[SIZE="2"]Depois de segurar o disco por 14 anos, Axl Rose volta à cena
Jornal do Brasil[/SIZE]
RIO - Axl Rose manteve o dedo no gatilho de seu Guns N' Roses por quase 14 anos. Mas agora parece que a banda vai finalmente disparar Chinese democracy, seu primeiro disco de estúdio desde 1993. Já em pré-venda na loja virtual Amazon.com, o álbum vazou na internet. Seis canções (Better, Chinese democracy, I.R.S., Madagascar, Sorry, The blues e There was a time) eram conhecidas em versões anteriores, gravadas em ensaios ou em shows. Outras três (Rhiad and the bedouins, This I love e If the world) ainda não haviam sido espalhadas virtualmente.
O site
www.antiquiet.com, que ofereceu as canções, publicou uma nota afirmando que as faixas já estavam em suas versões “masterizadas e finais”. A pedido do próprio Guns N' Roses, o site retirou as músicas do ar no mesmo dia. Mas foi tempo suficiente para que os arquivos em MP3 se espalhassem pela rede.
Quatro críticos do Jornal do Brasil avaliaram Chinese democracy – sem exagero, um dos mais aguardados (e definitivamente o mais adiado) discos de rock das últimas duas décadas, e que pode reabilitar a carreira de Axl. Ou sepultá-la de vez.
Um dia, há muito tempo, houve peso
Marco Antonio Barbosa
Se esses MP3 vazados forem realmente o núcleo do novo disco do Guns N' Roses, o futuro do grupo não parece muito... róseo. Para o Axl Rose safra 2008, amadurecer significa empregar sintetizadores e batidas programadas a rodo e despir praticamente toda a contundência do som de sua banda – que já foi, vejam vocês, uma das mais pesadas do mundo. As anunciadas influências do rock industrial e da música eletrônica se consumam de forma pouco inspirada. Tecladões atmosféricos e beats chochos (com as guitarras lutando por espaço) conduzem faixas como I.R.S., There was a time e Madagascar. Na faixa-título, sobrevivem alguns riffs agressivos, que ganham maior destaque na melhor do pacote, Rhiad and the bedouins. Mas o negócio se complica em definitivo na pálida This I love (e olha as programações e os sintetizadores aí de novo!) e em If the world, uma bizarra balada-funk (!) com violões meio ibéricos (!!). Para quem não suporta o grunhido gutural, marca registrada do vocalista, boas novas: apenas em The blues Axl solta a franga de vez.
Voz chorosa estraga músicas boas
Ricardo Schott
Chinese democracy pode até agradar a fãs antigos. O problema está nos detalhes. Menos mal que não tenha Axl Rose bancando o rapper, o que seria um mico supremo (e que ele já pagou no Use your illusion II, de 1991, com My world), mas tem uma tentativa bobinha de nu metal em Better. IRS é um bom hard rock, mas Axl assusta tentando mostrar, na introdução, que sua voz evoluiu e que ele pode cantar como um Steven Tyler ou Robert Plant – e não pode. O drama continua em The blues, interessante balada de piano, mas repleta de vocais chorosos. Música boa mesmo, sem sobrar nem faltar, só tem em There was a time, na faixa-título (com vocal irreconhecível de Axl, quase aproximando o novo Guns da displicência punk) e na pós-grunge Rhiad and the bedouins. No mais, prepare-se para ouvir, em If the world, Rose se esgoelando em meio a violões ciganos e programações, atuando não como o grande cantor de rock de Appetite for destruction (1987), mas como um canário pop prestes a disputar espaço nas FMs com Rihanna.
Expectativa vira espetáculo nulo, patético
Nelson Gobbi
Como um antigo jingle de TV, o agudo da voz de Axl Rose cada vez mais parece ressoar um passado indefinido, perdido entre os anacronismos da memória afetiva. As faixas do “álbum eternamente adiado” reforçam esta sensação, mesmo para quem tratava como tesouro uma cópia de Appetite for destruction. O que era expectativa se esvai num espetáculo patético, tanto pelo esforço de Axl de alcançar as notas do auge da carreira como pela performance sem imaginação do restante da banda. A fórmula que somava hard rock, baladas, riffs e uma presença elétrica no palco, responsável pelos mais de 90 milhões de discos vendidos pelos Guns N' Roses, é repetida de forma atabalhoada, sem produzir um resultado coeso. As tentativas de modernizar o antigo som do grupo, em temas como This I love e na faixa-título, só acentuam o declínio de uma trajetória tida como uma das mais promissoras do rock. Uma década e US$ 13 milhões depois, Chinese democracy não disse ao que veio – e nem o porquê.
Wanessa Camargo já tem repertório
Braulio Lorentz
Com uma seqüência de faixas melosas até a última trancinha de cabelo ruivo, Chinese democracy – que ganhou do jornal The New York Times o título de “o disco mais caro já feito” – só funciona quando se aperta a tecla nostalgia. Mas tem que apertar bem forte. E duas vezes. A única possibilidade de dar um sorriso ao som de The blues é imaginá-la numa versão em português cantada por Wanessa Camargo. As pausas, o berreiro e o arranjo “Axl, você é uma diva” piscam para as peculiaridades vocais da neta de Francisco. Do peso e da ousadia anunciados pelo líder da banda sobram pequenos punhados (de farofa) em canções como Better e There was a time. Em todas as músicas, Rose escolhe o fim (prepare-se para sustos) para cantar como se não houvesse amanhã, tal qual fez em Oh my Good, tocada na subida de créditos do filme Fim dos dias, de 1999; e que prenunciou toda a novela.