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Constituinte de um e de outro: os radicais dentro das campanhas
Tanto Fernando Haddad, como Hamilton Mourão, vice na chapa de Bolsonaro falam em redigir nova constituição para o país. Entenda o que está por trás disso
O candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, afirmou nesta sexta-feira que vai “criar condições” para uma nova constituição. O plano está previsto no programa de governo petista, mas a declaração causou uma nova leva de debates entre eleitores de Haddad e seus opositores. Há duas semanas, Hamilton Mourão, vice na chapa de Jair Bolsonaro (PSL), havia afirmado a intenção de criar um conselho de “notáveis” para redigir uma nova constituição para o país.
Ou seja: as duas chapas líderes na corrida presidencial trouxeram a importância de uma reforma constitucional à tona. As declarações têm propostas diferentes — mas vá explicar isso para as militâncias nas redes sociais. Mourão sugeriu uma reforma constitucional à revelia das instituições democráticas. Haddad falou em “criar condições”, o que pressupõe um debate com o Congresso.
Ainda assim, a proposta é tida como uma das mais polêmicas do programa de governo petista, e pode ser palco de novos debates caso Haddad avance ao segundo turno. A inclusão de uma reforma em seu programa de governo era uma condição do PCdoB, que indicou Manuela D’Ávila como vice na chapa. O programa petista, publicado para a candidatura de Lula, fala em uma Assembleia Constituinte que dê conta “do desafio de refundar e aprofundar a democracia no Brasil”, um passo necessário para “assegurar as conquistas democráticas inscritas na Constituição de 1988”.
A inclusão da proposta no programa é mostra de uma queda de braço entre a ala mais moderada e pragmática do partido, onde estão Lula e Haddad, e a ala mais radical, que inclui, entre outros, o ex-ministro José Dirceu. Em entrevista publicada pelo El País Dirceu causou polêmica ao afirmar que “é uma questão de tempo para o PT tomar o poder”. A frase, segundo analistas ouvidos por EXAME, terá pouca influência na campanha, que tende a adotar um tom mais pragmático sobretudo no segundo turno.
“Não vejo espaço para uma guinada que credencie a ideia de uma radicalização ou de uma constituinte na campanha do PT, pela postura adotada até aqui pelo Haddad”, diz Sérgio Praça, professor da FGV e colunista de EXAME. “A postura do partido vai ficar mais clara no segundo turno. Declarações mais fortes, sobretudo de Haddad, em duas semanas podem levantar maiores preocupações”.
Isso, claro, se o PT mantiver os resultados da pesquisa e confirmar sua ida ao segundo turno no dia 7.
https://exame.abril.com.br/brasil/constituinte-de-um-e-de-outro-os-radicais-dentro-das-campanhas/
****
Tem muita coisa que deveria ser revista na Constituição de 1988, não nego. Mas hoje é o pior momento possível para reformá-la.
Por que? Em 1988, por mais que existissem muitos interesses escusos em jogo, havia uma preocupação quase unânime em se garantir que o Brasil fosse um país minimamente democrático. Trauma pós-ditadura militar. Nossa constituição, goste dela ou não, ainda é eficiente para se garantir o básico de uma democracia: a separação de poderes. Tanto petistas como bolsonaristas já demonstraram diversas vezes suas tendências centralizadoras, então uma constituição capitaneada por qualquer um dos grupos estaria invariavelmente cheia de "jabuticabas" pra lá de perigosas e potencialmente autoritárias.
Das duas propostas, a do Haddad é incrivelmente a menos ruim. E isso se dá, exclusivamente, por ele não propor um "bypass" do congresso como o Mourão. Mesmo assim, há pouco ou nenhum mérito aí, porque as intenções petistas são claras: é a separação de poderes que garantiu o ipeachment da Dilma e a prisão do Lula, ambos denunciados como "golpistas" pelo partido. Ao falar em "aprofundar a democracia", está subentendido que, para eles, democracia é apenas seu próprio partido no poder. Isso é temerário.
Sozinho, o PT não teria poder para implantar uma ditadura. Mas o risco de, sob promessas de livrar a pele de todos os corruptos do país, conseguir empurrar pro congresso algumas jabuticabas nesse sentido é gigantesco. O Brasil não pode correr esse risco.
O problema é que, do outro lado, a proposta do Mourão é ainda mais assustadora. O próprio ato de se driblar o congresso já é, por si só, autoritário. Isto vindo de alguém que inventou um tal de "autogolpe militar constitucional" e que tem no companheiro de chapa a proposta descarada de aparelhar o STF não deixa qualquer dúvida sobre as reais intenções.
Apesar das tentativas desonestas de se minimizar, uma constituição feita por "notáveis" nunca será legítima num país democrático. Gilmar Mendes é, inegavelmente, um "notável" jurista. Você gostaria de uma constituição escrita por ele? Será que o Mourão gostaria? Qual o critério para se escolher os "notáveis"? Não há critério objetivo, por isso qualquer coisa que burle o voto popular será automaticamente autoritária e perigosa.
Ah, e por mais que eu seja um entusiasta da democracia direta, botar uma carta magna inteira para plebiscito, como propõe o Mourão, não serve para legitimá-la. E também não é democracia direta. Alguém realmente acredita que a população, majoritariamente ignorante sobre o funcionamento das instituições do país, é capaz de analisar ponto a ponto um documento tão extenso e complexo e identificar eventuais problemas? Eu não seria.
Independente de qual dos demônios você escolher num eventual segundo turno entre Bolsonaro e Haddad, uma coisa é certa: não podemos apoiar uma reformulação constitucional. Não neste momento. Nos resta torcer para que o vencedor desista de mudar a constituição e, caso isso não ocorra, não tenha apoio popular para tanto. Até ditaduras precisam de legitimidade para se instaurarem e, se a maioria de nós se manifestar contra, eles não terão força política para fazê-lo.
Tanto Fernando Haddad, como Hamilton Mourão, vice na chapa de Bolsonaro falam em redigir nova constituição para o país. Entenda o que está por trás disso
O candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, afirmou nesta sexta-feira que vai “criar condições” para uma nova constituição. O plano está previsto no programa de governo petista, mas a declaração causou uma nova leva de debates entre eleitores de Haddad e seus opositores. Há duas semanas, Hamilton Mourão, vice na chapa de Jair Bolsonaro (PSL), havia afirmado a intenção de criar um conselho de “notáveis” para redigir uma nova constituição para o país.
Ou seja: as duas chapas líderes na corrida presidencial trouxeram a importância de uma reforma constitucional à tona. As declarações têm propostas diferentes — mas vá explicar isso para as militâncias nas redes sociais. Mourão sugeriu uma reforma constitucional à revelia das instituições democráticas. Haddad falou em “criar condições”, o que pressupõe um debate com o Congresso.
Ainda assim, a proposta é tida como uma das mais polêmicas do programa de governo petista, e pode ser palco de novos debates caso Haddad avance ao segundo turno. A inclusão de uma reforma em seu programa de governo era uma condição do PCdoB, que indicou Manuela D’Ávila como vice na chapa. O programa petista, publicado para a candidatura de Lula, fala em uma Assembleia Constituinte que dê conta “do desafio de refundar e aprofundar a democracia no Brasil”, um passo necessário para “assegurar as conquistas democráticas inscritas na Constituição de 1988”.
A inclusão da proposta no programa é mostra de uma queda de braço entre a ala mais moderada e pragmática do partido, onde estão Lula e Haddad, e a ala mais radical, que inclui, entre outros, o ex-ministro José Dirceu. Em entrevista publicada pelo El País Dirceu causou polêmica ao afirmar que “é uma questão de tempo para o PT tomar o poder”. A frase, segundo analistas ouvidos por EXAME, terá pouca influência na campanha, que tende a adotar um tom mais pragmático sobretudo no segundo turno.
“Não vejo espaço para uma guinada que credencie a ideia de uma radicalização ou de uma constituinte na campanha do PT, pela postura adotada até aqui pelo Haddad”, diz Sérgio Praça, professor da FGV e colunista de EXAME. “A postura do partido vai ficar mais clara no segundo turno. Declarações mais fortes, sobretudo de Haddad, em duas semanas podem levantar maiores preocupações”.
Isso, claro, se o PT mantiver os resultados da pesquisa e confirmar sua ida ao segundo turno no dia 7.
https://exame.abril.com.br/brasil/constituinte-de-um-e-de-outro-os-radicais-dentro-das-campanhas/
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Tem muita coisa que deveria ser revista na Constituição de 1988, não nego. Mas hoje é o pior momento possível para reformá-la.
Por que? Em 1988, por mais que existissem muitos interesses escusos em jogo, havia uma preocupação quase unânime em se garantir que o Brasil fosse um país minimamente democrático. Trauma pós-ditadura militar. Nossa constituição, goste dela ou não, ainda é eficiente para se garantir o básico de uma democracia: a separação de poderes. Tanto petistas como bolsonaristas já demonstraram diversas vezes suas tendências centralizadoras, então uma constituição capitaneada por qualquer um dos grupos estaria invariavelmente cheia de "jabuticabas" pra lá de perigosas e potencialmente autoritárias.
Das duas propostas, a do Haddad é incrivelmente a menos ruim. E isso se dá, exclusivamente, por ele não propor um "bypass" do congresso como o Mourão. Mesmo assim, há pouco ou nenhum mérito aí, porque as intenções petistas são claras: é a separação de poderes que garantiu o ipeachment da Dilma e a prisão do Lula, ambos denunciados como "golpistas" pelo partido. Ao falar em "aprofundar a democracia", está subentendido que, para eles, democracia é apenas seu próprio partido no poder. Isso é temerário.
Sozinho, o PT não teria poder para implantar uma ditadura. Mas o risco de, sob promessas de livrar a pele de todos os corruptos do país, conseguir empurrar pro congresso algumas jabuticabas nesse sentido é gigantesco. O Brasil não pode correr esse risco.
O problema é que, do outro lado, a proposta do Mourão é ainda mais assustadora. O próprio ato de se driblar o congresso já é, por si só, autoritário. Isto vindo de alguém que inventou um tal de "autogolpe militar constitucional" e que tem no companheiro de chapa a proposta descarada de aparelhar o STF não deixa qualquer dúvida sobre as reais intenções.
Apesar das tentativas desonestas de se minimizar, uma constituição feita por "notáveis" nunca será legítima num país democrático. Gilmar Mendes é, inegavelmente, um "notável" jurista. Você gostaria de uma constituição escrita por ele? Será que o Mourão gostaria? Qual o critério para se escolher os "notáveis"? Não há critério objetivo, por isso qualquer coisa que burle o voto popular será automaticamente autoritária e perigosa.
Ah, e por mais que eu seja um entusiasta da democracia direta, botar uma carta magna inteira para plebiscito, como propõe o Mourão, não serve para legitimá-la. E também não é democracia direta. Alguém realmente acredita que a população, majoritariamente ignorante sobre o funcionamento das instituições do país, é capaz de analisar ponto a ponto um documento tão extenso e complexo e identificar eventuais problemas? Eu não seria.
Independente de qual dos demônios você escolher num eventual segundo turno entre Bolsonaro e Haddad, uma coisa é certa: não podemos apoiar uma reformulação constitucional. Não neste momento. Nos resta torcer para que o vencedor desista de mudar a constituição e, caso isso não ocorra, não tenha apoio popular para tanto. Até ditaduras precisam de legitimidade para se instaurarem e, se a maioria de nós se manifestar contra, eles não terão força política para fazê-lo.
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