É complicado esse tipo de vídeo. Geralmente quem vai acreditar nesse tipo de coisa, dificilmente vai chegar e estudar biologia pra saber se o que ele está falando é verdade. E o Adauto é famoso por pegar as pessoas nessa semântica boba. Ele já começa chamando "forma transicional" (ou forma de transição) de "elo" de transição. Só pra não perder totalmente o termo elo-perdido que já ficou tão avacalhado que até os criacionistas não gostam mais.
O fato é que nós temos, sim, registro fóssil de peixes, anfíbios e formas transicionais entre eles. Lá no começo dos terapodas existem o que chamam de peixes com o começo de surgimento de estruturas características anfíbias. Existe um campo inteiro de estudo só da formação da cavidade glenóide no clado dos tetrapodomorpha.
O que o Adauto faz aí é começar a contestar do que é que chamam o animal pra tentar cair numa armadilha semântica. O fato é que o animal vai ser chamado de "peixe" (Não que o termo seja muito bem visto na biologia moderna) até que arbitrariamente chamemos ele de outra coisa. E ai ele vai bater o pé que ou é peixe ou é anfíbio.
Não importa que os fósseis tenham características intermediárias, não importa que seja um anfíbio com características de peixe, ou um peixe com características de anfíbio. Aparentemente a evolução inteira vai ruir por semântica.
Um exemplo muito bom é o archaeopteryx. Ignorando que na biologia as aves fazem parte do clado dos répteis, por questão de simplicidade vou considerar que são coisas distintas. O Archaeopteryx é um dinossauro com várias características das aves modernas, ele não é necessariamente um ancestral direto das aves modernas, mas faz parte de um grupo de therapodas que estavam compartilhando diversas características com as aves.
Essas características são tão compartilhadas que houve muito debate se a espécie/gênero era uma ave ou um dinossauro (na verdade um dinossauro não-aviano ou uma ave, já que aves fazem parte do clado dos dinossauros). O que criacionistas como o Adauto faziam, e ainda fazem, é achar que porque em algum momento o archaeopteryx ficou classificado como sendo um dinossauro, ele não é mais uma forma transitória. Se nós tivéssemos um termo pra "semi-ave" o que ele diria é que ou é dinossauro, ou é semi-ave ou é ave.
Ironicamente, volte e meia surge um termo informal pros pré-tetrapoda (Stem-tetrapoda) significando "semi-peixe".
Ai, dependendo da linha que o criacionista segue, se ficar muito complicado discutir sobre as especificidades de cada uma dessas supostas lacunas que eles alegam, ai a estratégia se torna atacar o registro fóssil em si. Isso, claro, quando a pessoa não dá uma de
Futurama.
Esse tipo de argumento não é recomendado nem pelos próprios grupos que promovem criacionismo, porque ele não é um argumento biológico, ele é mais uma armadilha semântica e de apelo. Existe um motivo pelo qual pesquisadores de criacionismo/design inteligente geralmente tentam se separar do que muitas vezes chamam de "baixo clero" da discussão.