PF indicia Carla Zambelli e hacker Walter Delgatti por invasão do site do CNJ
Investigação encontrou no celular da deputada os documentos falsos inseridos por Delgatti nos sistemas do Judiciário. Para a PF, conduta de Zambelli foi 'incompatível' com o mandato.
A
Polícia Federal concluiu o inquérito sobre a
invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), registrada em 4 de janeiro de 2023, e indiciou o hacker Walter Delgatti Neto e a deputada federal
Carla Zambelli (PL-SP) por suspeita de terem cometido diversas vezes os crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica.
No hackeamento do CNJ, foram inseridos documentos falsos no sistema do Judiciário, como uma falsa ordem de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (
STF), imitando a assinatura dele mesmo.
O relatório da PF será analisado pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que decidirá se denuncia ou não Carla Zambelli ao STF. Uma eventual denúncia, se recebida pelo Judiciário, marcaria o início da ação penal que pode levar à condenação ou absolvição. O relator dessa investigação no STF é Moraes.
A invasão do sistema do CNJ
Embora a PF não tenha encontrado trocas de mensagens entre Zambelli e Delgatti — ele relatou aos investigadores que apagava as conversas por precaução —, foram achados nos equipamentos pessoais de Zambelli, apreendidos em agosto, quatro documentos falsos inseridos criminosamente pelo hacker no sistema do CNJ.
Os documentos falsos são:
➡️Uma ordem de quebra do sigilo bancário de Moraes, gerada no computador de
Delgatti no dia 4 de janeiro de 2023, às 22h22, e criada no
celular de Zambelli apenas 22 segundos depois — o que deixa claro, segundo a PF, que
"tão logo Walter baixou o documento do site do CNJ, ele o encaminhou para Carla, que o baixou/abriu";
➡️Um recibo de bloqueio de bens de Moraes, no valor de R$ 22,9 milhões (o mesmo valor da multa que o ministro impôs ao PL por contestar a eleição). O arquivo foi criado no equipamento de
Delgatti no dia 4 de janeiro, às 22h23, e
no celular de Zambelli no dia seguinte, 5 de janeiro, às 16h14;
➡️Um segundo recibo de bloqueio de bens do ministro, no valor de R$ 500 mil, criado no equipamento de
Delgatti no dia 25 de novembro de 2022, às 22h34. A PF não encontrou exatamente o mesmo arquivo com Zambelli,
mas achou seu teor reproduzido no celular dela em dois arquivos com nomes distintos gerados na mesma data, um às 22h15 e outro às 22h19 — antes, portanto, de o hacker inserir a ordem de bloqueio no CNJ;
➡️E a minuta do mandado de prisão contra Moraes, criada no computador de
Delgatti no dia 4 de janeiro, às 17h12, e no
celular de Zambelli na mesma data, às 18h39 — ou seja, segundo a PF, "1 hora e 27 minutos depois, claramente se tratando do documento que foi publicado na imprensa".
A minuta da falsa ordem de prisão contra Moraes foi publicada na imprensa na noite de
4 de janeiro, três horas após Zambelli recebê-la do hacker. A divulgação na imprensa alertou o CNJ sobre o hackeamento e motivou a investigação da PF.
Para a polícia, foi Zambelli que, após instigar o hacker a cometer a invasão do CNJ, divulgou o documento a jornalistas com o objetivo de difundir suspeitas sobre a credibilidade do Judiciário.
O relatório da PF afirma que:
➡️Zambelli cometeu quatro vezes os crimes de invasão de dispositivo informático qualificado (artigo 154-A do Código Penal) e falsidade ideológica (artigo 299 do Código Penal).
Somadas, as penas máximas podem chegar a 28 anos de prisão, em caso de condenação;
➡️Delgatti cometeu nove vezes o crime de invasão de dispositivo informático qualificado e 22 vezes o de falsidade ideológica. Além dos documentos falsos contra Moraes, o hacker também inseriu no CNJ falsos alvarás de soltura para beneficiar criminosos que cumprem pena.
'Encontro fortuito' com o hacker
Ainda segundo a PF, Zambelli disse em depoimento que, quando contratou Delgatti para serviços de informática, não sabia quem ele era.
No entanto,
ela publicou em seu perfil no X (antigo Twitter), em 28 de julho de 2022, uma foto de um encontro com o hacker, com a seguinte legenda: "O homem que hackeou 200 autoridades, entre ministros do Executivo e do Judiciário brasileiro [...] muita gente deveria ficar com o cabelo em pé (os que têm) depois desse encontro fortuito".
Investigação encontrou no celular da deputada os documentos falsos inseridos por Delgatti nos sistemas do Judiciário. Para a PF, conduta de Zambelli foi 'incompatível' com o mandato.
g1.globo.com