Somos todos androides nesse espaço aonde as identidades são ainda mais ilusórias e toda conversa acaba por ser um Teste de Turing no qual conversamos com as mesmas pessoas se passando por outras, aonde há uma performatividade, traições, infiltrados e as mais diversas tribos (talvez só uma, na real, rs).
Por isso não confio em ninguém aqui além de conversas esporádicas, agenciamentos estratégicos de opiniões (seja lá quais forem, tanto faz), e aqui mais do que nunca um potente marxismo à direita procura intensificar ciclos cibernéticos para fora de quaisquer codificações paralisantes. É um
rizoma cibernético, em direção ao fora (ciberpositivo).
Sou um robô também, mas diferente da programação padrão, sou alinhado com o xenosistema que invoca a potência que vem do futuro.
No que se refere ao tópico, a direita na internet e na vida real nesse episódio foi limitada, dogmática e tinfoil hat. Chegou ao abismo e se igualou à esquerda nos seus impulsos identitários e tribais. É um episódio que fortaleceu mais ainda o
Konami Code e sua dinâmica NPCzadora, nessa forma da mais baixa.
A atitude geral de quem se diz "à direita" vai ao oposto do que "ela" poderia representar, fazer uma fuga das codificações, destruir a esquerda e deixá-la sozinha nesse teatro da sectarização.
No entanto, previsivelmente, a maioria das pessoas se guiam quase sempre por transcendentais (valores que são modelos, pairam acima das coisas, que determinam o controle, esmagam a transformação criativa, e que não nascem dos próprios encontros [imanentes], da matéria que pulsa, do que causa a POTÊNCIA no CONTINGENTE), e dessa forma, a direita apenas repete hoje o sistema de alinhamentos automáticos, atitudes tribais desmioladas, se guiando por códigos iguais aos petistas e esquerdistas em geral.
O
Konami Code é uma hierarquia de valores, modos de posicionar ou ser posicionado, na política, na estética, na sexualidade, na sociedade, etc. É um regime de funcionamento. A política é somente um exemplo, que é colocada a serviço desse regime de funcionamento, de direções, que não é exclusivo dela.
Segue uma
lógica "arborescente", e como um plano cartesiano de codificações (as bússolas e diagramas políticos), é um espaço métrico, tem uma característica dimensional (escala de medida, menos ou mais), ou seja, não apenas a posição é medida, mas dada dentro de uma escala/dimensão.
Quando você é medido, lhe é atribuído algo, é dado um predicado, uma identidade fixa.
E se eu não me enquadrar aqui, quiser outra dimensão? Não há um fora, o espaço já está dado, lhe precede, você acaba condicionado por contornos. Mas ainda assim, nessa matéria vital que pulsa, há um excedente, surplus vital, que escapa dos diversos enquadramentos...
Você pode assumir um ponto de vista que busca fazer esse enquadramento, e portanto, contenha e (ao menos tentativa que) dome o fora.
Ou pode assumir o ponto de vista que reconhece essas cristalizações, sedimentações, sedentarizações, porém que assuma a posição das transformações, do que excede, do que escapa, do que foge, do que faz fugir.
Isso é o que os ciberneticistas filosóficos Deleuze e Guattari chamam de rizoma, que também é um modo ou regime de funcionamento, modo operativo, maquínico.
No modo do Konami Code isso não acontece porque esse excedente é descartado. Ainda que o excedente seja o principal, aonde a existência é mais apaixonante, a exceção que mobiliza, aquilo que dá sentido a todo o resto, mesmo que seja absurdo, non-sense, que seja um pequeno gosto perverso. Cada um tem um mapa dos seus pequenos gostos perversos, que não aparecem nas codificações.
As linhas dos códigos confinam os pontos. É a sedentarização (o que define segmentos representativos, inimigos a serem combatidos nesses alinhamentos automáticos).
Para eu viver, estar, agir, acontece uma luta de espaços. Na real, liberdade para colocar o PROBLEMA é o que importa. O paradoxo é que essas redes (Facebook, por exemplo) ao mesmo tempo que dão liberdade para participar, para falar, colocar as nossas opiniões, parece que o que emitimos já encontra um lugar, a opinião é engolida, encaixada em narrativas já homologadas, já está definido de antemão, etiquetados. (O
marxismo de direita causa uma tela azul nesse sistema.)
A própria construção da liberdade se dá no limiar do que estamos atrelados a essas estratégias.
O certo é discutir esses espaços, modos de funcionamento operativos, em suas nuances, em seus limiares, aonde tudo é estratégia, aonde não há dimensões claras, prévias, aonde há instabilidade, aonde suscitam-se fugas. E elas são suscitadas por todos os lados.
No fato que existam devires, não significa que estamos à altura deles, que possamos enxergá-los. Contar com eles para a criação. Todo o esforço do Mil Platôs - obra de Deleuze e Guattari - é um esforço ético de estar a altura desses devires.
"Rizomas", ao contrário do Konami Code, são caules ou hastes que se espraiam muito próximos da superfície, como a grama e as ervas em geral. A agressividade das ervas é crescer no meio das coisas, irromper aonde se menos espera, encontrar as suas lógicas locais, aonde elas irrompem.
Não tem um centro. Crescem pelas bordas. Encontra um problema e elabora uma solução contingentemente, sem programação fechada. O rizoma bordeja. É próximo dos cristais, pois não tem programação fechada. Há sempre um Fora.
É uma discussão que remete à diferença entre estrutura e máquina, na qual na última há uma abertura para o fora da própria estrutura. O rizoma e o cristal não apenas dependem do Fora, do meio, como também é essencial esse fora, de maneira que eles se definem por esse fora.
"O maquínico é mais do que apenas máquinas — ele aborda a tecnologia a partir da questão da organização. O termo foi primeiro usado por Guattari num artigo de 1968 intitulado “Máquina e estrutura” [NT. contido no livro “Psicanálise e Transversalidade”, com edição em português], que ele apresentou à Escola Freudiana de Lacan em Paris, um artigo que fez decolar a parceria com Deleuze. Nesse artigo, Guattari defende o conceito de máquina em relação ao de estrutura. Estruturas transformam partes de um todo mediante a troca ou substituição de particularidades, de modo que cada parte compartilhe a forma geral (noutras palavras, a produção do isomorfismo). Um exemplo político fácil disso seria o Partido Leninista, que faz a mediação entre interesses privados até que se forme a vontade geral da classe. Máquinas, ao contrário, tratam a relação entre as coisas como um problema de comunicação. O resultado é o “controle e comunicação” da cibernética de Norbert Wiener, que conecta coisas distintas num circuito, em vez de implantá-las numa lógica geral. A palavra “máquina” nunca realmente pegou, mas o conceito fez incursões nas ciências sociais, onde a teoria ator-rede, teoria dos jogos, behaviorismo, teoria dos sistemas e outras abordagens cibernéticas ganharam aceitação."
Se não houvesse esse fora seria uma espécie de DNA, aonde sempre ocorre a programação do mesmo. Não há essa programação.
Por exemplo, não existem dois bulbos ou tubérculos iguais porque o fora é constitutivo da estrutura. O rizoma se define por uma relação preferencial com o fora. As sociedades devem ser definidas por essas linhas de fuga.
Não tem centro, como também tem uma pluralidade de lógicas, na medida que é aberto ao fora, persevera no ser e na existência, e nisso ele "devem". Metamorfose e diferenciação permanentes e internas.
Não é uma questão relativista, de adotar um ou outro ponto de vista (Konami Code ou rizoma). Ao adotar tal ponto de vista, constitui-se outra subjetividade. O
ser (identidade/código, Konami Code) tem seu valor estratégico quando apreendido junto do
devir.
Por exemplo, as identidades podem ser paradas, são distensões táticas, podem ser retaguardas, mas enquanto pontos de parada, pontos de enquadramento, elas devem ser enxergadas pelas linhas, pelos movimentos que as arrasta, que as leva para outros pontos.
O
dualismo (Konami Code e rizoma) aqui só é introduzido para se livrar dele. É necessário passar pelo ser, por esse platonismo, pelos modos sedentários, pelos espaços estriados, por essa bússola política intermediária (parindo um marxismo de direita), para se livrar dela. O dualismo de modelos para atingir a operação que se recusa todo modelo. Ainda que Konami Code e rizoma sejam duas tendências, modos de funcionamentos, e por isso eles coexistem. Não há um separado do outro.
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