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Como um instituto pretende construir a primeira cidade flutuante do planeta
Luiza Bandeira
Projeto será construído na Polinésia Francesa até 2020; ideia é criar ‘startup’ de nova sociedade, com nova forma de governo
FOTO: REPRODUÇÃO/SEASTEADING INSTITUTE
PROJETO DE CIDADE FLUTUANTE NA POLINÉSIA FRANCESA
O Instituto Seasteading, de São Francisco, começa a transformar um exercício de futurismo (ou fantasia) em realidade: seus planos de construir uma cidade flutuante foram aprovados pelo governo da Polinésia Francesa. A previsão é que a cidade esteja pronta em 2020.
Por trás do instituto estão grandes empreendedores do Vale do Silício, como Peter Thiel, fundador do PayPal, e Patri Friedman, neto do economista Milton Friedman (1912-2006). A inspiração das cidades-flutuantes é liberal: o objetivo é criar Estados-nações independentes e sustentáveis nos oceanos, sem regulações governamentais tradicionais e com diferentes modelos de governança.
Segundo Joe Quirk, presidente do Instituto Seasteading, as cidades flutuantes estariam livres das restrições impostas pelos governos atuais, que, segundo ele, “não melhoram”. “Estamos convencidos de que podemos criar mundos melhores nos oceanos”, disse, em entrevista à rede BBC no dia 28 de novembro de 2017.
Como será a ilha
A ideia original das ilhas flutuantes era que elas ficassem em águas internacionais, teoricamente livres de regulação. Mas dificuldades com a criação de infraestrutura longe da costa, além de desafios climáticos enfrentados em alto mar, fizeram com que o projeto-piloto fosse transferido para a Polinésia Francesa. Segundo a rede NBC, o instituto ainda pretende criar ilhas flutuantes maiores fora das áreas territoriais dos países.
De acordo com o instituto, serão construídas plataformas flutuantes ecológicas como forma de resposta a desafios como aumento do nível dos oceanos e desenvolvimento sustentável. As plataformas abrigariam casas, escritórios, restaurantes, hotéis e, de acordo com o jornal britânico The Independent, uma unidade de pesquisa e uma usina de energia, para vender eletricidade e água limpa à Polinésia Francesa. Segundo o The New York Times, as estruturas serão feitas com materiais ecológicos como bambu, fibra de coco e material reciclado. O local exato em que a ilha será criada ainda não foi divulgado.
A ideia é que a ilha seja formada por diferentes módulos, que podem ser encaixados ou desencaixados, permitindo que os cidadãos saiam se estiverem insatisfeitos. Segundo a BBC, mais de mil pessoas já expressaram interesse em viver na nova ilha. O custo, porém, é de US$ 15 milhões por módulo - estima-se que 11 módulos possam abrigar entre 200 e 300 pessoas. O projeto deve custar US$ 167 milhões.
O governo da Polinésia Francesa criou uma zona econômica especial para o experimento, que funcionará de forma semi-autônoma, sob a proteção do governo. Uma nova empresa, chamada Blue Frontiers, foi fundada para criar e administrar a ilha, e pretende usar uma oferta inicial de moedas (ICO, na sigla em inglês), forma original adotada por startups para levantar capital, para financiar parte do projeto.
Origens do instituto
O Instituto Seasteading foi fundado em 2008 pelo economista Patri Friedman e pelo investidor Peter Thiel. O grupo lançou um protótipo de ilha flutuante para a Baía de São Francisco em 2010, mas o projeto nunca saiu do papel. As ilhas flutuantes viraram motivo de piada, representando as fantasias utópicas de empresários do Vale do Silício.
Presidente do Instituto Seasteading
Com o passar dos anos, porém, a ideia voltou a ganhar força. O aquecimento global, o aumento no nível dos oceanos e a eleição de governos populistas, nos últimos anos, voltaram a atrair pessoas para a ideia principal por trás das ilhas flutuantes: a chance de gerar uma nova sociedade, com um novo sistema de governo. Em 2011, Quirk se interessou pelo grupo e, hoje, é seu presidente. Com ele, as negociações com a Polinésia Francesa avançaram.
O grupo acredita que as ilhas flutuantes dariam origem a “start-ups” de sociedades, com seus próprios sistemas legais e de governo. De acordo com a BBC, construir a cidade em blocos encaixáveis de 50 metros permitiria que cidadãos aderissem ou deixassem a cidade a qualquer momento.
“Será muito difícil para um tirano subir nessa hierarquia se a ilha pode se desmontar e as pessoas podem partir se ele se comportar mal”, disse Quirk à BBC. Para ele, essas sociedades serão organizadas por forças de mercado livres de ambições políticas e problemas que governos tradicionais enfrentam em terra firme. Um dos desafios desses governos, segundo ele, é exatamente a terra firme. “A terra incentiva o monopólio violento para controlá-la”, afirma. A lógica é que, sem terra, não haveria conflitos.
presidente do Instituto Seasteading
Críticas ao projeto
Uma das fontes de ceticismo em relação à ideia original das ilhas flutuantes é a questão do clima: como elas enfrentariam as condições em mar aberto, onde ondas podem chegar a 20 metros e tempestades podem durar dias?
“Se você construir uma cidade flutuante, você fará metade da população se sentir enjoada o tempo inteiro. Isso não é economicamente viável”, disse à BBC Philip Wilson, professor de dinâmica naval e engenharia da Universidade de Southampton. Quirk, do Seasteading, defende que as pessoas ficam em navios de cruzeiros, além de plataformas de petróleo, e não passam mal.
Mais forte que essa é a crítica sobre o não pagamento de impostos. O apresentador de TV do Taiti Alexandre Taliercio disse ao jornal The Guardian que teme que americanos ricos estejam simplesmente tentando usar seu país para não pagar impostos. “Esses milionários, embalados pela ideia de se livrar dos Estados existentes, parecem ter muito mais a ganhar do que nós temos.” Ele questiona se “facilitar a evasão de divisas das maiores fortunas do mundo” seria saudável para países do Pacífico Sul, lembrando que as taxas de desemprego e a pobreza da população na Polinésia Francesa são altas. Segundo o jornal, o PIB do país é de US$ 5,6 bilhões - sozinho, Thiel tem metade disso.
Por último, há uma crítica à premissa do projeto, que supõe que um ambiente sem regulação governamental geraria mais inovação. Em entrevista ao site Wired, Jim Dempsey, diretor-executivo do Centro de Direito e Tecnologia da Universidade Berkeley, da Califórnia, afirmou que isso desconsidera o apoio dado pelo governo a startups e a importância da regulação em alguns projetos. “Posso garantir que, sem estrutura legal, não há inovação. Há caos”, afirma. Segundo ele, a Netflix e o Spotify, por exemplo, tiram vantagem de leis de proteção de direitos autorais. Além disso, diversos empreendedores se arriscam porque sabem que há leis de falência que vão protegê-los.
Aparentemente, bom, como não sou nem lacrador estatista nem anarco-capitalista, vejo como boa a idéia, lugares sem o governo tirando 40/50% de tudo que as pessoas ganham, mas tbm fico com o pé atrás de um lugar sem leis conhecidas, tanto podendo ir para o bem quanto para o mal, um ancapistão de sucesso um um Rapture ainda pior que os países comuns. E vocês? O que acham?
Luiza Bandeira
Projeto será construído na Polinésia Francesa até 2020; ideia é criar ‘startup’ de nova sociedade, com nova forma de governo
FOTO: REPRODUÇÃO/SEASTEADING INSTITUTE
PROJETO DE CIDADE FLUTUANTE NA POLINÉSIA FRANCESA
O Instituto Seasteading, de São Francisco, começa a transformar um exercício de futurismo (ou fantasia) em realidade: seus planos de construir uma cidade flutuante foram aprovados pelo governo da Polinésia Francesa. A previsão é que a cidade esteja pronta em 2020.
Por trás do instituto estão grandes empreendedores do Vale do Silício, como Peter Thiel, fundador do PayPal, e Patri Friedman, neto do economista Milton Friedman (1912-2006). A inspiração das cidades-flutuantes é liberal: o objetivo é criar Estados-nações independentes e sustentáveis nos oceanos, sem regulações governamentais tradicionais e com diferentes modelos de governança.
Segundo Joe Quirk, presidente do Instituto Seasteading, as cidades flutuantes estariam livres das restrições impostas pelos governos atuais, que, segundo ele, “não melhoram”. “Estamos convencidos de que podemos criar mundos melhores nos oceanos”, disse, em entrevista à rede BBC no dia 28 de novembro de 2017.
Como será a ilha
A ideia original das ilhas flutuantes era que elas ficassem em águas internacionais, teoricamente livres de regulação. Mas dificuldades com a criação de infraestrutura longe da costa, além de desafios climáticos enfrentados em alto mar, fizeram com que o projeto-piloto fosse transferido para a Polinésia Francesa. Segundo a rede NBC, o instituto ainda pretende criar ilhas flutuantes maiores fora das áreas territoriais dos países.
De acordo com o instituto, serão construídas plataformas flutuantes ecológicas como forma de resposta a desafios como aumento do nível dos oceanos e desenvolvimento sustentável. As plataformas abrigariam casas, escritórios, restaurantes, hotéis e, de acordo com o jornal britânico The Independent, uma unidade de pesquisa e uma usina de energia, para vender eletricidade e água limpa à Polinésia Francesa. Segundo o The New York Times, as estruturas serão feitas com materiais ecológicos como bambu, fibra de coco e material reciclado. O local exato em que a ilha será criada ainda não foi divulgado.
A ideia é que a ilha seja formada por diferentes módulos, que podem ser encaixados ou desencaixados, permitindo que os cidadãos saiam se estiverem insatisfeitos. Segundo a BBC, mais de mil pessoas já expressaram interesse em viver na nova ilha. O custo, porém, é de US$ 15 milhões por módulo - estima-se que 11 módulos possam abrigar entre 200 e 300 pessoas. O projeto deve custar US$ 167 milhões.
O governo da Polinésia Francesa criou uma zona econômica especial para o experimento, que funcionará de forma semi-autônoma, sob a proteção do governo. Uma nova empresa, chamada Blue Frontiers, foi fundada para criar e administrar a ilha, e pretende usar uma oferta inicial de moedas (ICO, na sigla em inglês), forma original adotada por startups para levantar capital, para financiar parte do projeto.
Origens do instituto
O Instituto Seasteading foi fundado em 2008 pelo economista Patri Friedman e pelo investidor Peter Thiel. O grupo lançou um protótipo de ilha flutuante para a Baía de São Francisco em 2010, mas o projeto nunca saiu do papel. As ilhas flutuantes viraram motivo de piada, representando as fantasias utópicas de empresários do Vale do Silício.
“Se pudéssemos ter uma cidade flutuante, ela seria basicamente um país start-up”
Joe QuirkPresidente do Instituto Seasteading
Com o passar dos anos, porém, a ideia voltou a ganhar força. O aquecimento global, o aumento no nível dos oceanos e a eleição de governos populistas, nos últimos anos, voltaram a atrair pessoas para a ideia principal por trás das ilhas flutuantes: a chance de gerar uma nova sociedade, com um novo sistema de governo. Em 2011, Quirk se interessou pelo grupo e, hoje, é seu presidente. Com ele, as negociações com a Polinésia Francesa avançaram.
O grupo acredita que as ilhas flutuantes dariam origem a “start-ups” de sociedades, com seus próprios sistemas legais e de governo. De acordo com a BBC, construir a cidade em blocos encaixáveis de 50 metros permitiria que cidadãos aderissem ou deixassem a cidade a qualquer momento.
“Será muito difícil para um tirano subir nessa hierarquia se a ilha pode se desmontar e as pessoas podem partir se ele se comportar mal”, disse Quirk à BBC. Para ele, essas sociedades serão organizadas por forças de mercado livres de ambições políticas e problemas que governos tradicionais enfrentam em terra firme. Um dos desafios desses governos, segundo ele, é exatamente a terra firme. “A terra incentiva o monopólio violento para controlá-la”, afirma. A lógica é que, sem terra, não haveria conflitos.
“Quero ver cidades flutuantes até 2050, de preferência milhares delas, cada uma com diferentes modelos de governança. Quanto mais gente se mudar para elas, mais opções teremos e aumenta a probabilidade de termos paz, prosperidade e inovação”
Joe Quirkpresidente do Instituto Seasteading
Críticas ao projeto
Uma das fontes de ceticismo em relação à ideia original das ilhas flutuantes é a questão do clima: como elas enfrentariam as condições em mar aberto, onde ondas podem chegar a 20 metros e tempestades podem durar dias?
“Se você construir uma cidade flutuante, você fará metade da população se sentir enjoada o tempo inteiro. Isso não é economicamente viável”, disse à BBC Philip Wilson, professor de dinâmica naval e engenharia da Universidade de Southampton. Quirk, do Seasteading, defende que as pessoas ficam em navios de cruzeiros, além de plataformas de petróleo, e não passam mal.
Mais forte que essa é a crítica sobre o não pagamento de impostos. O apresentador de TV do Taiti Alexandre Taliercio disse ao jornal The Guardian que teme que americanos ricos estejam simplesmente tentando usar seu país para não pagar impostos. “Esses milionários, embalados pela ideia de se livrar dos Estados existentes, parecem ter muito mais a ganhar do que nós temos.” Ele questiona se “facilitar a evasão de divisas das maiores fortunas do mundo” seria saudável para países do Pacífico Sul, lembrando que as taxas de desemprego e a pobreza da população na Polinésia Francesa são altas. Segundo o jornal, o PIB do país é de US$ 5,6 bilhões - sozinho, Thiel tem metade disso.
Por último, há uma crítica à premissa do projeto, que supõe que um ambiente sem regulação governamental geraria mais inovação. Em entrevista ao site Wired, Jim Dempsey, diretor-executivo do Centro de Direito e Tecnologia da Universidade Berkeley, da Califórnia, afirmou que isso desconsidera o apoio dado pelo governo a startups e a importância da regulação em alguns projetos. “Posso garantir que, sem estrutura legal, não há inovação. Há caos”, afirma. Segundo ele, a Netflix e o Spotify, por exemplo, tiram vantagem de leis de proteção de direitos autorais. Além disso, diversos empreendedores se arriscam porque sabem que há leis de falência que vão protegê-los.
Aparentemente, bom, como não sou nem lacrador estatista nem anarco-capitalista, vejo como boa a idéia, lugares sem o governo tirando 40/50% de tudo que as pessoas ganham, mas tbm fico com o pé atrás de um lugar sem leis conhecidas, tanto podendo ir para o bem quanto para o mal, um ancapistão de sucesso um um Rapture ainda pior que os países comuns. E vocês? O que acham?
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