Governo e Congresso avaliam tributação de compras de até US$ 50 para bancar desoneração da folha
Técnicos do Ministério da Fazenda avaliam alternativas de arrecadação que possam compensar a eventual manutenção da política de
desoneração da folha de pagamentos, dada a resistência ao fim do programa. A decisão caberá ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que avisou que só dará a palavra final após conversar com o ministro Fernando Haddad na próxima semana.
Até lá, as equipes testam sugestões aventadas por parlamentares e membros do governo na busca de fontes de recursos que permitam financiar o fim do programa. Uma delas é a taxação de compras online de sites no exterior com valor inferior a US$ 50. Atualmente, a tributação federal está zerada - só há incidência de imposto estadual (ICMS) de 17%.
Em conversas reservadas nos últimos dias, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, colocou a possibilidade sobre a mesa, assim como o remanejamento de parte dos recursos hoje destinados ao fundo eleitoral (R$ 4,9 bilhões).
O entendimento é que não será possível rejeitar a medida provisória, baixada pelo governo e que revogou a desoneração da folha de pagamentos, sem encontrar uma saída para compensar os custos com o programa. O risco é colocar em xeque o ajuste nas contas do governo, que teve efeitos positivos em 2023, com a queda da inflação e o corte da taxa básica de juros.
O Ministério da Fazenda tem argumentado que a desoneração tem um custo estimado de R$ 16 bilhões neste ano e que este valor não consta do Orçamento. Por isso, foi editada a MP, que além de ter alterado a atual política de desoneração da folha, fixou um limite para compensações tributárias de empresas com o Fisco e extinguiu o Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos). Caso a MP caia,
não está descartada a revisão da meta de déficit fiscal zero neste ano.
No caso da taxação de importados de pequeno valor, comprados em sites estrangeiros, a indústria têxtil e de confecções reclama que as concorrentes externas não vêm sendo taxadas e, com a reoneração da folha de pagamentos, as fabricantes nacionais perderão ainda mais capacidade de competir. A tributação dessas pequenas compras é também um pleito de grandes redes varejistas.
Dessa forma, para o governo, a taxação seria uma forma tanto de gerar recursos para bancar a desoneração quanto para responder a essas queixas, que já ocorrem há meses e mobilizam parte do Congresso.
O desafio das equipes técnicas é calibrar a taxação para não despertar insatisfações dentro do próprio governo. Na última vez que Haddad tentou tributar estas compras, a primeira-dama Janja da Silva criticou a proposta e o governo voltou atrás.
Desde então, a Receita Federal lançou o programa
Remessa Conforme, que regularizou este comércio e uniformizou uma alíquota de ICMS de 17% sobre a importação de até US$ 50. Grandes sites como Shopee e Alibaba,
passaram a informar, ainda na China, sobre as vendas enviadas ao País. E a Shein firmou parceria com a Coteminas, do presidente da Fiesp, Josué Gomes, para fabricar roupas no Brasil.
Ainda não se sabe quanto a taxação poderá render e se será suficiente para cobrir todo o programa de desoneração. O governo insiste em retirar as prefeituras pequenas do benefício, o que custaria R$ 4 bilhões neste ano. O argumento é que os prefeitos já receberam recursos federais extras no ano passado e a negociação de novas compensações pode ser feita por outra via.
A equipe econômica tem defendido nessas conversas a necessidade de um escalonamento gradual da volta da contribuição sobre a folha de pagamentos até 2027, alegando que a decisão do Congresso é a de que o programa tem validade e não deve ser perenizado.