PEC do voto impresso: Lira chama exibição de blindados de 'trágica coincidência' e pode adiar votação
Presidente da Câmara diz que Bolsonaro negou intuito de usar veículos para ameaçar Congresso. Análise da PEC foi marcada para esta terça; parlamentares pedem que STF barre exibição.
O presidente da
Câmara,
Arthur Lira (PP-AL), chamou de "trágica coincidência" o anúncio de uma exibição de veículos militares blindados na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, nesta terça-feira (10) – mesmo dia em que o
plenário da Casa deve analisar a PEC do voto impresso.
A impressão do voto depositado na urna eletrônica é defendida pelo presidente
Jair Bolsonaro, que tem feito
ataques sem provas ao sistema eleitoral e
já ameaçou agir "fora das quatro linhas" da Constituição.
Em entrevista ao site "O Antagonista" nesta segunda (9), Lira afirmou que
pode inclusive adiar a votação da PEC se houver pedido dos líderes partidários.
"Eu encaro isso como uma trágica coincidência. Não é que eu apoie essa demonstração. Bem verdade, eu procurei informações, essa operação Formosa acontece desde 88 aqui em Goiás”, disse Lira.
“Não é uma coisa inventada, mas também nunca houve um desfile para a operação Formosa na Esplanada dos Ministérios que foi parar na frente do Palácio do Planalto. Eu acredito que, com relação à votação, não deveremos ter problema. Se os deputados quiserem e a população achar que é conveniente, podemos, a gente pode adiar a votação”, declarou Lira ao "Antagonista".
Em meio a tensão entre poderes, militares farão desfile de blindados em Brasília
De acordo com a Marinha, o treinamento militar "operação Formosa" acontecerá na próxima semana em Formosa (GO), mas o comboio que saiu do Rio de Janeiro passará por Brasília nesta terça.
Pela primeira vez, os veículos passarão pela área central de Brasília e pelo Palácio do Planalto, ao lado do Congresso. O objetivo desse percurso inédito, segundo a Marinha, é entregar pessoalmente um convite para que Jair Bolsonaro participe do treinamento.
Bolsonaro nega intimidação, diz Lira
Na entrevista, Lira disse que o país está "polarizado" em relação à PEC do voto impresso. Segundo o presidente da Câmara, a exibição dos carros blindados das Forças Armadas "dá cabimento para que se especule algum tipo de pressão".
Lira diz, no entanto, que conversou com Bolsonaro e ouviu do presidente da República que o objetivo do evento não seria pressionar o parlamento.
“Entramos em contato com o Palácio [do Planalto], falei com o presidente, que nos garantiu que não havia esse intuito. Mas quero dizer que não é usual, e esse tipo de especulação cabe nesse momento, embora a coincidência trágica da agenda da Câmara com essa passagem dos blindados para Formosa realmente apimenta esse momento”, declarou.
Comissão já rejeitou PEC
No fim da última semana, Arthur Lira já havia dito que
levaria o tema a plenário – para que os 513 deputados pudessem votar. Nesta segunda, o deputado confirmou que o tema deve ser pautado nesta terça.
Veja no vídeo abaixo:
Se for rejeitada em plenário, a PEC é arquivada em definitivo. Se for aprovado em dois turnos, por 3/5 dos parlamentares, o texto é enviado para análise do Senado.
Aliados do governo tentam ganhar tempo para reverter a expectativa de derrota em plenário e angariar votos a favor da PEC. Já a oposição pressiona para que o tema seja analisado o quanto antes.