Beren_
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Diferente do que alguns pensam, eu não quero "ganhar" discussões, e sim melhorar o nível delas (tá, ganhar a discussão as vezes é legal, mas mais legal é aprender com o interlocutor), e falácias são algo que estraga muito essa questão.
Com objetivo de divulgar conhecimento, faço este post. Muitos não desejarão ler, a vontade, os que desejarem, que seja útil.
O que é uma falácia?
Do dicionário:
falácia1 - substantivo feminino
1. 1. qualidade do que é falaz; falsidade.
"sua afirmação é uma f."
2. 2. fil no aristotelismo, qualquer enunciado ou raciocínio falso que entretanto simula a veracidade; sofisma.
Falácias são afirmações que à primeira vista, parecem verdadeiras, porém geralmente possuem erros de raciocínio lógico ou faltam com a verdade. É comum o uso de falácias contando “meias verdades” ou “omitindo” informações para que o leitor considere que o argumento expresso é verdadeiro, quando não o é.
Tradicionalmente, distinguem-se dois tipos de falácias: o paralogismo e o sofisma. O paralogismo é uma falácia cometida involuntariamente, sem má-fé; o sofisma, uma falácia cometida com plena consciência, com a intenção de enganar.
Essa distinção não é, no entanto, aceitável, pois introduz um critério exterior à lógica - a ética. Dito de outro modo, não compete à lógica apreciar as intenções de quem argumenta. Por isso, tornam-se como sinônimos os termos falácia e sofisma.
Qual o objetivo do uso de falácias?
É comum a utilização de falácias na retórica, em debates e discussões, e até no dia a dia, principalmente quando o usuário da falácia quer “ganhar” o debate/discussão sem realmente estar ganhando nada, pois quem usa de falácias propositadamente, tende a estragar o debate e, portanto, ao não ouvir o contra-argumento, ele não aprende o mínimo, que é como a outra pessoa pensa. O argumento do interlocutor.
Falácias comuns tendem a apelar para características humanas, como a crença na autoridade, ou apelar as emoções humanas, entre outras. Usando, portanto, nossas próprias características contra nós mesmos, tentando enganar. Falácias consideram geralmente que o leitor é incapaz de detectar a mesma. Pressupõe ignorância.
Como detectar uma falácia?
Grande parte das falácias são difíceis de detectar sem uma análise mais fina do argumento e conhecimento do caso, outras são tão gritantes que ao ler já se percebe o erro lógico.
Principalmente quando o leitor concorda com o ponto de vista, ou seja, é enganado pela falácia por haver uma pré-disposição a aceita-la, detectá-la torna-se muito difícil. Porém algumas regras ajudam. A melhor forma de detectar uma falácia é conhecer as mais comuns. Falaremos de algumas posteriormente assim como daremos exemplos de falácias comuns.
Como evitar cometer falácias?
A filosofia, através de retórica e dialética ajudam a ter clareza de discurso e raciocínio. O conhecimento sobre o assunto ajuda muito a não as cometê-las. E a lógica é quem indica a existência ou não de uma falácia. Na dúvida, tente aplicar quando possível o mesmo argumento a diferentes casos, por exemplo, uma cometida a pouco tempo por um user do fórum em uma discussão:
“Impostos são corretos pois existem desde o Egito antigo.”.
A premissa é que “impostos são corretos”. Conclui-se que estes são corretos POIS existem desde o Egito antigo. Ou seja, a justificativa é baseada na tradição.
É uma falácia lógica, pois não analisa a essência da questão, e a conclusão não deriva da premissa. Não é por algo ser tradição, que automaticamente é correto, escravidão também existe desde o Egito antigo, mas é incorreto pois não podemos supor o uso de força para dominar outras pessoas contra sua vontade, e considerar isso ético, correto. Quando ampliamos a análise da afirmação, vemos claramente a falácia. Da mesma forma, ao ver a essência do imposto como sendo apropriação de bens por meio de força, chegamos a mesma conclusão. Seria bem diferente de algo que você voluntariamente paga para ter um serviço. Em ultima analise, pagadores de impostos são escravos "até certo ponto", pois parte de seu "tempo", de sua "vida", do resultado do que fazem, é direcionado de forma forçada para os impostos. Não podemos considerar algo "ético ate certo ponto". A ética precisa ser universal e transcendental. Não posso defender matar um boi como sendo certo, e matar um cachorro como errado apenas porque o boi será para alimentação. Ambos são anti-éticos. Apenas nós aceitamos mais facilmente matar o boi pois precisamos de alimento que ele provê. Mas mesmo assim, ainda é anti-ético. Esta é uma falacia "utilitarista", como eu acho "útil" a carne do boi, eu aceito matá-lo.
Falácias no dia a dia:
Veja as afirmações abaixo e veja com quantas concorda ou já ouviu:
Todos os enunciados acima devem ser rejeitados. São falácias. São enunciados ou tentativas de persuadir o leitor mediante em raciocínio errôneo, mediante um argumento fraudulento, enganoso.
Essas falácias, como você pode constatar, estão em todos os discursos: na publicidade, na política, nas religiões, na economia, no comércio, etc.
Falácia é, pois, todo o raciocínio aparentemente válido, mas, na realidade incorreto, que faz cair em erro ou engano.
Fonte.
Tipo de falácias:
Abaixo farei uma compilação de tipos de falácias comuns, como geralmente se apresentam se se possível a contra argumentação e comentários de minha parte.
É importante saber que falácias não são refutadas, pois já são inverídicas em essência, falácias são denunciadas, se possível mostrando qual a falácia, onde ocorre o erro de lógica e porquê.
Apelo à Força (argumentum ad baculum)
Definição:
Consiste em ameaçar com consequências desagradáveis se não for aceita ou acatada a proposição apresentada.
Exemplo:
- Você deve se enquadrar nas novas normas do setor. Ou quer perder o emprego?
- É melhor exterminar os bandidos: você poderá ser a próxima vítima.
- Cala essa tua boca, ou não te dou o dinheiro para o show.
- Ou nós, ou a desgraça, o caos.
Contra-argumentação:
Argumente que apelar à força não é racional, não é argumento, que a emoção não tem relação com a verdade ou a falsidade da proposição.
Muito comum na politica, “se votar em X, os pobres perderão Bolsa Familia”, “se não pagar imposto, não haverá mais saúde”,”se não votar em mim, a economia vai desandar”.
Ataque à Pessoa (argumentum ad homimem)
Definição:
Consiste em atacar, em desmoralizar a pessoa e não seus argumentos. Pensa-se que, ao se atacar a pessoa, pode-se enfraquecer ou anular sua argumentação.
Exemplo:
- Não dêem ouvidos ao que ele diz: ele é um beberrão, bate na mulher e tem amantes.
Observação: Uma variação de "argumentum ad homimem" é o "tu quoque" (tu também): Consiste em atribuir o fato a quem faz a acusação. Por exemplo: se alguém lhe acusa de alguma coisa, diga-lhe "tu também"! Isso, evidentemente, não prova nada.
Contra-argumentação:
Mostre que o caráter da pessoa não tem relação com a proposição defendida por ela. Chamar alguém de corrupto, nazista, comunista, ateu, pedófilo, etc. não prova que suas idéias estejam erradas.
Apelo à Misericórdia, à Piedade (argumentum ad misericordiam, ignorância de questão, fuga do assunto)
Definição:
Consiste em apelar à piedade, à misericórdia, ao estado ou virtudes do autor.
Exemplo:
Ele não pode ser condenado: é bom pai de família, contribuiu com a escola, com a igreja, etc.
Contra-argumentação:
Argumente que se trata de questões diferentes, que o que é invocado nada tem a ver com a proposição. Quem argumenta assim ignora a questão, foge do assunto.
Também muito visto na politica. “Ele rouba mas faz.”, “José pode até ser corrupto e ladrão, mas foi ele quem ajudou os pobres”,"impostos são uma necessidade, sem eles os pobres morrem". Foge-se da questão principal (ser ladrão por exemplo), e tenta justificar piedade para o mesmo baseado em fatos não relacionados.
Apelo ao Povo (argumentum ad populum)
Definição:
Consiste em sustentar uma proposição por ser defendida pela população ou parte dela. Sugere que quanto mais pessoas defendem uma idéia mais verdadeira ou correta ela é. Incluem-se aqui os boatos, o "ouvi falar", o "dizem", o "sabe-se que".
Exemplo:
Dizem que um disco voador caiu em Minas Gerais, e os corpos dos alienígenas estão com as Forças Armadas.
Contra-argumentação:
Os educadores, os professores, as mães têm o argumento: se todos querem se atirar em alto mar, você também quer? O fato de a maioria acreditar em algo não o torna verdadeiro.
Vemos muito no dia a dia.”todos os alunos acham que passagem de onibus devem ser gratuitas”,”todos acham que esse politico é honesto”. Essas afirmações expressam um desejo ou opinião, mas, ignora-se todo o necessário para que ela seja cumprida ou a veracidade da afirmação. E ignora o desejo de todas as pessoas que não concordam.
Apelo à Autoridade
Definição:
Consiste em citar uma autoridade (muitas vezes não - qualificada) para sustentar uma opinião.
Exemplo:
Segundo Schopearhauer, filósofo alemão do séc. XIX, "toda verdade passa por três estágios: primeiro, ela é ridicularizada; segundo, sofre violenta oposição; terceiro, ela é aceita como auto-evidente". (De fato, riram-se de Copérnico, Galileu e outros. Mas nem todas as verdades passam por esses três estágios: muitas são aceitas sem o ridículo e a oposição. Por exemplo: Einstein).
Contra-argumentação:
Mostre que a pessoa citada não é autoridade qualificada. Ou que muitas vezes é perigoso aceitar uma opinião porque simplesmente é defendida por uma autoridade. Isso pode nos levar a erro.
Apelo à Novidade (argumentum ad novitatem)
Definição:
Consiste no erro de afirmar que algo é melhor ou mais correto porque é novo, ou mais novo.
Exemplo:
Saiu a nova geladeira Pólo Sul. Com design moderno, arrojado, ela é perfeita para sua família, sintonizada com o futuro.
Contra-argumentação:
Mostre que o progresso ou a inovação tecnológica não implica necessariamente que algo seja melhor.
Apelo à Antigüidade (argumentum ad antiquitatem)
Definição:
É o erro de afirmar que algo é bom, correto apenas porque é antigo, mais tradicional.
Exemplo:
Essas práticas remontam aos princípios da Era Cristã. Como podem ser questionadas?
Contra-argumentação:
Argumenta que o fato de um grande número de pessoas durante muito tempo ter acreditado que algo é verdadeiro não é motivo para se continuar acreditando.
É o tradicionalismo. Algo não é necessariamente melhor, ou correto, apenas porque “é assim” devido a tradição. Deve-se argumentar porque isso é incorreto, mesmo sendo senso comum. Vemos muito “o governo faz isso desta forma a 50 anos”. O que não significa que seja bom que seja feito.
Falso Dilema
Definição:
Consiste em apresentar apenas duas opções, quando, na verdade, existem mais.
Exemplos:
- Brasil: ame-o ou deixe-o.
- Você prefere uma mulher cheirando a alho, cebola e frituras ou uma mulher sempre arrumadinha?
- Você não suporta seu marido? Separe-se!
- Quem não está a favor de mim está contra mim.
Contra-argumentação:
Simples. Mostre que há outras opções.
Falso Axioma
Definição:
Um axioma é uma verdade auto-evidente sobre a qual outros conhecimentos devem se apoiar. Por exemplo: duas quantidades iguais a uma terceira são iguais entre si. “Todos tem direito natural a auto propriedade desde que nascem.”. Negar a auto propriedade é impossível sem antes admitir a existência dela, caindo em uma contradição.
Exemplo:
Deus ajuda quem cedo madruga.
Contra-argumentação:
Mostre que muitas frases de efeito, impactantes, bombásticas, retóricas, muito respeitadas podem ser meras estratégias mediantes as quais alguém tenta convencer, persuadir o ouvinte/leitor em direção a um argumento. No caso dos provérbios, mostre que se contradizem:
- Ruim com ele, pior sem ele X Antes só do que mal acompanhado.
- Depois da tempestade vem a bonança X Uma desgraça nunca vem sozinha.
- Longe dos olhos, perto do coração X O que os olhos não vêem o coração não sente.
Generalização Não - Qualificada (dicto simpliciter)
Definição:
É uma afirmação ou proposição de caráter geral, radical e que, por isso, encerra um juízo falso em face da experiência.
Exemplo:
A prática de esportes é prejudicial à saúde.
Contra-argumentação:
Mostre que é necessário especificar os enunciados. Othon Garcia (Comunicação em Prosa Moderna, FGV, 1986, p. 169) ilustra como se pode especificar a falácia acima, dada como exemplo: A prática indiscriminada de certos esportes violentos é prejudicial à saúde dos jovens subnutridos.
Generalização Apressada (erro de acidente)
Definição:
Trata-se de tirar uma conclusão com base em dados ou em evidências insuficientes. Dito de outro modo, trata-se de julgar todo um universo com base numa amostragem reduzida.
Exemplos:
- Todo político é corrupto.
- Os padres são pedófilos.
- Os mulçumanos são todos uns fanáticos.
Contra-argumentação:
Argumente que dois professores ruins não significam uma escola ruim; que em ciência é preciso o maior número de dados antes de tirar uma conclusão; que não se pode usar alguns membros do grupo para julgar todo o grupo. Faça ver que se trata, na maioria das vezes, de estereótipo: imagem preconcebida de alguém ou de um grupo. Faça ver também que são fonte de inspiração de muitas piadas racistas, como as piadas de judeus (visto como avarento), de negro (vista como malandro ou pertencente a uma classe inferior), de português (visto no Brasil como sem inteligência), etc. É por isso que essa falácia está intimamente relacionada ao preconceito.
Bola de Neve (derrapagem, redução ao absurdo reductio ad absurdum)
Definição:
Consiste em tirar de uma proposição uma série de fatos ou consequências que podem ou não ocorrer. É um raciocínio levado indevidamente ao extremo, às últimas consequências.
Exemplos:
- Mãe, cuidado com o Joãozinho. Hoje, na escolinha, ele deu um beijo na testa de Mariazinha. Amanhã, estará beijando o rosto. Depois.... Quando crescer, vai estar agarrando todas as meninas.
- O álcool e uma dieta pobre também são grandes assassinos. Deve o governo regular o que vai à nossa mesa? A perseguição à indústria de fumo pode parecer justa, mas também pode ser o começo do fim da liberdade. (Veja, agosto 2000, p.36)
Contra-argumentação:
Argumente dizendo que as consequências, os fatos, os eventos podem não ocorrer.
Depois Disso, logo por Causa Disso (post hoc engo propter hoc)
Definição:
É o erro de acreditar que em dois eventos em seqüência um seja a causa do outro. No extremo, é uma forma de superstição: eu estava com gravata azul e meu time ganhou; portanto, vou usá-la de novo.
Exemplo:
- O chá de quebra-pedra é bom para cálculos renais. Tomei e dois dias depois expeli a pedra.
Observação: uma variação deste sofisma é o chamado "non sequitur" (não se segue, "nada a ver") em que uma conclusão nada tem a ver com a premissa: Venceremos, pois Deus é bom. (Deus é bom, mas não está necessariamente a seu lado; os inimigos podem dizer a mesma coisa).
Contra-argumentação:
Mostre que correlação não é causação: o fato de que dois eventos aconteçam em seqüência não significa que um seja a causa do outro. Diga que pode ter sido apenas uma coincidência.
Falsa Analogia
Definição:
Consiste em comparar objetos ou situações que não são comparáveis entre si, ou transferir um resultado de uma situação para outra.
Exemplos:
- Minhas provas são sempre com consulta a todo tipo de material. Os advogados não consultam os códigos? Os médicos não consultam seus colegas e livros? Não levam as radiografias para as cirurgias? Os engenheiros, os pedreiros não consultam as plantas? Então?
- Os empregados são como pregos: temos que martelar a cabeça para que cumpram suas funções.
- Tomei mata-cura e fiquei bom. Tome você também.
Contra-argumentação:
Argumente que os dois objetos ou situações diferem de tal modo que a analogia se torna insustentável. Mostre que o que vale para uma situação não vale para outra.
Mudança do Ônus da Prova
Definição:
Consiste em transferir ao ouvinte o ônus de provar um enunciado, uma afirmação.
Exemplo:
Se você não acredita em Deus, como pode explicar a ordem que há no universo?
Contra-argumentação:
Mostre que o ônus da prova, isto é, a responsabilidade de provar um enunciado cabe a quem faz a afirmação.
Falácia da Ignorância (argumentum ad ignorantiam)
Definição:
Consiste em concluir que algo é verdadeiro por não ter sido provado que é falso, ou que algo é falso por não ter sido provado que é verdadeiro.
Exemplos:
- Ninguém provou que Deus existe. Logo, Deus não existe.
- Não há evidências de que os discos voadores não estejam visitando a Terra; portanto, eles existem.
Contra-argumentação:
Argumente que algo pode ser verdadeiro ou falso, mesmo que não haja provas.
Exigência de Perfeição
Definição:
É o erro de reivindicar apenas a solução perfeita para qualquer plano.
Exemplo:
A automação cada vez maior dos elevadores desemprega muitas pessoas. Isso, portanto, é ruim, economicamente desaconselhável.
Contra-argumentação:
Argumente que planos, medidas ou soluções não devem ser vistos como integralmente perfeitos ou prejudiciais. Mostre que podem existir objeções para qualquer medida. Que as desvantagens de um plano são suplantadas pelas vantagens.
Isso é muito comum nos que gostam de chamar qualquer mudança de “utopia”, sem saber explicar porque o são. E defendendo um status quo nocivo. Sem perceber que a perfeição não existe.
Questão Complexa (pergunta capciosa, falácia da interrogação, da pressuposição)
Definição:
Consiste em apresentar duas proposições conectadas como se fossem uma única proposição, pressupondo-se que já se tenha dado uma resposta a uma pergunta anterior.
Exemplos:
- Você já abandonou seus maus hábitos?
- Você já deixou de roubar no mercado onde trabalha?
Contra-argumentação:
Mostre que existem duas proposições e que uma pode ser aceita e outra não.
Espantalho
O argumentador, em vez de atacar o melhor argumento do seu opositor, ataca um argumento diferente, mais fraco ou tendenciosamente interpretado. Infelizmente é uma das "técnicas" de argumentação mais usadas.
Exemplos:
1. As pessoas que querem legalizar o aborto querem prevenção irresponsável da gravidez. Mas nós queremos uma sexualidade responsável. Logo, o aborto não deve ser legalizado.
2. Devemos manter o recrutamento obrigatório. As pessoas não querem o fazer o serviço militar porque não lhes convém. Mas devem reconhecer que há coisas mais importantes do que a conveniência.
Prova: Mostre que o argumento oposto foi mal representado, mostrando que os opositores têm argumentos mais fortes. Descreva um argumento mais forte.
Referências: Cedarblom e Paulsen: 138.
Non-sequitur
O termo non sequitur significa literalmente "não se segue que". Nesta secção descrevemos falácias que ocorrem em conseqüência da forma de argumento usado ser inválida. Ela define que a conclusão, não deriva das premissas. Ocorrendo uma falácia logica.
Falácia da afirmação da conseqüente
Esta falácia deriva da confusão entre condição suficiente e condição necessária. Por exemplo: dadas as proposições:
P = Hitler morreu com a bomba H.
Q = Hitler morreu.
Se admitir que P é verdadeira, concluirei que Q é verdadeira. P é suficiente para Q. Q é necessária para P (não há P sem Q). Mas, do fato de Q ser verdadeira, não posso concluir que P o seja (Q não é suficiente para P). Logo, todo o argumento com a seguinte forma é inválido:
Se P, então Q. Ora, Q. Logo, P.
Exemplos:
1. Se jogarmos bem, ganhamos. Ora, ganhamos. Logo, jogamos bem. (De fato jogamos mal, mas o adversário jogou pior e o árbitro ajudou)
2. Se estiver em São Paulo, estou no Rio. Ora, estou nem São Paulo. Logo, estou no Rio. (Claro que posso estar em Curitiba ou em Porto Alegre.)
3. Se a fábrica estivesse a poluir o rio, então veríamos o número de peixes mortos aumentarem. Há cada vez mais peixes a morrer. Logo, a fábrica está a poluir o rio.
Prova: Mostre que, mesmo sendo as premissas verdadeiras, a conclusão pode ser falsa. Em geral basta mostrar que Q pode ser consequência de outra coisa que não P. Por exemplo, a morte dos peixes pode ser provocada pela aplicação de pesticidas e não pela fábrica.
Referências: Barker: 69; Cedarblom e Paulsen: 24; Copi e Cohen: 241.
Falácia da negação da antecedente
Nesta falácia confunde-se a condição suficiente com a condição necessária. Com uma frase condicional (Se P, então Q) dizemos que se P for verdadeira, Q também é; mas não dizemos que a recíproca é verdadeira. Por isso, os argumentos com a seguinte forma são inválidos:
Se P, então Q.
Não-P.
Logo, não-Q.
Exemplos:
1. Se fores atingido por um carro quando tiver 6 anos, morre jovem. Mas não foi atingido por um carro aos 6 anos. Portanto, não vai morrer jovem. (Claro que ele poderia ser atingido por um comboio com a idade de 6 anos e, nesse caso, morreria jovem)
2. Se estou em São Paulo, então estou na Barra. Não estou em São Paulo. Logo, não estou na Barra. (Mas pode estar em Curitiba...)
Prova: Mostre que a conclusão pode ser falsa mesmo que as as premissas sejam verdadeiras. Em particular, mostre que a conseqüente, Q, pode ocorrer mesmo que P não ocorra.
Referências: Barker: 69; Cedarblom e Paulsen: 26; Copi e Cohen: 241.
Falácia da inconsistência
O argumentador avança pelo menos duas proposições que não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo. Em tais casos as proposições podem ser contrárias ou contraditórias. Exemplos:
1. Montreal está a cerca de 200 km de Otawa, enquanto Toronto está a 400 km de Otawa. Toronto está mais perto de Otawa do que Montreal.
2. John é maior do que Jake, e Jake é maior do que Fred, enquanto Fred é maior do que John.
Bem, Fred não é maior do que John > Jake > Fred. Fred não pode ao mesmo tempo ser maior do que John, se Jake é menor do que John e maior que fred.
Prova: Parta de uma das afirmações e use-a como uma premissa para mostrar que a outra é falsa.
Referências: Barker: 157.
Existem outras falácias lógicas, eu puxei dessa matéria da PUC-RS e do guia das Falácias de Stephen Downes.
Porém além dessas existem casos onde uma mesma falácia pode ser classificada em mais de um caso. O importante é saber reconhecer o erro no raciocínio para identificar a falácia.
Playlist de falácias.
Com objetivo de divulgar conhecimento, faço este post. Muitos não desejarão ler, a vontade, os que desejarem, que seja útil.
O que é uma falácia?
Do dicionário:
falácia1 - substantivo feminino
1. 1. qualidade do que é falaz; falsidade.
"sua afirmação é uma f."
2. 2. fil no aristotelismo, qualquer enunciado ou raciocínio falso que entretanto simula a veracidade; sofisma.
Falácias são afirmações que à primeira vista, parecem verdadeiras, porém geralmente possuem erros de raciocínio lógico ou faltam com a verdade. É comum o uso de falácias contando “meias verdades” ou “omitindo” informações para que o leitor considere que o argumento expresso é verdadeiro, quando não o é.
Tradicionalmente, distinguem-se dois tipos de falácias: o paralogismo e o sofisma. O paralogismo é uma falácia cometida involuntariamente, sem má-fé; o sofisma, uma falácia cometida com plena consciência, com a intenção de enganar.
Essa distinção não é, no entanto, aceitável, pois introduz um critério exterior à lógica - a ética. Dito de outro modo, não compete à lógica apreciar as intenções de quem argumenta. Por isso, tornam-se como sinônimos os termos falácia e sofisma.
Qual o objetivo do uso de falácias?
É comum a utilização de falácias na retórica, em debates e discussões, e até no dia a dia, principalmente quando o usuário da falácia quer “ganhar” o debate/discussão sem realmente estar ganhando nada, pois quem usa de falácias propositadamente, tende a estragar o debate e, portanto, ao não ouvir o contra-argumento, ele não aprende o mínimo, que é como a outra pessoa pensa. O argumento do interlocutor.
Falácias comuns tendem a apelar para características humanas, como a crença na autoridade, ou apelar as emoções humanas, entre outras. Usando, portanto, nossas próprias características contra nós mesmos, tentando enganar. Falácias consideram geralmente que o leitor é incapaz de detectar a mesma. Pressupõe ignorância.
Como detectar uma falácia?
Grande parte das falácias são difíceis de detectar sem uma análise mais fina do argumento e conhecimento do caso, outras são tão gritantes que ao ler já se percebe o erro lógico.
Principalmente quando o leitor concorda com o ponto de vista, ou seja, é enganado pela falácia por haver uma pré-disposição a aceita-la, detectá-la torna-se muito difícil. Porém algumas regras ajudam. A melhor forma de detectar uma falácia é conhecer as mais comuns. Falaremos de algumas posteriormente assim como daremos exemplos de falácias comuns.
Como evitar cometer falácias?
A filosofia, através de retórica e dialética ajudam a ter clareza de discurso e raciocínio. O conhecimento sobre o assunto ajuda muito a não as cometê-las. E a lógica é quem indica a existência ou não de uma falácia. Na dúvida, tente aplicar quando possível o mesmo argumento a diferentes casos, por exemplo, uma cometida a pouco tempo por um user do fórum em uma discussão:
“Impostos são corretos pois existem desde o Egito antigo.”.
A premissa é que “impostos são corretos”. Conclui-se que estes são corretos POIS existem desde o Egito antigo. Ou seja, a justificativa é baseada na tradição.
É uma falácia lógica, pois não analisa a essência da questão, e a conclusão não deriva da premissa. Não é por algo ser tradição, que automaticamente é correto, escravidão também existe desde o Egito antigo, mas é incorreto pois não podemos supor o uso de força para dominar outras pessoas contra sua vontade, e considerar isso ético, correto. Quando ampliamos a análise da afirmação, vemos claramente a falácia. Da mesma forma, ao ver a essência do imposto como sendo apropriação de bens por meio de força, chegamos a mesma conclusão. Seria bem diferente de algo que você voluntariamente paga para ter um serviço. Em ultima analise, pagadores de impostos são escravos "até certo ponto", pois parte de seu "tempo", de sua "vida", do resultado do que fazem, é direcionado de forma forçada para os impostos. Não podemos considerar algo "ético ate certo ponto". A ética precisa ser universal e transcendental. Não posso defender matar um boi como sendo certo, e matar um cachorro como errado apenas porque o boi será para alimentação. Ambos são anti-éticos. Apenas nós aceitamos mais facilmente matar o boi pois precisamos de alimento que ele provê. Mas mesmo assim, ainda é anti-ético. Esta é uma falacia "utilitarista", como eu acho "útil" a carne do boi, eu aceito matá-lo.
Falácias no dia a dia:
Veja as afirmações abaixo e veja com quantas concorda ou já ouviu:
- Se eu abrir uma exceção para você, deveria abrir também para João. Se abrir para João, devo abrir para André. E para Marcos também. Depois para Maria, Madalena, etc.
- Você deve votar de acordo com o partido! Ou será expulso!
- A professora chamou a atenção de Joãozinho na semana passada (duas vezes) e nesta (segunda, quarta e sexta). Não adianta mais chamar a atenção dele. Vamos suspendê-lo.
- Os brasileiros gostam de praia, café, carnaval e futebol.
- A lei que reduz o porte de armas de fogo deve ser abolida, pois, desde que entrou em vigor, a criminalidade aumentou.
- Os empregados são como pregos: temos que bater para que cumpram suas funções.
- Deve-se coibir usos como estes: "Me dá um cigarro", "eu vi ele", "tu foi", etc., porque, com essa permissividade, vamos reduzir a língua de Camões a uma falação de brutos, a uma língua pobre, de poucas palavras e alguns grunhidos.
- Sabia que o casal X está se separando? Mas cuidado: em briga de marido e mulher ninguém põe a colher.
- Aqui se faz, aqui se paga.
- Você confia num dentista que foi aprovado com média cinco no vestibular?
- É perigoso viajar em carro dirigido por mulher.
- Crentes, muçulmanos, são todos uns fanáticos.
- Os padres são pedófilos, os padres são mulherengos, os padres só pensam em dinheiro, os advogados são uns enroladores, os políticos são corruptos, os médicos uns açougueiros, os alunos são uns deitados, etc.
- O elo perdido entre o homem e o macaco não foi encontrado: por isso a teoria da evolução está errada e a Bíblia está certa.
- A ingestão de vinho faz bem.
- O vinho é uma bebida saudável, que faz bem ao coração. É estimulante. Assim foi reconhecido por todos os povos antigos. Inclusive o Apóstolo São Paulo recomendava vinho em suas epístolas.
- Tratava-se de discutir e eleger o perfil do professor ideal: ele seria autoritário ou deveria dar plena liberdade aos alunos?
- A egiptóloga Fulana de Tal é uma principiante, obteve o doutorado há pouco tempo, tem limitada experiência: não pode julgar um descobrimento tão importante.
- Não vou votar nele para presidente: ele bebe.
- Todo nordestino é hábil, L. é nordestino, L. é hábil - Toda pessoa hábil é bom político. Ele é hábil. Ele é bom político, - Todo bom político é bom administrador. Ele é bom político. Ele é bom administrador. - Todo bom administrador merece ser eleito. Ele é bom administrador. Ele merece ser eleito.
- Dez milhões de pessoas não podem estar erradas. Junte-se a nossa igreja você também.
- Isso é uma verdade tão sublime que um milhão de pessoas já a aceitaram como regra de fé.
- A Astrologia é uma arte adivinhatória praticada há milhares de anos no Oriente. Conta-se que os antigos reis da Babilônia teriam feito uso dela para saberem os dias mais propícios para as batalhas. Até os antigos imperadores chineses recorriam aos astros para guiarem seus passos no governo. É inadmissível que ainda hoje não a considerem uma ciência.
- Essas práticas remontam aos primeiros séculos de nossa igreja. Como você pode questioná-las?
- Milhares de pessoas acreditam no poder das pirâmides. Sem dúvida, elas devem ter algo especial.
- Os índices de analfabetismo têm aumentado muito depois do advento da televisão. Obviamente ela compromete a aprendizagem.
- A grande maioria das pessoas deste país são favoráveis à pena de morte como meio de reduzir a violência. Ser contra a pena de morte é, pois, ridículo.
- Não acredite nos lingüistas: eles estão a serviço de uma ideologia de esquerda; são liberais, revolucionários e populistas.
- Não é preciso conhecer matemática para vencer na vida. Meus conhecimentos dessa matéria não vão além das quatro operações e das frações ordinárias; no entanto tenho um salário maior do que o de muitos engenheiros.
- O senhor não tem autoridade para criticar nossa política educacional, pois nunca concluiu uma faculdade.
- Espero que o senhor aceite o portfólio e dê uma ótima nota, pois passei cinco noites sem dormir e ainda por cima cuidando de minha avó, que está muito doente.
- Professor, eu preciso tirar boa nota. Se eu aparecer em casa com nota tão baixa, minha mãe pode sofrer um ataque cardíaco.
- Eu não votei em Lula: afinal ele nem sabe falar direito.
- Por que deveria eu ouvir uma ignorante como você?
Todos os enunciados acima devem ser rejeitados. São falácias. São enunciados ou tentativas de persuadir o leitor mediante em raciocínio errôneo, mediante um argumento fraudulento, enganoso.
Essas falácias, como você pode constatar, estão em todos os discursos: na publicidade, na política, nas religiões, na economia, no comércio, etc.
Falácia é, pois, todo o raciocínio aparentemente válido, mas, na realidade incorreto, que faz cair em erro ou engano.
Fonte.
Tipo de falácias:
Abaixo farei uma compilação de tipos de falácias comuns, como geralmente se apresentam se se possível a contra argumentação e comentários de minha parte.
É importante saber que falácias não são refutadas, pois já são inverídicas em essência, falácias são denunciadas, se possível mostrando qual a falácia, onde ocorre o erro de lógica e porquê.
Apelo à Força (argumentum ad baculum)
Definição:
Consiste em ameaçar com consequências desagradáveis se não for aceita ou acatada a proposição apresentada.
Exemplo:
- Você deve se enquadrar nas novas normas do setor. Ou quer perder o emprego?
- É melhor exterminar os bandidos: você poderá ser a próxima vítima.
- Cala essa tua boca, ou não te dou o dinheiro para o show.
- Ou nós, ou a desgraça, o caos.
Contra-argumentação:
Argumente que apelar à força não é racional, não é argumento, que a emoção não tem relação com a verdade ou a falsidade da proposição.
Muito comum na politica, “se votar em X, os pobres perderão Bolsa Familia”, “se não pagar imposto, não haverá mais saúde”,”se não votar em mim, a economia vai desandar”.
Ataque à Pessoa (argumentum ad homimem)
Definição:
Consiste em atacar, em desmoralizar a pessoa e não seus argumentos. Pensa-se que, ao se atacar a pessoa, pode-se enfraquecer ou anular sua argumentação.
Exemplo:
- Não dêem ouvidos ao que ele diz: ele é um beberrão, bate na mulher e tem amantes.
Observação: Uma variação de "argumentum ad homimem" é o "tu quoque" (tu também): Consiste em atribuir o fato a quem faz a acusação. Por exemplo: se alguém lhe acusa de alguma coisa, diga-lhe "tu também"! Isso, evidentemente, não prova nada.
Contra-argumentação:
Mostre que o caráter da pessoa não tem relação com a proposição defendida por ela. Chamar alguém de corrupto, nazista, comunista, ateu, pedófilo, etc. não prova que suas idéias estejam erradas.
Apelo à Misericórdia, à Piedade (argumentum ad misericordiam, ignorância de questão, fuga do assunto)
Definição:
Consiste em apelar à piedade, à misericórdia, ao estado ou virtudes do autor.
Exemplo:
Ele não pode ser condenado: é bom pai de família, contribuiu com a escola, com a igreja, etc.
Contra-argumentação:
Argumente que se trata de questões diferentes, que o que é invocado nada tem a ver com a proposição. Quem argumenta assim ignora a questão, foge do assunto.
Também muito visto na politica. “Ele rouba mas faz.”, “José pode até ser corrupto e ladrão, mas foi ele quem ajudou os pobres”,"impostos são uma necessidade, sem eles os pobres morrem". Foge-se da questão principal (ser ladrão por exemplo), e tenta justificar piedade para o mesmo baseado em fatos não relacionados.
Apelo ao Povo (argumentum ad populum)
Definição:
Consiste em sustentar uma proposição por ser defendida pela população ou parte dela. Sugere que quanto mais pessoas defendem uma idéia mais verdadeira ou correta ela é. Incluem-se aqui os boatos, o "ouvi falar", o "dizem", o "sabe-se que".
Exemplo:
Dizem que um disco voador caiu em Minas Gerais, e os corpos dos alienígenas estão com as Forças Armadas.
Contra-argumentação:
Os educadores, os professores, as mães têm o argumento: se todos querem se atirar em alto mar, você também quer? O fato de a maioria acreditar em algo não o torna verdadeiro.
Vemos muito no dia a dia.”todos os alunos acham que passagem de onibus devem ser gratuitas”,”todos acham que esse politico é honesto”. Essas afirmações expressam um desejo ou opinião, mas, ignora-se todo o necessário para que ela seja cumprida ou a veracidade da afirmação. E ignora o desejo de todas as pessoas que não concordam.
Apelo à Autoridade
Definição:
Consiste em citar uma autoridade (muitas vezes não - qualificada) para sustentar uma opinião.
Exemplo:
Segundo Schopearhauer, filósofo alemão do séc. XIX, "toda verdade passa por três estágios: primeiro, ela é ridicularizada; segundo, sofre violenta oposição; terceiro, ela é aceita como auto-evidente". (De fato, riram-se de Copérnico, Galileu e outros. Mas nem todas as verdades passam por esses três estágios: muitas são aceitas sem o ridículo e a oposição. Por exemplo: Einstein).
Contra-argumentação:
Mostre que a pessoa citada não é autoridade qualificada. Ou que muitas vezes é perigoso aceitar uma opinião porque simplesmente é defendida por uma autoridade. Isso pode nos levar a erro.
Apelo à Novidade (argumentum ad novitatem)
Definição:
Consiste no erro de afirmar que algo é melhor ou mais correto porque é novo, ou mais novo.
Exemplo:
Saiu a nova geladeira Pólo Sul. Com design moderno, arrojado, ela é perfeita para sua família, sintonizada com o futuro.
Contra-argumentação:
Mostre que o progresso ou a inovação tecnológica não implica necessariamente que algo seja melhor.
Apelo à Antigüidade (argumentum ad antiquitatem)
Definição:
É o erro de afirmar que algo é bom, correto apenas porque é antigo, mais tradicional.
Exemplo:
Essas práticas remontam aos princípios da Era Cristã. Como podem ser questionadas?
Contra-argumentação:
Argumenta que o fato de um grande número de pessoas durante muito tempo ter acreditado que algo é verdadeiro não é motivo para se continuar acreditando.
É o tradicionalismo. Algo não é necessariamente melhor, ou correto, apenas porque “é assim” devido a tradição. Deve-se argumentar porque isso é incorreto, mesmo sendo senso comum. Vemos muito “o governo faz isso desta forma a 50 anos”. O que não significa que seja bom que seja feito.
Falso Dilema
Definição:
Consiste em apresentar apenas duas opções, quando, na verdade, existem mais.
Exemplos:
- Brasil: ame-o ou deixe-o.
- Você prefere uma mulher cheirando a alho, cebola e frituras ou uma mulher sempre arrumadinha?
- Você não suporta seu marido? Separe-se!
- Quem não está a favor de mim está contra mim.
Contra-argumentação:
Simples. Mostre que há outras opções.
Falso Axioma
Definição:
Um axioma é uma verdade auto-evidente sobre a qual outros conhecimentos devem se apoiar. Por exemplo: duas quantidades iguais a uma terceira são iguais entre si. “Todos tem direito natural a auto propriedade desde que nascem.”. Negar a auto propriedade é impossível sem antes admitir a existência dela, caindo em uma contradição.
Exemplo:
Deus ajuda quem cedo madruga.
Contra-argumentação:
Mostre que muitas frases de efeito, impactantes, bombásticas, retóricas, muito respeitadas podem ser meras estratégias mediantes as quais alguém tenta convencer, persuadir o ouvinte/leitor em direção a um argumento. No caso dos provérbios, mostre que se contradizem:
- Ruim com ele, pior sem ele X Antes só do que mal acompanhado.
- Depois da tempestade vem a bonança X Uma desgraça nunca vem sozinha.
- Longe dos olhos, perto do coração X O que os olhos não vêem o coração não sente.
Generalização Não - Qualificada (dicto simpliciter)
Definição:
É uma afirmação ou proposição de caráter geral, radical e que, por isso, encerra um juízo falso em face da experiência.
Exemplo:
A prática de esportes é prejudicial à saúde.
Contra-argumentação:
Mostre que é necessário especificar os enunciados. Othon Garcia (Comunicação em Prosa Moderna, FGV, 1986, p. 169) ilustra como se pode especificar a falácia acima, dada como exemplo: A prática indiscriminada de certos esportes violentos é prejudicial à saúde dos jovens subnutridos.
Generalização Apressada (erro de acidente)
Definição:
Trata-se de tirar uma conclusão com base em dados ou em evidências insuficientes. Dito de outro modo, trata-se de julgar todo um universo com base numa amostragem reduzida.
Exemplos:
- Todo político é corrupto.
- Os padres são pedófilos.
- Os mulçumanos são todos uns fanáticos.
Contra-argumentação:
Argumente que dois professores ruins não significam uma escola ruim; que em ciência é preciso o maior número de dados antes de tirar uma conclusão; que não se pode usar alguns membros do grupo para julgar todo o grupo. Faça ver que se trata, na maioria das vezes, de estereótipo: imagem preconcebida de alguém ou de um grupo. Faça ver também que são fonte de inspiração de muitas piadas racistas, como as piadas de judeus (visto como avarento), de negro (vista como malandro ou pertencente a uma classe inferior), de português (visto no Brasil como sem inteligência), etc. É por isso que essa falácia está intimamente relacionada ao preconceito.
Bola de Neve (derrapagem, redução ao absurdo reductio ad absurdum)
Definição:
Consiste em tirar de uma proposição uma série de fatos ou consequências que podem ou não ocorrer. É um raciocínio levado indevidamente ao extremo, às últimas consequências.
Exemplos:
- Mãe, cuidado com o Joãozinho. Hoje, na escolinha, ele deu um beijo na testa de Mariazinha. Amanhã, estará beijando o rosto. Depois.... Quando crescer, vai estar agarrando todas as meninas.
- O álcool e uma dieta pobre também são grandes assassinos. Deve o governo regular o que vai à nossa mesa? A perseguição à indústria de fumo pode parecer justa, mas também pode ser o começo do fim da liberdade. (Veja, agosto 2000, p.36)
Contra-argumentação:
Argumente dizendo que as consequências, os fatos, os eventos podem não ocorrer.
Depois Disso, logo por Causa Disso (post hoc engo propter hoc)
Definição:
É o erro de acreditar que em dois eventos em seqüência um seja a causa do outro. No extremo, é uma forma de superstição: eu estava com gravata azul e meu time ganhou; portanto, vou usá-la de novo.
Exemplo:
- O chá de quebra-pedra é bom para cálculos renais. Tomei e dois dias depois expeli a pedra.
Observação: uma variação deste sofisma é o chamado "non sequitur" (não se segue, "nada a ver") em que uma conclusão nada tem a ver com a premissa: Venceremos, pois Deus é bom. (Deus é bom, mas não está necessariamente a seu lado; os inimigos podem dizer a mesma coisa).
Contra-argumentação:
Mostre que correlação não é causação: o fato de que dois eventos aconteçam em seqüência não significa que um seja a causa do outro. Diga que pode ter sido apenas uma coincidência.
Falsa Analogia
Definição:
Consiste em comparar objetos ou situações que não são comparáveis entre si, ou transferir um resultado de uma situação para outra.
Exemplos:
- Minhas provas são sempre com consulta a todo tipo de material. Os advogados não consultam os códigos? Os médicos não consultam seus colegas e livros? Não levam as radiografias para as cirurgias? Os engenheiros, os pedreiros não consultam as plantas? Então?
- Os empregados são como pregos: temos que martelar a cabeça para que cumpram suas funções.
- Tomei mata-cura e fiquei bom. Tome você também.
Contra-argumentação:
Argumente que os dois objetos ou situações diferem de tal modo que a analogia se torna insustentável. Mostre que o que vale para uma situação não vale para outra.
Mudança do Ônus da Prova
Definição:
Consiste em transferir ao ouvinte o ônus de provar um enunciado, uma afirmação.
Exemplo:
Se você não acredita em Deus, como pode explicar a ordem que há no universo?
Contra-argumentação:
Mostre que o ônus da prova, isto é, a responsabilidade de provar um enunciado cabe a quem faz a afirmação.
Falácia da Ignorância (argumentum ad ignorantiam)
Definição:
Consiste em concluir que algo é verdadeiro por não ter sido provado que é falso, ou que algo é falso por não ter sido provado que é verdadeiro.
Exemplos:
- Ninguém provou que Deus existe. Logo, Deus não existe.
- Não há evidências de que os discos voadores não estejam visitando a Terra; portanto, eles existem.
Contra-argumentação:
Argumente que algo pode ser verdadeiro ou falso, mesmo que não haja provas.
Exigência de Perfeição
Definição:
É o erro de reivindicar apenas a solução perfeita para qualquer plano.
Exemplo:
A automação cada vez maior dos elevadores desemprega muitas pessoas. Isso, portanto, é ruim, economicamente desaconselhável.
Contra-argumentação:
Argumente que planos, medidas ou soluções não devem ser vistos como integralmente perfeitos ou prejudiciais. Mostre que podem existir objeções para qualquer medida. Que as desvantagens de um plano são suplantadas pelas vantagens.
Isso é muito comum nos que gostam de chamar qualquer mudança de “utopia”, sem saber explicar porque o são. E defendendo um status quo nocivo. Sem perceber que a perfeição não existe.
Questão Complexa (pergunta capciosa, falácia da interrogação, da pressuposição)
Definição:
Consiste em apresentar duas proposições conectadas como se fossem uma única proposição, pressupondo-se que já se tenha dado uma resposta a uma pergunta anterior.
Exemplos:
- Você já abandonou seus maus hábitos?
- Você já deixou de roubar no mercado onde trabalha?
Contra-argumentação:
Mostre que existem duas proposições e que uma pode ser aceita e outra não.
Espantalho
O argumentador, em vez de atacar o melhor argumento do seu opositor, ataca um argumento diferente, mais fraco ou tendenciosamente interpretado. Infelizmente é uma das "técnicas" de argumentação mais usadas.
Exemplos:
1. As pessoas que querem legalizar o aborto querem prevenção irresponsável da gravidez. Mas nós queremos uma sexualidade responsável. Logo, o aborto não deve ser legalizado.
2. Devemos manter o recrutamento obrigatório. As pessoas não querem o fazer o serviço militar porque não lhes convém. Mas devem reconhecer que há coisas mais importantes do que a conveniência.
Prova: Mostre que o argumento oposto foi mal representado, mostrando que os opositores têm argumentos mais fortes. Descreva um argumento mais forte.
Referências: Cedarblom e Paulsen: 138.
Non-sequitur
O termo non sequitur significa literalmente "não se segue que". Nesta secção descrevemos falácias que ocorrem em conseqüência da forma de argumento usado ser inválida. Ela define que a conclusão, não deriva das premissas. Ocorrendo uma falácia logica.
Falácia da afirmação da conseqüente
Esta falácia deriva da confusão entre condição suficiente e condição necessária. Por exemplo: dadas as proposições:
P = Hitler morreu com a bomba H.
Q = Hitler morreu.
Se admitir que P é verdadeira, concluirei que Q é verdadeira. P é suficiente para Q. Q é necessária para P (não há P sem Q). Mas, do fato de Q ser verdadeira, não posso concluir que P o seja (Q não é suficiente para P). Logo, todo o argumento com a seguinte forma é inválido:
Se P, então Q. Ora, Q. Logo, P.
Exemplos:
1. Se jogarmos bem, ganhamos. Ora, ganhamos. Logo, jogamos bem. (De fato jogamos mal, mas o adversário jogou pior e o árbitro ajudou)
2. Se estiver em São Paulo, estou no Rio. Ora, estou nem São Paulo. Logo, estou no Rio. (Claro que posso estar em Curitiba ou em Porto Alegre.)
3. Se a fábrica estivesse a poluir o rio, então veríamos o número de peixes mortos aumentarem. Há cada vez mais peixes a morrer. Logo, a fábrica está a poluir o rio.
Prova: Mostre que, mesmo sendo as premissas verdadeiras, a conclusão pode ser falsa. Em geral basta mostrar que Q pode ser consequência de outra coisa que não P. Por exemplo, a morte dos peixes pode ser provocada pela aplicação de pesticidas e não pela fábrica.
Referências: Barker: 69; Cedarblom e Paulsen: 24; Copi e Cohen: 241.
Falácia da negação da antecedente
Nesta falácia confunde-se a condição suficiente com a condição necessária. Com uma frase condicional (Se P, então Q) dizemos que se P for verdadeira, Q também é; mas não dizemos que a recíproca é verdadeira. Por isso, os argumentos com a seguinte forma são inválidos:
Se P, então Q.
Não-P.
Logo, não-Q.
Exemplos:
1. Se fores atingido por um carro quando tiver 6 anos, morre jovem. Mas não foi atingido por um carro aos 6 anos. Portanto, não vai morrer jovem. (Claro que ele poderia ser atingido por um comboio com a idade de 6 anos e, nesse caso, morreria jovem)
2. Se estou em São Paulo, então estou na Barra. Não estou em São Paulo. Logo, não estou na Barra. (Mas pode estar em Curitiba...)
Prova: Mostre que a conclusão pode ser falsa mesmo que as as premissas sejam verdadeiras. Em particular, mostre que a conseqüente, Q, pode ocorrer mesmo que P não ocorra.
Referências: Barker: 69; Cedarblom e Paulsen: 26; Copi e Cohen: 241.
Falácia da inconsistência
O argumentador avança pelo menos duas proposições que não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo. Em tais casos as proposições podem ser contrárias ou contraditórias. Exemplos:
1. Montreal está a cerca de 200 km de Otawa, enquanto Toronto está a 400 km de Otawa. Toronto está mais perto de Otawa do que Montreal.
2. John é maior do que Jake, e Jake é maior do que Fred, enquanto Fred é maior do que John.
Bem, Fred não é maior do que John > Jake > Fred. Fred não pode ao mesmo tempo ser maior do que John, se Jake é menor do que John e maior que fred.
Prova: Parta de uma das afirmações e use-a como uma premissa para mostrar que a outra é falsa.
Referências: Barker: 157.
Existem outras falácias lógicas, eu puxei dessa matéria da PUC-RS e do guia das Falácias de Stephen Downes.
Porém além dessas existem casos onde uma mesma falácia pode ser classificada em mais de um caso. O importante é saber reconhecer o erro no raciocínio para identificar a falácia.
Playlist de falácias.
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