para quem anda babando o saco da china, sugiro assistirem este video
a bolha esta no estado critico, ainda mais agora que eles foram full comuna
Essa matéria explica porque as previsões de fracasso contra a China fracassam
Como a China desafiou todas as previsões de fracasso nos últimos 40 anos
Antes estagnado, isolado e empobrecido, país floresceu com reformas para se tornar o maior rival dos EUA
19/11/2018
Nos anos incertos após a morte de Mao Tsé-Tung, muito antes de a China se tornar um gigante industrial, antes que o Partido Comunista começasse sua campanha triunfal que transformaria o mundo, um grupo de estudantes de economia se reuniu em um refúgio nas montanhas nos arredores de Xangai.
Lá, nas florestas de bambu de Moganshan, os jovens estudiosos debateram uma questão premente: como a China poderia alcançar o Ocidente ?
Era o outono de 1984 e, do outro lado do mundo, Ronald Reagan prometia levar "a manhã de volta à América". A China, enquanto isso, apenas se recuperava de décadas de turbulências políticas e econômicas. Mais de três quartos da população vivia em extrema pobreza. O Estado decidia onde cada pessoa trabalhava, o que cada fábrica produzia e quanto custava cada item.
Cerimônia de chegada do Reagan no Grande Salão do Povo na China em 1984
Os estudantes e pesquisadores que participaram do Simpósio Acadêmico de Economistas de Meia Idade e Jovens queriam liberar forças do mercado, mas temiam que isso pudesse derrubar a economia — e inquietar os burocratas e ideólogos do partido que a controlavam.
Tarde da noite, chegaram a um consenso: as fábricas deveriam cumprir as cotas exigidas pelo Estado, mas poderiam vender qualquer coisa adicional que produzissem, a qualquer preço que escolhessem. Foi uma proposta inteligente, discreta e radical para atenuar a economia planejada — e intrigou um jovem funcionário do partido na sala que não tinha experiência em economia.
— Enquanto eles discutiam o problema, eu não disse nada — lembrou Xu Jing'an, agora aposentado, aos 76 anos. — Eu pensava, como fazemos isso funcionar ?
A economia chinesa cresceu tão rapidamente, por tanto tempo, que é fácil esquecer como a metamorfose do país em uma potência global era improvável, o quanto de sua ascensão foi improvisado e nasceu do desespero. A proposta que Xu tirou do refúgio nas montanhas, logo adotada como política do governo, foi um primeiro passo crucial dessa transformação espantosa.
A China agora lidera o mundo em índices como número de proprietários de residências, usuários de internet, graduados em faculdades e bilionários. A pobreza extrema caiu para menos de 1% da população. Um lugar antes estagnado, isolado e empobrecido floresceu para se tornar o rival mais proeminente dos Estados Unidos desde a queda da União Soviética.
O padrão é familiar aos historiadores, um poder em ascensão desafiando um estabelecido, com uma complicação também familiar: por décadas, os Estados Unidos encorajaram e ajudaram a ascensão da China, trabalhando com seus líderes e com o povo chinês para construir a parceria econômica mais importante do mundo, uma que trouxe benefícios a ambas as nações.
Durante esse período, oito presidentes dos EUA presumiram, ou esperaram, que a China eventualmente cederia às que eram consideradas as regras estabelecidas da modernização: a prosperidade alimentaria as reivindicações populares por liberdade política e conduziria a China ao conjunto das nações democráticas. Ou então a economia chinesa naufragaria, sob o peso do governo autoritário e da podridão burocrática.
Mas nenhuma dessas opções aconteceu. Em vez disso, os líderes comunistas da China puseram à prova as expectativas repetidas vezes.
Eles abraçaram o capitalismo, mesmo enquanto continuavam a se chamar de marxistas. Eles recorreram à repressão para se manter no poder, mas sem sufocar o empreendedorismo ou a inovação. E eles comandaram mais de 40 anos de crescimento ininterrupto, muitas vezes com políticas pouco ortodoxas, que os manuais dizem que deveriam fracassar.
No final de setembro, a República Popular da China fundada em 1949 celebrou um marco e superou a longevidade da União Soviética, que foi oficialmente criada em 1922. Dias depois, celebrou um recorde de 69 anos de governo comunista. E a China pode estar apenas avançando — uma nova superpotência com a economia a caminho de se tornar não apenas a maior do mundo, mas a maior do mundo por uma ampla margem.
Mesmo quando deixaram os desastres do governo de Mao para trás,
os comunistas da China estudaram, com obsessão, o destino de seus antigos aliados ideológicos em Moscou, determinados a aprender com os seus erros. Eles tiraram duas lições: o partido precisava abraçar o capitalismo para sobreviver — mas a “reforma” nunca deveria incluir a democratização.
Muitas pessoas disseram que o partido fracassaria, que essa tensão entre a abertura e a repressão seria demais para um país tão grande quanto a China se sustentar. Mas pode ser precisamente por isso que a China alçou voo.
Deng Xiaoping e Margaret Thatcher, em 24 de setembro de 1982, durante uma reunião que acabou levando à assinatura de acordos comerciais
Os burocratas que antes eram obstáculos ao crescimento tornaram-se motores deste mesmo crescimento. Funcionários dedicados à guerra de classes e controle de preços começaram a buscar investimentos e promover o empreendedorismo. Todos os dias, o líder de um distrito, cidade ou província chinesa faz um discurso como o que Yan Chaojun fez em um fórum de negócios em setembro.
— Sanya — disse Yan, referindo-se à cidade resort do Sul que ele lidera — deve servir como um bom mordomo, babá, motorista e faxineiro para as empresas, e dar as boas vindas a investimentos ao capital estrangeiro.
Foi um notável ato de reinvenção, que os soviéticos não conceberam. Tanto na China quanto na União Soviética, vastas burocracias stalinistas tinham sufocado o crescimento econômico, com funcionários que exerciam poder sem controles, resistindo a mudanças que ameaçavam os seus privilégios.
Mikhail Gorbachev, o último líder da União Soviética, tentou romper o controle desses burocratas sobre a economia, abrindo o sistema político. Décadas depois, as autoridades chinesas ainda estudam por que isso foi um erro.
Com medo de se abrir politicamente, mas sem querer ficar parado, o partido chinês encontrou outro jeito. Movimentou-se gradualmente e seguiu o padrão do compromisso em Moganshan, que deixou a economia planificada intacta, ao mesmo tempo em que permitiu que uma economia de mercado florescesse e ultrapassasse os planos centralizados.
Os líderes do partido chamavam essa abordagem lenta e experimental de “atravessar o rio sentindo as pedras”. Permitiam, por exemplo, que os agricultores cultivassem e vendessem as próprias colheitas, mas mantinham a propriedade estatal da terra. Suspendiam restrições a investimentos em “zonas econômicas especiais”, ao mesmo tempo em que as mantinham no resto do país. Introduziam a privatização, vendendo no começo apenas participações minoritárias em empresas estatais.
— Houve resistência — disse Xu. —Satisfazer os reformadores e a oposição era uma arte. O longo boom econômico do país seguiu um dos capítulos mais sombrios de sua história, a Revolução Cultural, que dizimou o aparato do partido e o deixou em ruínas. Com efeito, o excesso autocrático preparou o cenário para que o sucessor de Mao, Deng Xiaoping, guiasse o partido em uma direção radicalmente mais aberta.
Isso incluía mandar jovens autoridades do partido para os Estados Unidos e outros países para estudar como as economias modernas funcionavam. Ao mesmo tempo, o partido investiu em educação, expandiu o acesso a escolas e universidades e quase eliminou o analfabetismo.
A China continental agora produz mais graduados em ciência e engenharia por ano do que os Estados Unidos, o Japão, a Coreia do Sul e Taiwan juntos.
Outra explicação para a transformação do partido está na mecânica burocrática. Analistas às vezes dizem que a China abraçou a reforma econômica e resistiu à reforma política. Mas, na realidade, o partido fez mudanças após a morte de Mao que não foram profundas a ponto de gerarem eleições livres ou tribunais independentes, mas ainda assim foram significativas.
O partido introduziu limites de mandato e idades de aposentadoria compulsória, por exemplo, o que facilitou a expulsão de funcionários incompetentes. E reformulou os boletins internos usados para avaliar os líderes comunistas locais em busca de promoções e bônus, concentrando-os quase exclusivamente em metas econômicas concretas.
Esses ajustes aparentemente menores tiveram um impacto tremendo, injetando uma dose de prestação de contas — e de competição — no sistema político, disse Yuen Yuen Ang, uma cientista política da Universidade de Michigan.
— A China criou um híbrido único, uma autocracia com características democráticas — disse ela.
Em dezembro, o Partido Comunista celebrará o 40º aniversário das políticas de “reforma e abertura” que transformaram a China. A propaganda triunfal começou, com Xi se colocando à sua frente, como se celebrasse a vitória da nação.
Ele é o líder mais poderoso do partido desde Deng e filho de um alto funcionário que serviu a este. Mesmo quando se envolve no legado de Deng, no entanto, Xi se diferencia de uma maneira importante: Deng encorajou o partido a buscar ajuda e experiência no exterior, mas Xi prega a autossuficiência e alerta para as ameaças representadas pelas "forças estrangeiras hostis".
Em outras palavras, ele parece dar menos importância para a parte de “abertura” que motivava Deng.
Dos muitos riscos que o partido assumiu em sua busca pelo crescimento, talvez o maior deles tenha sido permitir investimentos, comércio e ideias estrangeiras.
Foi uma aposta excepcional, de um país antes tão isolado quanto a Coreia do Norte é hoje, que valeu a pena de uma forma excepcional: a China aproveitou uma onda de globalização que varreu o mundo e emergiu como a fábrica global. A adoção da internet pela China, dentro dos limites, ajudou a torná-la líder em tecnologia. E a ajuda externa ajudou a China a reformar seus bancos, a construir um sistema jurídico e a criar corporações modernas.
O partido prefere uma narrativa diferente nos dias de hoje, apresentando o boom econômico como tendo "crescido a partir do solo da China", sendo principalmente o resultado de sua liderança. Mas isso obscurece uma das grandes ironias da ascensão da China — que os antigos inimigos de Pequim ajudaram a torná-la possível. Os Estados Unidos e o Japão, ambos rotineiramente difamados por propagandistas comunistas, tornaram-se importantes parceiros comerciais e foram importantes fontes de ajuda, de investimento e de expertise.
A China não é o único país que tem respondido às exigências de um governo autoritário com as necessidades do mercado livre. Mas o país tem feito isso por mais tempo, em maior escala e com resultados mais convincentes do que qualquer outro.
O crescimento começou a desacelerar, o que poderia abalar a confiança do público. O partido está investindo cada vez mais na censura para controlar a discussão dos desafios que o país enfrenta, como aumento da desigualdade, níveis perigosos de endividamento, envelhecimento da população.
O próprio Xi reconheceu que o partido deve se adaptar, declarando que a nação está entrando em uma "nova era", que exige novos métodos. Mas sua receita tem sido amplamente um retrocesso à repressão. A "abertura" foi substituída por um ímpeto rumo ao exterior, com a concessão de enormes empréstimos, que os críticos descrevem como sendo predatórios e que outros chamam de esforços para ganhar influência — ou interferir — na política de outros países. Em casa, a experimentação está em desuso, enquanto a ortodoxia política e disciplina aumentam.
Com efeito, Xi parece acreditar que a China fez tanto sucesso que o partido pode retornar a uma postura autoritária mais convencional — e que, para sobreviver e superar os Estados Unidos, ela precisa fazer isso.
Certamente, o momento é do partido. Nas últimas quatro décadas, o crescimento econômico na China foi 10 vezes mais rápido do que nos Estados Unidos, e continua mais do que o dobro. O partido parece ter amplo apoio popular, e muitos ao redor do mundo estão convencidos de que a América de Trump recua, enquanto a ascensão chinesa apenas dá os primeiros passos.
Mais uma vez, portanto, a China encontra um jeito de desafiar as expectativas.