Bom, acho que quando se quer uma discussão com as pessoas falando honestamente e logo no segundo post se diz que quem tem preconceito é um imbecil, todo o resto da discussão vai ser entre quem concorda e quem concorda com toda a certeza. Quem pensa diferente logo percebe que não vale a pena dar a opinião porque vai ser chamado de imbecil e não dá a opinião.
No fundo todos perdem com isso.
Sendo honesto, acho que tenho certo preconceito, sim. Nao que eu não vá ler livros escritos pra mulheres, apenas normalmente acabo pegando livros escritos por homens, que tbm são a maioria em livros de ficcao.
Eu , li tudo que saiu em portugues de Darkover e mais alguma coisa em inglês. A série acabou por me prender pelo macro, curtia o mundo, curtia os problemas que surgiam, mas no geral não curtia tanto os personagens e a forma como alguns problemas eram resolvidos. Mas acho que algo na autora me incomodava na forma como ela escrevia os personagens. Não é que eles fossem esterótipos, longe disso, mas algumas vezes eles agiam de forma diferente do que agiriam se fossem pessoas reais para dar o resultado que ela queria e isso me incomodou. Infelizmente não lembro de fatos específicos, só de ter essa reclamação na época.
Adorei A Mão Negra da Escuridão, de Ursula Le Guin, que trata de forma bem legal o choque de cultura de um enviado da Terra a um planeta em que os seres humanos eram capazes de mudar de gênero, podendo ser homens ou mulheres. A forma como ela escrevia o livro tornava bem interessante e pouco panfletário o livro.
E acho que, ao procurar a autora do livro é que eu notei porque tenho preconceito com mulheres autoras.
Leiam a sinopse de A Mão Negra da Escuridão:
"
A Mão Esquerda da Escuridão, de
Ursula K Le Guin
Genly Ai foi enviado a Gethen com a missão de convencer seus governantes a se unirem a uma grande comunidade universal. Ao chegar lá, ele percebe que os habitantes de Gethen fazem parte de uma cultura intrigante. No local, os indivíduos não possuem sexo definido e, como resultado, não há qualquer forma de discriminação de gênero."
Tipo, para vender um livro escrito por uma mulher, com uma trama de intriga política misturada com (pouca) ficção, a descrição usa três frases, uma para falar da missão do protagonista, outra para falar que a cultura do povo é intrigante e, finalmente, uma frase inteira falando que as pessoas podem ser de sexo indefinido e que não há discriminação de gênero (e há!).
Esse resumo me afastaria do livro se eu fosse procurar ele hoje porque justamente, eu acharia que tem panfletagem ideológica como disseram lá em cima que não enxergavam. O fato de os nativos lá de Gheten serem de ambos os sexos e de nenhum dos sexos é um fator alienígena e não o principal fator, é algo que era apenas rapidamente mencionado na contracapa e só, você lendo é que ia descobrir toda a coisa.
Talvez parte do meu preconceito seja por conta disso,
da forma como vendem escritoras mulheres de ficcção cientítica e não das autoras em si.
Por exemplo, na página "
http://www.huffpostbrasil.com/2017/...eres-que-voce-ja-deveria-conhecer_a_23230361/" olha as descrições de:
Kindred
A trama é sobre Dana, uma mulher negra que nos anos 70 vive sucessivos episódios de volta no tempo, para os EUA dos início do século 19.
Questões de raça e gênero permeiam o livro que já vendeu mais de meio milhão de cópias e que tornou Octavia conhecida como a "Grande Dama da Ficção Científca".
=>Eu curto ficção científica e, embora não goste particularmente de viagens no tempo, acho interessante uma estória em que a protagonista é uma mulher e viaja no tempo. Aí vem a descrição com "Questões de raça e gênero permeiam o livro". De repente, se fosse vendido de uma forma legal, o livro (e a autora) me interessariam. Pela forma como é vendido, parece panfletagem ideológica. Aí, fica lá atrás na lista de livros a ler.
Herland, a terra das mulheres
Considerado uma "
distopia feminista", o livro conta a história de três rapazes americanos que fazem uma expedição a um país desconhecido (Herland, do título) composto apenas por mulheres e meninas há mais de 2000 anos. Com a imagem cristalizada do ideal de mulher que conheciam, eles se surpreendem com o que encontram nesse novo lugar.
Nesse lugar, não há mais guerras e violência e a reprodução assexuada é o que regra as vidas.
=>Novamente o livro pode ser excelente? Pode. Mas a forma como é vendido é que é outro livro panfletário de como um lugar só de mulheres claramente seria um paraíso. De novo, eu colocaria lá atrás. E, no meu subconsciente, já colocaria que toda mulher tem viés ideológico.
A Nascente
Howard Roark é um jovem que se recusa a seguir os padrões de uma sociedade que não compreende seu modo independente de pensar e agir. Roark não abre mão de seus valores e longe da faculdade, acaba pagando um preço alto que envolve desemprego, pobreza e humilhação pública.
A trama traz a tona uma ideia que a autora defendeu durante toda a sua trajetória: a de que o homem nasce livre e pode fazer o que desejar.
=>Outro livro com um protagonista masculino, mas que é um diferente que sofre. De repente pode tbm ser um bom livro, mas a forma como vendem... A idéia é ótima, eu queria ver um livro assim, mas a forma como vendem... Novamente Panfleto ideológico. E olha que Ayn Rand é tudo, menos esquerdista!
De repente eu estou tendo um viés muito conservador, mas creio que a forma como se vende livros femininos acaba por afastar as pessoas de livros escritos por mulheres.
Tipo, imagina Harry Potter: A escritora iniciante conta a estória de um menino vítima de uma família abusiva e opressora, que busca numa escola para bruxos, ser livre e aceito por quem ele é.
Essa é a trama de Harry Potter? Claro que não. Mas o resumo não mente, apenas escolhe vender o livro de uma forma que não atrairia a mim.
Então, infelizmente tenho sim, algum preconceito com livros escritos por mulheres. O preconceito vem na hora de dizer qual livro vou ler primeiro e sempre vai ter outro autor melhor vendido (não no sentido de quantidade de vendas, mas no sentido de melhor apresentado e de forma interessante) que me interesse.