Pingu77
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O Konami Code é um código que libera/ativa opções secretas nos jogos da empresa Konami. Seus comandos são sempre os mesmos, imutáveis, fixos: ↑ ↑ ↓ ↓ ← → ← → B A. Muitas vezes age como facilitador, e opera como cheat, trapaça. Ou seja, signos (direções e letras) repetidos em diferentes sistemas/jogos para ativar atalhos, facilidades, vantagens. Analogamente, pensando na política e na sociedade, existem signos que nos sugerem o oculto, segredos, movimentos implícitos, mas também existem a velharia deles, repetidos à exaustão, que são apenas isso, trapaças, facilidades, atalhos que nos tiram a tarefa de pensar e encarar o real e nos deixam apenas "armaduras"/"armas" que não lutamos por elas, habilitamos com nosso esforço, mas sim que foram programadas para nossa própria impotência de pensar e agir.
Codificação é marcação. Nossa mente tem um vício inerente que é a necessidade de pensar regularidades, semelhanças, e elas são essenciais para não nos perdermos no caos e na diferença. A grande questão é que o nosso pensamento não deve se limitar à representação (códigos), baseada no repouso, princípio da identidade e da não-contradição, que reduz a diferença constitutiva das coisas, seu movimento, à alteridade e oposição somente. Forçar o pensamento, pensar em perspectiva é sempre mais interessante porque a realidade é sempre mais rica, múltipla do que os facilitadores da semelhança e regularidade.
Os códigos que nos sujeitam às vezes estão cheios de problemas, e que a realidade contingente, variável, múltipla, é achatada em nome dessa marcação arbitrária que define o código. Tomem como exemplo a essência do que se define como sopa ou o que define uma sopa. Alguém poderia dizer que a sopa é definida como prato líquido que inclui ingredientes sólidos. Mas se pensarmos em cerais, por exemplo, é uma refeição líquida que inclui ingredientes sólidos. Poderia-se, então, incluir o elemento diferencial "servida quente" para sopa, mas a sopa polonesa borscht, por exemplo, é servida fria. Bem, mas no caso dos cereais poderia-se argumentar que não é uma sopa porque inclui leite. No entanto, existem diversas sopas no Leste Europeu que incluem leite. Alguém falaria decididamente que as sopas devem ser salgadas, e que cereais no geral não são, mas sopas de sobremesa (dessert soup) fogem a essa regra, são doces.
Se pensarmos em nível de escala, essas categorizações ou códigos são úteis e funcionais para nos guiarmos no mundo, como já falado, não nos perdermos no relativismo absoluto. Mas se diminuirmos o nível na escala para o ponto que a diferença é cada vez mais constitutiva às coisas, a sua essência singular, percebemos que as coisas ficam cada vez mais caóticas e ESCAPAM, como a sopa. Em nível mais molecular, em relação aos indivíduos, às nossas vidas, as coisas ficam ainda piores para os códigos oficiais. E essas marcações sempre surgiram de forma mais e outras menos arbitrárias. O ponto é que grandes agregados sempre se utilizaram de códigos, mas alguns altamente artificiais para manterem seu poder, controlar a matéria em seus fluxos, conter os desviantes. E aí a Igreja Católica marcou os hereges, levou à fogueira o Giordano Bruno; a URSS condenou os inimigos do proletariado; a Ditadura Militar no Brasil caçou os "subversivos"; etc.
Na história recente do Brasil, o grande agregado da Nova República, na figura do Partido dos Trabalhadores (PT), o Partido da Ordem, se utilizou amplamente desses códigos no debate público, seja oficialmente, seja através de seus asseclas. De 2013 para cá, já nas manifestações de junho, os afetos latentes da sociedade explodiram selvagens e vivos contra a paz artificial da propaganda oficial do governo corrupto. E no caldeirão de cores que se somavam à multiplicidade das ruas, os vermelhos, com seus significantes e códigos pré-estabelecidos, rechaçaram e esnobaram os verde-e-amarelos como "coxinhas", "alienados", etc. Não apenas no nível da baixa política, na alta seus adversários eram "fascistas", como panfletado pelos jornais chapa-branca ligados ao governo. No meio de tudo isso, entre a política de marketing de nível de produção cinematográfica (que narra uma bela história) e a militância nas ruas, a injúria, a calúnia, a difamação, a taxação e o ódio foram a regra.
A grande parcela em que se encontrava os verde-e-amarelos de agora, traídos por um governo e um partido corruptos, viram a alternativa no outro lado do problema, o Bolsonaro. Seria incorrer na facilidade (em um facilitador), e igualmente errado, dizer que o Bolsonaro e o Lula/Haddad são a mesma coisa, que são iguais. Não se trata disso. A grande questão aqui é que ambos se retroalimentam, e o tipo de mobilização que geram e em que são gerados, apresentam muitas práticas nas quais um tem muitas igualdades com o outro. Porque no meio da comparação, estão as muitas diferenças e discordâncias entre eles, e o propósito aqui é mobilizar um caminho aonde o rumo no país fuja das tendências homogêneas do poder (ou aos seus pretendentes) que esmagam a sociedade, que se crê dividida, mas que uma "metade" ao agir presenteia a outra com sua própria imagem no espelho - um petismo tradicional e agora um petismo de direita.
Bolsonaro e sua militância, por exemplo, foram escolados com o PT, porque sua campanha e muitos de seus seguidores não têm nenhum problema com difusão de notícias falsas, assim como o PT cinicamente nunca teve e agora se desespera com o descontrole caótico do fluxo de informação por estar perdendo a corrida presidencial. Ambos os lados tentam construir uma narrativa fazendo um resgate do passado e ressignificar os códigos aos seus propósitos de poder: o PT com a manutenção da caquética narrativa de sua "Era de Ouro" no governo ameaçada pelo "fascismo", mas que apaga a corrupção, a má administração e os escândalos petistas; os bolsonaristas com o apego ao binarismo da utilização dos velhos códigos, em sua classificação RETROSPECTIVA, por exemplo, de que "o nazismo é de esquerda" e a direita é pura, renovação, entre outras (o próprio Diagrama de Nolan é enviesado, já que historicamente no espectro político unidimensional entre os códigos ESQUERDA e DIREITA, nunca houve junto eixo "autoritário" e "libertário", e o hierarquismo nazista ou a posição da autoridade no Terceiro Reich sempre colocaram o nazismo à direita). Aceitam ou promovem a censura e o ataque, como no caso do Queermuseu ou a visita da Judith Butler ao Brasil no caso de direitistas; e o bloqueio ao debate do filme do Olavo de Carvalho no caso de esquerdistas.
O Ódio do Bem™ que direitistas tiveram no caso Marielle (relativizando a violência ou compartilhando notícias falsas, estapafúrdias), assim como a atitude de esquerdistas à facada em Bolsonaro (também relativizando a violência e espalhando mentiras). A maneira que bolsonaristas mobilizam seu rebanho para o medo da venezuelização do Brasil, pelo apoio patético do PT à ditadura de Maduro; enquanto os petistas mobilizam o medo para a ascensão do fascismo no Brasil, pelo apoio patético do Bolsonaro à Ditadura Militar que houve no Brasil, ao torturador Ustra, etc. E, com base nesse medo, a chantagem que os dois lados tratam como cúmplices e patrulham os mais próximos em afinidades políticas (quem vota no Ciro, na Marina, no Amoedo, etc.) para anularem suas diferenças e apoiarem o Megazord Político para enfrentarem o Mal Maior. E, principalmente, o modo que ambos os lados usam o termo "isentão" taxando aqueles que escapam dos seus códigos totalitários.
Diante desse péssimo cenário de polarização, que os dois lados se retroalimentam e tentam codificar o gado militante para atalhos mentais e alinhamentos automáticos, a solução cibernética (um outro circuito, um positivo que escapa dessa estabilização paralisante negativa) é se integrar ao que escapa dessa tribalização, faz fugir, e ao invés de se alienar na narrativa da respectiva bolha ideológica, se abrir aos signos caóticos que surgem das dinâmicas reais, do movimento molecular que ocorre nesse momento, que muitas vezes aparecem nas brechas, nas entrelinhas, como ruído e fora de qualquer categorização/codificação pré-estabelecida, que forçam a tarefa de pensar e entender, que não se deixam codificar facilmente (o movimento dos caminhoneiros, por exemplo, tinha diversas coisas contraditórias, heresias à "esquerda" e à "direita").
O próprio bolsonarismo, fora de seu círculo militante, nas beiradas aparece como um pragmatismo necessário contra uma cultura política corrupta e estagnada, e é muito mais amplo em sua diversidade de motivações do que o discurso fácil de muitas esquerdas culpando os eleitores do Bolsonaro de "fascismo". Em troca de se fechar no "cima", "baixo", "cima", "baixo", "esquerda" e "direita", "esquerda" e "direita", Bem e Mal do Konami Code, no binarismo de muletas mentais, trapaças para o pensamento, nas narrativas fabricadas ou a serem construídas, prefira o poder da nuance, as diferentes matizes, tons, contra o preto e branco, contra os valores absolutos da codificação artificial. E, como em Super Bomberman 3, jogo feito pela Hudson, que mais tarde essa franquia, assim como outras, foram adquiridas pela Konami, ao invés de usar os códigos (passwords) que existem de antemão, escolha avançar na árdua tarefa de pensar e agir, e aí sim desbloquear os códigos (que aparecem apenas para confirmar o que já foi percorrido, não há necessidade de usá-los), e então deixar uma bomba no nível máximo para explodir finalmente o Konami Code.
Crítica aos bolsonaristas:
- votem no Bolsonaro se realmente desejarem, mas não se deixem capturar novamente por esse jogo infernal do binarismo, essa chantagem do Menos Pior, vocês que tinham essa ou aquela preferência distinta lá no primeiro turno ou até antes, e mesmo você que sempre quis votar no Bolsonaro, não se deixem reféns de um petismo de direita e seus militantes. E, principalmente, não abram mão novamente dos seus valores mais preciosos em nome da luta contra o Mal Maior, não apoiar alguém que tolera ou defendeu tortura, é homofóbico (mas diz que mudou; suspeito), dá soluções fáceis e autoritárias para problemas complexos e, principalmente, deixa tudo nebuloso, não se compromete a explicar suas ideias a fundo, terceiriza a explicação. Na próxima fortaleçam uma alternativa antes dessa (Bolsonaro) ser a única contra o PT.
Crítica aos petistas e muitas das esquerdas:
- bem, vocês causaram toda essa situação ao insistirem em uma candidatura de um presidiário e depois de um poste, alguém que seria apenas um avatar, fantoche do líder que controlaria tudo da prisão, como um gangster, e foi participante direto e indireto do maior esquema de corrupção da história do país. É óbvio que esse delírio de poder e irresponsabilidade levou a sociedade a repetir novamente a tragédia binária de 2014. Esqueçam essa m****. Busquem o movimento, a IMANÊNCIA, a matéria viva que opera nesse momento, fora das transcendências do líder presidiário, dos símbolos, das narrativas. Prefiram o que dá autonomia, liberdade, ao invés do controle, do que restringe a potência das pessoas, das coisas. Escolham criptosegurança, mercados negros, blockchain e articulem futuramente com um projeto mais amplo, uma grande Ideia, imanente (talvez RENDA MÍNIMA UNIVERSAL??? Que seria um sistema de proteção social novo, demanda diante da relação salarial dos novos tempos, que é baseada em crédito como complemento de renda), que traga um debate relevante para o que atravessa a nossa sociedade e o mundo (em face da acelerada mecanização) e que seja mais fundamental e potente enquanto ideia, do que do que as ilusões manipulatórias da FAMÍLIA, de DEUS, e da PÁTRIA.
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