Se não me engano a BBC é uma empresa estatal britânica, então é óbvio que vai tender para um lado mais estatista na hora de falar de "privatizações" por exemplo. É a coisa que mais me incomoda, eles fazem até um levantamento de dados interessante, mas ela gosta de dar um peso igual para situações que já estão ultrapassadas.
Acho que as pessoas confundem imparcialidade. Ser imparcial é relatar os fatos abertamente, doa a quem doer. O problema é que pra escrever uma notícia ela tem que pegar de uma fonte que geralmente é o governo, que já se provou realmente parcial. Eliminar adjetivação em um jornal já ajuda bastante, mas a pesquisa própria vai além. Quem diz que não é imparcial e brada como sendo uma coisa boa é que é o verdadeiro câncer do jornalismo. Porque um bom jornalista não tem opinião. Você é imparcial quando mostra o resultado de um jogo, "Brasil 1 x 1 Panamá". Você é imparcial ao mostrar os gols. Continua sendo imparcial ao mostrar que um gol era ilegal e o juiz mandou seguir mesmo assim. Você deixa de ser imparcial quando fica sugando as bolas do Neymar, quando passa a matéria toda só falando do Brasil e ignorando o Panamá, ou só caça comentários polêmicos dos panamenhos sobre o time do Brasil.
Quando você fala "Eu não sou imparcial, sou defensor de determinado ponto de vista politico" você já contaminou a notícia antes mesmo da manchete. Um bom jornalista é imperceptível, ele deve assinar uma matéria para demonstrar responsabilidade com o fato que relata, mas é o único elemento pessoal que deve haver em uma matéria. Dar o mesmo peso para a narrativa do "golpe" que para a realidade do impeachment é o equivalente a acreditar que o Brasil vendeu a copa de 2014 a pedido de dirigentes da Fifa e etc. Jornalismo não tem que ser democrático, é uma ditadura, a ditadura dos fatos. Se não é fato, fique na sua. Mas a sanha de ganhar dinheiro vendendo narrativas para o seu público alvo e eles contaminarem o debate público é mais importante.
Jornalista não é cientista pra dar respostas, ele só é um canal de comunicação. E o melhor canal é o que menos deixa ruídos interferirem na mensagem. E nisso o jornalismo atual tá afundado. Por isso ele perde a relevância atual. Em guerra de ruído, ganha quem grita mais alto na hora certa e para as pessoas certas. Mas de tanto grito, uma hora o público se rebela, ou ataca os gritões ou simplesmente abafa o som e o ignora. Aí quando o grito é um motivo de real preocupação, ninguém vai escutar. É o preço que se paga por querer ser honesto sobre a sua desonestidade.
Acho que a ideia que tentam empurrar goela abaixo de que "imparcialidade não existe" é o que o matou, quando tava todo mundo tentando o salvar. Foi a coisa que mais me decepcionou na área.