Bolsonaro combate a ciência, diz ex-ministro que ignorou parecer de entidade médica
Luiz Henrique Mandetta também reclamou do atual “silêncio” do Ministério da Saúde em relação às ações contra a doença
Mandetta: críticas a Bolsonaro, mas sem mencionar ignorada a parecer médico | Foto: FABIO RODRIGUES POZZEBOM/AGÊNCIA BRASIL
Titular do Ministério da Saúde de janeiro de 2019 a abril deste ano, Luiz Henrique Mandetta parece tirar qualquer responsabilidade de sua parte em relação ao avanço do
vírus chinês no Brasil. Em debate
online realizado na tarde de hoje, ele criticou o presidente da República pela situação do país na questão do combate à doença provocada pelo novo coronavírus.
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De acordo com Mandetta, o presidente da República e a atual equipe do governo federal combatem a ciência. Como exemplo, ele acusou Bolsonaro de ir contra determinadas recomendações. “Queria aglomeração”, disse o ex-ministro, sem apresentar nenhum dado que prove que seu ex-chefe tenha em algum momento defendido aglomerações em meio ao período de pandemia. Bolsonaro, inclusive, foi o responsável pelo decreto que
colocou o país em estado de calamidade pública ainda em março.
Em relação ao respeito à ciência, Mandetta, que já admite
interesse em se candidatar em 2022 à presidência da República, ignorou algo protagonizado por ele mesmo. Em abril, ainda na condição de ministro da Saúde, ele
ignorou parecer de entidade médica em favor do uso da cloroquina em fases iniciais de tratamentos contra a covid-19. Conforme noticiado com exclusividade por
Oeste, o então aliado de Bolsonaro não respondeu à manifestação feita pela Sociedade Brasileira de Cancerologia (
SBC).
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Mandetta ignorou recomendação da Sociedade Brasileira de Cancerologia ao Ministério da Saúde. Entidade defendia uso de medicamento em caráter excepcional
revistaoeste.com
EXCLUSIVO: Mandetta ignorou parecer de entidade médica a favor da cloroquina
Documento encaminhado pela Sociedade Brasileira de Cancerologia ao Ministério da Saúde recomendava uso do medicamento em caráter excepcional
Mandetta não acatou recomendação de entidade médica | Foto: Marcos Corrêa/PR
Quando esteve à frente do
Ministério da Saúde, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta ignorou uma manifestação da Sociedade Brasileira de Cancerologia (SBC), uma das mais respeitadas entidades médicas do país, com mais de 70 anos de atuação, em favor da utilização precoce da
cloroquina e da hidroxicloroquina em pacientes com os primeiros sintomas de covid-19 no país.
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Oeste obteve com exclusividade o documento. Ele foi incluído em investigações do Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul (MPF-RS) relacionadas ao tratamento de pacientes da covid-19. A manifestação da SBC foi encaminhada ao então ministro em 13 de abril; Mandetta deixou o ministério três dias depois. Em suma, sua saída ocorreu após ele resistir a adotar os dois medicamentos como protocolo de atendimento para a covid-19. Enquanto esteve à frente do Ministério da Saúde, Mandetta recomendou o uso da cloroquina apenas para pacientes em estado grave. Nesse meio-tempo, ele alegava que adotaria o medicamento como protocolo após a existência de evidências médicas robustas sobre a droga.
Em sua manifestação, a Sociedade Brasileira de Cancerologia defendeu a ideia de que o medicamento deveria ser ministrado em caráter emergencial em virtude da então “situação crítica de pandemia COVID 19, da ausência de vacina e de tratamentos disponíveis efetivamente satisfatórios”.
[…] “O protocolo de tratamento monitorado da CQ/HCQ E AZITROMICINA é abrangente, eficaz, de baixo custo com potencial de grande disponibilidade no mercado e com baixa incidência de efeitos adversos”, defendia na época a Sociedade Brasileira de Cancerologia.
Mandetta ignorou documento
O documento é assinado pelo presidente da entidade, Ricardo César Pinto Antunes. Para Antunes, existiam protocolos favoráveis à adoção do medicamento até então. “O protocolo terapêutico precoce está alinhado às melhores evidências científicas (ENSAIOS CLÍNICOS) que se disponibilizam nesse momento emergencial da crise epidemiológica, na manutenção da saúde dos cidadãos brasileiros e na manutenção do equilíbrio dos sistemas de saúde públicos e privados”, defendeu a entidade.
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A polêmica relacionada à administração precoce da cloroquina foi responsável pela exoneração de dois ministros: Mandetta e Nelson Teich. Nesse meio-tempo, os dois resistiram à adoção da medicação. Depois da saída de ambos, o Ministério da Saúde adotou, em maio, uma nova orientação, autorizando a administração da cloroquina a pacientes que manifestem os primeiros sintomas da covid-19.