Os religiosos afirmam que sem Deus não existe moral, mas eu defendo que existe moral no ateísmo. Vamos pegar um exemplo, "sem Deus", os religiosos afirmam, "não existe nada que torne errado o assassinato", mas eu penso assim, "imagine se fosse certo matar", o que aconteceria? Todo mundo mataria todo mundo e seria o fim da espécie humana, e além disso ninguém em boas condições deseja ser morto e por isso as pessoas naturalmente criaram uma regra tornando errado o assassinato.
O tema do seu post eh legal. Embora eu geralmente evite mito debate sobre religião, porque crença é algo bem pessoal, falar sobre moral acho que dá para falar de boa.
Existiu um topico semelhante a pouco tempo.
http://forum.outerspace.com.br/index.php?threads/deus-fez-a-moral-ou-a-moral-fez-deus.491636
Vou postar basicamente o que postei no outro topico:
Eu evito conversar com pessoas muito religiosas sobre certos assuntos, no sentido de que TUDO pode e deve ser justificado pela religião.
Por mais que eu respeite e ache muito valido e importante a religião, eu sou mais racional. E infelizmente muita coisa na religião é vaga ou ilógica e contraditória. E isso em si nem é o problema, pois para mim a base da fé é acreditar mesmo que seja ilógico, afinal, a fé não exige provas nem racionalização, a beleza dela está ai, em simplesmente acreditar. Se houvessem provas não seria fé. Eu não consigo ter fé. ;(
O que define o que é certo e errado?
Para os religiosos, provavelmente seria simples a resposta. "Deus".
Só que, Deus não necessariamente dá claramente tudo que é certo e errado, novas situações surgem, coisas que eram "certas" em certas épocas e comunidades ou regiões, podem se tornar erradas e vice-versa. Veja, escravidão já foi considerado moral, traição já foi considerado "errado" no sentido de ser crime, e hoje, pode ainda ser imoral mas já não é crime, não é "errado".
E são diversos casos. Compare isso a linguagem, a linguagem tem palavras que não são mais usadas, caem em desuso, e novas palavras surgem e são organicamente incorporadas no cotidiano. Gosto desta analogia.
Eu sigo grande parte da moral "conservadora", no sentido da moral judaico-cristã. Mas, antes de Moises descer o monte sinai (era isso?) com os 10 mandamentos. Antes de cristo trazer suas mensagens. Já existiam pessoas que não matavam, não roubavam, já existiam noções de certo e errado.
Então? Como definir o que é certo e errado sem levar em conta Deus?
Precisamos levar em conta então os indivíduos.
É filosoficamente possível e coerente definir o que é certo e errado pela ÉTICA.
Segundo Kant, a ética (ou moral Kantiana) não pode ser alcançada apenas pelo empirismo puro, ela deve ser raciocinada, deduzida e lógica, de forma a que um mesmo principio ético seja aplicado e reconhecido por todos os indivíduos. Em qualquer época independente de costumes e cultura.A ética precisa ser transcendental. A ética é a lei, ela define um "dever" para seu comportamento, é um dever visto como benéfico caso todas as pessoas agissem desta forma (imperativo categórico).
Como definir leis que são reconhecidas por todas as pessoas, independente de religião, raça, região, posição social, cultura, etc?
A moral Kantiana (ética) exclui a ideia de que possamos ser regidos se não por nós próprios. É a pessoa humana, ela própria, que é a medida e a fonte do dever.
O homem é criador dos valores morais, dirige ele próprio a sua conduta. Negar isto, é negar o livre arbítrio e aceitar que somos escravos de alguma outra força. Porém, não é logicamente possivel negar isto pois para faze-lo, você precisa usar seu domínio sobre si mesmo..
Como para Rousseau, será para Kant a consciência a fonte dos valores. Mas não se trata de uma consciência instintiva e sentimental; A Consciência moral para Kant é a própria Razão.
Assim, a moral de Kant é uma moral racional: a regra da moralidade é estabelecida pela razão – O Princípio do dever é a pura Razão. A regra da ação não é uma lei exterior a que o homem se submete, mas é uma lei que a razão, Atividade Legisladora, impõe à sensibilidade. Nestas condições, o homem, no ato moral, é ao mesmo tempo, Legislador e Súdito.
A lei moral é para Kant,
Universal, Necessária e "apriori", pois o seu fundamento não poderia ter sido tirado da experiência onde existem muitas inclinações e desejos contraditórios. (ou seja, não podemos nos basear apenas no empirismo e tradição, pois culturas diferentes tem diferentes tradições).
A lei moral fundamenta-se na liberdade da Razão e tem origem na consciência moral, isto é, na razão autônoma.
A lei moral é a lei que o homem enquanto ser racional e livre descobre em si mesmo como correspondendo à sua natureza.
É uma lei intrínseca da razão. É a existência da moralidade no homem – A Personalidade –
que o identifica com Deus:“Maximamente pessoa e ideal de existência personalizada, isto é, absolutamente causadora de si”.
Para Kant
o Dever é o Bem: A Boa Vontade é a Vontade de agir por Dever.
Definido o conceito de Ética, o certo e errado, agora vamos a exemplos.
Então, quais são estas leis que se aplicam a todos?
Aí entramos na ideia de direitos naturais e dedução dos mesmos. Para algo ser lei, direito natural, ele precisa ser baseado na razão, não possuir contradições e ser um axioma. Ou seja, para voce NEGAR, você precisa primeiro reconhecer.
Por exemplo, o direito natural mais básico é a propriedade. E dele derivamos outros.
Voce e eu temos direito a propriedade, NO MÍNIMO de nós mesmos. De nossos corpos. O direito a auto-propriedade não pode ser negado sem antes reconhece-lo. Ao voce sequer pensar em tentar argumentar contra a propriedade de seu proprio corpo e mente, voce já usou seu domínio sobre seu corpo e mente para fazer isso.
Desta forma, seu corpo é seu, é parte do seu ser, e ele não pode ser agredido. Caso eu te dê um soco, isso não significa que eu não reconheço a ética, e sim apenas que eu aceitei quebra-la e arcar com as consequências. Ou seja, ao fazer o oposto do bem, do ético, eu fui mau, eu agi ERRADO. Para a religião, eu poderia dizer que cometi um "pecado". Embora pecado não tenha necessariamente relação com ética, achei interessante comparar.
Se eu tenho direito a meu corpo, tenho direito a minha vida, que ninguém a tire sem meu consentimento, então, matar é errado, é pecado. Agora, por exemplo, se eu quiser me matar, ou permitir que voce me soque, estou fazendo uso de um recurso MEU, meu corpo, então não existe quebra da ética. Para os católicos se não me engano suicídio é pecado.
A liberdade tambem é uma variação do direito de propriedade, se meu corpo me pertence, ninguem deve ter o direito ético de me prender ou me forçar a trabalhar, e mesmo assim, durante muito tempo em diversas eras, escravidão era algo "moral", normal. Por isto diferencia moral de ética. Enquanto a ética é transcendental e universal, a moral é baseada em costumes e cultura. Mas, mesmo escravizado, o domínio de meu corpo e mente continua sendo meu.
Ao meu ver, toda a ética/moral Kantiana, é perfeitamente compatível com o cristianismo, e ainda é racional.