No fim da vida minha avó necessitava de cuidados 24 horas. Dois turnos diários, sempre com um enfermeiro e uma cuidadora, e uma cuidadora extra para dormir. Era foda.
Uma das cuidadoras era muito bruta. Um exemplo: limpava os olhos da minha avó com papel higiênico, em vez de usar algodão e soro fisiológico. Quando vi isso, fiquei louco. Mas primeiro questionei minha mãe e minha tia, que efetivamente mantinham os cuidadores. Eu sequer morava na mesma cidade e é muito fácil quem está longe criticar. Elas também ficaram nervosas e não se opuseram sobre eu conversar com a cuidadora, com a ressalva que encontrar substituto é bem difícil. Sejamos realistas: um cuidador, no caso da vovó, era alguém que lidava com fezes, urina, vômito, odores, funções fisiológicas diversas, e está dentro da sua casa, por muito tempo. Não é fácil repor alguém assim. Alguns sapos você engole.
Chamei a dona fulana e, sem me alterar, de forma direta, relatei tudo que vi de errado e exigi que ela passasse a realizar os cuidados da forma mais confortável possível para minha avó. Ela ainda tentou argumentar, e fui enfático: havia um único jeito de executar as tarefas. E ponto! E ainda complementei: você só está aqui ainda porque, por algum motivo que não sei qual é, vovó gosta de você (e era verdade. Minha avó esteve lúcida até o fim). A mulher fez um drama, disse que iria pedir demissão, sumiu por uns dois dias e voltou com outra postura. Melhorou. Ficou perfeita? Claro que não. Mas voltou mais suave. A lucidez da minha avó a ajudava também a não ser realmente maltratada.