleto, e depois de anos achar a peça que faltava, e de repente tudo começou a se conectar e a ter uma resposta? E ao mesmo tempo ter um alívio tremendo, odiar a resposta? Essa foi minha sensação.
A parte boa é ter noção de quando as crises estão vindo, e o que as causa. A parte ruim é ficar paranoico tentando evitar as crises a todo custo. Antes, quando elas vinham, eu ficava furioso comigo, quando elas passavam. "Deixa de ser fresco, seu FDP", era o que eu falava para mim. Pelo menos, agora, sei o porquê dessa m****.
Uso o autismo para parar de de me agredir, não para parar de tentar. Como todo humano, falho muitas vezes. É extremamente desgastante. As pessoas são caóticas demais, atormentam demais. Quando saco a carta do autismo, é uma forma de mandar o outro tomar no cu e calar a boca, porque já estou no limite pré-agressão. Uma forma de ficar menos exausto.
Aprendi a ler emoções e a me comportar socialmente por imitação, pura e simples. Um amigo me disse uma vez que eu pareço um personagem de quadrinhos de herói, no meu comportamento. Porque não sei fingir comportamento de outra forma que não copiando, c***lh0.
Faço meu trabalho. Tenho esposa, sou pai de família. Sustento minha casa. Minha responsabilidade no trabalho é imensa, e até por isso nunca cito em detalhes o que faço ou onde trabalho. E sou autista; na escala, um pouco além do nível 1. Mas só quem é realmente íntimo vê minhas limitações... ou quase sempre apenas eles.
