Velho, eu tenho desenvolvido um raciocínio longo e intenso sobre isso nos últimos anos e vou compartilhá-lo com vocês.
Eu sou filho de pais separados, cresci com dois pais extremamente diferentes. Ambos maravilhosos, mas com backgrounds familiares praticamente opostos.
Meu pai biológico sempre foi tranquilo. Mas meu padrasto é um bicho totalmente diferente. Errar, não é uma opção para ele. Não se pode errar nada, nem no menor nível:
A crise se instala pesado quando algo sai do que ele entende por certo.
Ele mesmo congela quando erra, realmente não sabe lidar com isso.
Criticá-lo é uma ofensa mortal, e sugestões não existem para ele (pois ele não erra, então não precisa ser melhorado ou corrigido).
Enfim, é uma pessoa imperfeita e estagnada. A muito custo consigo incutir melhoramentos e desenvolver algo com ele.
Fui entender o porquê disso, e descobri que meu avôdrasto (kkkkk) era um grandessissimo FDP quando era mais novo. Alcoolatra violento e abusivo, ele agredia o meu padrasto sem motivo, com motivo, por tédio... Batia nele até que estivesse urinando de medo. Aquilo gerou cicatrizes emocionais tão profundas, que a simples ideia de erro já o coloca em modo sobrevivência.
Tive uma funcionária que era assim também, não existia sugestão para ela, era sempre uma luta alterar suas peças e esquivar-se da responsabilidade era sua primeira reação sempre. Porquê? A mãe a agredia com cinto sem cerimônia. Vacilou, cinto cantou.
Criou uma profissional disfuncional que está sem emprego hoje em dia.
Por outro lado tem minha mãe. Primeira filha de um mega empresário (meu avô tinha uma empresa que chegou a 6.000 funcionários) e de uma juíza (coisa rara para a época, minha avó foi a única mulher da turma de magistrados dela). Minha mãe não podia errar nunca. Tinha de ser o modelo de perfeição em tudo. Notas perfeitas, comportamento perfeito, tudo perfeito. Até que ela pirou e foi pro interior. Com minha mãe é melhor não fazer do que fazer mais ou menos. E as coisas tem de ser exatamente do jeito dela. Senão tá errado. E se existe erro, começa uma investigação intensa para descobrir o culpado. Mesmo que seja pra saber quem deixou o pote de manteiga aberto (sempre era eu). Isso gerou uma incapacidade de realização e adaptação enorme na vida dela. Pra decidir um novo prato em nosso restaurante, demoramos 15 dias (se eu pressionar bastante).
Eu já tenho uma visão oposta. Tanto por ser filho e ter aquela oposição natural dos filhos, quanto por ter experimentado a escola americana de "erre muito, corrija, acerte rápido, mas faça" na pele e concordar demais com este pensamento.
Precisamos fazer, errar, testar, arriscar.
Claro que os riscos são calculados e as ações não são irresponsáveis. Mas ainda assim existe margem pra erro, pois sem errar não se melhora em nada. Não se aprimora o que já está perfeito.
O brasileiro não se permite errar, não está no nosso sangue. Muito por nossas raízes, de falta de recursos, de se poder fazer uma vez e fazer dar certo de todo jeito. Mas o brasileiro precisa aprender a arriscar, se permitir errar, e acertar mais e maior.
Aproveito e acrescento um pensamento adicional: diz se muito que o Brasileiro é o povo mais empreendedor do mundo. Será que o é por vocação ou por necessidade?
Por que gosta de arriscar e iniciar um novo negócio ou por que precisa Criar um emprego para se sustentar, já que não consegue ser contratado formalmente?
O Brasileiro é um poço de contradição e problemas psicológicos kkkkkkkk