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Tópico oficial AstrônomOS / FisicuzinhOS | 1a foto de um buraco negro p.35 | Mãe, no céu tem VY Canis Majoris? E morreu p.62 | Fotos TESUDAS James Webb p.63, 64...

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Vim do Futuro

Ei mãe, 500 pontos!
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A minha dúvida nunca foi sobre a existências dos buracos negros. Minha dúvida é sobre a função deles. Fico tentando conjecturar, levantar possibilidades... Não aceito que eles suguem toda a matéria próxima e ela desapareça. Que vá pra casa do kralho. Prefiro a ideia do "tudo se transforma". Prefiro acreditar que os buracos negros são uma recicladora de matéria.
Achar que eles são meros moedores de matéria é muito surreal. Seria como imaginar que eles podem sumir com o universo inteiro, sendo que eles fazem parte do próprio universo. É muito irracional. E o universo, se olharmos friamente, é bem racional. Até os eventos catastróficos (como colisões de planetas, estrelas e galáxias) são racionalmente explicáveis. Então, pra mim, os buracos devem ter uma explicação racional.
 

Vim do Futuro

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Este vídeo explica bem a tal imagem do buraco negro (ou o seu disco/horizonte de eventos). Está em inglês, mas podem tentar as legendas.
 

Sgt. Kowalski

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O buraco negro da Galáxia M87: Os 30 pixels que encantaram o mundo - Parte 1
654280690042ac53ab621094778375d4
Carlos Cardoso 12/04/2019 às 19:00



Levou anos e custou uma fortuna, felizmente o Event Horizon Telescope, um projeto multinacional com patrocinadores do mundo todo (você não, Brasil) tinha os dois, e conseguiram o impossível: Produzir a primeira (radio)imagem direta de um buraco negro.

Mais importante do que a imagem em si é a pesquisa ser mais uma comprovação da existência desse fenômeno cósmico. algo tão inconcebível que por décadas não foi mais que uma curiosidade matemática, um exagero teórico, mas buracos negros existem, e são a grande vingança, a vitória final da mais humilde, da mais fraca e insignificante das Forças Fundamentais do Universo, a Gravidade.
1 - Forças Fundamentais
O Universo, segundo nosso modelo-padrão da Física é mantido por quatro forças fundamentais: O Amor, A esperança-nah, zoeira. São a Força Nuclear Forte, a Força Nuclear Fraca, a Força Eletromagnética e a Gravidade.
A Força Nuclear Forte é o que mantém os núcleos atômicos unidos, ela é necessária para sobrepujar a repulsão eletrostática, do contrário dois prótons jamais conseguiriam existir juntos. Ela é extremamente forte, mas só existe em uma distância muito pequena, 10-15 metros, pouco além do diâmetro do núcleo de um átomo.
A Força Nuclear Fraca, ou Interação Eletrofraca é mais limitada ainda, seu alcance não vai além do diâmetro de um Próton, ou 10-18 metros. Ela interage apenas entre partículas próximas, é responsável pelo decaimento radioativo das partículas, transportando massa, spin e carga elétrica entre elas.
A Força Eletromagnética é literalmente responsável por tudo que a gente vê. Existe na forma de luz, ondas de rádio, campos magnéticos e na maçaneta carregada de eletricidade estática que você sempre espera um trouxa abrir antes de entrar no escritório. Ao contrário das outras, seu alcance é infinito, com sua intensidade diminuindo em relação ao quadrado da distância.

A Gravidade é a mais complicada. Dependendo do modelo ela age como uma força real ou uma pseudoforça, se usarmos o modelo de distorção da estrutura do espaço-tempo. Ela alcança o infinito, mas é muito, muito fraca.

Se a Força da Gravidade tiver um valor arbitrário de 1, a Força Nuclear Fraca teria intensidade equivalente a 1025, ou:
10000000000000000000000000 vezes mais forte.
A Força Eletromagnética é mais forte ainda, com intensidade relativa de 1036, ou:
1000000000000000000000000000000000000 vezes mais forte.
A Força Nuclear Forte atinge 1038, ou
100000000000000000000000000000000000000 vezes mais forte.
Vamos a um exemplo prático: Pegue sua caneca de café e levante, 10cm acima da mesa. Segure por um momento.
Ao fazer isso você está exercendo na caneca a mesma força que a Terra, com 5972000000000000000000 toneladas de massa. Com pouquíssima energia conseguimos gerar campos magnéticos muito mais fortes do que a gravidade:

A grande diferença é que a gravidade é cumulativa. Quanto mais massa, mais gravidade e isso não tem limite. Com pouca massa você forma objetos como Ultima Thule, o asteróide em forma de panqueca visitado pela New Horizons, além de Plutã0.

A medida que você vai acrescentando massa, a gravidade aumenta e depois de determinado ponto a força gravitacional é mais forte do que o atrito e as forças eletrostáticas mantendo a matéria unida, e esta é atraída para o centro do objeto. Como a intensidade é a mesma para todas as direções, o objeto se torna esférico. Nesse momento ele deixa de ser um asteróide e vira um planeta anão, ou uma lua, se estiver orbitando um planeta maior.
Ceres é um planeta anão com 946 km de diâmetro, o suficiente para ficar... esférico.

Esse aliás é um dos motivos básicos para Terraplanismo não fazer sentido, o básico do que entendemos da Gravidade teria que estar errado, para algo com a massa da Terra ser plano.
Se continuarmos a adicionar massa, um fenômeno começa a aparecer, e ele é bem conhecido, você já deve ter experimentado, usando algo parecido com isto:

Quem usou uma bomba de... bicicleta, isso, de bicicleta ou de bola de futebol sabe que ela fica quente. Gases comprimidos aumentam de temperatura, mas essa característica é comum a todo tipo de matéria, quando você dobra um vergalhão, se achando o Super-Homem até perceber que não é tão difícil assim percebe que ele fica quente na dobra. Isso funciona até com clipes de papel.
Agora imagine isso em escala planetária. Júpiter tem um núcleo de Hidrogênio metálico comprimido por uma pressão gravitacional imensa, que o aquece a uma temperatura de 24000 graus Celsius, mas isso é só o começo. Na falta de um Monolito, Júpiter precisaria ganhar 10 vezes a sua massa, e aí algo maravilhoso aconteceria.

Comprimido pela gravidade, o Hidrogênio atingiria temperatura de milhões de graus, com uma pressão de 250 bilhões de atmosferas, nessas condições seria desencadeada uma reação de fusão nuclear, onde átomos de Hidrogênio se combinariam em átomos de Hélio e energia. A luz e calor contrabalanceariam a pressão gravitacional, e muito mais matéria poderia ser adicionada sem que o objeto, agora uma estrela, colapsasse.
Quando uma estrela de massa entre 0.3 e 8 vezes a do Sol esgota seu suprimento de Hidrogênio a fusão no núcleo cessa, ele esfria e se condensa, as camadas externas se tornam uma concha, mas com a pressão da contração gravitacional sem a fusão para contrabalançar, a estrela volta a entrar em ignição, com o Hidrogênio das camadas exteriores servindo como combustível. Ela se expande, mas como é mais fria, sua luz é concentrada na parte vemelha do espectro, são as gigantes vermelhas.
Quando a fusão se esgota mais uma vez, caso a estrela tenha massa suficiente pode começar a fundir Hélio e até Carbono, mas na maioria das vezes ela não consegue atingir as temperaturas exigidas, e sua atmosfera, as camadas exteriores, é lançada ao espaço, como Mira A:

O que sobra é um núcleo de matéria degenerada de elétrons, um tipo de matéria comprimida pela gravidade onde um núcleo de prótons e nêutrons flutua em um mar de elétrons. Essa estrela é uma anã branca, e brilha não pela energia da fusão nuclear, que não existe mais, mas pelo calor acumulado durante a vida da estrela.
Uma anã branca pode ser muito pequena, do tamanho da Terra, mas sua matéria é incrivelmente densa, 1000000000 kg por m3, com temperatura de até 100 mil graus Celsius.
Nas estrelas de massa muito grande, entre 10 e 29 massas solares, o colapso inicial inicia uma reação extremamente violenta, queimando todo o combustível de uma vez, produzindo uma explosão mais intensa do que toda a luz da galáxia somada, é a chamada Supernova.

Depois da explosão o núcleo de uma supernova pode ter massa demais, e a força eletromagnética não é suficiente para manter a estrutura, ela ultrapassa o nível de matéria degenerada de elétrons.
Tudo é tão comprimido pela gravidade que os elétrons e prótons são fundidos, formando nêutrons.
Essa estrela de nêutrons pode ter 2 vezes a massa da Terra, mas apenas 10Km de diâmetro. Uma caixa de fósforos cheia de material de uma estrela de nêutrons pesaria 3 bilhões de toneladas, ora os fósforos.
A única coisa segurando essa estrela é a Força Nuclear Forte, mas mesmo ela tem limite, que se chama Limite de Tolman–Oppenheimer–Volkoff. Se o núcleo estelar tiver massa mais de 2.27 vezes a massa do Sol, nada consegue segurar o colapso.
Essa estrela irá se contrair, ultrapassando todos os limites, até atingir um ponto onde seu volume será zero, e sua densidade, infinita. É a chamada Singularidade, e uma enorme pedra no sapato dos astrofísicos, pois a nossa Ciência pára de funcionar lá dentro.
Nós não fazemos idéia do que acontece dentro de uma singularidade, o Universo nos impede de espionar pelo buraco da fechadura.
Note: Existe um conceito teórico onde isso seria possível, são chamadas de Singularidades Nuas, mas melhor não falar sobre elas, o Mobilon não gosta quando eu provoco o bot do AdSense...

As singularidades têm sua virtude protegida não só pelo Mobilon, mas pelo Horizonte de Eventos, que é apenas um ponto onde a velocidade de escape ultrapassa a velocidade da luz.
A melhor analogia para entender o conceito de velocidade de escape e poço gravitacional é... um poço. Ou mais precisamente um vale.
Digamos que você esteja em um rally off-road, em uma região bem selvagem, distante da civilização, tipo Niterói. Seu carro está em uma região rebaixada, para voltar pra trilha você tem que subir uma ladeira gentil, de uns 5 graus.

Não é complicado, você usa só uma fração da potência do carro.
Agora imagine uma ladeira muito mais íngreme, onde você terá que usar toda a potência do carro.

Nas duas situações você está lutando contra a gravidade, e as ladeiras com angulações diferentes podem ser vistas como um corte bidimensional de um poço gravitacional tridimensional:

A velocidade de escape é apenas a velocidade mínima que um corpo precisa atingir para escapar do poço gravitacional. Imagine o carro pegando embalo para sair da depressão.
Na Terra a velocidade de escape é de 11.2Km/s mas somente sondas planetárias atingem essa velocidade. As naves do Programa Apollo por exemplo viajaram a 10.4km/s, suficiente para escapar do poço gravitacional e chegar na Lua, não fazia sentido ir além disso e correr o risco de se perder no Sistema Solar caso algo desse errado.
Quanto mais distante, ou alto no poço gravitacional melhor a velocidade de escape. Da posição da Terra qualquer coisa lançada a mais de 42.1Km/s escapará do Sistema Solar, já da superfície do Sol você só conseguirá escapar da influência gravitacional se se mover a mais de 617.5Km/s.
Quanto mais você se aproxima de um objeto, maior a velocidade de escape, mas objetos normais possuem limites razoáveis. Já um buraco negro, a gravidade é tão intensa que em determinado ponto é impossível escapar, pois a velocidade de escape é maior do que a da luz.
Não quer dizer que você vai ser sugado, buracos negros não sugam ninguém, atraem gravitacionalmente do mesmo jeito que qualquer estrela, ou cliente do Al Bundy. Um buraco negro com a massa do Sol colocado no centro do Sistema Solar no lugar da nossa estrela manteria tudo equilibrado do mesmo jeito que está hoje, só um tiquinho mais frio.
O problema é que mesmo que você orbitasse uma singularidade dentro do horizonte de eventos, jamais conseguirá se comunicar com alguém do lado de fora (sorry, Interestelar). Nenhum sinal de rádio conseguirá sair, o horizonte de eventos é completamente negro.

Além do horizonte de eventos temos a Fotosfera, uma região com espessura zero formada por fótons capturados, é um ponto onde a velocidade de escape é exatamente a velocidade da luz, então os fótons orbitam o buraco negro, até serem perturbados por outros fótons, que ou os empurram para dentro ou os jogam pra fora.
Também há o disco de acreção, região em torno do buraco negro que acumula matéria que porventura seja capturada no poço gravitacional dele.

A Física como a conhecemos sofre nas proximidades de um buraco negro. Gravidade nessa intensidade causa todo tipo de efeito, que tecnicamente existem mesmo aqui. Fique de pé. Ótimo. Neste momento seus pés estão sendo atraídos pela Terra com uma intensidade um pentelhonésimo de micronada mais forte do que a força atraindo sua cabeça. Nada que seu corpo não dê conta, mas em um buraco negro se chegar perto demais a diferença entre as forças será imensa, e seu corpo será esticado e destroçado, em um processo que Neil DeGrasse Tyson adora lembrar se que chama "espaguetificação".
Ao mesmo tempo talvez cair em um buraco negro não seja tão ruim. A gravidade distorce o Tempo, e dependendo do ponto de vista você cairia para sempre, sem nunca atingir a singularidade. Infelizmente é do ponto de vista externo, do seu você morreria horrivelmente, e sem escapatória pois a singularidade, por causa da dilatação temporal estaria no futuro.
2 - O Super-Buraco Negro da Galáxia M87

A imagem é impressionante, mas como chegamos até a ela é mais impressionante ainda, e amanhã você saberá tudo sobre isso, incluindo o código fonte de alguns dos softwares utilizados.
Por agora, basta saber que esse buraco negro fica a 53 milhões de anos-luz, tem massa equivalente a quase 7 bilhões de vezes a massa do Sol, e o horizonte de eventos, o círculo negro do centro é mais ou menos do tamanho da órbita de Plutão.
E antes que reclamem da resolução da imagem, gostaria de pedir duas coisas:
1 - Faz melhor.
2 - Lembre-se disto:
 

Rodrigo Zé do Cx Jr

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O buraco negro da Galáxia M87: Os 30 pixels que encantaram o mundo - Parte 1
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Carlos Cardoso 12/04/2019 às 19:00



Levou anos e custou uma fortuna, felizmente o Event Horizon Telescope, um projeto multinacional com patrocinadores do mundo todo (você não, Brasil) tinha os dois, e conseguiram o impossível: Produzir a primeira (radio)imagem direta de um buraco negro.

Mais importante do que a imagem em si é a pesquisa ser mais uma comprovação da existência desse fenômeno cósmico. algo tão inconcebível que por décadas não foi mais que uma curiosidade matemática, um exagero teórico, mas buracos negros existem, e são a grande vingança, a vitória final da mais humilde, da mais fraca e insignificante das Forças Fundamentais do Universo, a Gravidade.
1 - Forças Fundamentais
O Universo, segundo nosso modelo-padrão da Física é mantido por quatro forças fundamentais: O Amor, A esperança-nah, zoeira. São a Força Nuclear Forte, a Força Nuclear Fraca, a Força Eletromagnética e a Gravidade.
A Força Nuclear Forte é o que mantém os núcleos atômicos unidos, ela é necessária para sobrepujar a repulsão eletrostática, do contrário dois prótons jamais conseguiriam existir juntos. Ela é extremamente forte, mas só existe em uma distância muito pequena, 10-15 metros, pouco além do diâmetro do núcleo de um átomo.
A Força Nuclear Fraca, ou Interação Eletrofraca é mais limitada ainda, seu alcance não vai além do diâmetro de um Próton, ou 10-18 metros. Ela interage apenas entre partículas próximas, é responsável pelo decaimento radioativo das partículas, transportando massa, spin e carga elétrica entre elas.
A Força Eletromagnética é literalmente responsável por tudo que a gente vê. Existe na forma de luz, ondas de rádio, campos magnéticos e na maçaneta carregada de eletricidade estática que você sempre espera um trouxa abrir antes de entrar no escritório. Ao contrário das outras, seu alcance é infinito, com sua intensidade diminuindo em relação ao quadrado da distância.

A Gravidade é a mais complicada. Dependendo do modelo ela age como uma força real ou uma pseudoforça, se usarmos o modelo de distorção da estrutura do espaço-tempo. Ela alcança o infinito, mas é muito, muito fraca.

Se a Força da Gravidade tiver um valor arbitrário de 1, a Força Nuclear Fraca teria intensidade equivalente a 1025, ou:
10000000000000000000000000 vezes mais forte.
A Força Eletromagnética é mais forte ainda, com intensidade relativa de 1036, ou:
1000000000000000000000000000000000000 vezes mais forte.
A Força Nuclear Forte atinge 1038, ou
100000000000000000000000000000000000000 vezes mais forte.
Vamos a um exemplo prático: Pegue sua caneca de café e levante, 10cm acima da mesa. Segure por um momento.
Ao fazer isso você está exercendo na caneca a mesma força que a Terra, com 5972000000000000000000 toneladas de massa. Com pouquíssima energia conseguimos gerar campos magnéticos muito mais fortes do que a gravidade:

A grande diferença é que a gravidade é cumulativa. Quanto mais massa, mais gravidade e isso não tem limite. Com pouca massa você forma objetos como Ultima Thule, o asteróide em forma de panqueca visitado pela New Horizons, além de Plutã0.

A medida que você vai acrescentando massa, a gravidade aumenta e depois de determinado ponto a força gravitacional é mais forte do que o atrito e as forças eletrostáticas mantendo a matéria unida, e esta é atraída para o centro do objeto. Como a intensidade é a mesma para todas as direções, o objeto se torna esférico. Nesse momento ele deixa de ser um asteróide e vira um planeta anão, ou uma lua, se estiver orbitando um planeta maior.
Ceres é um planeta anão com 946 km de diâmetro, o suficiente para ficar... esférico.

Esse aliás é um dos motivos básicos para Terraplanismo não fazer sentido, o básico do que entendemos da Gravidade teria que estar errado, para algo com a massa da Terra ser plano.
Se continuarmos a adicionar massa, um fenômeno começa a aparecer, e ele é bem conhecido, você já deve ter experimentado, usando algo parecido com isto:

Quem usou uma bomba de... bicicleta, isso, de bicicleta ou de bola de futebol sabe que ela fica quente. Gases comprimidos aumentam de temperatura, mas essa característica é comum a todo tipo de matéria, quando você dobra um vergalhão, se achando o Super-Homem até perceber que não é tão difícil assim percebe que ele fica quente na dobra. Isso funciona até com clipes de papel.
Agora imagine isso em escala planetária. Júpiter tem um núcleo de Hidrogênio metálico comprimido por uma pressão gravitacional imensa, que o aquece a uma temperatura de 24000 graus Celsius, mas isso é só o começo. Na falta de um Monolito, Júpiter precisaria ganhar 10 vezes a sua massa, e aí algo maravilhoso aconteceria.

Comprimido pela gravidade, o Hidrogênio atingiria temperatura de milhões de graus, com uma pressão de 250 bilhões de atmosferas, nessas condições seria desencadeada uma reação de fusão nuclear, onde átomos de Hidrogênio se combinariam em átomos de Hélio e energia. A luz e calor contrabalanceariam a pressão gravitacional, e muito mais matéria poderia ser adicionada sem que o objeto, agora uma estrela, colapsasse.
Quando uma estrela de massa entre 0.3 e 8 vezes a do Sol esgota seu suprimento de Hidrogênio a fusão no núcleo cessa, ele esfria e se condensa, as camadas externas se tornam uma concha, mas com a pressão da contração gravitacional sem a fusão para contrabalançar, a estrela volta a entrar em ignição, com o Hidrogênio das camadas exteriores servindo como combustível. Ela se expande, mas como é mais fria, sua luz é concentrada na parte vemelha do espectro, são as gigantes vermelhas.
Quando a fusão se esgota mais uma vez, caso a estrela tenha massa suficiente pode começar a fundir Hélio e até Carbono, mas na maioria das vezes ela não consegue atingir as temperaturas exigidas, e sua atmosfera, as camadas exteriores, é lançada ao espaço, como Mira A:

O que sobra é um núcleo de matéria degenerada de elétrons, um tipo de matéria comprimida pela gravidade onde um núcleo de prótons e nêutrons flutua em um mar de elétrons. Essa estrela é uma anã branca, e brilha não pela energia da fusão nuclear, que não existe mais, mas pelo calor acumulado durante a vida da estrela.
Uma anã branca pode ser muito pequena, do tamanho da Terra, mas sua matéria é incrivelmente densa, 1000000000 kg por m3, com temperatura de até 100 mil graus Celsius.
Nas estrelas de massa muito grande, entre 10 e 29 massas solares, o colapso inicial inicia uma reação extremamente violenta, queimando todo o combustível de uma vez, produzindo uma explosão mais intensa do que toda a luz da galáxia somada, é a chamada Supernova.

Depois da explosão o núcleo de uma supernova pode ter massa demais, e a força eletromagnética não é suficiente para manter a estrutura, ela ultrapassa o nível de matéria degenerada de elétrons.
Tudo é tão comprimido pela gravidade que os elétrons e prótons são fundidos, formando nêutrons.
Essa estrela de nêutrons pode ter 2 vezes a massa da Terra, mas apenas 10Km de diâmetro. Uma caixa de fósforos cheia de material de uma estrela de nêutrons pesaria 3 bilhões de toneladas, ora os fósforos.
A única coisa segurando essa estrela é a Força Nuclear Forte, mas mesmo ela tem limite, que se chama Limite de Tolman–Oppenheimer–Volkoff. Se o núcleo estelar tiver massa mais de 2.27 vezes a massa do Sol, nada consegue segurar o colapso.
Essa estrela irá se contrair, ultrapassando todos os limites, até atingir um ponto onde seu volume será zero, e sua densidade, infinita. É a chamada Singularidade, e uma enorme pedra no sapato dos astrofísicos, pois a nossa Ciência pára de funcionar lá dentro.
Nós não fazemos idéia do que acontece dentro de uma singularidade, o Universo nos impede de espionar pelo buraco da fechadura.
Note: Existe um conceito teórico onde isso seria possível, são chamadas de Singularidades Nuas, mas melhor não falar sobre elas, o Mobilon não gosta quando eu provoco o bot do AdSense...

As singularidades têm sua virtude protegida não só pelo Mobilon, mas pelo Horizonte de Eventos, que é apenas um ponto onde a velocidade de escape ultrapassa a velocidade da luz.
A melhor analogia para entender o conceito de velocidade de escape e poço gravitacional é... um poço. Ou mais precisamente um vale.
Digamos que você esteja em um rally off-road, em uma região bem selvagem, distante da civilização, tipo Niterói. Seu carro está em uma região rebaixada, para voltar pra trilha você tem que subir uma ladeira gentil, de uns 5 graus.

Não é complicado, você usa só uma fração da potência do carro.
Agora imagine uma ladeira muito mais íngreme, onde você terá que usar toda a potência do carro.

Nas duas situações você está lutando contra a gravidade, e as ladeiras com angulações diferentes podem ser vistas como um corte bidimensional de um poço gravitacional tridimensional:

A velocidade de escape é apenas a velocidade mínima que um corpo precisa atingir para escapar do poço gravitacional. Imagine o carro pegando embalo para sair da depressão.
Na Terra a velocidade de escape é de 11.2Km/s mas somente sondas planetárias atingem essa velocidade. As naves do Programa Apollo por exemplo viajaram a 10.4km/s, suficiente para escapar do poço gravitacional e chegar na Lua, não fazia sentido ir além disso e correr o risco de se perder no Sistema Solar caso algo desse errado.
Quanto mais distante, ou alto no poço gravitacional melhor a velocidade de escape. Da posição da Terra qualquer coisa lançada a mais de 42.1Km/s escapará do Sistema Solar, já da superfície do Sol você só conseguirá escapar da influência gravitacional se se mover a mais de 617.5Km/s.
Quanto mais você se aproxima de um objeto, maior a velocidade de escape, mas objetos normais possuem limites razoáveis. Já um buraco negro, a gravidade é tão intensa que em determinado ponto é impossível escapar, pois a velocidade de escape é maior do que a da luz.
Não quer dizer que você vai ser sugado, buracos negros não sugam ninguém, atraem gravitacionalmente do mesmo jeito que qualquer estrela, ou cliente do Al Bundy. Um buraco negro com a massa do Sol colocado no centro do Sistema Solar no lugar da nossa estrela manteria tudo equilibrado do mesmo jeito que está hoje, só um tiquinho mais frio.
O problema é que mesmo que você orbitasse uma singularidade dentro do horizonte de eventos, jamais conseguirá se comunicar com alguém do lado de fora (sorry, Interestelar). Nenhum sinal de rádio conseguirá sair, o horizonte de eventos é completamente negro.

Além do horizonte de eventos temos a Fotosfera, uma região com espessura zero formada por fótons capturados, é um ponto onde a velocidade de escape é exatamente a velocidade da luz, então os fótons orbitam o buraco negro, até serem perturbados por outros fótons, que ou os empurram para dentro ou os jogam pra fora.
Também há o disco de acreção, região em torno do buraco negro que acumula matéria que porventura seja capturada no poço gravitacional dele.

A Física como a conhecemos sofre nas proximidades de um buraco negro. Gravidade nessa intensidade causa todo tipo de efeito, que tecnicamente existem mesmo aqui. Fique de pé. Ótimo. Neste momento seus pés estão sendo atraídos pela Terra com uma intensidade um pentelhonésimo de micronada mais forte do que a força atraindo sua cabeça. Nada que seu corpo não dê conta, mas em um buraco negro se chegar perto demais a diferença entre as forças será imensa, e seu corpo será esticado e destroçado, em um processo que Neil DeGrasse Tyson adora lembrar se que chama "espaguetificação".
Ao mesmo tempo talvez cair em um buraco negro não seja tão ruim. A gravidade distorce o Tempo, e dependendo do ponto de vista você cairia para sempre, sem nunca atingir a singularidade. Infelizmente é do ponto de vista externo, do seu você morreria horrivelmente, e sem escapatória pois a singularidade, por causa da dilatação temporal estaria no futuro.
2 - O Super-Buraco Negro da Galáxia M87

A imagem é impressionante, mas como chegamos até a ela é mais impressionante ainda, e amanhã você saberá tudo sobre isso, incluindo o código fonte de alguns dos softwares utilizados.
Por agora, basta saber que esse buraco negro fica a 53 milhões de anos-luz, tem massa equivalente a quase 7 bilhões de vezes a massa do Sol, e o horizonte de eventos, o círculo negro do centro é mais ou menos do tamanho da órbita de Plutão.
E antes que reclamem da resolução da imagem, gostaria de pedir duas coisas:
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2 - Lembre-se disto:

Que post senhores, que post

tenor.gif
 


Geo

Mil pontos, LOL!
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Visualizar anexo 69069
Vi por ai nas interwebs que poderia ser alguma coisa assim. Ser for, será histórico..
Essa é a renderização mais realista, pois dá conta do efeito Doppler no disco de acreção, que orbita em velocidades relativísticas. A parte do disco que se afasta do observador deve ter uma coloração diferente da parte que se aproxima. Foi isso que faltou na renderização do filme Interstellar, não obtanter ter dado origem a três artigos científicos.
 

Geo

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Veja a 1ª imagem de um buraco negro da história, um 'monstro' maior que o Sistema Solar
Astrônomos registraram a primeira imagem da região, localizada em uma galáxia distante.
Pallab Ghosh (@bbcpallab) - Repórter de Ciência da BBC News


Astrônomos registraram a primeira imagem da história de um buraco negro, que está localizado em uma galáxia distante da Terra.
A primeira imagem da história de um buraco negro: ele está cercado pelo brilho de gases atraídos pela gravidade


A primeira imagem da história de um buraco negro: ele está cercado pelo brilho de gases atraídos pela gravidade
Foto: EHT Collaboration / BBC News Brasil
O buraco negro tem 40 bilhões de quilômetros de diâmetro - cerca de 3 milhões de vezes o tamanho de nosso planeta - e é descrito pelos cientistas como um "monstro".

Essa região está 500 milhões de quilômetros de distância da Terra e foi registrada por uma rede de oito telescópios ao redor do mundo.
Informações mais detalhadas serão divulgadas ainda nesta quarta-feira (10) na publicação científica Astrophysical Journal Letters.
O professor Heino Falcke, da Universidade Radboud, na Holanda, que propôs o experimento, disse à BBC News que o buraco negro foi achado na galáxia batizada de M87.
"O que nós vemos é maior que o tamanho de nosso Sistema Solar inteiro", afirmou.
"Ele tem uma massa 6,5 bilhões de vezes maior que a do Sol. E estimamos que seja um dos maiores que já tenham existido. É absolutamente monstruoso, um campeão peso-pesado dos buracos negros do Universo."

ta ae galera..o primeiro...daqui a pouco tem o buraco negro da sagitário A
Na verdade o "furo" que vemos é o horizonte de eventos. O buraco negro em si, a estrela que não vemos, é muito menor.
 

Sgt. Kowalski

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O buraco negro da Galáxia M87: Os 30 pixels que encantaram o mundo - Parte 2: A Missão
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Carlos Cardoso 15/04/2019 às 23:20


Previously on Battlestar Galactica...
No artigo anterior nós vimos o básico dos buracos negros, como são formados com a morte de estrelas gigantes, hoje vamos entender como o pessoal do Event Horizon Telescope conseguiu fazer a imagem do buraco negro M87, qual a dificuldade e a importância disso tudo...

A M87, abreviação de Messier 87, ou 87o objeto no Catálogo Messier é uma galáxia que fica a 53 milhões de anos-luz da Terra, e não deve ser confundida com a Nebulosa M78, lar do Ultraman. Na foto acima ela é o ponto amarelo à esquerda, o resto é um jato de plasma emitido pelo buraco-negro gigante em seu núcleo. Ele é gigantesco, tem 1500 parsecs de comprimento, o suficiente para o Millenial Falcon fazer a Corrida de Kessel 125 vezes.
A imagem foi feita pelo Hubble, mas o segredo não é ampliação, pois galáxias não são coisas pequenas. Andrômeda por exemplo tem 3.167° de comprimento por 1° de altura. Quão grande é isso? A Lua tem 0.5° de diâmetro. isso mesmo, a Lua é bem menor do que imaginamos. De horizonte a horizonte Cabem 360 luas lado-a-lado.
Andrômeda é visível a olho nu como uma nuvem muito difusa, mas se aumentarmos seu brilho, este seria seu tamanho aparente:

Andrômeda está aqui do lado, a uns 2,5 milhões de anos-luz, e pior, está em rota de colisão com a Via Láctea, em 4,5 bilhões de anos as duas galáxias irão se mesclar em um evento catastrófico que formará uma nova estrutura. Aqui uma dramática simulação da colisão:


Já a galáxia M87, qual seu tamanho aparente? Bem, ela tem um diâmetro aparente de 7.2 minutos de arco. Comparado com a Lua esse diâmetro faria a M87 se fosse brilhante o suficiente para ser vista em detalhes ter este tamanho no céu:

Calma. Minutos, segundos, que diabo é isso?
A astronomia usa conceitos bem fundamentais de geometria, que você ainda se lembraria se seu professor não apostasse só na decoreba. São bem simples. Lembra do bom e velho transferidor?

Imagine que você está ali no meio. Olhe pra sua esquerda, reto. Agora suba o olhar, até olhar diretamente para cima. Parabéns você está olhando em um ângulo de 90 graus. Olhe para a direita, também reto. Na altura do horizonte temos 180 graus.
Como objetos no céu, ao contrário de dinossauros no retrovisor de Fords Explorers não são maiores do que aparentam, precisamos de subunidades para determinar o tamanho das coisas. Objetos grandes (ou próximos) como o Sol e a Lua podem ser medidos em minutos de arco. Um ângulo de um grau é dividido em 60 minutos de arco, ou 60'.
Assim a Lua (e o Sol) tem um diâmetro aparente de 1/2 grau, ou 30 minutos. Objetos menores ou mais distantes têm diâmetro menor ainda, Marte tem diâmetro aparente de 3,5 segundos de arco, ou 3,5".
E o Buraco Negro? Bem, a galáxia M87 tem 7.2 minutos de arco de diâmetro, mas o buraco negro em seu centro tem 40 μas, ou quarenta micro-segundos de arco. Um micro-segundo de arco é um milionésimo de segundo.
Já deu pra entender, né? Você pega um céu com 180 partes. Uma dessa parte você divide em 60 partes menores. Aí divide de novo em mais 60. Então a fatiazinha você divide em um milhão. Veja a comparação entre a resolução do Hubble e a obtida pelo Event Horizon Telescope. A imagem começa com o tamanho relativo de um pixel do Hubble:
Tocador de vídeo


00:08

00:13



Como conseguiram então?
Imagine que você tem uma luneta bem fina. Você aponta para um carro do outro lado da rua. Consegue ver perfeitamente um detalhe da placa, mas como você está dentro de seu próprio carro, não consegue ver outras partes. Você então avança alguns metros, aponta a luneta de novo e vê outro detalhe do carro, mais um número da placa.
Volta outros tantos metros e vai aos poucos montando uma imagem do carro como um todo.
Uma boa analogia foi apresentada pela Dra Katie Bouman: Imagine um teclado onde você só consiga ouvir algumas notas. É impossível entender a música. Agora coloque mais pessoas, cada uma ouvindo algumas notas. Se todas combinarem suas observações, a música passa a fazer sentido, se torna reconhecível.

No nosso caso cada nota é um radiotelescópio, e o nome da técnica é interferometria. É usada para combinar observações de antenas individuais, formando um radiotelescópio virtual com resolução muito maior, tipo o Very Large Array, no Novo México. Sim, o usado em Contato:

São 27 antenas de 25 metros de diâmetro cada, juntas forma um círculo que pode chegar a 21km de raio. Em conjunto elas conseguem uma resolução de 0.2 segundos de arco. Veja a Galáxia M87 e seu jato de plasma superaquecido, observado pelo VLA:

0.2 segundos de arco é bom mas o buraco negro é muito menor.
Relativamente falando, claro, é um dos maiores buracos negros do Universo, com dezenas de bilhões de vezes mais massa que o Sol, com um diâmetro de 0.12 parsers, ou 0.39 anos-luz, ou 25000 Unidades Astronômicas. O Sistema Solar nas estimativas mais otimistas tem 180 UAs de diâmetro. Só que a M87 tem mais de 240 mil anos-luz de uma ponta a outra.
Como saltar se segundos de arco para milionésimo de segundo de arco? Pra isso seria necessário um radiotelescópio do tamanho da Terra, e isso é impossível, certo?
Hold My Beer, disse esse pessoal:

OK na verdade esse pessoal é apenas um dos grupos, no total foram 207 cientistas de 62 instituições em 18 países (você não, Brasil) que utilizaram 6 radiotelescópios, dois no Chile, dois no Hawaii, um na Espanha, outro no México, um no Arizona e outro no Pólo Sul.

O trabalho de coordenar as observações foi fenomenal, é preciso configurar os equipamentos para todos registrarem as exatas mesmas frequências no exato mesmo momento, mas isso é apenas o começo. Um radiotelescópio não usa luz, não produz uma imagem. O que um radiotelescópio capta é intensidade e polarização de sinais de rádio, esta é a saída de dados de um radiotelescópio:

Esses dados vieram do NRAO/SKYNET 20 Meter Geodetic Radio Telescope, um radiotelescópio na Virgínia Ocidental, neste link você acessa as observações dele em tempo real, e aqui os dados brutos.
Esses dados plotados em gráficos resultam em algo bem diferente de uma foto. Esta é a Nebulosa de Orion, vista por um telescópio óptico:

Esta é Orion "vista" pelo NRAO:

Então, como se chegou a esta imagem do buraco negro, que parece ser muito mais detalhada?

Simples (ok, palavra errada). A estrutura montada mais que dobrou a capacidade máxima de gravação de dados. Em pleno funcionamento as antenas do EHT gravavam sinais captados a uma velocidade de 64 Gbps.
Segundo um dos papers do projeto, para operações em grande altitude foram usados 128 hard disks de entre 6 e 10TB, gravando em paralelo totalizando 1PB de armazenamento. Foram 10000 horas de gravações, os discos funcionando em altitudes de até 5100m com zero falhas. Palmas pra Western Digital, que patrocinou o projeto.


O sistema de gravação de dados é uma coisa linda, ele recebe duas streams de dados a 8Gbps cada e usando conexões Ethernet de 10Gbps divide os dados entre 32 Hard Disks, que isoladamente jamais conseguiriam lidar com 16Gbps, resultando em uma condição que descrita em termos altamente técnicos seria a piada da formiguinha e do elefante.
E o tal Algoritmo?
Algoritmo é um conceito bem simples, é ensinado nos cursos de computação como uma receita de bolo, uma forma de você ensinar ao computador como fazer alguma coisa, independente de linguagem.
Digamos que eu tenha um mapa-mundi. Eu preciso pintar de azul os pixels onde for mar, e de marrom os pixels onde for terra. Se eu tiver informação de altitude de cada pixel, o algoritmo é trivial:
1 - identifique a altitude do pixel
2 - se o pixel tiver altitude acima de zero, pinte de marrom, do contrário pinte de azul
3 - repita para todos os pixels.
Claro que quanto mais complexo o cenário mais complicado o algoritmo. Em Age of Empires quando você seleciona uma unidade e a manda chegar até um determinado ponto no mapa, ela usa um algoritmo de caminho chamado A* (A-Star) criado em 1966 para o Shakey, um robô do Stanford Research Institute.
No caso do EHT era preciso um algoritmo para transformar os dados em uma imagem, mas há um problema. Há muitas variáveis arbitrárias, muitas formas pelas quais o criador do algoritmo e seus programadores podem influenciar mesmo sem-querer o resultado final.
Ah, este é um dos algoritmos usados:

Eu explicaria em detalhes mas o artigo está ficando muito longo...
O algoritmo tem que preencher muitas lacunas, e facilmente dados e ruído podem ser confundidos. A solução foi criar quatro grupos independentes usando variações dos algoritmos e cada um escolhendo por conta própria os parâmetros de configuração.
Os grupos não mantiveram comunicação entre si, para garantir a independência dos resultados.

Os resultados foram comparados e usados para criar a versão final da imagem, usando contribuições de todos os grupos. Essa é a imagem mais "auditada" da história da radioastronomia, então não poderiam dar chance ao acaso ou ao erro humano. O resultado é que o software final ficou tão bom que as simulações (nas pontas) ficaram basicamente idênticas à imagem do meio, produzida com dados reais.

O círculo pequeno é o limite de resolução do radiotelescópio, tecnicamente, um pixel. Os contornos difusos são cortesia do algoritmo que suaviza as bordas. As variações de temperatura, que são menores que um pixel são obtidas pelas variações de leitura de cada pixel em várias iterações.
A imagem do Buraco Negro M87 é histórica, mas é um 14 Bis, com a diferença é que nós sabemos como fazer um Concorde: Temos hoje a tecnologia para montar um radiotelescópio no lado oculto da Lua e ao invés de 10000Km teremos um radiotelescópio virtual de 300 mil km de diâmetro. O céu literalmente não é o limite.
Esse trabalho com certeza renderá um Nobel, e irá para o EHT como um todo, mas mesmo assim é pouco. É uma conquista de toda a Ciência, do Diretor do Projeto à tia do café, e sendo realista todos os envolvidos darão muito mais crédito à tia do café.
Para Saber Mais:
  1. First M87 Event Horizon Telescope Results. IV. Imaging the Central Supermassive Black Hole
  2. SUPER-RESOLUTION FULL POLARIMETRIC IMAGING FOR RADIO INTERFEROMETRY WITH SPARSE MODELING
  3. First M87 Event Horizon Telescope Results. II. Array and Instrumentation
  4. Astronomers Capture First Image of a Black Hole
 

Rodrigo Zé do Cx Jr

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O buraco negro da Galáxia M87: Os 30 pixels que encantaram o mundo - Parte 2: A Missão
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Carlos Cardoso 15/04/2019 às 23:20


Previously on Battlestar Galactica...
No artigo anterior nós vimos o básico dos buracos negros, como são formados com a morte de estrelas gigantes, hoje vamos entender como o pessoal do Event Horizon Telescope conseguiu fazer a imagem do buraco negro M87, qual a dificuldade e a importância disso tudo...

A M87, abreviação de Messier 87, ou 87o objeto no Catálogo Messier é uma galáxia que fica a 53 milhões de anos-luz da Terra, e não deve ser confundida com a Nebulosa M78, lar do Ultraman. Na foto acima ela é o ponto amarelo à esquerda, o resto é um jato de plasma emitido pelo buraco-negro gigante em seu núcleo. Ele é gigantesco, tem 1500 parsecs de comprimento, o suficiente para o Millenial Falcon fazer a Corrida de Kessel 125 vezes.
A imagem foi feita pelo Hubble, mas o segredo não é ampliação, pois galáxias não são coisas pequenas. Andrômeda por exemplo tem 3.167° de comprimento por 1° de altura. Quão grande é isso? A Lua tem 0.5° de diâmetro. isso mesmo, a Lua é bem menor do que imaginamos. De horizonte a horizonte Cabem 360 luas lado-a-lado.
Andrômeda é visível a olho nu como uma nuvem muito difusa, mas se aumentarmos seu brilho, este seria seu tamanho aparente:

Andrômeda está aqui do lado, a uns 2,5 milhões de anos-luz, e pior, está em rota de colisão com a Via Láctea, em 4,5 bilhões de anos as duas galáxias irão se mesclar em um evento catastrófico que formará uma nova estrutura. Aqui uma dramática simulação da colisão:


Já a galáxia M87, qual seu tamanho aparente? Bem, ela tem um diâmetro aparente de 7.2 minutos de arco. Comparado com a Lua esse diâmetro faria a M87 se fosse brilhante o suficiente para ser vista em detalhes ter este tamanho no céu:

Calma. Minutos, segundos, que diabo é isso?
A astronomia usa conceitos bem fundamentais de geometria, que você ainda se lembraria se seu professor não apostasse só na decoreba. São bem simples. Lembra do bom e velho transferidor?

Imagine que você está ali no meio. Olhe pra sua esquerda, reto. Agora suba o olhar, até olhar diretamente para cima. Parabéns você está olhando em um ângulo de 90 graus. Olhe para a direita, também reto. Na altura do horizonte temos 180 graus.
Como objetos no céu, ao contrário de dinossauros no retrovisor de Fords Explorers não são maiores do que aparentam, precisamos de subunidades para determinar o tamanho das coisas. Objetos grandes (ou próximos) como o Sol e a Lua podem ser medidos em minutos de arco. Um ângulo de um grau é dividido em 60 minutos de arco, ou 60'.
Assim a Lua (e o Sol) tem um diâmetro aparente de 1/2 grau, ou 30 minutos. Objetos menores ou mais distantes têm diâmetro menor ainda, Marte tem diâmetro aparente de 3,5 segundos de arco, ou 3,5".
E o Buraco Negro? Bem, a galáxia M87 tem 7.2 minutos de arco de diâmetro, mas o buraco negro em seu centro tem 40 μas, ou quarenta micro-segundos de arco. Um micro-segundo de arco é um milionésimo de segundo.
Já deu pra entender, né? Você pega um céu com 180 partes. Uma dessa parte você divide em 60 partes menores. Aí divide de novo em mais 60. Então a fatiazinha você divide em um milhão. Veja a comparação entre a resolução do Hubble e a obtida pelo Event Horizon Telescope. A imagem começa com o tamanho relativo de um pixel do Hubble:
Tocador de vídeo


00:08

00:13



Como conseguiram então?
Imagine que você tem uma luneta bem fina. Você aponta para um carro do outro lado da rua. Consegue ver perfeitamente um detalhe da placa, mas como você está dentro de seu próprio carro, não consegue ver outras partes. Você então avança alguns metros, aponta a luneta de novo e vê outro detalhe do carro, mais um número da placa.
Volta outros tantos metros e vai aos poucos montando uma imagem do carro como um todo.
Uma boa analogia foi apresentada pela Dra Katie Bouman: Imagine um teclado onde você só consiga ouvir algumas notas. É impossível entender a música. Agora coloque mais pessoas, cada uma ouvindo algumas notas. Se todas combinarem suas observações, a música passa a fazer sentido, se torna reconhecível.

No nosso caso cada nota é um radiotelescópio, e o nome da técnica é interferometria. É usada para combinar observações de antenas individuais, formando um radiotelescópio virtual com resolução muito maior, tipo o Very Large Array, no Novo México. Sim, o usado em Contato:

São 27 antenas de 25 metros de diâmetro cada, juntas forma um círculo que pode chegar a 21km de raio. Em conjunto elas conseguem uma resolução de 0.2 segundos de arco. Veja a Galáxia M87 e seu jato de plasma superaquecido, observado pelo VLA:

0.2 segundos de arco é bom mas o buraco negro é muito menor.
Relativamente falando, claro, é um dos maiores buracos negros do Universo, com dezenas de bilhões de vezes mais massa que o Sol, com um diâmetro de 0.12 parsers, ou 0.39 anos-luz, ou 25000 Unidades Astronômicas. O Sistema Solar nas estimativas mais otimistas tem 180 UAs de diâmetro. Só que a M87 tem mais de 240 mil anos-luz de uma ponta a outra.
Como saltar se segundos de arco para milionésimo de segundo de arco? Pra isso seria necessário um radiotelescópio do tamanho da Terra, e isso é impossível, certo?
Hold My Beer, disse esse pessoal:

OK na verdade esse pessoal é apenas um dos grupos, no total foram 207 cientistas de 62 instituições em 18 países (você não, Brasil) que utilizaram 6 radiotelescópios, dois no Chile, dois no Hawaii, um na Espanha, outro no México, um no Arizona e outro no Pólo Sul.

O trabalho de coordenar as observações foi fenomenal, é preciso configurar os equipamentos para todos registrarem as exatas mesmas frequências no exato mesmo momento, mas isso é apenas o começo. Um radiotelescópio não usa luz, não produz uma imagem. O que um radiotelescópio capta é intensidade e polarização de sinais de rádio, esta é a saída de dados de um radiotelescópio:

Esses dados vieram do NRAO/SKYNET 20 Meter Geodetic Radio Telescope, um radiotelescópio na Virgínia Ocidental, neste link você acessa as observações dele em tempo real, e aqui os dados brutos.
Esses dados plotados em gráficos resultam em algo bem diferente de uma foto. Esta é a Nebulosa de Orion, vista por um telescópio óptico:

Esta é Orion "vista" pelo NRAO:

Então, como se chegou a esta imagem do buraco negro, que parece ser muito mais detalhada?

Simples (ok, palavra errada). A estrutura montada mais que dobrou a capacidade máxima de gravação de dados. Em pleno funcionamento as antenas do EHT gravavam sinais captados a uma velocidade de 64 Gbps.
Segundo um dos papers do projeto, para operações em grande altitude foram usados 128 hard disks de entre 6 e 10TB, gravando em paralelo totalizando 1PB de armazenamento. Foram 10000 horas de gravações, os discos funcionando em altitudes de até 5100m com zero falhas. Palmas pra Western Digital, que patrocinou o projeto.


O sistema de gravação de dados é uma coisa linda, ele recebe duas streams de dados a 8Gbps cada e usando conexões Ethernet de 10Gbps divide os dados entre 32 Hard Disks, que isoladamente jamais conseguiriam lidar com 16Gbps, resultando em uma condição que descrita em termos altamente técnicos seria a piada da formiguinha e do elefante.
E o tal Algoritmo?
Algoritmo é um conceito bem simples, é ensinado nos cursos de computação como uma receita de bolo, uma forma de você ensinar ao computador como fazer alguma coisa, independente de linguagem.
Digamos que eu tenha um mapa-mundi. Eu preciso pintar de azul os pixels onde for mar, e de marrom os pixels onde for terra. Se eu tiver informação de altitude de cada pixel, o algoritmo é trivial:
1 - identifique a altitude do pixel
2 - se o pixel tiver altitude acima de zero, pinte de marrom, do contrário pinte de azul
3 - repita para todos os pixels.
Claro que quanto mais complexo o cenário mais complicado o algoritmo. Em Age of Empires quando você seleciona uma unidade e a manda chegar até um determinado ponto no mapa, ela usa um algoritmo de caminho chamado A* (A-Star) criado em 1966 para o Shakey, um robô do Stanford Research Institute.
No caso do EHT era preciso um algoritmo para transformar os dados em uma imagem, mas há um problema. Há muitas variáveis arbitrárias, muitas formas pelas quais o criador do algoritmo e seus programadores podem influenciar mesmo sem-querer o resultado final.
Ah, este é um dos algoritmos usados:

Eu explicaria em detalhes mas o artigo está ficando muito longo...
O algoritmo tem que preencher muitas lacunas, e facilmente dados e ruído podem ser confundidos. A solução foi criar quatro grupos independentes usando variações dos algoritmos e cada um escolhendo por conta própria os parâmetros de configuração.
Os grupos não mantiveram comunicação entre si, para garantir a independência dos resultados.

Os resultados foram comparados e usados para criar a versão final da imagem, usando contribuições de todos os grupos. Essa é a imagem mais "auditada" da história da radioastronomia, então não poderiam dar chance ao acaso ou ao erro humano. O resultado é que o software final ficou tão bom que as simulações (nas pontas) ficaram basicamente idênticas à imagem do meio, produzida com dados reais.

O círculo pequeno é o limite de resolução do radiotelescópio, tecnicamente, um pixel. Os contornos difusos são cortesia do algoritmo que suaviza as bordas. As variações de temperatura, que são menores que um pixel são obtidas pelas variações de leitura de cada pixel em várias iterações.
A imagem do Buraco Negro M87 é histórica, mas é um 14 Bis, com a diferença é que nós sabemos como fazer um Concorde: Temos hoje a tecnologia para montar um radiotelescópio no lado oculto da Lua e ao invés de 10000Km teremos um radiotelescópio virtual de 300 mil km de diâmetro. O céu literalmente não é o limite.
Esse trabalho com certeza renderá um Nobel, e irá para o EHT como um todo, mas mesmo assim é pouco. É uma conquista de toda a Ciência, do Diretor do Projeto à tia do café, e sendo realista todos os envolvidos darão muito mais crédito à tia do café.
Para Saber Mais:
  1. First M87 Event Horizon Telescope Results. IV. Imaging the Central Supermassive Black Hole
  2. SUPER-RESOLUTION FULL POLARIMETRIC IMAGING FOR RADIO INTERFEROMETRY WITH SPARSE MODELING
  3. First M87 Event Horizon Telescope Results. II. Array and Instrumentation
  4. Astronomers Capture First Image of a Black Hole
Achei interessantíssimo os em torno de 20% que entendi do post.

Sou muito burro ou tem gente muito inteligente no mundo.

Ou ambos.
 

Gulf

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José Marcio não ficou muito convencido com a foto não

Quem caralhos é esse cara? Que propriedade ele tem pra falar?
Favor não compartilhar desinformação, principalmente neste tópico.
Tive que assistir ao vídeo pra ver o tamanho das besteiras que ele falou, e são muitas.
Respeito a liberdade de expressão, mas que fique em sua bolha política e evite influenciar pessoas que não possuem conhecimento o suficiente para questionar essas besteiras em um assusto que claramente não possui domínio algum.
 

Vim do Futuro

Ei mãe, 500 pontos!
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Quem caralhos é esse cara? Que propriedade ele tem pra falar?
Favor não compartilhar desinformação, principalmente neste tópico.
Tive que assistir ao vídeo pra ver o tamanho das besteiras que ele falou, e são muitas.
Respeito a liberdade de expressão, mas que fique em sua bolha política e evite influenciar pessoas que não possuem conhecimento o suficiente para questionar essas besteiras em um assusto que claramente não possui domínio algum.
Este cara do vídeo é um terraplanista. Nem perco 1 seg. apertando o play.
 

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Mil pontos, LOL!
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Desculpem floquinhos mas a SpaceX não vai vir pro Brasil e ninguém importante quer Alcântara.
Muito tem se falado da Base de Alcântara, agora o ministro da Defesa disse que há várias empresas interessadas e que a base pode render bilhões de dólares! A triste realidade é que a base não existe, a infra toda precisa ser construída praticamente do zero e os motivos pra esses projetos não se concretizarem são inúmeros. Enumeramos alguns, clique e confira.
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Carlos Cardoso 1 ano atrás



alcantara
Milhões de anos atrás um asteróide vindo do espaço desconhecido entrou em rota de colisão com a Terra. Já na atmosfera, ele se dividiu. Metade caiu em Wakanda, formando a imensa reserva de vibranium daquele país. A outra metade, trazendo o fóssil de uma imensa cabeça de burro andoriano, caiu onde mais tarde seria inaugurado o Brasil.
Só isso explica a mistura de azar, incompetência e teimosia que ronda todos os nossos projetos. Lembre-se, nós tivemos QUINHENTOS ANOS pra construir a réplica da Nau do Descobrimento, e conseguimos atrasar e ela não participou da comemoração. Nós somos incapazes de construir um barco com tecnologia de 500 anos atrás.
Nosso programa espacial vai mudar, claro, depois que a comissão que o Temer nomeou se reunir pela primeira vez daqui a um mês vão canetear tudo e chegaremos em Marte, mas até lá só acumulamos fracassos e desculpas. O mais inadmissível deles é a Base de Alcântara.
A proposta de arrendar a base para vários países, aventada pelo ministro da Defesa é boa, infelizmente é muito pouco, tarde demais.
Em teoria a base é excelente, por um motivo simples: velocidade tangencial. O período de rotação da Terra é constante em qualquer ponto do planeta, mas para isso pontos em latitudes diferentes se movem a velocidades diferentes. No Equador a Terra gira a uma velocidade de 1.674,4 km/h. Já no Centro Espacial Kennedy, que fica em uma latitude de + 28,59°; a velocidade de rotação cai para 1.470,23 km/h.
Quando você lança um satélite para órbita baixa, precisa de pelo menos 8 km/s de velocidade. Por isso lançamos quase sempre no sentido de rotação: aproveitamos o empurrão do planeta. Do Cabo Canaveral isso reduz 0,408 km/s do total exigido. Umlançamento do Equador reduziria em 0,465 km/s. Não parece muito mas é um pouquinho que ajuda, e economizaria 15% a 20% de combustível, permitindo cargas um pouco mais pesadas.

Isso é desejável mas não é essencial. Os russos lançam seus foguetes principalmente do Cazaquistão, a União Européia (Rússia incluída) usa a base na Guiana Francesa, que a 5 graus de latitude tem uma velocidade de rotação de 1.665,6 m/s.
A posição da base brasileira é melhor, mas ela é uma linda rodovia asfaltada e pedagiada construída depois que todo mundo aprendeu a fazer caminhões off-road indestrutíveis. Os foguetes dos EUA são otimizados pra lançamento da Flórida, conseguem colocar em órbita suas cargas de lá, e o tamanho dos satélites vem diminuindo, não aumentando, Foguetes hoje têm capacidade de potência sobrando a ponto de conseguirem pousar!
A economia de combustível também não faz sentido. Primeiro, foguetes são sempre abastecidos até o talo. Não existe isso de colocar só o que vai usar. Segundo, combustível é o mais barato. Um lançamento do Falcon 9 custa uns US$ 62 milhões. O valor do combustível é US$ 200 mil.
Outro ponto negativo: a tal base… não existe. Sério. Tem alguns prédios e um monte de terreirões de terra batida com alicerces de obras paradas. Basta conferir.
O ministro disse que o Centro de Lançamento de Alcântara tem a infraestrutura pra acomodar lançamento de qualquer país. Mentira.
vls1-mockup-test
Esse é o VAB — Vehicle Assembly Building reconstruído, é a maior construção da base, pra não ficar feio demais eles colocaram uma réplica do VLS, o foguete brasileiro que é excelente, se a função de um foguete for explodir sem aviso. Agora compare o tamanho do VLS com um Falcon 9.
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Para piorar, ao contrário da Guiana não há NENHUMA infraestrutura em volta, Alcântara é basicamente uma vila. screenshot-22_02_2018-12_52_40
Esse é o “porto”. Imagine um foguete de 70 metros passando por essas ruelas, único caminho até a estrada que leva ao Centro de Lançamento. E não, não adianta falar que tem uma pista de pouso na base. O maior cargueiro do mundo, o Antonov An-225 Mriya leva cargas de até 43 m de comprimento, o Falcon 9 tem 70.
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Quer mais motivos pra não fazer sentido a SpaceX usar a base imaginária de Alcântara? Lembre-se que além de lançar os foguetes eles precisam pousar, e então ser levados de volta pros EUA pro processo de recauchutagem. 10 mil km de navio, se forem levados até a fábrica em Hawthorne, Califórnia.
Outro impedimento: os contratos mais lucrativos da SpaceX e o grosso dos contratos da ULA são com o Departamento de Defesa. Tio Sam DEFINITIVAMENTE não vai deixar seus preciosos satélites saírem dos EUA até um shithole country qualquer, cheio de espiões chineses. A rigor não sei nem se os regulamentos de exportações permitem que a SpaceX tire os foguetes do país. Quando eles sequer podem contratar estrangeiros, que dirá literalmente exportar o foguete.
O ministro diz que há interesse de um monte de gente, mas vamos ser sinceros.Segundo a imprensa, havia uma visita marcada em novembro mas a SpaceX cancelou em cima da hora por causa de imprevistos com o Falcon Heavy. Calma. A SpaceX tem SETE MIL FUNCIONÁRIOS, não tinha um corno pra mandarem? Nem a tia do café? “Consuela, dá uma olhada, vê se o lugar tem potencial”.
Tem gente dizendo que podem usar a base para aumentar o número de lançamentos, mas de novo: não faz sentido. A capacidade ociosa no Cabo Canaveral é imensa. Alcântara tem UMA plataforma de lançamento pra foguetes em miniatura. O Centro Espacial da Guiana tem seis plataformas, três em uso, uma para Soyuz, uma para Ariane e outra para foguetes menores.
Já os EUA, bem… atualmente a SpaceX aluga três estruturas de lançamento, uma delas virou área de pouso. A ULA aluga outra, e a Blue Origin pegou mais uma. No mapa abaixo em marrom (?) as plataformas em uso. Em branco as de reserva.
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Você acha MESMO que em vez de passar um zarcão nas torres, tirar a poeira dos canos e revitalizar uma estrutura já existente eles vão preferir vir pros cafundós do Maranhão e construir uma base de lançamentos do zero?
Quanto aos ucranianos, eles realmente precisam de uma base: eles usam Baykonur mas é uma base na base do favor, e com os russos invadindo e roubando a Crimeia, a relação entre os dois países anda abalada. Só que como ficou comprovado peloúltimo acordo, eles não têm grana pra construir nada.
Mas calma, há esperança!
Existe um cenário onde a base imaginária de Alcântara pode fazer sentido.
Estão entrando no mercado muitas empresas pequenas, que não possuem recursos pra uma infraestrutura permanente. Também temos países como Israel, com lançamentos eventuais e complicações geopolíticas.
Essas empresas usam foguetes pequenos, com pouca potência sobrando, e quando cada metro por segundo de Δv importa, lançar o mais próximo do Equador é importante.
O Brasil poderia se tornar a Meca dos pequenos lançadores, com uma dezena de plataformas (ou mais, se expulsarem os quilombolas da região) e toda uma infraestrutura de apoio. Hotéis, comércio, moradias pro enorme contingente de trabalhadores altamente especializados, uma infra portuária de verdade, turismo pra atender a todos os nerds que adorariam ver lançamentos…
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Infelizmente isso não vai acontecer. As empresas pequenas não tem verba pra bancar a construção da base, e nenhum governo brasileiro consegue pensar mais do que 4 anos no futuro, ninguém vai se indispor com o partido ou os eleitores bancando um projeto de bilhões “com tanta criancinha passando fome”. A idéia de que jovens seguirão carreira em tecnologia, prosperando, gerando divisas e transformando o Brasil em uma referência em espaço é demais pras cabecinhas dos comentaristas de portais.
E nem cheguei no paramécio da Carta Capital dizendo que os EUA querem Alcântara para montar uma base militar e poder atacar a África.
De resto, toda hora, como um relógio redescobrem essa groselha de revitalizar a Base. Duvida?
Não vai dar em nada, é só mais uma vez gente querendo mostrar serviço sem mover uma palha, com um ministro que diz que Alcântara é um local estratégico por ser “mais perto do espaço”. E o pior de tudo: assim como o foguete imaginário com a Ucrânia, que consumiu R$ 1 bilhão, mais uma vez nós vamos pagar a conta.
UPDATE: a SpaceX declarou que não tem nenhum interesse em lançar do Brasil e os relatos de que estava em conversas com alguém aqui são “imprecisos”. Ou seja: chamaram o ministro de mentiroso.
fonte: https://meiobit.com/380649/spacex-n...e-quer-base-de-alcantara-para-lancar-foguete/
 

Gulf

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Desculpem floquinhos mas a SpaceX não vai vir pro Brasil e ninguém importante quer Alcântara.
Muito tem se falado da Base de Alcântara, agora o ministro da Defesa disse que há várias empresas interessadas e que a base pode render bilhões de dólares! A triste realidade é que a base não existe, a infra toda precisa ser construída praticamente do zero e os motivos pra esses projetos não se concretizarem são inúmeros. Enumeramos alguns, clique e confira.
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Carlos Cardoso 1 ano atrás



alcantara
Milhões de anos atrás um asteróide vindo do espaço desconhecido entrou em rota de colisão com a Terra. Já na atmosfera, ele se dividiu. Metade caiu em Wakanda, formando a imensa reserva de vibranium daquele país. A outra metade, trazendo o fóssil de uma imensa cabeça de burro andoriano, caiu onde mais tarde seria inaugurado o Brasil.
Só isso explica a mistura de azar, incompetência e teimosia que ronda todos os nossos projetos. Lembre-se, nós tivemos QUINHENTOS ANOS pra construir a réplica da Nau do Descobrimento, e conseguimos atrasar e ela não participou da comemoração. Nós somos incapazes de construir um barco com tecnologia de 500 anos atrás.
Nosso programa espacial vai mudar, claro, depois que a comissão que o Temer nomeou se reunir pela primeira vez daqui a um mês vão canetear tudo e chegaremos em Marte, mas até lá só acumulamos fracassos e desculpas. O mais inadmissível deles é a Base de Alcântara.
A proposta de arrendar a base para vários países, aventada pelo ministro da Defesa é boa, infelizmente é muito pouco, tarde demais.
Em teoria a base é excelente, por um motivo simples: velocidade tangencial. O período de rotação da Terra é constante em qualquer ponto do planeta, mas para isso pontos em latitudes diferentes se movem a velocidades diferentes. No Equador a Terra gira a uma velocidade de 1.674,4 km/h. Já no Centro Espacial Kennedy, que fica em uma latitude de + 28,59°; a velocidade de rotação cai para 1.470,23 km/h.
Quando você lança um satélite para órbita baixa, precisa de pelo menos 8 km/s de velocidade. Por isso lançamos quase sempre no sentido de rotação: aproveitamos o empurrão do planeta. Do Cabo Canaveral isso reduz 0,408 km/s do total exigido. Umlançamento do Equador reduziria em 0,465 km/s. Não parece muito mas é um pouquinho que ajuda, e economizaria 15% a 20% de combustível, permitindo cargas um pouco mais pesadas.

Isso é desejável mas não é essencial. Os russos lançam seus foguetes principalmente do Cazaquistão, a União Européia (Rússia incluída) usa a base na Guiana Francesa, que a 5 graus de latitude tem uma velocidade de rotação de 1.665,6 m/s.
A posição da base brasileira é melhor, mas ela é uma linda rodovia asfaltada e pedagiada construída depois que todo mundo aprendeu a fazer caminhões off-road indestrutíveis. Os foguetes dos EUA são otimizados pra lançamento da Flórida, conseguem colocar em órbita suas cargas de lá, e o tamanho dos satélites vem diminuindo, não aumentando, Foguetes hoje têm capacidade de potência sobrando a ponto de conseguirem pousar!
A economia de combustível também não faz sentido. Primeiro, foguetes são sempre abastecidos até o talo. Não existe isso de colocar só o que vai usar. Segundo, combustível é o mais barato. Um lançamento do Falcon 9 custa uns US$ 62 milhões. O valor do combustível é US$ 200 mil.
Outro ponto negativo: a tal base… não existe. Sério. Tem alguns prédios e um monte de terreirões de terra batida com alicerces de obras paradas. Basta conferir.
O ministro disse que o Centro de Lançamento de Alcântara tem a infraestrutura pra acomodar lançamento de qualquer país. Mentira.
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Esse é o VAB — Vehicle Assembly Building reconstruído, é a maior construção da base, pra não ficar feio demais eles colocaram uma réplica do VLS, o foguete brasileiro que é excelente, se a função de um foguete for explodir sem aviso. Agora compare o tamanho do VLS com um Falcon 9.
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Para piorar, ao contrário da Guiana não há NENHUMA infraestrutura em volta, Alcântara é basicamente uma vila. screenshot-22_02_2018-12_52_40
Esse é o “porto”. Imagine um foguete de 70 metros passando por essas ruelas, único caminho até a estrada que leva ao Centro de Lançamento. E não, não adianta falar que tem uma pista de pouso na base. O maior cargueiro do mundo, o Antonov An-225 Mriya leva cargas de até 43 m de comprimento, o Falcon 9 tem 70.
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Quer mais motivos pra não fazer sentido a SpaceX usar a base imaginária de Alcântara? Lembre-se que além de lançar os foguetes eles precisam pousar, e então ser levados de volta pros EUA pro processo de recauchutagem. 10 mil km de navio, se forem levados até a fábrica em Hawthorne, Califórnia.
Outro impedimento: os contratos mais lucrativos da SpaceX e o grosso dos contratos da ULA são com o Departamento de Defesa. Tio Sam DEFINITIVAMENTE não vai deixar seus preciosos satélites saírem dos EUA até um shithole country qualquer, cheio de espiões chineses. A rigor não sei nem se os regulamentos de exportações permitem que a SpaceX tire os foguetes do país. Quando eles sequer podem contratar estrangeiros, que dirá literalmente exportar o foguete.
O ministro diz que há interesse de um monte de gente, mas vamos ser sinceros.Segundo a imprensa, havia uma visita marcada em novembro mas a SpaceX cancelou em cima da hora por causa de imprevistos com o Falcon Heavy. Calma. A SpaceX tem SETE MIL FUNCIONÁRIOS, não tinha um corno pra mandarem? Nem a tia do café? “Consuela, dá uma olhada, vê se o lugar tem potencial”.
Tem gente dizendo que podem usar a base para aumentar o número de lançamentos, mas de novo: não faz sentido. A capacidade ociosa no Cabo Canaveral é imensa. Alcântara tem UMA plataforma de lançamento pra foguetes em miniatura. O Centro Espacial da Guiana tem seis plataformas, três em uso, uma para Soyuz, uma para Ariane e outra para foguetes menores.
Já os EUA, bem… atualmente a SpaceX aluga três estruturas de lançamento, uma delas virou área de pouso. A ULA aluga outra, e a Blue Origin pegou mais uma. No mapa abaixo em marrom (?) as plataformas em uso. Em branco as de reserva.
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Você acha MESMO que em vez de passar um zarcão nas torres, tirar a poeira dos canos e revitalizar uma estrutura já existente eles vão preferir vir pros cafundós do Maranhão e construir uma base de lançamentos do zero?
Quanto aos ucranianos, eles realmente precisam de uma base: eles usam Baykonur mas é uma base na base do favor, e com os russos invadindo e roubando a Crimeia, a relação entre os dois países anda abalada. Só que como ficou comprovado peloúltimo acordo, eles não têm grana pra construir nada.
Mas calma, há esperança!
Existe um cenário onde a base imaginária de Alcântara pode fazer sentido.
Estão entrando no mercado muitas empresas pequenas, que não possuem recursos pra uma infraestrutura permanente. Também temos países como Israel, com lançamentos eventuais e complicações geopolíticas.
Essas empresas usam foguetes pequenos, com pouca potência sobrando, e quando cada metro por segundo de Δv importa, lançar o mais próximo do Equador é importante.
O Brasil poderia se tornar a Meca dos pequenos lançadores, com uma dezena de plataformas (ou mais, se expulsarem os quilombolas da região) e toda uma infraestrutura de apoio. Hotéis, comércio, moradias pro enorme contingente de trabalhadores altamente especializados, uma infra portuária de verdade, turismo pra atender a todos os nerds que adorariam ver lançamentos…
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Infelizmente isso não vai acontecer. As empresas pequenas não tem verba pra bancar a construção da base, e nenhum governo brasileiro consegue pensar mais do que 4 anos no futuro, ninguém vai se indispor com o partido ou os eleitores bancando um projeto de bilhões “com tanta criancinha passando fome”. A idéia de que jovens seguirão carreira em tecnologia, prosperando, gerando divisas e transformando o Brasil em uma referência em espaço é demais pras cabecinhas dos comentaristas de portais.
E nem cheguei no paramécio da Carta Capital dizendo que os EUA querem Alcântara para montar uma base militar e poder atacar a África.
De resto, toda hora, como um relógio redescobrem essa groselha de revitalizar a Base. Duvida?
Não vai dar em nada, é só mais uma vez gente querendo mostrar serviço sem mover uma palha, com um ministro que diz que Alcântara é um local estratégico por ser “mais perto do espaço”. E o pior de tudo: assim como o foguete imaginário com a Ucrânia, que consumiu R$ 1 bilhão, mais uma vez nós vamos pagar a conta.
UPDATE: a SpaceX declarou que não tem nenhum interesse em lançar do Brasil e os relatos de que estava em conversas com alguém aqui são “imprecisos”. Ou seja: chamaram o ministro de mentiroso.
fonte: https://meiobit.com/380649/spacex-n...e-quer-base-de-alcantara-para-lancar-foguete/
Que aleatório isso sega!?!
Isso sem contexto fica bem estranho, mas é de uma época onde haviam rumores na imprensa sobre isso.
 

sega.saturn

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Que aleatório isso sega!?!
Isso sem contexto fica bem estranho, mas é de uma época onde haviam rumores na imprensa sobre isso.
Achei que era pertinente ao tópico (astrônomos-fisicuzinhos-tópico-oficial) mas a moderação pode ficar a vontade para apagar se quiser.
 

Gulf

F1 King
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Achei que era pertinente ao tópico (astrônomos-fisicuzinhos-tópico-oficial) mas a moderação pode ficar a vontade para apagar se quiser.
Não disse que não era pertinente, mas sem o contexto da época fica estranho para alguém de fora.
Enfim, meu post foi mais para servir de alerta pra quem não conhece a história.
 

Rodrigo Zé do Cx Jr

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Vejam o vídeo desse débil mental em relação ao buracão da massa:



Além de tudo o desgraçado é terraplanista.
Nojento demais, saco de lixo.
 

Senhor Catástrofe

Bam-bam-bam
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treta desnecessária.
Pois é, eu vi no Facebook uma página compartilhando um post da própria mulher dizendo que não fez nada sozinha.

pois é, foi a primeira coisa que fui conferir qdo divulgaram a parada e lá ela é bem clara que foi todo o time

sei lá, na minha visão quem fez ou não o avanço só vai interessar mesmo pra quem é da área e pra alunos quando isso entrar nos livros, o que importa de verdade é o que foi descoberto ou criado (falando de qualquer avanço científico)

uma vez uma pessoa disse que um dos inimigos do avanço da humanidade é o ego
 

bolO

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Eu acho que a terra é uma grande bolinha de gude e as estrelas e todo o resto são a terra, só que preta.

vlw ai
 

Rodrigo Zé do Cx Jr

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https://g1.globo.com/ciencia-e-saud...a-balas-de-plasma-e-move-o-espaco-tempo.ghtml

O mistério do buraco negro que dispara ‘balas’ de plasma e move o espaço-tempo
'É um dos mais extraordinários sistemas de buraco negro já encontrado', afirmou o principal autor do estudo.
TOPO
Por BBC
03/05/2019 11h42 Atualizado há 4 horas


O buraco negro dispara jatos de plasma ao sugar material de uma estrela companheira — Foto: Icrar

O buraco negro dispara jatos de plasma ao sugar material de uma estrela companheira — Foto: Icrar

O comportamento inusitado desse buraco negro fascina e intriga os cientistas.
Chamado V404 Cygni, ele se encontra a 8 mil anos-luz de distância da Terra.
Embora tenha sido identificado pela primeira vez em 1989, o buraco negro chamou atenção internacional quando, após mais de duas décadas de inatividade, despertou em 2015 se tornando o objeto mais brilhante observado no espaço com raios-X de alta energia.
Quando astrônomos do mundo todo apontaram seus telescópios para esse objeto celeste, descobriram um comportamento peculiar. E os resultados, baseados em dados coletados em 2015, acabam de ser publicados na revista científica Nature.
"Ficamos chocados com o que vimos, foi algo completamente inesperado", indicou Gregory Sivakoff, pesquisador da Universidade de Alberta, no Canadá, um dos autores do estudo.

Jatos que oscilam

O V404 Cygni faz parte de um sistema binário, que absorve ou aspira material de sua estrela companheira.
Ao fazer isso, ele dispara "balas" ou jatos em alta velocidade para expelir o material.
Geralmente, esses jatos saem diretamente dos polos dos buracos negros em uma linha perpendicular ao anel de matéria que os envolve, o chamado disco de acreção.
Mas no caso do V404 Cygni os jatos são expelidos rapidamente em diferentes direções e de forma curva.
Os jatos parecem girar rapidamente como nuvens de plasma de alta velocidade, com apenas alguns minutos de intervalo.
"É um dos mais extraordinários sistemas de buraco negro já encontrado", disse o principal autor do estudo, James Miller-Jones, do Centro Internacional de Pesquisa em Radioastronomia da Universidade de Curtin, na Austrália.

Girando como um pião

O disco de acreção do buraco negro tem 10 milhões de quilômetros de diâmetro, e a mecânica deste disco é responsável pelo inusitado comportamento do jato.
Em geral, se espera que o disco gire no mesmo eixo que o buraco negro - mas não foi o que aconteceu desta vez.

"O que é diferente no caso do V404 Cygni é que acreditamos que o disco de matéria e o buraco negro estão desalinhados", explica Miller-Jones.
"Aparentemente isso está fazendo com que o interior do disco gire como um pião que está perdendo velocidade, e que emite jatos em diferentes direções, à medida que muda sua orientação."
Quando o V404 Cygni despertou em 2015, uma grande quantidade de matéria circundante caiu dentro do buraco negro ao mesmo tempo, então a taxa de acreção ou queda de matéria no buraco aumentou temporariamente e fez com que a energia disparasse.
A pesquisa se baseou em observações do Very Long Baseline Array (VLBA), um radiotelescópio formado por dez antenas localizadas em diferentes enclaves dos Estados Unidos.
Também foram utilizados dados do observatório integral de alta energia da Agência Espacial Europeia (ESA).

Arrasto de espaço-tempo

Os cientistas investigam as causas do inusitado desalinhamento entre o buraco negro e o disco de matéria que o rodeia.
Uma das possibilidades é que o eixo de rotação do buraco negro tenha sido inclinado por um impacto durante a explosão estelar que o criou.
A mudança no eixo de rotação se deveria também a um fenômeno chamado efeito de arrasto de referenciais (frame dragging, em inglês), previsto por Albert Einstein em sua teoria da relatividade geral.

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O interior do disco gira como um pião que está perdendo velocidade e emite jatos em diferentes direções — Foto: Icrar

O interior do disco gira como um pião que está perdendo velocidade e emite jatos em diferentes direções — Foto: Icrar

Ao girar, o campo gravitacional rotatório do buraco negro é tão intenso que arrasta o espaço-tempo em seu entorno.
A constatação, segundo os autores do estudo, amplia nosso conhecimento sobre a formação de buracos negros - e, como destaca Sivakoff, "nos dá um pouco mais de informação sobre a grande questão: como conquistamos nosso lugar no Universo?"
 
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