Olhem a crítica do omelete
Se Kinberg vai se despedir dos X-Men, ele opta pelo caminho crepuscular e definitivo de Logan porque, afinal, agora já não tem mais nada a perder.
Essa escolha fica demarcada não apenas na jornada de Jean Grey dentro do filme mas principalmente de Charles Xavier, pedra fundamental do universo mutante. Diante da oportunidade de fazer uma celebração nostálgica e autorreferente dos X-Men com esse fecho de ciclo (nostalgia que seria até justificada, dada a distância dos primeiros X-Men nos anos 2000), Kinberg pega o rumo oposto e problematiza o legado do Professor X (inclusive questionando o próprio nome "X-Men") da mesma forma melancólica e revisionista que Logan fechou a história de Wolverine. Em ambos os casos, o conceito de família, tendo Xavier como o emblema do patriarca provedor e centralizador, é colocado em xeque.
A influência que o revisionismo de James Mangold exerce sobre Kinberg é visível, mas o que faz de Fênix Negra um filme bem 2019 é o protagonismo feminino. Jennifer Lawrence, Sophie Turner eJessica Chastain reivindicam para si o lugar discursivo, enquanto aos personagens homens resta remoer suas convicções articuladas anteriormente
O resultado - tanto na opção pela chave revisionista/crepuscular quanto nas escolhas de discurso empoderador - é cheio de inconsistências. Falta agilidade à decupagem, ao mesmo tempo em que viradas acontecem com pressa. Embora Kinberg seja roteirista veterano, aqui ele se mostra particularmente superficial nas relações de causa e efeito; a velocidade com que personagens atribuem culpa uns aos outros ou mudam de lado e opinião é bizarra
Ainda assim, Fênix Negra não deixa de ser contundente em algumas escolhas de caracterização. Isso está, por exemplo, na forma como Scott se dirige a Jean quando ela surta ("você jurou que voltaria para mim", grita ele cheio de senso de merecimento), está na redução de Xavier e Hank a egos feridos (não só Charles mas também Hank é mostrado com um copo de bebida na mão em cenas distintas de lamentação)
Fênix Negra traz elementos contundentes demais de um posicionamento discursivo (desde o fato de Jean beber ponche sem considerar a opinião de Scott, no início da trama) para se ignorar. O filme acaba fortalecendo o isolamento de Jean por conta desse senso de despertencimento num mundo de homens (e no gênero dos super-heróis em geral, também masculino em essência), e Kinberg faz um relato invulgar nesse sentido, embora frequentemente desmedido.