Imagine que vc é um distribuidor de pão e vende para duas panificadoras. A Panificadora A vende bastante, eles colocam o pão em uma embalagem de ouro e vendem caro. Panificadora B não anda tendo muito sucesso, só fazia o básico. Um dia panificadora B resolve fazer pão com ovo a preço de custo e faz o maior sucesso.
Panificadora A, vendo o público da panificadora B aumentar, não quer ter que fazer ao mesmo, então fala para você distribuidor o seguinte:
- Olha, vamos fazer um contrato, se quiser que eu venda seus pães, vc vai ter que assinar esse contrato e se quiser vender para a panificadora B, diga que ela não vai poder fazer pão com ovo por um tempo. Caso contrário, ela vai cortar relações com você ou não vai mais ser tão agradável.
Como a panificadora A é a fonte da suas maiores receitas, você acata ao pedido dela.
1) O fornecedor aceitou as condições da padaria A. Não é antiético dois entes se engajarem numa relação de troca voluntária, seria como exigir que um feirante que vende repolhos de sua produção a destine obrigatoriamente a A ou B: a produção é dele, ele destina a quem ele desejar, sob critérios que balizam sua força de trabalho. É anti-ético, imoral, desumano, pecaminoso, triste, perverso e criminoso obrigá-lo a destinar os repolhos que ele produziu com seu próprio suor pra quem quer que seja, não importa nenhuma outra variante de análise.
2) O fornecedor é que tem o direito de destinar o fruto de seu trabalho pra quem ele bem entender
3) A ou B não têm o direito de ser abastecidos, porque o abastecimento depende da atividade de um terceiro ente. Se estabelecêssemos que B tem direito eterno ao abastecimento, estaríamos lidando com o conceito completo e irrestrito de trabalho escravo
4) A e B não têm o direito da existência eterna, nesse seu exemplo, caberia à padaria B procurar outra maneira de subsistir: a) procurar outro fornecedor; b) passar a executar a produção de ovos e farinha ela mesma; c) fechar as portas, e abrir uma papelaria, ou virar funcionário da padaria A, ele não está ligado umbilicalmente à sua atividade laboral.
5) Mesmo que a conduta do fornecedor e da Padaria A no seu exemplo encerre a falência do dono da padaria B, a morte de fome de seus pais idosos, a doença de sua esposa e o sequestro de seus filhos pela marginalidade, ainda não seria anti-ético o fornecedor operar de acordo sua volição e individualidade.
6) Anti-ético seria um governo obrigá-lo a fornecer com igualdade (atenção para a palavra, mormente associada às tiranias do século XX) pra dois, três ou dez padarias
Disposições em contrário e nuances somente existiram caso houvesse a assinatura de um contrato vitalício do fornecedor de farinha e ovos para a Padaria B, mas contratos têm cláusulas recisórias
PS1: no seu exemplo, a Microsoft não só impediu o fornecedor da farinharia de produzir o ingrediente para a padaria B, como a comprou de cabo a rabo. Não é anti-ético também
PS2: sua linha de raciocínio com as padarias é exatamente a mesma (sem tirar nem pôr) que o governo da URSS teve para a planificação dos kulaks, mesmo racional, confira aí