Sim, eu entendo, e a proposta liberalizante do Guedes engloba tudo isso. Eu concordo com ela, mas ela parece vaga justamente no sentido de querer simplesmente abrir a economia e parecer apostar tudo no investimento externo, esperando que o volume seja alto o suficiente para alavancar a economia. E se não for? Ainda existe o fato do Brasil já ser um país totalmente dependente de investimento externo, quase um refém, bem diferente dos países desenvolvidos que investiram maciçamente em pesquisa, desenvolvimento, tecnologia e em suas próprias indústrias, antes de pura e simplesmente abrirem suas economias.
Não estou dizendo que o Brasil não deveria abrir sua economia e buscar investimento externo – pois deveria – mas sim que também deveria buscar simultaneamente outras maneiras de fortalecer sua economia e faze-la crescer, principalmente com o objetivo de ampliar e fortalecer sua indústria nacional e torna-la menos dependente de investimento e tecnologia externa. De repente, o próprio Paulo Guedes tem isso em mente para um segundo momento quando a economia se recuperar e o estado voltar a ter capacidade de investimento. Isso também é o mínimo para um país que almeja ser uma superpotência.
Posso fazer uma crítica que espero ser salutar?
Brasileiro é megalomaníaco.
Isso mesmo. Talvez por ter complexo de inferioridade, desde o fim do Império a gente tem feito exatamente isso que você acha interessante: Coisas grandes. Um grande objetivo, mudanças drásticas. Algo foda pra carai.
Certa vez fiz uma postagem sobre o Minas Geraes (com E). Era o terceiro mais poderoso navio de guerra do mundo, ter esse navio gerou uma crise diplomática federal, afinal os americanos não gostaram da gente ter esse "brinquedo", mais poderoso que todos os navios deles (imagina, o Brasil com navios mais poderosos que os EUA, parece zoeira, mas é verdade) e o São Paulo rave em construção, teríamos 2 dos três mais poderosos navios do mundo. Imagina a m****. E ela não acaba aí. A Argentina, com medo do que o Brasil faria com um monstro daqueles, com dois, aliás, também tratou de obter seus dreadnoughts. Nisso, o Chile ficou com medo do que a Argentina poderia fazer e tbm tratou de obter seu próprio dreadnought. Isso ficou conhecido como a corrida armamentista da América do Sul.
Sabe o que aconteceu? A gente não tinha dinheiro pra comprar o super navio
e fazer manutenção nele. O navio era tal colosso (para a época) que simplesmente comeria o orçamento da marinha se fosse cuidado como minimamente deveria ser cuidado. E simplesmente paramos de cuidar dele. Como resultado, enquanto navios de guerra duram décadas, em 10 anos o navio era um remendo flutuante.
Tanto que começou a primeira guerra mundial e os ingleses vieram loucos pra arrendar o navio para usar na guerra e, quando viram o lastimável estado do mesmo, preferiram não jogar fora seu dinheiro nele.
Aí, tivemos um século de governos com grandes planos megalomaníacos. Alguns na cultura, outros na economia, outros sei lá em quê... Basta pensar na riqueza do ciclo da borracha que poderia ter levado educação e saúde ao norte do país, mas nos deixaram teatros e edifícios incríveis e... Pouco mais que isso.
Vargas era megalomaníaco.
Os militares eram megalomaníacos.
Sarney era megalomaníaco em seus planos econômicos.
Collor foi megalomaníaco em seus planos econômicos.
A constituição cidadã de 1988, a mais completa e avançada do mundo, igualmente era megalomaníaca.
Eis que FHC veio e fez o plano Real, não se engane, era trabalho colossal, que muita gente vai confundir com megalomania, porque estamos acostumados a isso, mas era um trabalho técnico fudido, mas não megalomaníaco.
Veja, o plano real era "só" um plano econômico. Não era uma mudança de cultura, saúde, política e o escambau. Mas se tornou. Quando deu o resultado simples de acabar com a inflação e gerar uma moeda estável, fez mais pela economia nacional que os 30 anos anteriores.
Tanto que até hoje a gente ainda usa o Real. Não sei sua idade, mas eu tenho mais de 40, vivi a época da hiperinflação, vivi a época dos planos econômicos incríveis que deram em nada.
A Era PT tbm foi uma época megalomaníaca. "Nunca antes na história desse país" era o mote deles. Nunca antes tanto dinheiro pras construtoras. Nunca antes tanto dinheiro pras montadoras. Nunca antes tanto dinheiro para os "pobres". Nunca antes tanto dinheiro pra educação e cultura. Nunca antes o Brasil investindo trilhões em outros países pobres...
Tamos pagando até hoje a Era PT.
Inclusive, não dá pra não falar do supercomputador do Ministério da Educação, um dos maiores e mais avançados do mundo, mas que só funciona alguns dias por semana porque ele gasta tanta energia elétrica que não tem dinheiro pra pagar.
Todos esses (e tanto outros) casos são exatamente o que você quer, respostas para tudo, grandiosas, fuderosas, que resolvem todos os problemas.
Mas que não resolvem nada, apenas geram atraso, atraso e atraso.
Bolsonaro tá fazendo algo incrível para o nível do Brasil, ele está resolvendo os problemas um de cada vez, escolhendo os maiores e atacando um a um. E todos torcemos pra ele continuar assim. Porque é isso que dá resultado. Não adianta cobrar "Bolsonaro tem que achar outras formas de melhorar a economia, tem que pensar no longo prazo", porque todas as vezes que surgimos com planos que resolviam tudo, eles não resolveram nada, apenas nos deixaram o problema por resolver e pioraram eles.
Arruma-se a bagunça de impostos, algo que eu era criança e já diziam ser um dos maiores entraves do Brasil - melhor ter 3 impostos que custam 30% de algo a ter 300 impostos que custam 30% de algo, porque vc tem que contratar pessoas, empresas e etc só pra gerir esses 300 impostos, o que custa outros 10% (ok, exagerando, mas tem matérias de economistas falando o preço desses tantos impostos).
Melhor reorganizar os quase 90 anos das leis trabalhistas e permitir empresários gastarem menos com a mão de obra, terem segurança jurídica, etc que apenas fazer como todos e colocar mais leis em cima das que havia. Tbm tem tópico, algumas leis ainda são dos anos 40! Elas deixaram de ser usadas, mas tão lá. E sempre tem quem as use para fins de piorar a vida do empresário.
Quando eu falo do empresário é porque crescemos ouvindo que eles são os exploradores que atrapalham o país. Mas isso é uma mentira, são as pessoas que fazem girar a economia, que geram empregos, que pagam os impostos que permitem aos próprios funcionários públicos dizerem que eles são o mal. Facilitar a vida do empresário gera produtos mais baratos ou salários melhores ou mais empregos (ainda que baratos) ou tudo isso junto (caso a caso).
Sei que escrevi um textão, mas espero que leia e que a crítica ajude a ver com outros olhos a questão.
Ah, e a crítica não é pra te atacar, mas pra mostrar uma visão diferente.