The Mandalorian - Resenhamos o primeiro faroeste de Star Wars
SEM SPOILERS!
The Mandalorian é algo que Hollywood estava devendo faz tempo. Mais ou menos uns 5 minutos depois de Guerra nas Estrelas estrear em 1977, já tinha gente falando em uma série de TV, mas fora (e provavelmente por causa dele) o Especial de Natal, nada foi feito. Até hoje.
Kevin Feige, o bambambam da Marvel comentou certa vez que não existe "filme de super-herói", e ele está certo. Os super-heróis são apenas parte da história, e esta pode seguir qualquer linha, por isso Guerra Civil é um ótimo thriller de espionagem, Homem-Formiga um delicioso filme de roubo e Mulher-Gato um filme-catástrofe.
Guerra nas Estrelas, depois de 42 anos é muito mais que uma franquia, é um Universo inteiro de cenários, personagens e possibilidades, usar isso tudo só pra fazer filminho de navinha pewpewpew seria um enorme desperdício de oportunidade.
O que não era esperado é que
The Mandalorian correspondesse tão bem à promessa de ser um western, mas não espere nada tão óbvio quando
Galaxy Rangers.
Mais do que o visual, a série tem todo o clima dos velhos faroestes, esse sim um gênero cinematográfico, e
The Mandalorian mostrou que
Star Wars funciona maravilhosamente bem, a imagem mítica do Velho Oeste, uma terra sem lei, onde o mais forte sobrevive, e o resto se vira vendendo o almoço pra comprar a janta encaixa certinho com o período pós-Retorno de Jedi, quando o Impériu ruiu e a Galáxia está sem comando.
A sério, pelo contrário, está muito bem comandada. Foi criada e escrita por Jon Fraveau, e a direção do primeiro episódio ficou a cargo de Dave Filoni, criador de Clone Wars e Rebels, duas excelentes séries animadas de Star Wars. Filoni é nerd de carteirinha, do tipo que faz cosplay e tudo, e isso fica evidente em
The Mandalorian.
Há referências obscuras a termos que só aparecem no Universo Expandido, e até mesmo uma referência direta ao Especial de Natal de Guerra nas Estrelas, o que não deixa de ser justo, pois foi naquela abominação que Boba Fett apareceu pela primeira vez.
A Produção
Você vai achar que está vendo
cinema, e cinema de verdade. O orçamento de cada episódio da série é de US$10 milhões. Para dar uma idéia do que é isso,
metade dos filmes produzidos por Hollywood custam menos de US$ 18 milhões, dois episódios de Mandalorian. Xingu, o filme brasileiro mais caro já produzido,
custou em Dólar o equivalente a US$2,3 milhões.
Fãs de verdade com uniformes de verdade
O melhor é que você vê isso em
The Mandalorian, seja nas maquiagens, nos efeitos práticos, nas roupas, detalhes e cenários. Nada parece barato, mesmo monstros de uso único (é Star Wars, tem que ter monstros) são caprichados e visualmente complexos.
Na segunda trilogia George Lucas não mandou fazer um único uniforme, todos os
clone troopers eram computação gráfica. Já em
The Mandalorian são atores de verdade com armaduras de verdade. E detalhe, como não conseguiram achar uniformes o suficiente, a equipe de Jon Favreau contactou a 501ª Legião, aquele mega-fã-clube internacional, e os fãs compareceram com seus próprios uniformes para servir de figurantes.
The Mandalorian - O Elenco
Pedro Pascal está excelente como o caçador de recompensas que não é tãããããão bom quanto aparenta mas tem toda a aura de seu povo projetando uma imagem de guerreiros implacáveis. Ele se safa das situações, claro, mas o Mandaloriano não é um Gary Sue, para alívio de todo mundo que não engoliu a complicada e perfeitinha Rey, a moça que nunca pegou um sabre de luz na vida e enfrentou de igual pra igual um Jedi treinado por Luke Fucking Skywalker.
Pascal tem o grande mérito de colocar o papel na frente da vaidade, e ao contrário do pessoal da Marvel que mostra a fuça no meio das batalhas pros fãs adorarem seus rostinhos bonitos, em nenhum momento do episódio ele tira o capacete, o que condiz com o cânone mandaloriano firmado no Universo Expandido.
Temos uma rápida porém divertida participação de Nick Nolte, e Taika Waititi, diretor de Thor:
Ragnarok faz um excelente personagem em CGI, com personalidade, o tipo mais raro e difícil.
The Mandalorian - A Sinopse
The Mandalorian se passa logo após a queda do Império, e não está fácil pra ninguém. Basta dizer que Moss Eisley não chega nem no Top 20 de covis de escória e vilania, nessa época.
Nosso herói, digo, protagonista já começa o episódio entrando em um
saloon em um planeta deserto, é prontamente desafiado por valentões locais, despacha todos (um deles de forma bem brutal, mas sem sangue, é Disney afinal) e recolhe seu alvo; ele é um caçador de recompensas, afinal.
Depois de entregar a carga ele recebe só metade do combinado, a grana está curta, mas seu contato, interpretado por Carl Weathers (isso mesmo, Apollo Creed!) oferece um trabalho muito rendoso mas bem misterioso. Indo pessoalmente até o cliente, o Mandaloriano encontra ninguém menos que Werner Herzog, que não recebeu a carta do Scorsese explicando que
filmes de navinha pewpewpew não são cinema de verdade e não merecem a atenção de diretores de primeira linha.
Herzog oferece uma fortuna para que o Mandaloriano traga de volta um sujeito, vivo ou morto, de preferência vivo. Isso o leva a Arvala-7 onde ele é atropelado por um Blurrg, este bicho aqui, que surgiu em Clone Wars.
Isto é um Blurrg. Acho que estão ficando sem imaginação para nomes.
O Mandaloriano é salvo por Kuiil, um sujeito da região, que imediatamente se dispõe a ajudá-lo, pois os mercenários que ocuparam aquela região destruíram a paz do planeta, etc, etc.
Depois de um tiroteio digno de um filme de Sergio Leone, nosso protagonista chega até seu alvo, que ele não sabe quem é, como se parece nem o nome, tem apenas um rastreador para identificá-lo. Quando ele descobre quem, ou melhor -o quê- é o alvo, o episódio acaba, bem a tempo da gente ficar com o queixo no chão. Em 10 mil anos eu não imaginaria ver aquele personagem ali. Foi o melhor gancho de todos os tempos.
E aviso: Você vai jogar fora seus Porgs e correr pra comprar esse novo boneco!
The Mandalorian - Conclusão:
The Mandalorian, como todo western, é uma história simples e linear, ao menos no primeiro episódio. Respeita a inteligência do espectador, sem ficar se explicando. Não há uma linha de diálogo expositivo em todo o episódio. A lógica é simples: Se você está vendo uma série de Star Wars em 2019 sem reconhecer quem é quem ou o que era esse tal de Império, azar o seu.
The Mandalorian, se fosse feito por George Lucas
A série começou simples aparentemente por estratégia, ninguém sabia o que esperar então vimos algo totalmente novo, mas dentro da zona de conforto dos fãs de Star Wars. E principalmente, vimos que não precisamos de batalhas espaciais, Jedis e a galáxia inteira na balança para apreciarmos aventuras no Universo de Star Wars.
O Mandaloriano é o herói relutante sem nome e sem rosto, um dos mais antigos personagens dos faroestes. Ele não é Luke, não é Solo nem Poe Dameron. Ele é Shane, é Bat Masterson, Clint Eastwood, é Papaco. Quem chega esperando George Lucas vai encontrar John Ford, e não vai se decepcionar.
Em um Universo onde os filmes começaram a variar enormemente de qualidade, e se tornaram mais do mesmo (quantas vezes os vilões criaram armas do juízo final apenas pra um bando de rebeldes arriscar tudo e explodi-las?)
The Mandalorian é um sopro de originalidade ao reciclar um dos gêneros mais antigos do cinema.
trailer:
Cotação:
10/5 Ming-Na Wens, afinal ela está na série e tudo fica melhor com a Ming-Na.