Bom, por onde começar?
Pra avaliar esse remake, creio ser inevitável a comparação com os outros jogos, em especial os 3 primeiros e os outros dois remakes.
Assim, acho que é pertinente fazer uma explanação sobre o que eu esperava destes dois últimos remakes. E o melhor exemplo pra explicar bem o que eu gostaria que esses remakes tivessem sido é o primeiro remake da série.
O remake do Resident Evil 1 é o remake perfeito. Absolutamente tudo o que tinha no original foi transportado e melhorado pro jogo do Gamecube. Todos os cenários estão lá, todos os monstros, todos os finais, não importando se eram canônicos ou não, todos os momentos importantes, e até mesmo momentos pouco importantes e muitas vezes esquecidos, como vc voltar pra falar com o Wesker antes de ir investigar o tiro, está tudo lá. Nada foi deixado de fora. Mas não é (só) por isso que o REmake é a melhor releitura já feita de um jogo.
Além de manterem e melhorarem tudo o que fez o original um jogo tão marcante pra época, eles foram lá e ainda expandiram aquele mundo. Novas salas, novos puzzles, novos inimigos, que traziam junto mais detalhes sobre a história. RE remake tem tudo e mais um pouco que o RE1 tinha. O jogo foi tão perfeito que, para o bem ou para mal, acabou por substituir o original.
Aí vem o anúncio do RE2 remake, que os(nós) fãs tanto pediram(imos). E, naturalmente, o que esperar desse remake, depois de termos um remake tão primoroso para o primeiro jogo? Um remake tão fiel e expansivo quanto o anterior, é claro. Tendo em vista o histórico, não era absurdo esperar que o RE2remake fosse maior e melhor que o original.
Mas aí veio a dura realidade. No que parece ter sido resultado de um desenvolvimento rushado, apressado para cumprir a data de lançamento, RE2 remake vem com uma experiência excelente, porém, incompleta. Os dois cenários de cada personagem do jogo original foram multilados, sob a desculpa de criar uma história mais coesa. Contudo, o resultado não poderia ser mais diferente do que o supostamente pretendido, com uma história cheia de furos, com personagens morrendo duas vezes na mesma time-line, batalhas com bosses e outros eventos repetidos, o que resultou em 4 cenários que são praticamente idênticos.
O segundo remake não apresentou o mesmo cuidado do primeiro. Os cenários expandidos do modo B foram cortados (o modo B do remake por si só é muito inferior ao do original), uma área inteira (Marshalling Yard, área que ligava os esgotos ao laboratório e que tem certa relevância na história, já que indicava que o laboratório da Umbrella não era exatamente embaixo da cidade, mas sim em uma zona mais afastada do centro, o que, pessoalmente, faz muito mais sentido, considerando os eventos da série) foi cortada do jogo e certos inimigos simplesmente deixaram de existir.
E apesar de que o que foi mantido no jogo ter recebido um
overhaul completo (e muito bem feito, na maior parte, há de se dizer), nada foi amplamente expandido ou adicionado, com a exceção da pequena parte do orfanato, que deixa a impressão de que poderia ter sido melhor aproveitada.
A Capcom até tentou jogar o migué de que o jogo seria uma reimaginação e não um remake, mas isso é conversa pra boi dormir. No anúncio do jogo estava escrito com todas as letras "Resident Evil 2 REMAKE". Reimaginação é o que a Konami fez com o SH Shattered Memories, que tem um setting similar ao primeiro SH, mas o resto do jogo é totalmente diferente.
Por fim, a sensação que tive com o remake do segundo jogo foi a de um jogo sensacional, mas que poderia ter sido bem melhor, se os devs tivessem tido tempo para dar o mesmo cuidado que foi dado ao remake do RE1. Dessa forma, considerando a expectativa que eu tinha graças ao remake do primeiro e o resultado do segundo remake, não tinha como não ficar ligeiramente decepcionado com jogo.
E aí vem o anúncio do Remake do RE3. Com o pouco tempo entre o lançamento do jogo anterior, o anúncio e a data pro lançamento do terceiro remake, era óbvio que esse jogo teve um desenvolvimento ainda mais rushado do que seu predecessor. Juntando isso com a decepção com os cortes do jogo anterior, meu hype com o novo remake não era muito grande, mesmo eu sendo um grande fã do jogo original. E os rumores que vieram depois não ajudaram... Clock Tower e Grave Digger cortadas... não era um bom sinal.
Eu mantive meu hype razoavelmente baixo e esperei o jogo ser lançado para avaliar com meus próprios olhos.
E devo dizer que fui surpreendido. O jogo é muito melhor do que o meu hype baixo e os reviews negativos me levavam a crer.
Primeiramente, em questões técnicas, este jogo está muito melhor que o anterior, os gráficos estão mais bonitos, o jogo está mais leve, a jogabilidade está melhorada, com a inclusão das esquivas e é notável a maior quantidade de inimigos na tela em determinados momentos. Alguns sacrifícios foram feitos, como a retirada de maiores detalhes de gore e a utilização de itens de defesa, mas isso é compreensível, considerando a quantidade de detalhes na tela e as novas mecânica da faca e da esquiva, respectivamente.
Quanto ao jogo em si, ele tem seus altos e baixos.
A introdução do jogo, no apartamento da Jill é interessante, e a fuga do Nemesis logo ali é legal, contudo fiquei com a impressão de que aquele encontro, naquele momento, mina um pouco a apresentação do Nemesis, que era mais impactante no original (vou voltar nesse ponto mais pra frente).
Outra coisa que corta o impacto visual do Nemesis é o fato do rosto dele estar encoberto por aquelas faixas. O rosto do Nemesis é muito característico, e ele estar encoberto não me agradou muito.
A fuga pelas ruas da cidade é legal mas muito corrida. Tudo passa muito rápido e vc não tem muito tempo de olhar os cenários, de apreciar o que está acontecendo a sua volta. Some isso ao fato de que vc não volta nesses locais, e a sensação de linearidade e de pouca duração do jogo é bem presente nesse começo.
Nesse começo vc encontra o Brad, ele é mordido dentro do Bar Jack, vc encontra o Dario Rosso, sobe num estacionamento e um helicóptero explode quando vc vai em direção a ele.
Primeiramente, a cena com o Brad, apesar de mostrar um lado mais corajoso do piloto, também não tem o mesmo impacto da cena original com o Nemesis. Acho que teria sido muito melhor se ele tivesse se sacrificado pra salvar a Jill do Nemesis, sendo essa a primeira aparição do monstrão.
Quanto ao Dario, apesar da expansão do diálogo dele, o personagem ficou mais raso. Não faz menção à filha perdida, e como vc não volta mais no armazém, vc tbm não encontra mais ele morto e nem pega o diário dele, que ajuda a aprofundar um pouco o personagem. Infelizmente, é mais um personagem secundário que foi "planificado" nos remakes.
E a queda do helicóptero, adivinhem... também não tem a mesma carga dramática da respectiva cena do original. Enquanto no original vc já tinha passado por diversas situações e pode realmente acreditar que a chegada do helicóptero pode ser a saída da cidade, no remake é só mais uma cena de explosão que, por sinal, não tem causa aparente, já que não mostra o que explode o helicóptero. O Nemesis aparece logo em seguida, mas não tem nada que demonstre que foi ele que derrubou a aeronave, nenhuma rocket launcher nem nada.
O jogo só começa de fato no metrô, no mesmo local da demo. E infelizmente, essa parte é a única parte nas ruas que realmente tem alguma profundidade. Todo o resto é bem linear, e não oferece muita exploração e quase nenhum backtracking, o que é uma baita oportunidade perdida. Seria muito legal se fosse possível passar por diversas ruas, com caminhos alternativos e rotas diferentes pra chegar a um objetivo.
A parte de estação de energia é bem legal e tem uma certa tensão. Os Drain Demos ficaram muito nojentos e ficar fugindo naqueles corredores que lembram a Corruption do Dead Space foi um dos pontos altos do começo do jogo. O lado ruim é que essa parte é curta e em nenhum outro momento do jogo vc encontra esses inimigos de novo. Pelo menos mais um cenário que eles aparecessem teria sido legal.
A parte dos esgotos é muito boa, e muito melhor do que a parte respectiva no RE2 remake. Os Hunters Gamma ficaram com um visual muito legal e são inimigos bem ameaçadores, e não chegam a ser irritantes que nem os G-adults no outro jogo.
A cena no prédio em demolição é legal, apesar de bastante scriptada. A batalha com o Nemesis com o lança-chamas é muito boa.
E outra oportunidade perdida é a Jill não passar na R.P.D.. Vc passa no portão do estacionamento da delegacia, custava colocar alguma cena com a Jill lá?
Depois vem a cena com o Kendo, que é legal, e a fuga do Nemesis com a Rocket Launcher. Novamente a linearidade do jogo é algo que incomoda um pouco aqui.
A Jill volta pro metrô e aí a gente começa a jogar com o Carlos na R.P.D.. Essa parte é bem legal e faz várias referências ao jogo anterior, inclusive uma que devia estar naquele jogo e não neste (vou comentar sobre isso mais pra frente). Só não curti o fato dos buracos feitos nas parede da delegacia terem sido feitos pela bomba, e não pelo Nemesis, durante uma eventual passagem da Jill por alí, o que teria sido muito mais legal.
Ao retomarmos o controle da Jill, passamos por alguns breves corredores subterrâneos e saímos próximos da Clock Tower. Aqui vem uma das maiores decepções com o jogo. O cenário já está lá, custava ter feito uma pequena seção do jogo ali, antes de outra boss fight? Teria sido muito interessante uma Clock Tower com um design que lembrasse a mansão Spencer e os eventos do primeiro jogo, culminando com a batalha com o Nemesis na parte da frente da torre.
Batalha essa que poderia ter sido com uma forma diferente do Nemesis. Inicialmente eu não tinha gostado da forma cachorrão do Nemmy, mas ao ver ela em gameplay eu até que curti. O problema é que temos duas boss fights basicamente idênticas com a mesma forma do Nemesis. Ter colocado aqui uma batalha com a forma cheia de tentáculos dele teria sido bem melhor, deixando a batalha com o cachorrão pro laboratório.
Em seguida temos a parte do hospital com o Carlos, o que provavelmente é a melhor parte do jogo. E aqui tbm enfrentamos os Hunters Beta, que ficaram sensacionais. Rápidos, resistentes e muito perigosos, eles definitivamente fizeram jus aos hunters anteriores (ao contrário dos hunters do Revelations).
Eu só não gostei do fim dessa parte. Depois de jogar
RE4 a exaustão, RE5, RE6, Revelations 1 e 2, além dos 3 Dead Space, eu já estou meio de saco cheio desses momentos de "arena", onde várias ondas de inimigos aparecem e vc têm que sobreviver um determinado tempo e/ou matar um número x de inimigos.
Depois disso vem a última parte da Jill, onde é possível voltar em algumas salas do hospital para pegar alguns itens e depois ir para o laboratório subterrâneo.
Eu acho que a sequência Parque => Dead Factory do original faz mais sentido, considerando que a Dead Factory (ou Disused Plant na versão japonesa) é uma instalação de descarte de rejeitos biológicos que, assim como o laboratório do RE2, ficava mais afastado da cidade, a fim de esconder melhor as atividades ali realizadas, além de ser menos preguiçoso do que "laboratório subterrâneo da Umbrella 3: NEST 2".
Mas tenho que admitir que o design desse NEST 2 ficou muito legal e, honestamente, melhor que o NEST do RE2. Eu preferia que esse design estivesse no laboratório do RE2r, e trazendo de volta a Dead Factory pro RE3r.
E nessa parte finalmente temos a aparição em um main game do Pale Head, que já devia ter estreado no jogo anterior (ele só aparecia no Ghost Survivors).
As duas últimas batalhas com o Nemesis são legais, mas como eu já disse ali em cima, seria melhor se a luta com o cachorrão tivesse ficado só aqui no laboratório.
Por fim, a fuga da cidade é meio meh. Eles escolheram o pior final do jogo original pra colocar nesse aqui. Teria sido bem melhor se o Nicholai tivesse escapado com o helicóptero e o Barry aparecesse para salvar a Jill.
Quanto aos personagens, Jill e Carlos estão muito legais e bem melhorados em relação ao original, assim como Mikhail, Tyrell (que tinha uma participação minúscula) e Nicholai. O Murphy, coitado, tem uma participação tão curta quanto antes.
O Brad, como eu já disse, acredito que teria uma participação melhor se morresse pro Nemesis, afinal, o monstrão estava lá pra caçar os S.T.A.R.S..
A adição do Dr. Bard é providencial, ajudando a explicar pq o hospital tinha a vacina.
Tenho só algumas ressalvas quanto o Tyrell e o Nicholai. No original, os dois eram supervisores da missão da U.B.C.S., então devia rolar um mistério maior em relação aos dois. E creio que a morte do Tyrell seria mais impactante se fosse pelas mãos Nicholai.
As motivações do Nicholai no remake ficaram clichê demais e ele deveria ter escapado da cidade, como eu já disse ali em cima, tanto pra estabelecer a possibilidade de um retorno dele como vilão mais pra frente na série quanto pra possibilitar o resgate da Jill pelo Barry.
Com relação à trilha sonora, apesar de ainda não estar no mesmo nível dos jogos clássicos, a trilha desse remake é muito melhor do que a do remake do 2, trazendo músicas mais memoráveis e que lembram mais os temas do jogo original. Ouvir o tema na sala de save é muito bom.
Com relação aos files, esse jogo dá de 10 a 0 no remake anterior. RE2r quase não tinha files e muitos eram super curtos e não traziam o mesmo aprofundamento do lore do jogo. Já esse remake tem muitos files, quase que completando a cota de files do RE2 e a própria. Inclusive, na delegacia, tem um file que faz menção a um cara sendo preso com explosivos, que era um file que estava no RE2 original!
E como eu já escrevi demais, melhor ir parando por aqui.
Como eu já disse em outros posts, eu achei esse jogo muito bom, e que como um jogo separado, merece uma nota 9. A campanha é sólida e divertida, com momentos marcantes. O que pesa contra aqui é a maior linearidade e a falta de um conteúdo além da campanha principal. O jogo, por exemplo, tem apenas 1 roupa extra (pra quem não comprou o jogo na pré-venda), o que é muito pouco. Um modo extra
single-player, como o Mercenaries, faz falta aqui.
E ao contrário do alguns já disseram aqui, o Resistance não serve pra suprir essa lacuna, por mais que a Capcom e alguns outros queiram. A experiência é totalmente diferente, quase que diametralmente opostas. Um multiplayer normal já não seria o ideal para completar o conteúdo de um RE, um multiplayer assimétrico então...
Como um remake do RE3 de 1999, porém, ele fica devendo um pouco mais, por isso a minha nota nesse aspecto é 7 (tendendo a 6.5). Apesar da adição de bons segmentos como a delegacia, o esgoto e o hospital, partes como a Clock Tower, o Parque e a luta contra um outros boss (que não o Nemesis) como a Grave Digger fazem falta.
O Nemesis também não mostra a que veio, tendo a sua atuação como perseguidor limitada a uma parte muito pequena do jogo. Como dito anteriormente, a parte das ruas deveria ter sido expandida mais, o que daria mais oportunidades para aparições do Nemmy. Nesse ponto, o Mr. X cumpriu muito melhor esse papel. De uma forma engraçada, parece até que os papeis dos dois monstros ficaram invertidos nos dois jogos.
Por fim, já vi muita gente internet afora dizendo "
herp derp, mas se quiser jogar a parte X, joga o original então, herp derp".
Caspita! Se eu tô jogando o
REMAKE de um jogo, eu quero ver a parte X daquele jogo na merd* do remake. Se o remake não tem a parte X do jogo, então esse remake falhou nesse ponto.
Mas já deu, já escrevi demais.
Meus pensamentos são esses aí.