Líder do governo, Joice Hasselmann celebra golpe de 64 nas redes sociais, e oposição reage
Deputada do PSL-SP diz que 'verdadeira narrativa' está sendo retomada; PSOL cita tortura
26/03/2019 - 10:19 / Atualizado em 26/03/2019 - 11:24
Líder do governo, Joice Hasselmann (PSL-SP) parabenizou Bolsonaro por determinar comemoração de data que marcou início da ditadura militar Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo (09/01/2019)
SÃO PAULO - A deputada federal
Joice Hasselmann (PSL-SP), líder do governo no
Congresso Nacional , celebrou em suas redes sociais a decisão do presidente
Jair Bolsonaro de comemorar o
golpe militar de 1964. Deputados e deputadas de oposição rebateram a publicação, e a hashtag
#DitaduraNuncaMais tornou-se o assunto mais comentado do Twitter.
Nesta segunda-feira, o presidente Jair Bolsonaro determinou que as Forças Armadas comemorem o golpe militar que iniciou uma ditadura de 21 anos no país. Em sua publicação, Joice disse que essa seria a "retomada da narrativa verdadeira de nossa história". Durante o período, a ditadura militar fechou o Congresso Nacional, cassou direitos políticos, perseguiu e torturou adversários políticos e censurou a imprensa.
A Comissão Nacional da Verdade conseguiu confirmar 434 mortes e desaparecimentos de vítimas do regime militar. Segundo relatório produzido pela comissão, as violações aos direitos humanos praticados no período foram resultado de uma ação generalizada e sistemática de forma que aqueles que fossem contrários ao regime fossem reprimidos ou eliminados.
"Esses números certamente não correspondem ao total de mortos e desaparecidos, mas apenas ao de casos cuja comprovação foi possível em função do trabalho realizado, apesar dos obstáculos encontrados na investigação, em especial a falta de acesso à documentação produzida pelas Forças Armadas, oficialmente dada como destruída", afirma o relatório da comissão.
A publicação de Joice foi respondida pela deputada federal Sâmia Bonfim (PSOL-SP), que compartilhou a imagem do jornalista Vladimir Herzog após sua morte em uma das celas do DOI-Codi, órgão de repressão do regime.
— Vamos falar em "narrativa verdadeira"? Dos crimes cometidos que foram e seguem sendo silenciados? Da tentativa de eliminar as vozes divergentes? Das ordens vindas do gabinete do presidente para matar opositores? Essa é a "retomada" que a senhora defende, deputada?
Para o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), a ordem dada para que as Forças Armadas celebrem o golpe é mais um erro de Bolsonaro.
— A ordem para que as Forças Armadas celebrem o golpe é mais um vexame e uma prova do caráter fascista de Jair Bolsonaro, mas é também uma tentativa de tirar o foco da sua própria incompetência e do fracasso que é o seu governo, que está derretendo antes de completar 100 dias — disse nesta terça-feira também nas redes sociais
No relatório final da Comissão da Verdade foi indicada a proibição da realização de eventos oficiais em comemoração ao golpe de 1964.
"As investigações realizadas comprovaram que a ditadura instaurada através do golpe de Estado de 1964 foi responsável pela ocorrência de graves violações de direitos humanos, perpetradas de forma sistemática e em função de decisões que envolveram a cúpula dos sucessivos governos do período. Essa realidade torna incompatível com os princípios que regem o Estado democrático de direito a realização de eventos oficiais de celebração do golpe militar, que devem ser, assim, objeto de proibição."