"Enfim, vai ser uma queda lenta e bem gostosa de se ver, os ratos abandonando o barco dos seus conges de estimação, um monte de gente pedindo desculpas por ter caído na lorota, na esperança de salvar qualquer resquício de capital político que puderem."
Acho que não vai ter queda não. E se ameaçarem os milicos entram pra toma conta. Que conclusão ce tira desse rolo do Moro? Que essa galera tá disposta a seguir tudo conforme o que manda a regra, ou conforme o que eles querem e podem fazer? Não lembra do filho do Bolso dizendo que pra fechar o Stf era só mandar dois militares armados. Não lembra do áudio do Jucá dizendo que tava tudo fechado com o supremo e que os militares iam garantir?
Já rolou até deputado do PSL dando recado pro Glenn "...você não é imortal..."
Pois bem, muita coisa pra gente pensar, vamos por partes:
1- O acordo "com supremo, com tudo" do Jucá foi o do golpe na Dilma. Aqui, a questão era garantir o impeachment.
2- O que se desenha, ao meu ver, com os vazamentos, é a confirmação de parte da narrativa lulista: Moro e grande mídia agiram politicamente em conjunto para impedir a candidatura dele em 2018 e não jogar o país mais uma vez para um governo de esquerda. Aqui é o terreno do jogo do Glenn, mais tarde voltamos a ele.
3- A crise, agravada pela paralisação das grandes empresas, a prisão do Lula e o desgaste de imagem do PT eram dados essenciais para que a centro-direita pudesse convencer a população a embarcar num programa amargo de governo, baseado na austeridade: "vamos botar ordem nessa bagunça".
4- A campanha do bozo foi um fator não previsto como deveria por essa centro-direita, que se preparava para ganhar uma eleição fácil contra um governo queimado. A campanha midiática (que vem forte desde pelo menos 2013) foi demais da conta, esvaziou o centro do debate político, polarizou a sociedade. Surfando no sentimento de "contra todos" do brasileiro, o bozo fez campanha baseada totalmente nesse sentimento anti-político: não precisou debater projetos, não precisou mostrar propostas, não precisou convencer ninguém com argumentos.
5- O governo bozo espertamente angariou o super herói da vez. Assim como fez com parte dos ratos do centrão, com os militares, os evangélicos... Bozo, apesar de ser um b*sta, tem que fazer o que todo presidente brasileiro sempre fez: governar conciliando a infinidade de interesses dos diferentes loteamentos de poder. Ter o Moro no governo é moeda nessa economia. Quem, afinal, ficaria contra o batman de Curitiba, essa instituição nacional acima de qualquer suspeita? Bem, "acima" até semana passada.
6- A situação do Lula tava marcada pra ser julgada pelo STF no dia 25 agora. Me parece que foi adiada, mas de qualquer forma isso é futuro imediato, não vão poder adiar isso indefinidamente.
Enfim, dito isso, acho que o xadrez é o seguinte:
1- A intenção do Glenn com o vazamento é, me parece, esclarecer a opinião pública e, juntamente com ela, pressionar o STF para uma anulação do processo. Fica mais difícil a suprema corte - que é dividida - votar a favor de uma sentença do Moro que já é bem frágil ("fatos indeterminados", lembra) e agora, claramente, manchada.
2- Essa ameaça do PSL aí é juvenil e idiota, do nível daquela confusão de segunda-feira: matar ele não vai parar os vazamentos (ele já disse que o material está distribuído no mundo todo), além de deixar óbvio, na cara de todo mundo, quem mandou. Fora isso, imagina como ia pegar bem, gente ligada ao governo matar um cidadão americano.
3- Se o vazamento for comprometedor mesmo e a tese de julgamento político for comprovada, o Lula sai livre e fortalecido dessa história. E, desconfio, doido pra soltar o verbo a torto e a direito. O certo, certo, certo seria convocar novas eleições, mas isso não vai acontecer de jeito nenhum.
4- No sentido oposto, o bozo teria um dilema nas mãos e a decisão dele vai ser tomada, como sempre, de acordo com o humor da manada: caso Moro saia muito manchado, ele vai chutar o coitado do governo. Caso parte do gado ainda continue acreditando apesar de tudo, imagino que ele vá manter o Batman.
5- Ainda que no pior dos cenários, o bozo não cai não. Só se chamassem novas eleições, mas isso é tão impossível que nem o Lula nem o PT se atrevem a pedir. Governar vai continuar sendo a arte de conciliar interesses com um bando de canalhas e qualquer volta do PT (ou permanência do bozo, ou de qualquer um que esteja lá) continuará passando por negociar com os gordinhos de terno de Brasília (e da elite econômica brasileira). É preciso ter alguma normalidade e eu desconfio que até a esquerda pensa (pragmaticamente) assim.
6- A tendência, pelo menos até agora, é o governo ser bem medíocre e não entregar resultado algum. Bastante tempo pra ter desgaste e capital político minado até 2022. Se não entregar mesmo, os gordinhos podem até topar uma volta (pragmática) à esquerda. Não precisa nem ser o Lula, o candidato. Eu, pessoalmente, gostaria que não fosse, acho o projeto lulista uma coisa já esgotada, tão esgotada que resultou no golpe de 2016 (não agradava mais os gordinhos de terno).
7- Os militares, pelo menos os que estão aí, não querem dar golpe. Ao menos, não violento, com tanque e tudo mais. Eles já deram inúmeros indícios que não compartilham do ideário olavista dos filhos do bozo - que é da onde sai qualquer idéia de golpe. Eles não querem nem ter a chefia do executivo. Querem sim estar no governo e apitar, mas desse jeito "democrático" aí. E não porque são bonzinhos, mas sim porque são os entreguistas que precisam deixar a casa arrumadinha pra atrair dinheiro estrangeiro. Não existe mais aquele nacionalismo de 1964, a questão agora é puro e simples business.
8- Nesse caminho todo que eu tô traçando aqui, essa coisa que você aponta é importante mesmo: será que vão jogar pelas regras ou vão sacudir o tabuleiro? Aí eu acho que isso vai estar em constante disputa. Se não houver gente apontando ilegalidade, desonestidade e etc - como o Intercept está fazendo agora e como qualquer mídia séria faria - a tendência é os caras jogarem como quiserem. Não preciso nem dizer que isso vai fazer o Brasil retroceder algumas casas como país civilizado.