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Numa e a ninfa de Afonso Lima Barreto
Por já ter lido 2 livros do Lima Barreto, seus dois principais, e mesmo conhecendo seu estilo literário e crítico, ao pegar esse livro, ao julgá-lo pelo título ainda tinha esperanças de ler um bom romance romântico. Ledo engano, se tem alguma coisa que podemos definir de Lima Barreto é que ele sabe criticar a política brasileira e brasilidade do povo, principalmente em seus anos pós-império. Crítico, satírico e sagaz, o autor não perde a razão ao denunciar e desaprovar a política brasileira mais uma vez.
O romance em questão pesa a mão na escrita rebuscada e dificultosa, não é pra qualquer leitor de primeira viagem, eu mesmo acabei me perdendo várias vezes na sua escrita, mas o tom que o livro tem também não ajuda muito. Por possuir muitíssimos personagens e não focar em nenhum deles a gente acaba se perdendo um pouco, é difícil de memorizar quem são e suas características. A história trabalha com muita política por debaixo dos panos, mostra toda a zona intrínseca do jeitinho brasileiro, de como tudo sempre foi criado e sempre esteve ali enraizado em nossa cultura desde sempre. A alta sociedade política só se preocupa com si mesma, com sua herança, com sua família, e nunca existem preocupações com o que o povo ta sentindo, ta passando ali na base, o foco é apenas sugar tudo das tetas da república, nem que seja preciso o uso da força.
O livro da Penguim e Companhia das letras é muito bem acabado, muito bem estudado pelos estudiosos, com um excelente prefácio, ótimas notas ao final (notas mais gramaticais, pra quem é da área) e possui uma qualidade excelente. Sempre recomendo nesses livros dessa editora a ler a introdução por último, pois pode conter spoilers pelos estudiosos que escrevem o prefácio.
Como disse, não é o livro mais tranquilo de ler, e seu seguimento também se demonstra um pouco complicado, por ter instruções políticas um pouco diferentes das que temos hoje, não há muita compreensão de como funcionava o sistema de eleição daquela época inicial de república, do final do século XIX, e como o autor não explica, por que é subentendido para a época, acabamos nos perdendo um pouco, por mais que haja certa tentativa de elencar o interior dos personagens.
Em minha opinião não é a melhor obra de Lima Barreto, que trouxe um crítica maravilhosa no excelente Clara dos Anjos (1922 e 1948) e uma alegoria muito gostosa em Triste Fim de Policarpo Quaresma (1916). O autor é um de meus favoritos do modernismo e da crítica social e racial brasileira, mas esse livro em questão deixou a desejar. O título do livro também deixa ambíguo seu propósito, pois vemos muito pouco o protagonista (Numa Pompilio) e a Ninfa traz uma imensa obscuridade sobre seu significado, que a meu ver não foi efetivo para a história e o que ela pretendia trazer.