Não há como fazer previsões num país tão volátil como o Brasil. O que dá para fazer é criar alguns cenários prováveis como se faz no mercado financeiro.
Algumas constatações antes da previsão:
- Bolsonaro se mantém politicamente de pé em cenário de alta popularidade. Baixa popularidade pode levá-lo a uma situação de ingovernabilidade no estilo da Dilma.
- O sucesso desse governo se deve fundamentalmente na aprovação da reforma da previdência. Não existe, sob hipótese nenhuma, um bom governo sem essa PEC aprovada.
- Politicamente o presidente está numa sinuca de bico: mantém seu discurso antipolítica e taca a pica na mesa ou, pelo menos nesse primeiro momento, mantém a coalizão de pé para aprovar a reforma.
- O governo tem várias frentes e cada uma trabalha de um jeito. Há muita bateção de cabeça e isso tem afetado nos prazos das reformas e na força política do governo.
- Os filhos do presidente precisam reduzir suas interferências no governo.
Ao meu ver, no cenário atual:
Chances de aprovar a reforma integralmente ou quase isso (80 a 100%): 15%
Chances de aprovar a reforma parcialmente (50 a 80%) 30%
Chances de aprovar uma reforma fraca e descaracterizada (≤50%) 20%
Chances de não aprovar a reforma: 35%
Possíveis desfechos:
Desfecho 1 - Governo BOLSONARO articula bem, evita desgastes desnecessários, tem um governo mais coeso e pronto para lidar com a pressão do centrão e oposição. Previdência passa com sua essência intacta. Nesse cenário, bolsa vai a uns 110 mil pontos e crescimento de econômico se torna uma realidade visível a todos. Reflexos econômicos e sociais podem ser no estilo daquele da época do plano real.
Desfecho 2 - Governo BOLSONARO
não articula ou não tem bons resultados, não evita desgastes desnecessários e a previdência passa com muitas alterações. País cresce a curto prazo, mas não muda muito o cenário a médio-longo prazo. Bolsa se estabiliza nos 80 mil pontos. Governo fica mais vulnerável a ataques da esquerda por sua falta de articulação. Centrão e esquerda crescem e governo corre severo risco de perder popularidade.
Desfecho 3 - Governo BOLSONARO simplesmente
não articula e entra em guerra com o establishment. Chances mínimas de aprovação da reforma e faltaria capital político do presidente para isso. Precisaria de forte apoio popular do nível dos protestos de 2014. Nesse cenário, bolsa ficaria nos 75 mil pontos até sair um desfecho positivo da reforma. Pode dar certo? Sim. Mas seria muito difícil e o país sangraria muito até chegar a uma solução.
A menos que haja uma hecatombe nuclear, teremos a resposta da reforma até Setembro. Caso contrário, o mercado poderá reagir como se a reforma tivesse falhado, e isso pode causas danos desastrosos a nossa economia.
Passada a previdência, Bolsonaro tem outros dois projetos importantes:
2 - PACOTE ANTI-CRIME: traria um ganho político absurdo para o Bolsonaro e Moro, fortalecendo seus discursos. Os estados e municípios teriam, após a reforma, mais condições de investimento em segurança pública. O governo precisará articular muito, ou até, nesse caso, entrar diretamente em conflito com o centrão. Tem como passar, mas a abordagem é completamente diferente da reforma da previdência.
3 - LIBERAÇÃO DA ECONOMIA, PRIVATIZAÇÕES, E REFORMA FISCAL/TRIBUTÁRIA PELA EQUIPE DE GUEDES: somadas a economia da previdência, poderá ser o grande pulo do gato do Brasil. As grandes ações dependem de forte capital político,
Tudo, absolutamente tudo depende da aprovação da reforma.
Atualmente, ao meu ver, o cenário mais provável é algo entre o Desfecho 1 e 2 com aprovação parcial do pacote anti-crime e boas ações liberalizantes da equipe do Guedes.