BRASÍLIA - A troca de farpas com o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva não interessa mais ao presidente da Argentina,
Javier Milei, avalia o embaixador do Brasil em Buenos Aires,
Julio Bitelli.
Em entrevista ao
Estadão, o embaixador afirma que, nos primeiros cem dias de governo, a relação transcorreu dentro da normalidade, por causa de uma precaução prévia da diplomacia de buscar estabelecer canais de diálogo com ministros de Milei, para evitar um rompimento.
Segundo o diplomata, Milei recebeu um “choque de realidade” e agora o que se ouve do lado argentino é a intenção de explorar a relação com o Brasil.
Ele enxerga uma decisão do governo argentino de não aprofundar as divergências com Lula e entende que os episódios foram dramatizados, o que avalia ser uma tendência nas sociedades dos dois países.
O embaixador brasileiro enumera gestos feitos pelo governo Lula em favor da Argentina nos últimos meses e diz que o setor industrial do país vizinho alertou a Milei que seu futuro dependia do Brasil.
O embaixador entende que as diferenças entre o líder petista do Brasil, um dos principais nomes da esquerda latino-americana, e o libertário Milei, agora um novo rosto da direita e aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, devem sempre ser levadas em conta. Mas observa que as ofensas cessaram - ao menos por enquanto.
Bitelli faz uma separação entre a retórica de campanha do “candidato Milei” e o discurso oficial do “presidente Milei”.
Segundo ele, o chefe do Executivo recuou nas três frentes de embate ideológico que abriu durante a campanha eleitoral como forma de ganhar engajamento: com Lula, com a China e com o papa Francisco - Milei viajou e participou de audiência no Vaticano, depois de insultar o pontífice.
“Nas três houve um recuo muito claro e muito pragmático”, afirma o embaixador.